La Famiglia




O encontro entre as famílias veio mais rápido do que o esperado, para o desespero do meu namorado quase tímido.

Tetsurou morava com o pai, os avós e tinha uma irmã mais velha, em prol de não precisar forçar os idosos a sair de casa, o combinado foi que a família D'Calligari faria uma visita. A mãe dele nunca foi um assunto, as pequenas menções sempre acabavam em uma frase, então julguei ser um assunto sensível. Tudo que eu sabia era que os pais deles se divorciaram quando ele era pequeno, e ambos os filhos escolheram se mudar com o pai.

— Como estou? — meu pai apareceu na porta da sala onde eu brincava de montar blocos com Nico.

— Normal — desviei voltando a olhar para a pequena cidade que o pequeno estava montando. — Não está pensando em fazer aquele cliché de pai malvado para conhecer o namorado da filha a primeira vez, não é? Até porque você já o conhece.

Um resmungo ecoou com ele ajeitando a camisa para depois vestir um casaco leve por cima — Eu deveria ter o feito com aquele garoto Alonzo.

— Tetsurou é diferente — bati as mãos uma na outra e me levantei —, começando que ele colocou o vôlei de volta na minha vida e não o contrário.

— Seu pai está sendo cauteloso — minha mãe apareceu batendo na lateral do mais velho pedindo passagem — e chato. Sabe como ele gosta de chamar atenção.

— De que lado você está?

Balancei a cabeça e estendi a mão para Nico, o chamando para colocar os sapatos. De toda a conversa sobre tornar oficial para as famílias, explicar o conceito do que era um namorado para meu irmão foi o mais complicado. Por fim, ficou estabelecido algo que Nico chamou de "muito melhor amigo especial". Felizmente, meu irmão não conviveu o suficiente com meu ex-namorado, então era diferente para ele.

Ao sair de casa, fui andando na frente de mãos dadas com o pequeno, atrás de mim meus pais conversam em voz baixa. Minha mãe animada e meu pai dizendo que ela devia estar menos empolgada.

Nossas casas eram próximas, foi necessário atravessar apenas algumas ruas até chegar ao seu endereço.

Desde o momento em que o meu capitão sugeriu o encontro, percebi a ansiedade crescendo em seus olhos. Infelizmente um idiota tirou essa primeira experiência minha, mas para ele era algo importante e considerando como ele estava nervoso, não foi surpresa nenhuma o ver andando na frente da casa de um lado para o outro chutando uma pedra imaginária.

A personalidade "pé no saco" do rei da provocação pode levar a muitas interpretações errôneas, uma delas sendo que Tetsurou é alguém extremamente extrovertido. Quando não é verdade. Kenma chegou a me contar histórias de que ele era pior que o levantador quando criança, apontando que a comunicação do capitão começou a mudar muito tempo depois. Ele pode ter melhorado, só que ocasionalmente esse lado mais tímido dele volta a florescer.

— Vai abrir um buraco no chão se continuar andando assim — disse chamando a sua atenção quando me aproximei o suficiente para que pudesse me ouvir.

Seus se levantaram e os olhos se abriram quando ele reparou nos meus pais atrás de mim, como um gato arisco recuado no canto. A sorte dele é que tinha o santo Nico para vir ao seu resgate.

— Tekkun olha! — Nico soltou a minha mão para se aproximar do garoto e levantar a barra das calças — Estou usando as meias que você me deu.

Depois que ele aceitou participar do treino com meu irmão e seu time infantil de vôlei, Tetsurou foi promovido de "o moço de cabelo estranho" para Tekkun, cortesia de Masami que era a mais extrovertida das garotas.

O choque pareceu passar e com um riso ele se abaixou para ficar na altura de Nico colocando a mão em sua cabeça.

— Ficaram ótimas — meu irmão também sorriu em resposta e em seguida Tetsurou se levantou ficando de frente para os meus pais.

Ambos gostavam dele, não apenas pelo que viam dos pequenos momentos em que ele aparecia na porta de casa com Kenma, mas por tudo que eu também contei depois da fatídica entrevista italiana.

— Agradeço pelo convite — minha mãe disse com um sorriso gentil —, apesar de já nos conhecermos, é um pouco diferente.

O braço enganchado no do meu pai o beliscou, mantendo a feição plena, mas cobrando uma resposta do mais velho. O senhor Dominic D'Calligari mirou os olhos na minha direção e ao ver que eu também cobrava uma resposta, ele suspirou alto. Bateu duas vezes na mão de minha mãe pedindo para o soltar.

Me questionei por um momento o que o velho faria, se devia intervir, porém, ele foi mais rápido que eu. Num gesto rápido — e nada comum para a cultura japonesa —, ele segurou Tetsurou pelo rosto estalando um beijo de cada lado de sua bochecha. Era um cumprimento comum entre família e amigos próximos, mas na Itália.

— Não fique tão nervoso, [Nome] puxou toda a loucura dela de algum lugar — coloquei a mão na testa segurando o riso.

