Doces Confissões



— Aoi te fiz esperar muito? — perguntei a minha amiga que esperava na frente da escola.

— Não, acabei de chegar. Como foi o jogo?

— Eles perderam — respondi —, mas não foi de todo mal. Fukurodani só estava mais organizada. Sem falar do amigo chapeleiro maluco que é absurdamente forte.

— Ele realmente é não é mesmo? Nunca encontrei com ele, mas só de ver as partidas sinto que eu morreria se estivesse na direção de um corte dele.

— Morrer é um pouco demais, porém, te entendo.

— Melhor irmos antes que comece a escurecer mais — ela enganchou no meu braço me puxando na direção do portão.

Mas não antes de um intrometido nos parar para questionar.

— Posso saber onde as senhoritas estão indo?

Aoi ia responder, mas eu a impedi.

— Na verdade, não — sorri para Kuroo e a puxei pela mão —, vai ficar sem a minha incrível companhia na volta hoje. Vamos Aoi.

A sensação de ter o capitão dançando na minha mão era ótima, no fim os meninos do time que estavam próximos se despediram e seguimos nosso caminho. Mas não para a estação e sim para um ponto de táxi.

— Não tem tanto trânsito nesse caminho, podemos ir de carro. É um pouco mais seguro — disse —, minha mãe trabalha perto da loja, ela disse que te deixa em casa depois disso.

— Não quero dar trabalho.

Ela balançou a cabeça segurando minha mão — Não é trabalho nenhum, eu... Já te disse que nunca fui de ter muitas amigas, então, é algo que eu gostaria de fazer.

Tinha muita sorte de ter encontrado alguém como Aoi, além de ser uma companhia esplendida era uma garota extremamente gentil. Alguém que me fazia sentir bem apenas por estar por perto, aqueles que desprezaram sua amizade não fazem ideia do que perderam.

Apertei sua mão de volta — Obrigada, mas não me mime demais ou vou me acostumar.

— Vou tentar — seus olhos brilhavam e o caminho de carro até o endereço foi animado e cheio de relatos do seu dia no clube de literatura. Explicando com um pouco mais de propriedade suas ações diárias, eles combinavam livos para ler e discutiam, analisavam textos.

— Parece gostar muito Aoi, por que você não pensa em escrever alguma coisa?

— Não, não é para mim. Prefiro imaginar os sonhos das outras pessoas — deu uma pausa —, parece que chegamos! Você pode parar na frente daquela loja de fachada azul, por favor.

O lugar era uma papelaria, na vitrine consegui ver muitos materiais de pintura e cadernos expostos, Aoi pagou o motorista ainda que contra os meus protestos. Não era justo ela pagar sozinha, mas ela me ignorou veementemente.

Com ambas mãos nas minhas costas, me empurrou na direção da loja, sem realmente me explicar o porquê. As atendentes atrás do balcão sorriam e a cumprimentaram, só então entendi que aquela era o trabalho de sua mãe.

— Hima meu bebê — a mulher que era uma versão mais velha da minha amiga sorriu —, e você deve ser [Nome].

A cumprimentei educadamente me curvando, não deixando de notar as bochechas vermelhas da minha amiga pelo apelido.

— Mãe podemos deixar as bolsas aqui? — foi uma mudança suave de assunto — Vamos até à loja de esportes no fim da rua comprar algo para um amigo.

— Sim, claro — a mais velha disse — ainda preciso ficar com a loja aberta por uma hora, então passem na cafeteria e comprem algo para vocês. Podem colocar na nossa conta.

Ela piscou para a filha dando a ela um cartão, Aoi sorriu e se virou animada — Eles tem o melhor waffle da cidade, estou falando sério.

— Acredito nisso — concordei, a mãe dela pegou nossas bolsas e guardou embaixo do balcão, ficamos apenas com carteiras e telefones, afinal, ainda tinha que pagar os tênis de Fideo. O sino na porta tocou quando saímos e mais uma vez de braços dados andamos até a tal loja esportiva que ficava no fim do quarteirão.

Realmente era grande, iluminava a rua por si só, conseguia até mesmo ver do lado de fora os diversos departamentos de esportes.

— Acho que os tênis ficam para esse lado — comentou a garota depois que entramos —, não vim muitas vezes, já que não gosto muito de esportes. Quando vim, foi para acompanhar Tetsurou.

