Em Frente



O dia estava estranho, havia algo na atmosfera que não estava me agradando. Ou apenas estava mais nervosa com o fato de estarmos a um passo das qualificatórias do que realmente queria admitir.

— Você suspirou algumas vezes Calli-chan — Kai comentou uma vez que estava ao meu lado esperando o time terminar de se trocar para se aquecer.

— Desculpe. É só que tem algo me incomodando. — ergui as mãos para ajeitar um punhado de fios atrás das orelhas e então apertando a base do pescoço para ver se me sentia um pouco melhor. — O pior é que não faço ideia do que é.

O vice-capitão sorriu e colocou a mão no meu ombro em forma de apoio — Se Yaku estivesse aqui, provavelmente ele diria para atribuir isso ao rosto de Kuroo. Apenas para ter um motivo, ele diz que é algo que o incomoda com certa frequência.

Um pequeno riso escapou da minha boca, virei a cabeça na direção dos dois, próximos aos jogadores mais novos dando orientações. Bem, o capitão dando orientações, Yaku só estava jogando ordens soltas no ar usando a sua posição de demônio-senpai.

Deixei um riso seco escapar da minha boca — Parece com o tipo de coisa que ele diria. Como você consegue Kai? Ficar sempre positivo.

O garoto voltou a olhar para onde os outros jogadores também estavam, dessa vez com um rosto mais sério. — Não sei dizer se é positividade ou a habilidade de esconder meus tormentos, sou um humano também. Fico frustrado como todos os outros, mas conheço as habilidades dos meus colegas de time, então em quadra sei que temos potencial.

Ele se abaixou para pegar uma bola que rolou do aquecimento — Fora dela... Bom, posso dizer ser um realista, um dia de cada vez. Sem grandes expectativas, mas não esperando pelo pior.

— Ainda bem que Kuroo tem você por perto, ele e Yaku tendem a cair da pilha dos mais novos, isso quando não estão tentando se matar. — me virei para ele. — Você merece um prêmio.

Kai riu abertamente e jogou a bola que tinha nas mãos para cima — Obrigado Calli-chan, mas saber que não sou dispensável para o time já é bom o suficiente.

Nesse momento as filas foram feitas e eu me aproximei dos garotos para ajudar Kenma a levantar e acelerar o aquecimento do dia, uma vez que nosso tempo estava acabando e a partida com o Colégio Niwato iria começar em breve. Assim que me posicionei na rede, vi que a minha filha já estava feita. Fukunaga já estava pronto para lançar a bola na minha direção e fazer o corte.

— Parece que a cada dia a minha fila fica maior — dei um passo para o lado, para ver a maioria dos segundanistas e primeiranistas, incluindo Lev e Inuoka.

— Seria mais fácil só você levantar — Kenma resmungou —, você sabe como faço, não faz tanta diferença assim. Poderia estar conservando minhas energias.

— Mas é aquecimento para você também — rebati —, estou apenas ajudando.

Sem ter o que responder dessa vez, ele apenas virou o rosto com uma careta, como um gato emburrado. Virei para a fila e indiquei para Fukunaga vir, ele jogou a bola, fiz um levantamento e em seguida ele fez um corte cruzado e preciso pelo meio.

— Boa cravada Fukunaga — levantei a mão para ele bater antes de passar embaixo da rede.

— Bom levantamento, Calli-senpai.

Acenei com a cabeça e esperei para Tora fazer o mesmo — Vamos Ace, dê o seu melhor!

Fiz o levantamento e Taketora cortou soltando um grande grito no ginásio, colocando força total no ataque. Virei para ver onde a bola voou e elogiei — Essa foi boa.

Quando voltei a olhar para frente, Tora estava ajoelhado sobre um joelho com a mão no peito.

— Por favor, deusa do vôlei, me abençoe em mais uma partida.

— Em nome da bola, da rede e dos levantamentos, amém — fiz um sinal de cruz e o empurrei em seguida em brincadeira. — Andiamo, Tora. Vamos logo, tem mais gente para cortar.

— Você está criando um monstro — Kenma apontou ao ver a animação do Ace atravessando a barreira do som. — Não sei se consigo ligar com ele nesse estado.

— O melhor jogador é aquele motivado Kenma, não importa o levantamento que você mandar hoje para ele. Tora vai pegar. — comentei e me preparei para Inuoka. — E sobre lidar com ele...

Levantei para o meio de rede antes de continuar.

