As Corujas
*caso esteja acompanhando Immortals indico ler antes desse cap*
Após as aulas depois de me trocar no vestiário feminino fui até o almoxarifado pegar os uniformes conforme o pedido do treinador. Eles me deram duas sacolas cheias que marcaram de vermelho a palma das minhas mãos no caminho até o ginásio.
Coloquei as duas no chão da lateral da quadra e troquei de sapatos — Treinador, aqui estão os uniformes.
— Obrigado — disse assim que me aproximei, na cadeira o mais velho estava de braços cruzados e sorrindo com os olhos estreitos. Precisei desviar para não rir me lembrando do Absolem, o maldito do Kuroo havia feito de propósito.
Não sabia, mas aparentemente os números eram rotativos, número 1 geralmente ficava com o capitão e para Tóquio o número 4 com o ace. Naoi chamou os garotos e distribuiu as camisetas, inclusive para os reservas do time titular, só uma pessoa não estava muito feliz com isso. E era Lev, todo momento que pegavam um novo uniforme ele se preparava para levantar, só que sua vez de ser chamado não chegou.
— É isso — o ajudante finalizou —, cuidem bem das camisas que vestem.
— Espera e eu? — o mestiço russo questionou.
— Você mal consegue pegar a bola — Yaku alfinetou —, ainda não está bom nem para ficar no banco.
— Sr. Demônio-senpai está com tudo hoje — Kuroo se meteu no meio da conversa —, aprenda um pouco mais Lev. Depois podemos conversar.
Eu realmente entendia o que eles queriam dizer, mas podia ser deveras agressivo para quem estava ouvindo.
— O que eles querem dizer é que a Fukurodani provavelmente vem com o time mais forte para a primeira partida — continuei —, considerando que existe uma questão de ego involvido, colocar um novato que está aprendendo como você não é a melhor opção, observe seus veteranos jogarem Lev, também é um treino.
— Oh, capitão! Quer que eu descubra um jeito de derrotar a Fukurodani? — concluiu animado e com o pensamento completamente distorto. Dessa vez quem ficou numa posição complicada foi o príncipe da química, seus olhos se viraram para mim e eu apenas sorri em retorno antes de o deixar para resolver a situação sozinho.
Aqueles que não receberam camisas me ajudaram a arrumar as cadeiras para os visitantes, assim como os bancos para os jogadores. As bebidas também foram organizadas juntamente das toalhas, ainda não estava acostumada com a tarefa, mas não era odiosa. Fez-me reconhecer mais o trabalho de quem cuida do time.
Faltava pouco tempo para o horário oficial então saí da quadra e segui para o estacionamento a fim de receber os convidados. Não consegui muita informação além das que eu já tinha, amigo do Kuroo, primo de Aki, capitão e chapeleiro maluco. Não existia maneira de eu juntar todas elas numa única pessoa, e criar uma imagem mental, estou curiosa para ver que tipo de cara esse tal de Bokuto é.
Bati as pontas dos pés no cimento e mantive as mãos nos bolsos do agasalho, logo um grande ônibus apareceu e estacionou. Tinha inscrições na lateral com 'Academia Fukurodani' junto de faixas amarelas e azuis, o motorista parou na vaga indicada e não demorou para que os jogadores começassem a descer.
Certamente eles tinham uma aura, a maioria era alto, mantinha a cabeça erguida e se movimentavam de forma organizada. Só que nenhum deles parecia do tipo que seria amigo do Kuroo, sem ofensa, mas era preciso um pouco de boa vontade. Haviam também duas garotas acompanhando o grupo.
— Bem-vindos — me curvei —, sou a nova gerente do time, vim recepcioná-los e levar até o ginásio.
— Não sabia que a Nekoma agora tem uma gerente — a primeira delas disse se apresentando como Yukie Shirofuku, possuia um cabelo curto num tom avermelhado de marrom e olhos da mesma cor. Falava devagar e parecia ter uma personalidade bem tranquila e despreocupada.
— Já estava na hora — a outra era Kaori Suzumeda, seu cabelo era de um tom de bronze e estavam arrumados num rabo de cavalo, olhos de um azul acinzentado e sardas cobrindo uma boa parte do seu rosto — desculpe, não peguei seu nome.
— [Nome] D'Calligari, mas só [Nome] está bom.
— Agora que disse, percebi seu sotaque, é fofo — a primeira Yukie comentou.
— Penso que é bem fácil de reparar, minha fala não é tão boa para se passar por nativa — ri e indiquei o caminho.
