Cortem suas cabeças!
A última aula antes do almoço era de biologia. Todos aqueles termos em japonês faziam minha cabeça doer, no projetor, o professor baixo e rechonchudo explicava usando a ajuda de imagens o conteúdo do dia.
— A holometabolia é um dos três tipos de desenvolvimentos de insetos, e podemos chamar de desenvolvimento completo — ele trocou a imagem —, é constituído pelas fases de ovo, larva, pupo e fase adulta. Quando o indivíduo está sexualmente maduro. A maioria das espécies que temos conhecimentos pertencem a essa ordem, a minha pergunta para vocês é: qual o motivo desse desenvolvimento estar atribuído a um grande número de espécies?
Algumas pessoas foram chamadas para responder, mas nenhuma delas chegou a dar a resposta que o professor queria, e é claro que eu, que estava olhando fixamente para meu caderno evitando ter contato visual com o homem, fui chamada para responder.
— Acontece por conta da exploração de diferentes nichos entre as fases da vida. Cada etapa do desenvolvimento acontece em habitats díspares, que impede a competição entre as espécies — olhei para Aoi para ter certeza de que não disse nada errado e ela me deu um aceno de encorajamento —, assim aumenta a efetividade do inseto dentro do seu ambiente assim como a sua adaptação.
— Perfeito — o sinal tocou —, marquem o capítulo como um dos que vão precisar estudar para as provas.
As luzes foram acesas e os alunos logo começaram a sair, Aoi bateu nas minhas costas.
— O que é você, o Galileu? Céus [Nome] tem alguma coisa que você não seja boa?
— Primeiro, Galileu era um físico e um astrônomo, se for biólogo pode me considerar o Marcello Malpighi, pioneiro da microscopia, médico, anatomista — arrumei as coisas na bolsa —, sobre ser ruim em algo, você que me ajuda com japonês, então, está aí sua resposta.
— Será que se eu ficar mais tempo com você essa inteligência toda passa para mim? — ela questionou e eu ri balançando a cabeça abaixando para pegar a alça.
— Eu tenho quase certeza que não — respondi me levantando e colocando a tira em meu ombro — mas, fique por perto Aoi. Vamos testar essa hipótese.
— Como sua melhor amiga, me sinto na obrigação de ajudar — ela se enganchou no meu braço e logo seguimos para a saída. Porém, não conseguimos passar por ela já que Natsumi entrou no nosso caminho, literalmente ela colocou a mão apoiada no batente para impedir nossa passagem.
— Chegou o Jaguadarte, ôlho de fogo — proclamei em voz alta, Aoi colocou a mão na boca escondendo um riso enquanto a garota olhava entre nós sem entender nada —, por favor saia da nossa frente.
— Sei quem você é, e porque está aqui. — respondeu me ignorando, mantendo uma expressão debochada no rosto.
— Parabéns, agora por favor — balancei a mão em sua direção — eu e minha amiga estamos com fome, e o tempo é curto.
— Parece que você não entendeu como as coisas funcionam por aqui — a garota deu um passo para frente em minha direção, senti Aoi apertar a minha blusa, contudo apenas aguardei —, eu falo e você escuta, se achou que os boatos que se espalharam são ruins, posso colocar alguns bem piores.
— Então foi você? — fingi surpresa — Querida, por favor, quem eu sou, o que eu fazia e porque parei, está na maravilhosa internet, qualquer um que procurar pode achar. E outra pequena informação, os jornais iriam gargalhar das mentiras que andou espalhando por aí, tão... Como se diz, insignificantes.
Ergui minha mão para ajeitar a gola da camisa dela junto do suéter, Natsumi não devia estar acostumada com ser respondida, então não reagiu com o meu gesto repentino — Da próxima vez diga que meu avô é o Carlo Gambino ou Al Capone, vai fazer um favor para nós duas.
Dei dois tapinhas em seu rosto e apoiei a mão em seu ombro, a tirando da nossa frente de uma vez — Então se me dá licença.
Algumas outras meninas que estavam por perto riram, ao menos tinha algum respaldo caso mais boatos envolvendo a máfia italiana aparecesse. Pisquei para as garotas que ficaram coradas e puxei Aoi comigo.
— Isso foi o máximo — minha amiga olhou para trás —, mas tem certeza de que vai enfrentar Natsumi assim?
— Passei tempo demais me preocupando com coisas que não devia Aoi — a respondi —, não vai ser alguém como ela que vai me colocar medo. Vou continuar no time de vôlei, fazendo o meu melhor, ajudando da maneira que posso, que os outros falem o que quiserem de mim.
— Eu gostei do Jaguadarte — comentou quando chegamos na mesma parede de cimento que viu minha solidão nos primeiros dias —, mas isso não faz de você a Alice?
— Não, já tenho meu personagem — completei sentando e apoiando as costas na parede —, você pode ser a protagonista.
— [Nome] posso fazer mais uma pergunta? O porquê do apelido?
Estiquei as minhas pernas, as leggins cobriam a cicatriz e a pele, mas mesmo embaixo do pano preto eu sabia exatamente onde ela estava. Aoi ajeitou a saia e se sentou do meu lado.
— Regina di cuori, — acariciei o meu joelho — A "Rainha de Copas", não me lembro a data exatamente, mas me lembro o que fez ele ser meu. Como você sabe, eu era uma levantadora...
