Dedicação

c a p í t u l o c r o s s o v e r



— [Nome]-senpai, posso fazer uma pergunta?

Girei uma bola na mão, sem muitos pensamentos — Claro Tobio, o que é?

Os treinos do dia já tinham começado, lentamente caminhávamos em direção ao almoço com uma manhã agitada. Agora a Karasuno estava descansando antes da pausa geral.

— Como é o time feminino da Fukurodani? — questionou.

— Chato de lidar — respondi prontamente —, e agressivo. A capitã tem uma boa visão de jogo, e a comunicação com as outras jogadoras é rápida. Logo nas primeiras jogadas vai perceber o que quero dizer.

— Já jogou com elas? — continuou perguntando. Agora ele já não se segurava perto de mim, é possível manter uma conversa longa sem nos sentirmos estranhos.

Joguei a bola de vôlei para ele — Algumas vezes, antes de me despedir na Itália treinei com elas, nos encontros de Nekoma e Fukurodani também costumamos a jogar um pouco. Como levantadora, posso dizer que a capitã é exatamente o tipo que odiamos e amamos.

— Amamos levantar para, odiamos jogar contra — coloquei a mão em seu ombro.

Deixei o mais novo pensando e voltei para perto do meu time.

— Parece se dar bem com o levantador da Karasuno — Kai disse assim que me aproximei.

— É divertido, diferente de Kenma ele tem uma visão onde vôlei é a única opção. Bokuto ensinou coisas para Hinata, Kuroo para Tsukishima, posso ajudar o levantador também.

— Também quer ter um pupilo? — o vice-capitão da Nekoma questionou.

Resmunguei em resposta passando os olhos para os outros jogadores, lembrando do que Kuroo disse durante o acampamento em Shinzen quando os mais novos questionaram o porquê dele estar ajudando.

— Não necessariamente, não jogo mais, não sou uma adversária. Mas também treinei e descobri coisas no meio do caminho, acho que se eu conseguir passar esse conhecimento isso para frente tem uma sensação de legado.

— Entendi, é gentil da sua parte. Não precisaria responder nem ajudar ninguém — complementou o garoto.

— Pelo que vocês me disseram a Karasuno vai ter um grande desafio em Miyagi para passar pela Shiratorizawa, se eu puder ajudar de alguma forma também é um passo a frente de tornar a batalha do lixão verdadeira, certo?

Nesse instante a porta do ginásio se abriu, revelando a atração do dia. Agora com o time completo, o ar — e pressão — que veio com o time feminino da Fukurodani foi avalassador. A capitã puxou o cumprimento sendo seguida pelo restante em seguida, seus pés bateram no chão fazendo ecoar pelo ginásio um som abafado.

— Elas realmente vivem pela fama de espartanas — balancei a cabeça.

— Se arrepende? De ter vindo para a Nekoma? — Kai seguiu o meu olhar. — Sempre parece animada quando encontra com elas.

Neguei — Se eu tivesse continuado a jogar, já estaria com complicações, por forçar meu corpo mais do que ele aguenta. E mais que isso, não suportaria estar num time sem conseguir dar o meu melhor. Vendo agora, eu seria penas um peso morto entre elas.

— Não me arrependo de ter escolhido a escola dos gatos, vocês foram importantes na minha aceitação. Me fizeram lembrar o que é um time, estando dentro de quadra ou não. Olhar para a capitã é só um sonho distante, acho que seríamos ótimas rivais em quadra.

— Mais do que você ser grata por nós, nós que temos que agradecer por ter nos escolhido. — Kai respondeu e abaixou a cabeça — Obrigado, Calli-chan.

Bati o ombro com o dele suspirando alto — Por que os outros garotos não têm a personalidade como a sua Kai? Os dias seriam mais tranquilos.

Ele riu em resposta.

— Estou impressionado, o time está completo — Yaku comentou olhando para as recém-chegadas. — Não faço ideia de quem pode ganhar.

— Tenho minha torcida, mas acho que temos margem para surpresas.

— Não consigo nem imaginar quem seja — Tetsurou também se aproximou com uma frase ácida.

Nesse momento meus olhos encontraram com os da corujinha na distância, num cumprimento levantei a mão para a cabeça prestando uma continência. Que foi prontamente recebida com um aceno.