— Espera, cadê o Bokuto? — Kaori se virou levantando os pés e olhando o topo das cabeças, foi então que o último grupo desceu do ônibus, um garoto de cabelos cor de areia que praticamente empurrava um outro de cabelos cinzas aos tapas. Pude jurar ver alguns deles suspirando alto.
— Não sei como alguém consegue dormir tão profundamente numa viagem tão curta, mas é melhor assim — um dos jogadores comentou.
O grau de parentesco com Aki fez imediatamente sentido, ele olhou na minha direção — Ah, Kuroo!
Ele ergueu a mão e quando me virei o capitão estava se aproximando, franzi o cenho e como se lesse meus pensamentos ele se explicou.
— Achei que pudesse ajudar, principalmente com aquele cara perto.
Bokuto se aproximou num instante, só então vi que ele era tão alto quanto Kuroo, porém com ombros largos que gritavam sua força. Ele colocou o braço em cima dos ombros do capitão e desatou a falar tão rápido, tantos assuntos cruzados, que eu sequer entendi.
Kuroo respirou fundo e deu uma cotovelada de leve na barriga dele o afastando em seguida — Sei que você tem muito o que falar, mas veio aqui para treinar seu cabeça de vento. Já estamos começando mais tarde porque você esqueceu do ônibus.
— Ah, é verdade se a... — ele parou um segundo quando me reparou, grandes olhos dourados olhando diretamente para mim, não de um tom tão vivo como os de Kuroo, porém também intensos. Não figurativamente ele realmente lembrava uma coruja. — Quem é você?
Tão direto, e perto demais.
— A preciosa gerente da Nekoma — Kuroo pegou seu rosto e o empurrou para trás —, então se afaste.
O treinador disse ser melhor que eles andassem, então fizemos o caminho de volta para o ginásio, indiquei onde as gerentes podiam se ajeitar e então voltei para o meu lugar. Kuroo, Bokuto e mais algumas pessoas estavam conversando no canto enquanto também se alongavam.
— [Nome] pode me ajudar a levantar? Vai ser mais rápido — Kenma pediu no aquecimento, treinador Nekomata deu um aceno de cabeça, puxei as mangas do agasalho e dividimos as filas. Senti alguns olharem em cima de mim, afinal o que estaria fazendo uma gerente na quadra?
Bom, surpresa.
Kai jogou a bola e eu levantei para que ele cortasse, lento, não tão longe da rede e confortável o suficiente para que não tivesse problema com direcionamento.
— Boa cravada!
— Bom levantamento [Nome]-chan.
Kenma ao meu lado também fazia levantamentos, só que não vi na fila a pessoa que geralmente cortava com ele. Kuroo foi o último da minha fila, ele estava tentando algo podia ver no brilho de seus olhos. Travei o maxilar esperando ele jogar a bola.
Para um meio de rede até que ele pulava alto, foi um ataque rápido, mas não menos poderoso.
— Boa cravada.
— Seria melhor se dissesse isso com honestidade, Calli-chan — ele se inclinou —, acho que não sou bom o suficiente para cortar o levantamento da antiga capitã da seleção U-18 italiana.
Essa última parte ele disse alto, panaca, estava me usando para causar um efeito nos adversários.
— Você é um idiota sabia?
— Vai entender quando ver eles jogares, quanto menor a expectativa melhor — respondeu sério colocando a mão no meu ombro piscando rápido um olho e se afastando.
Honestamente tinha momentos que eu não sabia o que passava na cabeça do capitão, Fukurodani se alinhou para aquecer também e eu voltei para o meu lugar. Ajudei a recolher algumas bolas até que alguém gritou, novamente aquela cena. Receber cortadas aleatórias parecia ser algo comum de se acontecer.
Diferente daquelas que eu havia presenciado e recebido, foi bem mais forte e rápida, os meus braços arderam tamanha intensidade e precisei dar um passo para trás para recuperar meu equilíbrio. O flash cinza do outro lado denunciou de quem era aquele ataque exepcional, do lado contrário da rede ficamos nos encarando até que um de seus companheiros o empurrasse para o lado.
Os treinadores juntaram os times para começar o amistoso, todos recebendo as últimas instruções com atenção antes de se organizar em quadra. Ainda sentia meus braços ardendo e Naoi reparou nisso.
— Foi surpreendente ter recebido o corte do Bokuto, a lista oficial ainda não foi divulgada, mas está cotado para o top cinco do país.
