Ato de Misericórdia
Com um pedido de desculpas por me deixar sozinha na hora do almoço, Aoi-san se afastou, mesmo que eu tivesse a tranquilizado falando que não tinha problema. Kuroo foi levado por um grupo de garotos assim que saiu da sala de química também, me deixando sem opção a não ser ter uma refeição chata e solitária.
Encontrei um lugar sem muitos alunos para beber algo comprado de uma das máquinas de vendas, isso depois de passar pelo refeitório e não conseguir sequer entender como fazia o pedido. Apesar de ter conseguido manter uma conversa com os dois alunos, ainda tinha muito que evoluir no idioma.
De qualquer forma não tinha fome e não me inscrevi em nenhuma atividade então poderia comer depois que voltasse para casa.
Puxei o celular, na tela frontal um segundo relógio com o fuso horário de Roma me lembrou que nem podia conversar com as amigas que deixei para trás, ainda era de madrugada então faltava algumas horas para que elas acordassem. Respirei fundo me encostando contra a parede de cimento e escorregando até o chão.
Abracei meus joelhos deixando que meus cabelos caíssem no rosto, se eu tivesse uma chance de mudar o passado...
O toque do celular me impediu de afundar ainda mais em pensamentos, ninguém além da minha família tinha meu número então a princípio achei que fosse um engano. Isso até ouvir do outro lado uma voz conhecida falando com um sotaque bem mais suave que o meu.
-Bem-vinda a terra do sol nascente, como está sendo o primeiro dia de escola da minha irmãzinha?
-Uma merda. - respondi - Já cai, as pessoas parecem incapazes de falar meu sobrenome e tem uma garota na minha classe que me odeia.
-Grande dia - o garoto respondeu com animação - Me agradeça por te tirar da miséria com apenas o som da minha voz.
-Como você não se engasga com o próprio ego? - perguntei rindo.
-Como eu senti falta da sua voz sendo tão gentil, não se compara com mensagens sabia? - ouvi alguma coisa do outro lado, como se ele tivesse num lugar movimentado - E seu sotaque está tão fofo que é quase um crime.
-É uma pena que você esteja em Miyagi e eu presa em Tóquio, caso contrário te estrangularia com minhas próprias mãos Fideo Akiyama-kun.
Mesmo pelo telefone podia ver o sorriso convencido do meu amigo estampado naquele rosto que ele tanto se orgulha. Fideo não é meu irmão de verdade, seu pai Fabrício foi um colega do meu por muito tempo e o principal intermediador entre ele e a proposta irrecusável.
Convivi com Fideo até meus quatorze anos de idade quando os pais dele decidiram voltar para o Japão de vez. Ao contrário de mim que nasci mestiça, apenas o pai dele tinha uma parte italiana tendo nascido no japão e voltado para itália pequeno, a mãe dele era natural daqui e conheceu Fabrício durante umas das viagens dele para visitar a família oriental; então ele era ⅔ japonês.
Mas nunca perdemos o contato, era comum receber a família dele em nossa residência em Roma quando iam passar as férias na Europa. Ele se considerava na posição de irmão mais velho apenas por ter nascido alguns meses antes do que eu, mas somos bons amigos.
-Vamos, vamos. Não fique tão pra baixo é só o primeiro dia - disse e depois sua voz tomou um tom mais sincero livre do sarcasmo e das provocações. - Agora de verdade, como você está?
Olhei para o céu antes de responder - Péssima, sabe que eu não queria vir pra cá. Mas pensando pelo lado contrário, ter ficado em Roma seria tão cruel quanto, senão mais.
-Entre o ruim e o horrível, você aceita o menos doloroso... Sinto muito por tudo que aconteceu.
-Eu também.
-Tenho certeza se as coisas vão melhorar, você chegou tem pouco tempo. - Fideo comentou tentando me confortar - Também foi difícil quando cheguei, crianças podem ser ainda mais cruéis que adolescentes, pelo menos você não foi apelidada de pizza, ou pepperoni.
Não pude deixar de dar risada - Ainda não.
-Tenho reunião do time de basquete, falo com você depois.
-Tudo bem, e Fideo... Obrigada.
-Sempre que precisar.
De alguma forma estranha trocar algumas farpas com ele me deixou mais tranquila e apta para aguentar as aulas na parte da tarde.
Voltei a encontrar Aoi-san na sala de aula, que se desculpou pela milésima vez, explicando que ela fazia parte do clube de literatura e que como líder tinha que estabelecer algumas coisas até a época de inscrições acabarem, o que aconteceria ao final da próxima semana.