— Uma das melhores pelo que eu ouvir.
Sorri com o comentário — Não sou boa em negar, mas sim uma das melhores. Sempre que o jogo estava numa situação complicada para manter as atacantes motivadas, eu começava a chamar tagliatele com toda a voz que eu tinha após fazer o passe. E de alguma forma no meio de tantas pessoas gritando a minha voz sobressaia, "corte!","corte!", as jogadoras usavam toda sua garra no ataque. Como se essa pequena palavra fosse ou feitiço que tirava o melhor delas, não teve um jogo que eu não gritei isso que não vencemos.
— Então certa vez, um jornalista fez uma matéria sobre o time, e ele escreveu essas exatas palavras "A Rainha só conhecia um jeito de solucionar todas as dificuldades, fossem elas grandes ou pequenas. Corte!", no trecho original é 'cortem-lhe a cabeça', mas ele modificou para se adequar a minha fala — peguei o bentou na minha bolsa — desde então fiquei conhecida como a Rainha de Copas, ao menos nas quadras.
Minha mãe estava se empolgando cada vez, na hora de fazer bentous, as tiras coloridas perfeitamente organizadas eram prova disso — Seu amigo Kuroo pode ser o Cheshire se quiser, ele tem um dom para ser personagens felinos.
— O que quer dizer com isso?
Então tranquilamente eu e Aoi tivemos nosso almoço, conversando sobre livros, referências culturais e qualquer outro assunto que apareceu para comentarmos. Contei a ela sobre minha eventual aventura no centro da cidade até do tênis para Fideo e também a convidei para me acompanhar.
— Eu sei onde fica a loja, podemos ir depois da escola. Espero você sair do treino e podemos ir, também tem um lugar ótimo para comer perto, tenho certeza que vai gostar!
— Deixo o itinerário nas suas mãos Aoi — me levantei esticando os braços sentindo os músculos se alongarem a ponto de doer —, mal sei vir para a escola da minha casa. Odeio admitir, mas se não fosse Kuroo e Kenma estaria pegando o transporte no pior horário até agora.
— Não sabe o quanto é bom ouvir essas palavras tão doces escapando da sua boca Calli-chan.
— Salem — girei os calcanhares e sorri —, o que traz você ao país das maravilhas?
— Crossover? Não deveria ser Cheshire? — Ele mesmo perguntou, Aoi gargalhou alto em resposta, chegando até bater os pés no chão.
— Você parece conformado em assumir personagens fictícios felinos Kuroo — a amiga antiga dele comentou.
Colocando as mãos nos bolsos da calça e encostando os ombros na parede, Kuroo continuou olhando para ela com um sorriso debochado — O que posso fazer se sou um gato, de várias formas.
Aoi pegou um punhado de grama entre os dedos e arrancou jogando em sua direção — Você é ridículo de várias formas, isso sim. O que você quer no fim das contas?
— Absolem solicita uma reunião, já que é a primeira vez que vamos ter uma escola visitando.
De repente a imagem do treinador Nekomata se formou em minha mente — o rosto redondo com rugas, as frases veladas, sempre sentado na cadeira observando —, ele com certeza preenchia o papel. Aoi levantou a bolsa para mim e eu agradeci.
— Nos vemos na classe.
— Sim, vou passar na biblioteca antes disso.
Acabei por me afastar junto do capitão — Então, não faz o perfil de quem lê histórias como a da Alice.
— Ficaria surpresa com a quantidade de coisas que não sabe sobre mim — respondeu —, mas se quiser, estou disposto a contar.
— Eu te aviso quando isso acontecer — um sorriso se manteve no seu rosto até chegarmos ao treinador.
— Academia Fukurodani chega às três, ouve algum problema com o ônibus que acabou atrasando um pouco, vamos arrumar as cadeiras para partida e fazer um breve aquecimento — o Nekomata-sensei me entregou um envelope — É para pegar os uniformes, pode passar no almoxarifado da escola e pegar antes do treino?
— Claro, sem problemas — guardei a permissão na bolsa —, tem mais alguma coisa que precisa que eu faça?
— Não isso é tudo, passem o novo horário para o restante dos garotos — concluiu —, estão dispensados.
Agradecemos e acabamos por nos dividir para encontrar os alunos do time nos minutos restantes, só voltamos a nos ver de volta a sala. Kuroo se encostou na minha carteira mantendo uma mão apoiada na mesa.
— Obrigado pela ajuda gerente, tudo parece pronto para a festa do chá.
— Você realmente mergulhou na nossa conversa — olhei para Aoi —, ele é sempre abusado desse jeito?
— Na maioria das vezes — minha amiga tinha o rosto apoiado na mão —, mas conhecendo um pouco do time da Fukurodani, até que combina, já você está preste a conhecer mais um personagem principal.
— Quem?
— O chapeleiro maluco.
N/A: Essa fusão com Alice estava 0 planejada, mas eu amei e vamos continuar. Não muito, só mais um pouco hahahaha. Os capítulos estão um pouco curtos pra alinhar bem certinho com Immortals, mas depois pretendo fazer eles mais longos.
Obrigada por ler até aqui, me deixe saber seus pensamentos.
Até mais, Xx!
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