— Consigo imaginar o porquê, para alguém do colegial é uma força e tanto — comentei, vendo a composição do adversário. Pelo que os dois mais velhos me explicaram o time era majoritariamente composto pelos terceiranistas, tendo apenas um garoto do segundo no posto de levantador e um novato meio de rede.
— [Nome] a Fukurodani costuma ser um time que enfrentamos com frequência em campeonatos, será bom se conseguir fazer anotações — Nekomata-sensei me pediu —, por ser o primeiro oficial ele devem ter algum problema para alinhar, mas a base é a mesma do anterior.
O jogo começou com tudo desde o começo, sendo do mesmo grupo de treinamento sabia ter uma rivalidade. Kuroo e Bokuto também tinham sua própria batalha acontecendo de maneira paralela, ficava fácil de ver da lateral que nenhum dos dois queria deixar o outro vencer. Também pareciam lidar bem com o fato do ponto forte da Nekoma ser a recepção, compensavam com boas jogadas e força.
Keiji Akaashi, o levantador, apesar de quieto era um dos bons. Assim como Kenma tinha um bom conhecimento dos jogadores a sua disposição. Se engana quem pensa que levantadores servem os outros, são os atacantes que dançam no ritmo dos levantamentos.
Minha caneta anotava incansavelmente alguns pontos, nessa luta de gatos contra corujas, eles que tomavam o céu acabaram levando o primeiro set. Havia uma força para tentar bloquear os ataques do Bokuto e evitar que ele pontuasse, nos cortes não foi tão efetivo principalmente porque Inuoka não estava a altura de conter sua força. Só que sua pontuação em saque fora quase nula, Yaku-san conseguiu salvar a maioria deles, isso colocou algum estresse no jogador.
Para o segundo, Kenma deu algumas instruções e o time assumiu uma resposta um pouco mais ofensiva, como consequência das boas recepções e ataques precisos eles conseguiram tomar o set guardando para o último o resultado.
Do meio para frente, aconteceu algo com a Fukurodani, porque o ace que até então era a força principal saiu completamente do eixo. De repente os passes para ele cessaram, forçando o time a pedir um tempo.
— Akaashi-kun é bastante hábil — Kenma disse —, não vai deixar que Bokuto fique assim por muito tempo.
— Temos que aproveitar enquanto o Bokuto está para baixo para virar o jogo — Kuroo comentou enxugando o rosto —, mesmo com a recepção ruim eles mandam ataques com confiança.
— Vamos continuar atentos — Yaku pediu e eles voltaram.
Não deixar o ace atacar como bem entende era uma regra geral, mas havia algo me incomodando — Naoi o que eles querem dizer para baixo? Sei que é normal se afetar quando as jogadas não dão certo, mas parece que a Fukurodani está ignorando o capitão.
— Quando Bokuto-kun perde a paciência ou se vê... Desmotivado, ele para. De todas as formas. Reparou na comoção exagerada quando ele errou o saque, não viu?
Realmente ele caiu de joelhos no chão como se tivesse feito a coisa mais horrível do mundo. Fukurodani parecia saber lidar bem com a situação, então posso imaginar que seja algo mais corriqueiro que o normal, cruzei a perna e olhando com atenção — Isso é algo que eu nunca vi, pelo jeito que Kuroo e Kenma falaram não parece ser uma vantagem.
Existem muitos tipos de capitães, e aces, só que parece que Bokuto não leva a Fukurodani nas costas. O time que leva o Bokuto.
Faltava um ponto para o empate, e a Nekoma estava com o match point. O levantador adversário então começou a se movimentar de maneira diferente o passe que não vinha, aquele que o ace tão desesperadamente estava percorrendo aconteceu. Foi uma bela paralela que empatou o jogo e trouxe Bokuto de volta a vida, logo depois os pontos de virada e vitória aconteceram rapidamente.
Fukurodani ganhou o primeiro jogo.
— Hey, Hey, Hey! — ele ergueu os braços no ar comemorando — Sou mesmo o melhor!
Agora entendia o que disseram sobre o chapeleiro maluco, ele mudava de opinião e gestos rapidamente, também tinha um humor oscilante. Alguém simplista que faz aflorar nos companheiros de equipe o ponto forte.
Me levantei e ajudei os meninos — Foi um bom jogo, é o primeiro do ano, as engrenagens ainda estão encaixando.