— Sempre conseguiu, não tem motivo para falhar agora. Pense como um treinamento para aumentar seu nível de influência.

Levantei as mãos para Inuoka bater, sabendo que Kenma já tinha virado o pensamento para outra direção. É sempre mais fácil usar alguma analogia de jogo com ele, quando acontece algo incompreensível. Apesar de terem uma visão de que Kenma é um gênio preguiçoso e que só joga vôlei por jogar, a realidade é bem diferente.

— Últimos minutos pessoal! — Naoi bateu palmas e chamou a atenção dos jogadores. — Vamos para a quadra em seguida, antes disso vou repassar as informações do nosso adversário. O Colégio Niwato é um time extremamente colaborativo, funcionando como uma unidade. Eles possuem sintonia e não dependem de nenhuma estrela individual. Conseguem cobrir bem todas as áreas da quadra sem deixar buracos.

Não tinha ouvido falar desse time até começar as pesquisas da região, o time não têm ataques explosivos em termo de potência, os jogadores compensam com uma movimentação rápida e toques curtos. Também possuem uma boa cobertura de jogadas, o que significa um forte bloqueio e uma defesa estruturada.

O ginásio ainda estava cheio, apesar dos muitos times já eliminados, aqueles que ficaram tinham uma maior base de fãs torcendo por eles. Por ser um dos primeiros jogos do dia, o pessoal estava animado e energético para acompanhar um dia repleto de vôlei.

A equipe Niwato do outro lado da quadra parecia curiosa com a Nekoma, no aquecimento oficial peguei um ou outro jogador lançando olhares para o nosso lado, o capitão adversário também era o levantador e foi exatamente ele que estava roubando olhares para nosso lado. A sensação esquisita que comentei com Kai, voltou a ficar na base da minha garganta.

E com razão.

O apito inicial soou e a Niwato que teve a vantagem de escolha, já começou com um ataque. Os movimentos deles era como um bloco interligado, não havia passos desnecessários enquanto a bola estava em nossa posse, mas no momento em que ia para o ataque eles se ajustavam para cobrir todos os centímetros da quadra.

— Ah, isso é realmente irritante — disse quando eles chegaram aos 15 pontos primeiro.

— Então já percebeu? — Nekomata-sensei comentou cruzando os braços.

Girei a caneta na mão — depois do meu acidente em quebrar o lápis no meio da partida, como medida de segurança, a ordem era para que eu usasse apenas canetas —, o capitão jogava de uma maneira diferente todos os passes eram curtos e rápidos, limitando a capacidade da Nekoma de se reposicionar para a defesa.

Ainda que a defesa da Nekoma fosse taticamente melhor, de nada adiantava se na hora do contra-ataque eles estivessem uma bagunça.

— Particularmente hoje, é bom dia manter a cabeça fria no jogo — o treinador pediu tempo. — Se importa em dar um pouco de orientação, [Nome]?

Escutei o apito do jogo e em seguida vi os jogadores andarem na nossa direção, bati a prancheta na mão algumas vezes e me virei para eles. Consegui ler seus pensamentos escritos nos olhos dos garotos, pensando num futuro ainda distante e incerto.

— Ei, vocês. Porque estão pensando no jogo da semana que vem, no jogo que vai acontecer daqui meses? No que talvez nem aconteça? — dei uma bronca. — Os rivais predestinados não importam se não conseguimos conseguir tirar o pé do chão e ganhar hoje.

— [Nome] voc-

— Quieto demônio-senpai — coloquei a mão na frente da boca. — O treinador me deu a palavra hoje.

Todos eles se viraram para o mais velho que apenas manteve o sorriso no rosto e os olhos fechados de contentamento. Respirei fundo e soltei os ombros.

— Vocês estão pensando demais — disse por fim. — Estão cansando mais rápido pela afobação e dando pontos pelo erro. Estão caindo no ritmo deles, esses passes rápidos, está mexendo com a cabeça de vocês, parem de pensar um pouco e confiem no instinto.

Dei um passo para a frente — Ah, mas se perdemos hoje não vamos cumprir nossa promessa. E o que importa mais agora?

Eles não responderam.

— Foi uma pergunta para vocês responderem, o que importa agora?

— Ganhar esse jogo? — Lev levantou a mão como a quem pede permissão para falar em sala de aula.

— Exato. Estamos bem atrás para começar a reagir, e levar esse set, mas não é impossível. O importante é tomar o ritmo roubado.

O tempo de pausa acabou e eles voltaram para a quadra reclamando algo sobre como eu fiquei assustadora. Não importava desde que surgisse efeito.