— Eh, porque essa cara feia Kuroo. Não que não seja sempre assim, mas hoje está especialmente enrugada.

Como sempre, posso contar com meu querido demônio-senpai para apontar tudo aquilo que não consigo ver. Imediatamente ele mudou a pose.

— Não sabia que se preocupa tanto com a minha aparência, minha namorada pode ficar com ciúmes se desviar toda a sua atenção para mim.

Dessa vez a careta surgiu na feição do líbero — Isso é nojento, e honestamente não acho que [Nome] ficaria com ciúme de você por isso.

Gargalhei — Pode olhar o quanto quiser, Morisuke, não me importo nesse caso.

Kai cobriu a boca para rir. Enquanto os outros dois pareciam ficar enjoados com a ideia de algo acontecer entre eles.

— Eu me mataria antes disso.

— Por favor, faça isso — o capitão respondeu o líbero.

Balancei a cabeça, os times pareciam estar de organizando para assistir à partida. Afinal todos queriam ver como ambos times iriam reagir, a Karasuno tendo o lado inesperado e o super ataque rápido, ia brigar diretamente com a Maestrina das Quadras e sua orquestra poderosa.

— Quer ir até lá? — Tetsu disse numa voz mais baixa apontando para onde estava o time da Fukurodani. — Não conversaram ontem.

— Para quem estava com ciúme da capitã ontem, essa é uma atitude nova. — a resposta veio rápida, como um corte. Porém, ele já estava acostumado, uma vez que também era assim.

Tetsurou deu de ombros — Confesso que algumas vezes pensei que de repente poderia nos trocar por elas, mas não tenho porque duvidar na nossa ligação. Também não perderia um dos nossos glóbulos vermelhos ser lutar.

Franzi em sua direção, algo parecia estranho, frases desse tipo não simplesmente saiam de sua boca sem motivo.

— Você estava escutando a minha conversa com Kai, não é?

O sorriso surgiu — Talvez.

Me coloquei a andar na direção das garotas, mas o Chapeleiro Maluco conseguiu chegar primeiro.

— Hey, Hey, Hey! — ele se colocou na frente da capitã, mudando a voz em seguida para um tom preocupado. — Está melhor?

Ela deu um sorriso apaixonado em resposta dizendo que sim, uma feição calma que sempre aparecia no rosto de Bokuto quando a garota era assunto das nossas conversas.

— Vocês entraram de uma maneira tão legal! Tive calafrios, as espartanas são tão... Incríveis.

Kuroo não perdeu a oportunidade de fazer uma provocação — Para mim pareceu uma verdadeira barbárie.

— Gatos medrosos costumam se sentir intimidados mesmo. Me diga Kuroo, passou um filme na sua cabeça de todas às vezes que chutei a sua bunda num acampamento?

A capitã também tinha uma língua afiada cheia de respostas.

— Não, lembrei de todas às vezes que eu te bloqueei, corujinha.

Me coloquei entre os dois, raios praticamente estavam se chocando entre eles. Apoiei a mão no peito de Tetsu e respirei fundo.

— Por favor, por que vocês dois sempre parecem que querem se matar? — questionei com sinceridade. Porque sei que eles são amigos, contra todas as aparências.

Um riso sarcástico ecoou — Aposto que Kuroo-kun está nervosinho porque a namorada dele parece estar dando mais atenção para mim.

Mais uma vez a garota me surpreendeu. Capitão coruja olhou para mim com certo desespero, afirmando que não foi ele que revelou o segredo.

— Sei disso Bokuto — respondi levantando a mão —, tinha certeza que a capitã teria capacidade o suficiente de perceber por conta. Foi só um teste.

De maneira preguiçosa, a garota encostou em Bokuto numa forma de apoio, cruzando os braços e fazendo um bico — Pobre gato preto. Não precisa ficar com ciúme de mim, e sabe o porquê. Não vou roubar ela de você, mas não posso fazer nada se a Calli-chan quiser.

Inesperadamente ela deu uma piscada de olho para mim, sabendo que Tetsu andou espiando a minha conversa antes, não perdi a chance de revidar.

— Não me faça propostas — estendi a mão para ela como um príncipe em contos de fadas —, posso conseguir uma transferência ainda.