A tranquilizei e disse que não tinha problema, depois disso o tempo até que passou rápido e sem demais problemas com Natsumi ou professores animados demais, para o meu deleite, então quando o último sinal tocou não perdi tempo em arrumar meus pertences. Estava para me levantar quando Aoi me chamou.
-Espere [Nome]! - ela deu alguns passo até onde eu estava - O restante dos cadernos, assim você pode pegar tudo que perdeu das matérias de hoje.
Aceitei o material com um pouco de receio - Não vai te atrapalhar para estudar?
Aoi balançou a cabeça - Não, geralmente eu estou sempre adiantada com as matérias.
-Himaoi-chan sempre tão eficiente. - Kuroo passou por nós duas seguindo direto para porta da classe.
Uma veia saltou na testa da garota, aquele apelido com certeza tirava a tirava do sério ou era o jeito debochado com que Kuroo falava.
-Oe Kuroo, pare de pegar no pé da Aoi-chan - um garoto de cabelos avermelhados apareceu na porta da sala.
-Yaku-san - a garota exclamou talvez com um pouco de animação demais - Por favor mire um saque na cara desse infeliz.
-Não sabe as regras até hoje? - Kuroo se virou - Líberos não sacam, eles defendem.
Time de vôlei, explicava o porquê dele ter a mão de um esportista. Pela altura poderia ser um atacante ou um meio de rede... Não, sua postura era balanceada e ele parecia ser do tipo mais ágil do que alguém com força bruta, era um central com certeza. Kuroo era um dos jogadores do técnico Nekomata.
De repente senti um gosto amargo na boca. Agradeci Aoi pelos caderno e andei com passos rápidos para a saída ignorando os chamados atrás de mim, e apenas levantando uma mão quando a garota disse que me via no dia seguinte.
Tinha que pegar algumas estações de trem e andar mais um pedaço a pé até chegar na minha casa, era um bairro tranquilo e bem familiar pelo que soube dos meus pais, mas não conheci nenhum dos vizinhos ainda.
-Voltei - disse assim que bati a porta da frente jogando os sapatos em qualquer canto e seguindo direto para a cozinha. Tinha panelas sobre o fogão e nem me importei em ver o que era antes de acender o fogo.
-Bem-vinda de volta, [Nome] como foi-
Minha mãe interrompeu a própria fala quando me viu abaixar para chegar se as chamas estavam funcionando em sua capacidade máxima.
-Vai queimar tudo desse jeito - ela se apressou - E veja só nem tirou as vestes da escola ainda, suba e tome um banho pelo menos, eu faço um prato pra você.
-Mas...
-Sem mas. - ela bateu duas palmas me empurrando para longe do fogão, se eu continuasse aquela discussão com certeza perderia então apenas segui suas ordens e subiu pro segundo andar onde ficavam os quartos.
O meu era o último do lado direito, ao lado do escritório, abri a porta apenas para ver um gato gordo e cinza enrolado numa bola bem no meio da cama.
-Você é um gato muito mimado, sabia Zun? - fiz um carinho de leve atrás da orelha dele antes de começar a me livrar do uniforme, felizmente tinha um banheiro adjacente só pra mim.
Ainda tinha algumas caixas para desfazer mas pelo menos as roupas já estavam todas arrumadas. A água estava morna mas foi o suficiente pra mim, deixei que batesse contra as minhas costas e pescoço com a esperança trazer algum alívio, mantive os olhos fechados mas quando os abri vi meu pesadelo encarando diretamente de volta.
A cicatriz começava no fim da coxa, cerca de um palmo acima acima do joelho, e descia verticalmente até uns três dedos abaixo dele. Grande, grotesca, um lembrete eterno do pior momento da minha vida. Dobrei a perna e nesse pequeno movimento quase pude sentir os metais que seguravam os ossos no lugar rangerem, ainda doía, de todas as maneiras possíveis.
Deixei a água bater no rosto até que meu estômago me lembrou sobre o que realmente importava.
Comida, agora.
N/A: Seguinte, enquanto eu conseguir produzir eu posto, surpreendentemente esses capítulos estão saindo muito fluídos e muito rapidamente.
MUDANÇAS: Zoom, o gato (e o aplicativo da tormenta) virou Zun, e Fidio, virou Fideo porque eu estava escrevendo errado mesmo e não sabia. huahuahuahuhahua
Então quando tiver eu posto, isso é até sincronizar com Immortals.
Espero que gostem! Xx
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top