— Ah, sim — respondeu o garoto ainda ligeiramente afetado pelo choque cultural —, obrigado.

Por fim, meu pai bateu em seus ombros e se afastou mantendo um sorriso educado e levemente cínico — Devemos entrar?

— Sim! Por favor.

Com um aceno ele indicou a entrada da casa, mantive propositalmente a minha boca fechada e segui por último. Tetsurou fechou a porta atrás de mim com as orelhas levemente vermelhas, essa tem sido uma visão recorrente nos últimos dias.

— O que foi aquilo? — perguntou em voz baixa.

— Um pouco de costume italiano — respondi no mesmo tom me abaixando para tirar os sapatos. — Sabe que você entrou para uma matilha de lobos agora, todos somos assim.

Ele cobriu a boca — Poderia ter me avisado.

— Para te dar a chance de fugir? Nem pensar — ainda parados na porta segurei a sua mão — Não se preocupe, meu pai não deve ter nenhuma surpresa, mas indico ficar atento as mãos, sabe como falamos.

Ainda com a mão na minha, ele me puxou para de fato entrar na casa, o pai dele estava de pé e ao seu lado o que devia ser a irmã mais velha dele, os avós estavam sentados recebendo um cumprimento solene de Nico. Os genes da família Kuroo eram fortes, todos eles compartilhavam do mesmo cabelo preto e olhos amarelados. Com exceção da avó dele que tinha olhos escuros. Os mais velhos tinham parte dos fios grisalhos, mas a maioria ainda era escuros.

— Obrigada por nos receber — me curvei para os mais velhos.

O pai de Kuroo tinha uma feição gentil e era tão alto quanto o filho — Agradeço por aceitarem o convite repentino.

— Esse garoto estava suspirando tanto pelos cantos da casa que achamos que tinha algo de errado com ele — disse a irmã batendo no ombro do caçula, aparentemente ele também teve de quem puxar as provocações — Satomi Kuroo, meu pai Takeshi, nossos avós Toyoko e Youta.

Minha família se apresentou e logo fomos indicados para sentar.

— Então esse jovem se chama Nico, faz tanto tempo que não temos uma criança na casa — disse o avô de Tetsurou. Rumando pelos bolsos e então pegando um pacote de bala — Aceita um doce?

Meu irmão olhou para minha mãe, só após receber um aceno de cabeça ele aceitou o doce se curvando em agradecimento e voltando a se esconder no colo da mais velha.

A organização da sala era num formato tradicional, o que significava que nós estávamos sentados no chão com um apoio de costas. Satomi apoiou ambos cotovelos na mesa e então começou com as perguntas.

— Então, como se conheceram? Eu não passo tanto tempo em casa, não sei de todos os detalhes.

— Ele tropeçou na minha bolsa, e eu caí na frente da sala de aula depois disso.

— Não foi exatamente assim — Tetsurou levantou a mão tentando contornar a situação.

— Machucou? — Nico perguntou com uma das bochechas redondas por conta da bala.

— Apenas o meu orgulho — respondi colocando a mão em sua cabeça —, isso aconteceu, mas conversamos pela primeira vez na aula de química. Aoi nos fez sentar juntos.

Pensar no começo do ano letivo trouxe uma sensação estranha, não parece que faz tanto tempo, se passaram meses desde a conversa que tivemos na praça do bairro. Naqueles dias eu não sabia dizer se Kuroo estava fazendo a sua boa ação e sendo um cara legal, ou apenas sendo um curioso.

— No começo eu ainda estava bem amargurada com tudo. A mudança e o acidente, Tetsurou devolveu para mim a vontade de estar em quadra, ainda que seja ajudando na lateral dela. — essa frase pareceu também o pegar surpresa. Afinal, nossos dias são tão cheios de provocações que até mesmo a seriedade acaba sumindo no meio dos diálogos leves.

— Acho que eu nunca agradeci apropriadamente — virei para meu namorado —, obrigada por colocar vôlei de volta na minha vida.

Por um momento o tempo pareceu diminuir o ritmo, todos que estavam ao nosso redor sumiram e tudo que existia era seu olhar fixo no meu.

— Céus, olhe esse garoto — a irmã dele brincou nos trazendo de volta para realidade —, eu não o vejo tão vermelho desde que ele foi obrigado a fazer o papel de cavalo na peça do fundamental.

— Não precisa lembrar desse tipo de coisa.

A noite continuou, repleta de conversas e histórias. Troca de experiências entre a vida no Japão e na Itália, pais falando sobre seus filhos e lembrando outros tempos. Os avós de Tetsurou estavam encantados com Nico e meu irmão parecia não se importar em receber a atenção. O pai dele era mais contido nos comentários, mas algumas vezes percebi que ele olhava para o filho de uma maneira orgulhosa e principalmente amorosa. Satomi era provavelmente a mais extrovertida da família e talvez a maior influenciadora na personalidade atual do príncipe da química. Via muitas das suas manias e modos de falar espelhadas no irmão mais novo, principalmente no que diz as provocações.