Ela aceitou minha mão e num segundo a puxei para um abraço.

Uma amizade que começou sem promessa alguma, mas que se tornou essencial, daquele tipo que podem se passar meses e nada irá mudar. Estar na presença da capitã era confortável, me deixava tranquila e disposta a revisitar memórias com saudade.

Senti suas mãos baterem de leve nas minhas costas num afago.

— Parabéns pela sua despedida — disse.

Me afastei para ver seu rosto, e os sentimentos genuínos em seu rosto. — Obrigada capitã, tenha certeza de guardar um tempo para mim depois, ainda tenho algo para te ensinar.

Um brilho surgiu em seus olhos ao se lembrar do pedido feito antes mesmo da minha viagem.

— O quê? — Bokuto perguntou com curiosidade, ao lado de um Tetsurou levemente emburrado.

— O levantamento da rainha — falei —, se tem alguém que merece levar ele para frente é ela. Mesmo aposentada, pelo menos um pedaço da rainha de copas continua na quadra.

Tobio tem seu próprio estilo de jogo, pode se inspirar nos meus levantamentos e adaptar para os fazer seus. Mas a capitã não é uma levantadora, aprender algo do tipo é como receber uma lâmina a mais em batalha, que será polida a perfeição, mas sem alterar seu molde. Não é uma técnica impossível de ser recriada sem a minha orientação, mas se tivesse que escolher alguém para a receber e a levar para frente, seria ela.

— Agora, contra os rivais predestinados, já sabe o que vai fazer? — perguntei sem esconder a animação na minha voz, assistir a um jogo do time feminino era sempre uma experiência nova.

— Jogar como nunca, ganhar como sempre — ela sorriu e deu um passo para trás —, minhas garotas estão animadas. É sempre bom encontrar com um time novo, aumenta nosso repertório.

A garota girou os ombros por um momento — Mas considerando tudo que nos falaram, não será uma tarefa tão simples assim. Começaremos direto com o time titular.

— Com razão, Karasuno é realmente o que representam. Corvos, usam de todos os outros para ficarem mais fortes, não acho que já encontraram um time com o perfil de vocês para jogar. Será interessante.

— É o que espero — um suspiro —, vai torcer por nós? Afinal é uma espartana honorária.

— Por mais que eu queira ver um bom jogo do meu aprendiz — confessei —, preciso honrar nossa parceria.

Os times então foram chamados para a quadra, eles se apresentaram e os capitães foram fazer a escolha — recepção ou saque —, ao centro dela. Nas laterais, todos os outros times haviam parado, e se organizado para assistir.

Hinata, Tobio e Nishinoya pareciam os mais interessados, seguiam cada passo das espartanas com cuidado, antes mesmo do apito soar. Me sentei ao lado de Kenma para assistir à partida.

— Karasuno vai começar recebendo — Yaku estava também ali, mas de pé —, não sei se é a melhor escolha.

— As duas opções são ruins considerando as adversárias — comentou nosso levantador — eles devem estar priorizando o líbero. Depois dele pedir para receber um corte da capitã ontem, parece decidido a cumprir a promessa de não a deixar marcar hoje.

— Faz sentido, ainda mais considerando que não é um jogo oficial. Se a Karasuno quer testar jogadas e costumes contra um time especializado em força, esse é o momento. — respondi — Porém, conhecendo a corujinha ela vai se adaptar logo, e vai perceber o que está acontecendo.

— Shouyo e o levantador tem um bom combo de ataque, mas em conjunto com o time a Fukurodani tem mais habilidades, e a capitã também consegue fazer uma leitura completa. Por mais que a Karasuno consiga dar alguma surpresa no começo, logo some para consistência das corujas.

— Concordo com você Kenma — encostei na parede levantando os joelhos até o peito.

— Acho que a Fukurodani ganha de dois sets, mas com um pouco de dificuldade no começo. — Yaku apostou. — Eles sabem da capitã, o que ela faz e sua força vão tentar neutralizar ela primeiro.

— O que é um erro — Kuroo também entrou na conversa —, porque todas elas conseguem fazer de tudo. Se focar demais numa jogadora só, as outras vão vir para te comer vivo.

— É muito difícil — escutei Tora falar — muito difícil mesmo. Não sei para quem torço, de um lado as minhas musas da força de vontade espartanas, do outro meu companheiro da aliança.

