Capitã
— [Nome], na direita!
Após ouvir o pedido de levantamento recuei alguns passos na quadra para me ajeitar a posição, e ignorar completamente o pedido jogando para a esquerda e fazendo o levantamento que finalizou o ponto do set do treino.
— Qual o ponto de comunicar se você sempre faz o contrário — Rav reclamou.
— É por isso que se chama isca — Dalia bateu a mão na minha comemorando o ponto.
— É por isso que todo mundo odeia jogar contra a capitã, é um ataque nojento.
— Ex-capitã, Rav — corrigi de novo olhando de canto de olho para aquela que tomou meu posto —, estou aqui para me despedir da seleção, já passou da hora de parar de me chamar assim.
— É, certo. É difícil de me acostumar — respondeu sem ligar muito para situação —, passamos tempo demais juntas. E não faz nem um ano que tudo aconteceu.
— Ravenna — Sarita deu um empurrão nela indicando com a cabeça o outro lado da quadra.
Nicia estava com as mãos fechadas e o rosto vermelho, pude ver lágrimas se formando nos seus olhos, foi então que tudo pareceu desabar. A atual capitã soltou a bola e saiu correndo para a porta do ginásio.
— Droga Ravenna, será que se você tentar consegue ser um pouco mais insensível? — uma das novas jogadoras disse — Aquela seleção que você jogaram acabou, Nicia é a nova capitã, mas desde que... Ela, chegou, parece que fez vocês se esquecerem disso.
— Ela? — Rav deu um passo para frente — O que você tem de boca grande tem de coragem, chegar quando já temos estrutura é fácil. Se não fosse por nós e o que ganhamos, vocês não estariam aqui, pirralha.
— Os tempos mudam, velhota, talvez seja a hora de mais de vocês presas ao passado se aposentarem.
— Chega! — disse com a voz alta o suficiente e firme o suficiente para fazer a discussão se encerrar. Fechei a mão em punho.
— Todos parecem estar confundindo um pouco a situação — coloquei a mão na testa — Ravenna, eu disse algumas vezes, eu não sou a capitã. Sim, o que vivemos foi maravilhoso, foi uma ótima época, mas acabou, está bem? Por causa dessa droga de lesão minha.
Levantei o joelho mostrando a porcaria da cicatriz — Vim aqui para me despedir, é só isso. Voltarei para o Japão depois e continuar a vida que eu escolher por lá. Nicia é a capitã e ela merece ser tratada como tal, porque foi quem o Matteo escolheu para entrar no meu lugar.
Tomei folego e continuei — De igual forma, tudo que temos aqui é devido ao trabalho de anos, feitos por um time. Um pouco de respeito por quem já sacrificou mais do que vocês é bem-vindo.
Ravenna colocou a mão na nuca e abaixou a cabeça suspirando — As coisas eram diferentes naquela época, você nos puxava a ser melhor, em quadra e fora dela.
— Porque eu sou uma pessoa diferente, eu jogo de uma maneira diferente. Alguma vez você já disse para Nicia que precisa de um grito no ouvido para te colocar de volta nos trilhos? Ou que jogar com enganação é seu jeito favorito? Nós tivemos essa conversa é por isso que tem a sensação que eramos melhores naqueles dias.
Apoiei as mãos na cintura — Essa briga e completamente sem sentido, eu vim para ganhar das espanholas, porque é a minha última chance de pisar numa quadra profissionalmente.
Me virei para Rav e para a outra garota que estavam discutindo — Podem gostar de mim ou não, quando essa semana acabar nunca mais vão ver a minha cara. Vocês, por outro lado vão continuar juntas por um longo tempo. Quebrar o time por uma briga boba como essa, de preferências, vale mesmo a pena?
— Sei que temos fama de cabeça quente, mas isso foi longe demais — Matteo chamou a atenção pela primeira vez, visto que ele tinha o costume de deixar as jogadoras resolverem seus problemas sozinhas.
— Faremos uma pausa e depois voltamos com o treino normalmente — anunciou, ele me deu uma olhada e um aceno de cabeça. Entendi como um sinal e resolvi sair atrás de Nicia.
Nossa relação nunca foi tão próxima, uma boa jogadora, mas uma substituta. Suas entradas eram pontuais, e a posição titular veio apenas quando eu me afastei. Honestamente, depois das ações de Ravenna a garota tinha todos os motivos para não gostar de mim.
A encontrei num banco distante do ginásio, hesitei um pouco em me aproximar, mas respirei fundo fechando as mãos em punho e me sentando ao seu lado.
— Desculpe por toda confusão, não é o que eu queria.
Um riso seco deixou sua boca — Meio difícil isso não acontecer, mas suponho que seja bom isso acontecer hoje e não no dia do jogo.
— Matteo teria uma síncope se isso acontecesse no vestiário.
As falas morreram e de repente ficou um silêncio constrangedor.
— Eu não sei por onde começar — confessei —, também não estou em posição por me desculpar por Ravenna. Só posso imaginar como é estranho me ter aqui de repente.
— Esse tipo de fala não combina com você — Nicia me interrompeu — sabe [Nome], eu não te odeio. Se é isso que está pensando. Também não odeio o fato de você estar aqui, é só que... Parece que eu desapareci no momento em que você voltou. Entendo a animação de te ter de volta, quero dizer mesmo que disputássemos a mesma posição também te admirava, mas eu me sinto descartável.
— Matteo te escolheu para liderar o time, ele não iria te tirar por nada. E também não é só uma substituta, se fosse algo temporário ele teria escolhido Sarita ou Dallia para serem capitãs.
— Teria sido melhor — Nicia disse virando para mim pela primeira vez — eu não sei ser como você.