Do meu lado da família, minha mãe parecia feliz em ter alguém para conversar sobre o bairro, descobrindo comércios que ela nem fazia ideia que existia. Meu pai rapidamente se prontificou a ajudar aos mais velhos quando o assunto se virou para a saúde física e a constante dor nas costas. Prometendo depois do jantar, que o próximo encontro seria uma apresentação da culinária italiana dos D'Calligari.

Nico acabou dormindo no colo do meu pai, esse foi o sinal que devíamos voltar.

— Vou tentar aparecer mais vezes — Satomi segurou minhas mãos —, então me prometa que virá nos visitar.

— Claro, pode me contar todas as histórias que Tetsu se recusa a compartilhar.

Um brilho divertido passou por seus olhos — Com certeza.

Meus pais já estavam do lado de fora de casa junto do capitão quando o pai dele pediu um momento para falar comigo.

— Sabe, meu filho sempre foi uma criança esperta, mas antigamente costumava ser muito tímido. — explicou — Depois que nos mudamos e ele conheceu Kozume, começou a se tornar mais alegre e fazer outros amigos. Conforme cresceu, tudo girava em torno do vôlei, ainda gira, mas faz alguns meses que comecei ver outras mudanças. Um desejo para o futuro que provavelmente tem a ver com a sua chegada.

O mais velho olhou para onde Tetsurou estava com os olhos brilhando — Não tenho o costume de falar com frequência, mas tenho muito orgulho dos meus filhos. Ver você falando sobre ele com tanto carinho me tocou profundamente. Agradeço por estar ao lado dele [Nome], e humildemente peço que continue a ajudar também no futuro.

Assim como Satori fez comigo anteriormente, tomei a mão do mais velho entre as minhas.

— Ainda não falei diretamente para ele porque sei que vai ficar convencido demais, mas Tetsurou se tornou uma das pessoas mais importantes da minha vida. Não só por conta do vôlei, mas é alguém que me dá segurança, que vai me escutar, aceitar minha ajuda e me ajudar se necessário. Existem vários outros agradecimentos para serem ditos, apenas não tive o momento certo de dizer — senti suas mãos apertarem as minhas.

— Takeshi-san, vou manter um sorriso no rosto do seu filho.

— Obrigado.

Me despedi mais uma vez da família dele e me juntei a minha, minha mãe cutucou meu pai e disse que iriam na frente. Dando um espaço para podermos conversar tranquilamente pela primeira vez na noite.

— Então, o que achou? — segurei sua mão entrelaçando nossos dedos.

— Que você e minha irmã são uma péssima combinação — confessou e em seguida riu —, estava certa quando disse que eu não precisava ficar nervoso.

— Bem, eu costumo estar certa — fiz uma pose jogando os cabelos por cima dos ombros —, fico feliz que está feliz. É o que importa.

Ele respirou fundo e soltou o ar pela boca olhando para o céu escuro — O que você disse, sobre eu te devolver vôlei, acho que me colocou numa posição alta demais. Você nunca o deixou de verdade, só escolheu fechar os olhos por um tempo. Mesmo sem mim, acho que teria voltado a ver a quadra de qualquer maneira.

— Talvez, sim, talvez não — parei de andar me virando para ficar em sua frente —, não muda o fato que foi por sua causa que pisei no treino da Nekoma naquele primeiro dia. Mas já que te incomoda posso retirar se quiser.

Tetsurou negou e se inclinou na direção do meu rosto — Quem no mundo devolveria um agradecimento da Rainha de Copas?

— Aparentemente meu namorado que pensar ser menos importante do que realmente é — ergui os braços, os apoiando em seus ombros, apenas para acariciar com as pontas dos dedos a base da sua nuca. Imediatamente ambas mãos pousaram na minha cintura. — Sabe o que realmente me fez pisar no treinamento aquele dia? Independente do que o treinador Nekomata disse antes.

— Não.

— Falar que se eu achava que o trabalho de uma gerente era só entregar toalhas e garrafas, deveria aprender mais sobre vocês. Eu odiei — puxei de leve seu cabelo, ganhando um riso em resposta —, mas abriu meus olhos. Só tem um idiota que diria isso para mim sem me conhecer por mais de um mês.

— Certo, vou me dar essa conquista. O homem que levou [Nome] D'Calligari de volta para as quadras, acha que a mídia italiana vai escrever artigos para mim?

— Espero que não, já é difícil lidar com as garotas da escola olhando para você. Se bem que depois da Natsumi as coisas se acalmaram.

— Não vai demorar para perceberem que estamos namorando, está bem com isso?

Segurei a lateral do seu rosto traçando sua bochecha com os dedos — O que posso fazer? Pessoas têm olhos, são curiosas e adoram ter algo para comentar. Já lidei com um jaguadarte, posso cuidar de mais alguns e se não der certo com conversa e um pouco de bom senso, tem sempre outra opção.

Os lábios dele se aproximaram dos meus — E o que é?

Cortar suas cabeças.









N/A: Obrigada por ler até aqui!

Até mais, Xx!



Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top