Fala Vorpal




— Não fazia tantos levantamentos desde o último treinamento intensivo que fiz na seleção.

Aoi riu com o meu comentário, mas continuou a encarar o caderno enquanto eu girava meu ombro sentindo os efeitos do acampamento do grupo de treinamento.

Foi apenas uma tarde, mas ensinar meu levantamento a Capitã me fez trabalhar como há muito tempo não fazia. Não é simples, parece apenas um levantamento feito num momento de desespero, quando, na verdade, é um passe preciso.

— Suponho ser normal, afinal, a quantidade de movimentação que faz no dia-a-dia é bem inferior em relação à época que treinava. — minha amiga baixou o lápis e cruzou os dedos embaixo do queixo, finalmente olhando para mim com um sorriso. — Se você se divertiu, é o que importa.

Suas bochechas rosadas ficaram redondas quando sorriu, sem me importar muito com o redor levantei a mão para apertar seu rosto deixando ecoar uma palavra em italiano — Fofa.

A garota ficou ainda mais vermelha e se escondeu entre as mãos. Deixei a cabeça tombar para trás encostando na janela, era um pequeno momento de paz entre aulas, um lapso de normalidade antes de entrarmos para competir no torneio de primavera efetivamente. Não teria mais acampamentos de treino, agora, tudo estava nas mãos do time.

— Ah, você disse que sou fofa, não foi? — Aoi estalou um dedo genuinamente feliz — Estou começando a entender melhor quando fala italiano. Pelo menos algumas palavras isoladas e essa você sempre usa quando está falando sobre Nico.

— Está certa — elogiei —, para as duas.

— Espere só [Nome] quando perceber estaremos falando em italiano! — a garota fechou as mãos em punho como se estivesse juntando força para isso.

— Terei que te levar para a Itália depois disso.

— De verdade? Faria isso?

— Claro que sim — voltei a me ajeitar na cadeira, tombando a cabeça em sua direção. — Algum lugar em mente que você gostaria de visitar?

— Tem muitos, aposto que os famosos são lindos — seus olhos ganharam um brilho sonhador —, mas aceito qualquer lugar que você queira me levar. Já que conhece muito melhor do que eu.

Sorri em resposta — Vamos pensar nisso para o futuro.

Ainda tinha algum tempo para gastar na pausa, geralmente eu e Aoi deixávamos a sala, porém hoje como ambas estávamos com preguiça, escolhemos ficar. Contudo, logo fui forçada a lembrar porque costumava deixar a sala no intervalo.

Natsumi ria alto e balançava o conjunto de pulseiras no braço, fazendo barulhos de todos os tipos, ainda batendo as unhas na carteira, dando ênfase em algumas palavras específicas. Como os pais dela pretendiam viajar em breve, os presentes, as declarações e os corações quebrados que ela deixava pelo caminho.

— Não sei mais o que fazer, todos os dias recebo cartas — um longo e dramático suspiro que quase me fez revirar os olhos —, mas vocês sabem que já tenho meus olhos focados em uma pessoa.

A pequena corja de adoradoras soltou gritinhos, Aoi as imitou de maneira sarcástica batendo as palmas, me fazendo rir. Mas parece que mais alguém estava prestando atenção no nosso lado da sala.

— Achou engraçado Aoi-san?

Minha amiga balançou a cabeça — Estou falando com [Nome], não tem nada a ver com vocês.

Já fazia algum tempo que Natsumi não vinha para cima de mim com qualquer besteira, nisso tive o meu jogo de despedida, por conta da ausência temporária ela deve ter pensado que recuperou seu posto imaginário de rainha. Abrindo a boca sem qualquer tipo de senso.

— Nem percebi que a estrangeira estava aqui.

Balancei a mão em sua direção com um sorriso — Por favor continue não percebendo.

— Deixa eu te avisar uma coisa Aoi — Natsumi apoiou ambas as mãos nas mesas adjacentes e se levantou —, como alguém que quer o seu bem. Quanto antes você se afastar, melhor será.

Ela jogou os cabelos avermelhados por cima do ombro — Tome isso como um conselho, afinal quando Kuroo for meu, também seremos amigas. Se você me ignorar, teremos problemas.

Imediatamente a garota fez uma careta — Que diabos você está falando? Kuroo-

Coloquei a mão na boca dela a impedindo de falar. Apesar de nos ginásios o clima ser diferente, não quer dizer que anunciamos para a escola que estamos namorando. Porém, a situação ali era diferente, principalmente porque ela apenas tinha coragem para falar esse tipo de atrocidade quando Tetsurou não estava por perto.

— Eh — exclamei —, quer dizer então que você está de olho do capitão do time de vôlei? E me diga como está indo esse seu progresso?

Aoi virou o rosto, minha mão ainda a impedindo de falar. Seus olhos estavam arregalados e praticamente gritavam algo nas linhas de "está louca".