Resmunguei — Por que vocês estão tão presas a isso? O time que eu liderava, a capitã que fui. Chega disso, vocês são vocês, eu sou eu, não fui eu que criei a seleção italiana.
Me levantei um pouco brava por ouvir de novo aquela conversa — Eu não sou humilde o suficiente para negar que tive um bom momento, mas foi isso. Vocês são vocês agora, Matteo tem um plano para o time e eu não faço parte dele, você, sim, Nicia.
Virei — Parem de ouvir escondidas e venham aqui de uma vez.
Algumas jogadoras conhecidas saíram detrás do prédio.
— Droga, você tem olhos na nuca ou algo do tipo? — Sari comentou envergonhada — Não estávamos espiando, só...
— Ouvindo sem avisar — Ravenna completou, a garota levantou a mão —, olha desculpa por antes. Eu tendo a falar as coisas sem pensar e considerar os sentimentos dos outros.
— Sabe que isso te faz soar ainda mais babaca não é? — Dallia comentou.
Rav deu de ombros — É a verdade, talvez seja o motivo da maioria das pessoas não gostarem de mim.
— Jura? — Sarita respondeu.
Nicia sorriu — Se você medir um pouco sua sinceridade, as pessoas vão parar de te mal-interpretar.
Eu não soube dizer quanto tempo ficamos falando por ali, as jogadoras se acertando com a nova capitã e eu ouvindo. Foi só quando Matteo apareceu que soubemos ter estourado o tempo limite.
— Não quero saber, vocês vão compensar depois — indicou o ginásio — antes do jogo depois do jogo quando for necessário.
Levantei as mãos — Boa sorte para vocês, eu tenho um tempo limite de treino.
— Vai ficar sentada do meu lado olhando então.
— Ah Matteo fala sério — reclamei.
— Qual o propósito de um castigo se ele não for ruim?
Com isso, eu me vi presa no ginásio olhando as garotas fazendo um treinamento extra, enquanto a maioria das jogadoras já estavam de volta ao alojamento.
Matteo se sentou ao meu lado me empurrando com o ombro — Parece que resolveu as coisas.
— Não, eu só dei um empurrão. Elas que se resolveram sozinhas, você poderia ter ajudado esclarecendo algumas questões também.
Desinteressado o treinador limpou a unha — Qual a vantagem disso? Não sou eu que estou jogando. Sou apenas o guia, mesmo se eu deixar o meu posto dificilmente as jogadoras vão mudar, conseguir resolver seus problemas sozinhas faz parte do processo.
— Eu não sei se você é um bom treinador ou um idiota — respondi recebendo um peteleco na testa em seguida.
— Um excelente, caso contrário não estaria aqui — a confiança em sua voz me fez revirar os olhos — Só temos mais um dia para o jogo.
— Obrigada pelo lembrete.
— Quero saber se você está de boa.
— De boa? — virei o rosto rindo — Que tipo de linguajar é esse? Se seu objetivo era parecer mais jovem, teve o efeito contrário.
— Parece que alguém quer mais meia hora de castigo, ou melhor, treino de observação.
— Ah não Matteo, foi só uma brincadeira — reclamei.
— Infelizmente para você, meu ginásio, minhas regras — o treinador apitou — força garotas! Mais trinta minutos para vocês. Na conta dessa cabeça de vento aqui.
— Fala sério, [Nome]! — elas reclamaram.
Levantei a mão e peguei uma bola que rolou até meu pé jogando de volta para a quadra, direto pelas mãos de Nicia — Desculpa!
A garota sorriu e se preparou voltando olhar para as jogadoras — Vamos lá garotas, só mais um pouco, já passamos por pior. Pelo menos estaremos na melhor condição para passar por cima das espanholas.
— É assim que se fala — Rav ergueu as mãos — capitã.
- ͙۪۪̥˚┊❛ [ EXTRA 23 ] ❜┊ Direto de Tóquio˚ ͙۪۪̥◌
De alguma forma, treinador Nekomata conseguiu arranjar uma das salas da escola para transmitir o jogo entre a Itália e Espanha. Então ao invés de treinarem, o time inteiro estava reunido com olhos fixos no telão e na preparação das jogadoras.
Enquanto Roma mal chegara às 10 horas da manhã, em Tóquio eles já estavam nas seis horas da tarde.
— Estou nervosa e nem sou eu quem vai jogar — Aoi era a única pessoa que não fazia parte do time presente ali.
— Não se preocupe Aoi-chan, [Nome] se preparou bem — Kai tentou a tranquilizar, recebendo uma reação quase contrária visto que o rosto dela rompeu em tons avermelhados pela aproximação do vice-capitão.
— Ali, [Nome]-senpai finalmente apareceu! — Inuoka se levantou colocando as mãos na carteira.
Kuroo se surpreendeu quando viu pela televisão a imagem da garota, parecia alguém completamente diferente. O uniforme azul era imponente e cada virada de câmera ele podia ver o nome gravado nas costas e o número 9 estampado em branco. Algumas jogadoras andavam junto da sua italiana como se orbitassem a sua volta.
Ele viu algumas das facetas de [Nome] no tempo que passaram juntos, a frágil, a atenciosa, a provocativa, mas aquela era uma versão completamente diferente. Mas não menos apaixonante do que as outras. Mantendo os olhos fixos na tela e a mão fechada em punho proferiu uma frase em pensamentos, esperando que de alguma forma sua vontade chegasse a garota do outro lado do oceano.
Somos como o sangue em nossas veias. Fluímos sem parar, mantendo o oxigênio se movendo e o cérebro trabalhando.
N/A: Obrigada por ler até aqui!
Até mais, Xx!
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