— Obrigado Calli-chan — Yaku disse —, mas ter ganho ia ser bem animador. Realmente achei que tínhamos tirado Bokuto da jogada.
Os dois times trocaram de treinadores para receber um conselho, Nekomata-sensei destacou os pontos fortes e também disse sobre o excelente trabalho de equipe. Os jogadores adversários agradeceram e se afastaram, pelo menos a maioria deles.
Bokuto continuou me olhando, eu só não consegui identificar o porquê.
— Bokuto-san não é educado ficar encarando.
— Mas sinto que se eu piscar vou perder. — O quê?
Me permiti dar risada com a competição infantil que ele criou na própria cabeça — Você não se parece nada com sua prima Aki, tirando a cor do cabelo é claro.
— Aki-chan? Como conhece ela.
— Nos encontramos na volta da escola.
Ele fechou a mão e bateu contra a testa de leve — Oh, certo ela se mudou. Não sabia que era pro lado da Nekoma, Akaashi você sabia disso?
— Não.
— É só eu virar as costas um segundo — Kuroo colocou a mão no meu ombro —, tendo uma boa conversa com nossa gerente?
— Oh, é verdade! Você recebeu meu corte mais cedo! O que achou? Como conseguiu? Eu sou incrível, não sou?
Era um pouco difícil de o acompanhar, tanta energia, me sentia na frente de um sol que girava descontrolado para onde quer que fosse.
— Foi bom, eu suponho. Desculpe, não entendi metade do que disse — balancei as mãos trocando para italiano — foi rápido demais.
— O que Kuroo disse mais cedo — Akaashi perguntou —, você realmente é levantadora da seleção italiana.
— Que?! — o capitão do time das corujas recuou num gesto exagerado — S-seleção?
— Não é incrível?— Kuroo disse ao amigo e pelos seus olhares raios pareceram se chocar, Akaashi os ignorou assim como eu mantendo a conversa civilizada ao lado.
— Ex- levantadora, estou aposentada — expliquei ao mais novo — já não jogo mais. Esse idiota de cabelo estranho me convenceu a dar uma olhada no time.
— Entendo, bem-vinda ao Japão.
Tão calmo e educado — Obrigada.
— Espera, se você jogava porque não foi para uma escola com time feminino? — Bokuto segurava as mãos de Kuroo longe da sua cabeça.
O meu capitão olhou com cuidado para mim, mas sorri já não era tão difícil responder — Não posso mais jogar como gostaria, então ficar nas laterais por enquanto é o suficiente. Ouvi dizer que vocês tem um bom time.
Então foi o momento que ele inflou o peito e cruzou os braços sorrindo falando com orgulho — Sim, o melhor. Quatro das garotas foram para o acampamento nacional, tenho certeza que esse ano vão ganhar!
— Não temos um time então posso me contentar em torcer pras espartanas, corujinha é uma capitã e tanto.
Então eles engataram numa conversa sobre assuntos aleatórios, envolvendo uma ligação de conselhos ou algo do tipo, os times organizaram a quadra e finalizaram pelo dia. Por terem chegado tarde não havia muito tempo, então foi finalizado um pouco antes do previsto.
— Devemos fugir da Hana-chan? — escutei os jogadores conversando entre eles, algo sobre uma conveniência.
— Calli-chan, quando for na Fukurodani avise! — Bokuto disse de longe acenando.
— Vai ser quando tivermos treino lá, seu paspalho — Kuroo respondeu.
As gerentes enfiaram ele dentro do ônibus forçadamente e assim que eles partiram me vi suspirando e soltando os ombros.
— Céus ele parece um furacão.
Kuroo riu em resposta e os jogadores também se despediram, logo estava andando para a estação junto da dupla dinâmica que era o capitão e o levantador. Ele ter declarado que torcia para o time feminino da Fukurodani me pegou de surpresa, então o questionei durante o caminho.
Ele não tinha muito o que falar, vendo de fora só me contou aquilo que sabia. O time que surgiu do nada, os passos firmes que elas davam em direção ao topo e a amizade distorcida que tinha com a capitã. Por mais que tivesse o tom debochado, tinha algo em sua voz que beirava a admiração, parecia ser alguém forte em todos os aspectos. Aki também agiu da mesma forma quando comentou sobre a garota, e Bokuto demonstrou o orgulho sem medo.
— Parece ser alguém excepcional — respondi aos relatos —, espero ter a chance de a conhecer logo.
N/A: Obrigada por ler até aqui!
Até mais, Xx
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top