Nos recuperamos no final, e o set acabou 25 a 21 para a Niwato. Mas a mentalidade estava ali, para o segundo set os meninos voltaram bem, e no mesmo ritmo. Determinados a mudar o curso da partida, depois de ver de perto o estilo de jogo do time, ajustaram seus ataques para pontuar mais.

Kenma organizou a equipe, dando ordens com os posicionamentos de seus levantamentos e a Nekoma começou a jogar de forma mais direta, explorando os espaços deixados pela falta de técnica do time. Assim como nós, eles não têm uma grande estrela, mas a diferença é que as nossas sabem exatamente o momento de brilhar.

O jogo ficou muito mais rápido, Tora e Fukunaga se encontraram nos ataques e alternavam na marcação de pontos enquanto Kuroo e Yaku seguravam na defesa as jogadas mais complicadas. Fazendo um bom uso das laterais e dominando completamente os adversários, a Nekoma conseguiu igualar o placar e levar o segundo set de 25 a 18.

A tensão para o terceiro set estava palpável, porém os ânimos estavam ao nosso favor, sem ter uma segunda chance a Niwato viria com tudo. Porém, a Nekoma sabia que não podia recuar no ritmo.

O placar ficou equilibrado pela maior parte do set, Niwato parecia estar saindo da zona de conforto para lidar com uma Nekoma renovada e isso foi o que definiu a partida. Quando o placar estava empatado em 23 pontos, a Nekoma conseguiu um ataque certeiro pelo centro coordenado por Kenma e Kuroo. O ataque de diferença de tempo deles pode ser antiquado para alguns, mas é extremamente eficiente.

Com o match-point em mãos, foi só uma questão de tempo para ganhar o jogo. Kenma fez um levantamento alto e em arco para Fukunaga que estava livre do outro lado da quadra, os adversários se ajustaram para bloquear deixando uma brecha, com um leve toque a bola passou por cima dos centrais e então caiu suavemente do outro lado da quadra marcando o fim.

— Isso! — ergui os punhos comemorando em seguida batendo as mãos com os treinadores.

Me aproximei para entregar toalhas recebendo alguns olhares, Yaku se escondeu atrás de Kai. — Está seguro se aproximar? Não vai matar ninguém?

— Não — joguei uma toalha em seu rosto. — Já fiz o que eu precisava.

— Calli-senpai foi assustadora — Lev comentou. — Mas também foi muito legal.

Balancei a cabeça — Ajudou a colocar o time nos trilhos, não ajudou? Se o treinador deixou eu falar, a vocês só resta ouvir e acenar com a cabeça.

— O poder realmente faz subir a cabeça de uma pessoa — meu namorado comentou. Mas em tom de brincadeira.

— Tora, Fukunaga, bom jogo de vocês dois. Foram os melhores em quadra. — elogiei.

— Obrigado — disse o segundo enquanto Tora precisou ser empurrado para fora da quadra por Inuoka e Shibayama uma vez que parou de reagir de forma motora. Ao mesmo tempo, eu coloquei a alça da bolsa no ombro e segui com o restante deles para fora da quadra.

Quando passamos pelo quadro, vimos a Nekoma como um dos quatro finalistas para as qualificatórias de Tóquio, o primeiro deles definido.

— Posso fazer um palpite de quem vai passar dos outros jogos — comentou Yaku. — Mas um deles tenho certeza.

Acompanhei com o olhar o confronto que daria o nosso próximo adversário e franzi.

— Bom, era de se esperar. Principalmente quando estamos na mesma região, pelo menos sabemos como lidar com eles, minimamente. — Kai respondeu.

Os meninos andaram um pouco deixando o placar para trás, olhei uma última vez e segui com eles escorregando a minha mão para a de Tetsurou no caminho.

Agora tínhamos algumas semanas para nos prepararmos para os próximos jogos, o que não significa deixar a próxima partida mais simples. Foram diversos treinamentos que tivemos juntos, mas existe um fator insano que deixa nossos adversários de certa forma imprevisíveis.

Para a Nekoma só resta uma coisa a fazer, se preparar para a festa do chá e dar a Fukurodani e seu Chapeleiro Maluco uma digna recepção.







N/A: Olha o capítulo passando!! Sentiram minha falta?

Agora as coisas vão começar a normalizar por aqui hahaha, obrigada por não desistirem de mim e por ler até aqui.

Até mais, Xx!!

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