Foi a primeira vez que a vi usar o primeiro nome dele — Você não chama ele assim na escola, por quê?

Seu rosto ficou corado — Ah, é costume. Não tenho paciência para lidar com as fãs dele, então procuro conter nossa amizade o quanto der. Eu o conheço desde o primário para ser sincera.

Algo na conta parecia não fechar para mim, eles pareciam irmãos que se bicavam, mas havia uma certa doçura enquanto comentava sobre velhos tempos. Depois de ter compartilhado suas frustrações por ser usada como ponte até o garoto, me sentia na obrigação de não deixar assuntos mal entendidos.

— Aoi, você... Gosta dele?

— O quê? — ela se virou surpresa — Céus, não. De jeito nenhum o cara foi meu primeiro amigo na vida, definitivamente não. De onde veio isso?

— É que você ficou corada.

Respirando fundo, minha amiga se virou para me encarar de frente — Primeiro, isso nunca vai ser uma possibilidade. Fiquei envergonhada porque... Bem, soa estúpido quando de diz em voz alta e também-

Ela engoliu seco e se virou, havia algo que ela não estava me falando.

— Aoi?

Eu a chamei, mas ela não me respondeu e sim se abaixou repentinamente no corredor de meias com as mãos cobrindo o rosto, até as pontas de seus dedos estavam vermelhos. Me abaixei também, não ligando para os olhares curiosos.

— O que aconteceu? — estava começando a ficar preocupada em ter dito algo muito errado, já que ela não me respondia.

— É vergonhoso falar isso.

— Você está me deixando preocupada! Devemos voltar para a papelaria? Sua mãe vai saber o que-

Um murmúrio me fez travar no lugar — O que disse?

Aoi abriu uma fenda para que eu pudesse ver seus olhos — Promete não contar para ninguém?

— Sim? Não é como se eu tivesse alguém para falar — rebati.

— Eu... — de novo um sussurro tão baixo que não entendi —, é bobeira! Sou tão idiota.

Abaixei a cabeça e ergui as mãos para seu rosto, apertando suas bochechas — Não entendi uma palavra que disse, fale de uma vez! E com confiança.

— Eu gosto do Kai.

Abri a boca, aquela foi uma confissão inesperada. Minha mente imediatamente fez uma imagem mental do casal, o vice-capitão era tão calmo que era capaz que Aoi ficasse por horas falando e ele apenas ouvindo. Até que era fofo.

Apoiei-me nos meus joelhos e levantei, puxando minha amiga para fazer o mesmo — Precisamos trabalhar nessa sua confiança, não tem nada de errado em gostar de alguém. Salvo algumas situações de consequências morais.

Tombei a cabeça para o lado e segurei seu rosto entre minhas mãos — Tenho certeza que ele te trataria como uma rainha.

— Não tenho coragem, prefiro ficar observando de longe, é como um sonho que nunca será alcançado. Desculpe jogar isso de repente para cima de você.

— Pare de se desculpar por ser uma pessoa, por reagir. Vamos combinar uma coisa, pode falar tudo, e digo com sinceridade, absolutamente tudo comigo. Qualquer coisa que seu coração quiser, se eu achar um incômodo, vou falar e você sabe que eu falo. Certo?

Aoi riu e uma pequena lágrima caiu de seu rosto — Sim, combinado.

— Não chore, não tem motivos, não sei lidar com as minhas lágrimas direito, quem dirá com a dos outros. Agora vamos encontrar o tênis do folgado do Fideo e depois comer aquele waffle.

Minha amiga limpou o rosto ainda vermelho e voltamos a andar na loja, peguei o celular para ver o modelo e o tamanho, tinham tantas especificações descritas no texto que na hora de falar com o vendedor apenas lhe entreguei o aparelho. Não tinha paciência para ler tudo para o homem.

— Como é seu irmão?

— Fideo não é meu irmão de verdade, mas crescemos como se fossemos. Ele é alto, tem os cabelos loiros no ombro, com a certeza que um dia vai conseguir converter Nico para jogar basquete — cruzei os braços na minha frente —, mas apenas por cima do meu cadáver.

— O que tem de tão ruim em jogar basquete?

Uma voz grossa atrás de mim disse e quando me virei, havia um garoto de pele morena e cabelos azuis parado também olhando tênis de basquete. Seus olhos tinham um formato afiado como pontas de faca, olhava para nós duas com uma aura não muito amigável.