— Que diabos ele está falando? — perguntei para Kenma.

Com uma careta, o levantador respondeu — É melhor você não saber.

O jogo entre os dois foi exatamente o que pensamos, começou devagar arrastado com ambos os times tendo certa cautela. Mas no momento em que os primeiros ataques especias foram usados o ritmo mudou absurdamente, uma Karasuno em crescimento não foi párea para um trabalho de três anos.

— Esse ataque de esquerda da capitã é de matar — Yaku comentou ao ver Nishinoya perder a recepção para ele. — Nem eu consigo lidar com ele às vezes.

— Eh, fala como se você fosse um Deus das recepções. — Kuroo alfinetou.

— Da Nekoma sou — respondeu o líbero. — Karasuno jogou bem, só que a Fukurodani jogou melhor. Quando jogamos em times fechados, até nós temos problemas para lidar com elas.

— Até o time masculino da própria Fukurodani — comentei olhando para onde os garotos estavam.

Eles haviam se juntado as outras jogadoras e treinador Dan para acompanhar a partida, ajudando quando o primeiro set acabou. Elas ganharam o primeiro, mas não foi algo avassalador, tiveram problema para se adequarem ao ataque rápido de Hinata e Tobio, apenas no final conseguiram reagir melhor. Coisa que mudou completamente no início do segundo.

— O tão poderoso ataque da dupla estranha foi parado em apenas três pontos, isso é algo para ver. — Tetsurou comentou com certa alegria, bom, a Karasuno ainda é a rival. Mesmo que pela mão de outros ele deve estar se divertindo.

— Fui me envolver com um sádico — encostei a cabeça no ombro de Kenma. Ele primeiro paralisou, mas logo relaxou. — Kenma, se eu sumir por alguns dias já sabe onde encontrar meu corpo não é?

— Oe, [Nome], não fale besteiras — ralhou meu namorado.

— Num dos primeiros acampamentos que tivemos na Fukurodani, a capitã me perguntou como ficar boa na recepção. Naquela época o time ainda era novo e a maioria delas não sabia nem o que fazer direito com a bola — comentou o líbero —, ver ela fazer recepções desse nível com facilidade me faz pensar se são a mesma pessoa.

— Toda dedicação traz frutos, só não melhora aqueles que param no meio do caminho — disse para meu amigo —, algumas evoluções podem ser mais rápidas que outras. No caso desse time em específico, acho que foi um conjunto de fatores.

— A Nekoma mudou também, de quando entrei para agora. Ainda temos como base a recepção sólida, mas ofensivamente nossa estratégia ficou mais afiada. Pensando no sangue novo, e também no que vocês estão dispostos a melhorar, quando voltarmos a nos encontrar com esse times seremos diferentes de novo.

Meu pequeno discurso foi interrompido — Deusa do vôlei, Calli-senpai-chan, suas nobres palavras, não sou digno delas. Esqueça, não torço nem para a Fukurodani, nem para a Karasuno, torço para você.

Por estar perto de Kenma escutei ele resmungar sobre as ações do amigo, dei risada.

Em pouco tempo o curso do jogo para o segundo set estava definido, e atendendo as expectativas da maioria. As Espartanas de Tóquio venceram.

— Muito bem — Naoi se aproximou do nosso grupo —, comecem a se mover novamente. Vamos retomar o treinamento assim que ajustar a rede de novo. Karasuno fica na espera, mas jogamos normalmente.

— Sabemos como são os treinamentos, se não quisermos perder para as corujas, como a Karasuno, temos que treinar. — O capitão usou de uma pequena dose de incentivo para colocar os mais simplistas de volta nos trilhos de animação.

— Vamos lá!

Os dois times que estavam jogando se retiraram, e os outros quatro foram para as quadras conforme o combinado. Aceitei a mão de Tetsu para me ajudar a levantar e em seguida fiz o mesmo com Kenma, que agradeceu, tive certeza de deixar os pertences da Nekoma em ordem antes de tomar meu lugar na lateral da quadra.

Afinal, antes de ir "brincar" com a minha amiga ACE da Fukurodani, tinha que cuidar do meu time.













N/A: Obrigada por ler até aqui!

Até mais, Xx!

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