— Não te interessa — ela parou para olhar as unhas —, mas já que está tão curiosa. Disseram que escutaram Kuroo-kun comentar com aqueles dois outros dois jogadores do terceiro anos estar apaixonado.

Não consegui segurar a gargalhada — E brilhantemente assumiu ser você? Baseado numa conversa secundária completamente sem embasamento? Sabia que era limitada, mas essa superou completamente as minhas expectativas.

Bati algumas palmas lentas, repletas de ironia.

— Já que está cheia dos conselhos amigáveis, me deixe dizer algo. Quanto antes perceber que o mundo não gira ao seu redor, menor será a dor quando perceber que está sozinha — dessa vez eu me levantei ao continuar a falar. — As garotas que ficam te mimando, fazem isso porque não querem ser seu alvo, sobre os garotos, garanto que a maioria deles só querem entrar no meio das suas pernas. Essa briga idiota que você criou comigo não existe.

— Me chame de estrangeira, de mafiosa, do que quiser. Eu não ligo, eu não me importo com você. — juntei as mãos na frente do corpo. — Pegue toda a atenção, eu nem a queria em primeiro lugar! Natsumi-chan, você não é nada para mim, nem mesmo uma rival. Nos meus olhos, é apenas uma garota triste que precisa da atenção dos outros para ser alguém.

A classe inteira parou para ver a cena, alguns até estavam debruçados nas janelas dos corredores.

— Saia da minha frente — alguns dos alunos se moveram da porta, revelando um Yaku exasperado. — Calli-chan! Por que você sempre está no meio?

Cruzei os braços e me encostei na carteira — Não estou brigando, apenas falando. Por que você está aqui? Nem é sua sala.

— Disseram estar tendo uma briga, vim ver se estava tudo bem com você.

O líbero que passou primeiro abriu espaço para Kai, que também veio direto ao nosso lado da sala, fazendo questão de olhar se a minha amiga Aoi estava bem. Por último, um dos assuntos que gerou certa comoção.

— Por que estão olhando para mim? — Tetsurou esfregou os braços como a quem se livra de um calafrio. — Até parece que matei alguém.

— Kuroo-kun — Natsumi o chamou, talvez com o tom mais humano que eu já escutei sair da boca dela. Ambas mãos estavam coladas ao lado de seu corpo, aquelas que diziam ser suas amigas já não estavam mais por perto e se afastaram quando as vozes começaram a se elevar. — Tem rumores de que você está apaixonado, e que vai pedir alguém em namoro logo.

Yaku ameaçou fazer um barulho, e com o pé mesmo chutei de leve a sua canela lançando um olhar para ele se manter calado.

— Onde ouviu isso? — ele franziu.

— Nos corredores.

Vi que ele disfarçou para olhar na minha direção, fingindo ser com Kai e Yaku. O garoto suspirou alto e levantou a mão para o pescoço. — Sim, é verdade, mas não vou pedir ninguém em namoro. Até porque ela pediu primeiro e eu aceitei.

Ele parou por um momento ponderando levantando o olhar para cima — Se bem que não foi exatamente um pedido, foi mais uma afirmação. Bom, funciona do mesmo jeito.

Imediatamente os cochichos começaram. Natsumi poderia finalizar a conversa, e se preservar, mas o ego falou mais alto. O orgulho, quebrado por não ser a opção de Tetsurou, não deixou. Ela até podia gostar verdadeiramente dele, mas não é assim que um relacionamento funciona.

— Por quê? O que ela tem que eu não tenho?

Talvez nem ele estivesse esperando essa pergunta, mas Tetsurou era realmente um cara legal — além das piadas feita com isso —, genuinamente doce, apesar da língua ocasionalmente venenosa.

— Escute Natsumi-san, me desculpe se alguma vez dei a entender que havia algo. É uma boa colega de classe, e apenas isso. Se tem algum tipo de sentimento por mim, aconselho os deixar isso, pelo seu bem.

A garota abriu seu caminho entre os alunos, saindo da sala de uma vez. A princípio ninguém foi atrás dela, apenas uma garota que se levantou e foi, seguida de um menino depois. O sinal tocou então rapidamente todos acabaram por voltar para seus lugares, não tivemos chance de conversar e por hora foi melhor assim.

O clima estava denso, surpreendentemente silencioso, enquanto andando pelos corredores podia sentir os olhos em cima de mim. Contudo, os cochichos eram contidos, feitos em segredo.

Não foi até chegarmos ao fim do treino da tarde que conseguimos conversar apropriadamente, ambos tomamos nossas posições de time quando pisamos no ginásio. Deixando para trás qualquer outra preocupação.

— Está brava comigo?

Franzi erguendo os olhos das garrafas de bebida esportiva para ele — Não, por que estaria?

— Porque eu não falei que era você — Tetsurou cruzou os braços e apoiou o ombro na parede próximo de onde eu estava.

Neguei com a cabeça — Eu podia ter falado, não falei. Se você escolheu não o fazer, está tudo bem. Tinham algumas opções, nenhuma com um final bom.