Aoi se escondeu atrás de mim, porém me virei para o encarar de frente e responder.

— Não tem nada de ruim, mas meu irmão vai ser um jogador de vôlei — o rapaz deveria ser mais alto que Kuroo.

— Vôlei, que graça tem um esporte em que se fica confinado numa parte da quadra?

— Qual o mérito de fazer uma bola passar por um aro?

O garoto sorriu e deu um paço em minha direção — Eu gostei de você, qual o tamanho do seu suti-

Nesse momento surgiu de trás dele uma garota de cabelos longos e rosados para o interromper, eu realmente não sei se queria saber o fim daquela frase.

A miúda reclamou dele sair andando sozinho e a deixar para trás, não consegui identificar seus uniformes — não que eu conhecesse muitos —, mas eles se foram antes mesmo de eu poder falar mais alguma coisa. De sua conversa só entendi algo como "Dai-chan".

— Desculpe a demora — o vendedor voltou com a caixa dos tênis fazendo-me volta para o universo presente — aqui está, exatamente como pedido.

— Obrigada — desviei o olhar das duas figuras que se afastaram e olhei para o par gigantesco de tênis na caixa — eu já vou pagar se puder preparar para mim.

— Com certeza.

Em poucos momentos passamos no caixa, e com a caixa numa sacola seguimos para o dito café. Deixei Aoi encarregada dos pedidos já que ela já conhecia e mandei uma foto para Fideo da sua preciosa encomenda, claro que pedindo um agrado por ter me deslocado até a loja depois de um duro e árduo dia de escola.

Também tinha algo no balcão que eu queria, um mimo do meu projeto de irmão seria o suficiente para o comprar. Fideo não reclamou, me chamou de manipuladora, mas no fim pagou o valor do tênis com um certo bônus.

Os waffles eram do tipo estrangeiro, com coberturas muito além de açúcar, creme de chocolate, sorvete e até mesmo frutas. Aoi não mentiu quando disse ser uma delícia, durante esses momentos ela se abriu um pouco mais em relação aos assuntos anteriores, Kai e Kuroo, explicando pouco das suas inseguranças. Sempre se chamando de boba.

— Aoi, não existe isso de ser bobo. Se pudéssemos controlar tudo que sentimos, não acha que o mundo seria muito diferente? — respondi terminando minha bebida — A questão é porque você sente vergonha de agir assim, e então trabalhar nisso. Se quiser.

Apoiei o garfo na mesa — Kuroo é seu amigo, eu entendo você não querer expor essa amizade por conta do... Histórico, mas não se sinta culpada por isso. Tenho certeza que ele também te entende.

— Acho que você tem razão.

— Vai descobrir que costumo ter — me inclinei para frente com um sorriso —, na maioria das vezes.

Aoi balançou a cabeça e olhou para o relógio, disse que iria ao banheiro e então poderíamos voltar para a loja de sua mãe.

Nesse momento em que ela se afastou fui até o balcão rapidamente, comprando meu item de desejo. A garota voltou e agi como se nada tivesse acontecido, e depois de marcar o que consumimos na conta da papelaria saímos.

Não sou uma pessoa particularmente boa com sentimentos, então antes de entrar na loja de sua família a chamei.

— Não é grande coisa, mas é um agradecimento. Por hoje, além disso, por ajudar uma estrangeira desconhecida, por estender a mão quando precisei.

Cobri sua mão com a minha deixar cair nela um chaveiro com o formato dos waffles que comemos — Uma lembrança da primeira vez que saímos juntas.

— Eu não vou chorar, definitivamente não vou — ela cobriu os olhos e eu coloquei a mão em sua cabeça.

— Vamos lá Himaoi antes que sua mãe se preocupe em ver o bebê chorando.

— Calada, Calli-chan.










N/A: Ehhhh, porradeira atrás de porradeira. Hoje foi um capítulo de transição pra fortalecer a amizade das meninas.

Sim é o Daiki e a Momoi de KNB, eu procurei pra ver o ano em que se passa a história do mangá, mas, não achei então vamos supor que seria algo como Haikyuu. Com o Fideo jogando basquete seria uma dó não usar essa oportunidade não é?

Obrigada por ler até aqui!

Até mais, Xx.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top