Peguei uma toalha na lateral e sequei as mãos — Se eu falasse que estamos namorando, a maioria ia encarar como se eu estivesse esfregando na cara dela de propósito. Se você falar, continua parecendo que sou a vilã da história.

Me aproximei e o garoto abriu os braços esperando que eu o abraçasse pela cintura. Ele se apoiou nos meus ombros encostando a lateral do rosto no topo da minha cabeça.

— Nós dois somos melhor que isso, não precisamos ficar anunciando ou dando explicação para ninguém.

Nesse momento senti o corpo dele travar, e com a cabeça apoiada em seu peito escutei os batimentos acelerarem. Me afastei por um momento.

— O que é?

— Eu não queria falar agora, mas já que o assunto surgiu — Tetsurou fez uma careta como a quem relembra algo e então soltou os ombros com a explicação. — Minha família quer conhecer você.

— Meus também, pelo menos oficialmente, já que você apareceu com Kenma lá uma vez ou outra. — falei com casualidade, mas percebendo uma mudança na postura do capitão. — Está nervoso com isso?

O garoto limpou a garganta e desviou os olhos dos meus, de certa forma envergonhado — Nunca levei garota em casa, nem mesmo Aoi.

Segurei seu rosto entre minhas mãos apertando suas bochechas — Sério? Espera, eu sou a sua primeira namorada?

— O que tem de tão surpreendente nisso?

Tetsurou colocou as mãos por cima das minhas e as puxou do rosto fazendo um beicinho pelo meu comentário. Minha cabeça, mesmo que sem ser a minha vontade, já fez dezenas de outras perguntas, algumas delas bobas, as outras um pouco mais indecentes. Aparentemente essas — as piores — foram lidas através meus olhos porque meu namorado colocou a mão em cima da minha boca e encostou a testa na minha por um momento.

— Não fale o que você está pensando.

Apertei a sua cintura num ataque inesperado, ele se retraiu soltando a minha boca em seguida. Dei risada pela careta que ele fez.

— Só uma, não posso? — juntei as mãos — Inocente, só de curiosidade.

— Uma Calli-chan — respondeu levantando apenas um dedo dando ênfase, em seguida se inclinando para ver para fora do depósito se não tinha ninguém por perto. Ainda tinha alguns dos jogadores no ginásio, outros já estavam se preparando para ir embora.

— Fui seu primeiro beijo?

— Não — a maneira que ele pareceu aliviado por essa ser a pergunta, foi quase ofensiva. — Isso não. Ei, esconda a sua decepção, foi você que perguntou!

— Certo, quem foi?

Suas mãos se ergueram para os cabelos, os puxando de leve, os olhos cor de âmbar brilhando intensamente enquanto fixos nos meus — Jura que você quer ter essa conversa, agora?

— Foi a Aoi? — soltei tentando arrancar a resposta dele.

— O quê? — exclamou meio chocado e meio enojado pelo pensamento — Não, é claro que não, de onde veio isso [Nome]?

— Podia ser de curiosidade, quando eram mais novos — respondi dando de ombros — quero dizer. Meu primeiro beijo foi com o Fideo, foi asqueroso e estranho.

— Não precisava saber disso — agora ele que cobriu os próprios olhos com uma mão apoiando a outra na cintura.

Me aproximei e cutuquei seu ombro repetidamente — Sabe que Fideo não apresenta nenhum risco, até porque o interesse atual dele é em meninos. É saudável conversar sobre isso, não precisa ficar com vergonha, mas não vou te forçar se não quiser falar.

— Foi uma amiga da minha irmã mais velha, eu estava no primeiro ano — ele segurou minha bochecha a apertando —, ela se mudou de cidade logo depois. Satisfeita agora?

— Sim, obrigada — sorri —, e eu adoraria conhecer a sua família, é só marcar um dia.

O capitão respirou fundo e segurou minha mão me puxando de leve para perto, se inclinando em seguida para deixar um beijo rápido na minha boca — Poderia ter respondido isso no começo.

— E qual é a graça? — rebati.

— O que faço com você? — sua voz saiu frustrada, mas com um tom de riso se deixando levar pela situação.

— Beija de novo.










N/A: Oya, oya, oya! Tudo bom? 

Explicações, em Alice no País das Maravilhas, ela derrota o Jaguardarte com uma espada Vorpal. Logo se ela deu um fatality na Natsumi, justifica o nome do capítulo.

Bem-vinda de volta Aoi sua linda! Ficou alguns bons capítulos longe.

O texto de hoje foi bem leve, porque também fazia um tempo que eles não tinham um momento longo assim sozinhos. Preparando pra essa "oficialização" e os encontros com as famílias.

Vamos dar uma relaxada de treinamentos e acampamentos de treino e focar um pouco na vida estudantil antes de entrar nas eliminatórias e jogos.

Por hoje é isso! Obrigada por ler até qui.

Até mais, Xx! 

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