Adiante
c a p í t u l o c r o s s o v e r
Já havia participado de alguns acampamentos, mas a atmosfera, de alguma forma, sempre se renovava. Cada encontro do grupo de treinamento tinha algo novo acontecendo, não apenas em questão de rotina, mas também nos jogadores. Alguns movimentos eram mais sutis, outros mais aparentes, mas a cada instante a evolução estava acontecendo.
— Parece que Lev está melhorando — Naoi comentou. E como se fosse uma peça de roteiro, o novato cometeu um erro crasso, deixando a bola cair do lado da quadra da Nekoma.
Tapei a boca com a prancheta escondendo uma risada, vendo que ambos os técnicos suspiraram em frustração. Era verdade que quando olhamos para o garoto vemos uma possibilidade de mudança, mas ainda falta um pouco para ele chegar a ser um bom jogador.
— Não falo mais nada — Naoi reclamou.
— Apesar dele ser... Ele — comentei —, comparado com o começo, já é uma grande diferença. Lev tem a boca grande, mas também se esforça para fazer do que diz uma verdade. O único problema é que ele quer pular degraus.
— Os garotos chamam ele de gato de rua — respondeu o técnico mais jovem —, não discordo.
Nisso o treinador Nekomata, que costumava ficar de braços cruzados, se moveu, pedindo com a mão a prancheta em que eu anotava as informações. Entreguei para ele e depois de virar algumas folhas ele sorriu e falou.
— Às vezes, ter algo para distorcer a ordem faz a diferença. Se Lev não ficasse a todo momento dizendo que vai ser o ace da Nekoma. Yamamoto-kun não se esforçaria para manter o lugar, a força precisa para cobrir seus erros também fez nossa defesa evoluir. — ele então me devolveu o objeto. — Gatos se adaptam, podem parecer domésticos, mas ainda guardam muito de sua vida selvagem no DNA. Só é preciso saber como trazer isso à tona.
Nesse momento, Lev coordenou um ataque com Kenma depois de uma boa, e sólida, recepção de Yaku. A cortada que parecia um chicote, alta e elástica, marcou um ponto limpo e bem feito. Marquei na folha mais um ponto para Lev, anotando a jogada de sucesso.
A rotação aconteceu e Yaku trocou com Kuroo, fazendo com que as duas jogadoras da Capitã ficassem em alerta. Não era a primeira vez que eu via um certo grupo se deslocar para acompanhar a Nekoma, apesar do próprio time masculino estar jogando como adversário. Uma meio de rede almejando patamares mais altos e a possível substituta a ace do segundo ano, interessada na defesa.
Ambas observavam o time em silêncio, mas com um olhar afiado e analítico, provavelmente herdado da capitã. Corujinha não só tinha um time, mas também uma série de filhotes de monstros que, com certeza, seguirão seus passos. Daqui a alguns anos, quando todas elas estiverem em quadra, a percepção do mundo em relação ao esporte japonês pode mudar completamente.
Do outro lado do ginásio, vi Sora passar pela porta, com passos firmes ela andou entre as quadras chegando até o time dos gatos. Seu rosto não estava com uma feição muito amigável.
— Está com um galho preso na sua asa? — questionei quando parou próxima a mim, junto dos filhotes da capitã — Não está com a melhor das caras.
O meio de sua testa franziu, mas ela não rebateu — Pode-se dizer que sim. Karasuno tem dois pirralhos irritantes no ataque.
As espartanas ganharam o jogo, mas o bloqueio que é uma peça fundamental da estratégia, particularmente não foi efetivo contra o combo rápido de Tobio com o Laranjinha. Provavelmente sendo o motivo da careta da vice-capitã.
— Sim, eles realmente são. — concordei e voltei a cabeça para olhar os jogadores da Nekoma. — Todos temos dificuldades em lidar com o ataque rápido, principalmente quando acontece a primeira vez.
Ela se manteve em silêncio, mas os braços estavam firmemente cruzados na frente do corpo.
— Sinto dizer, mas não vai encontrar a resposta para lidar com uma situação como essa na Nekoma. Pelo menos não por completo.
Sua sobrancelha levantou de leve — Não sou muito adepta de enigmas Calli-chan, de falas veladas já bastam as da minha capitã.
— O bloqueio da Nekoma é uma boa referência de movimentação, mas não conseguir bloquear um ataque como o deles vai além do tempo de reação. E até mesmo você como jogadora. — respondi — Nem sempre o melhor bloqueio é aquele que mata a jogada, tem vezes que o tempo de reação é tudo que precisa. O vôlei não se joga sozinho.
Vi o time se movimentando, o bloqueio subiu limitando a área de ataque para a defesa conseguir cumprir o seu papel.
— Podemos dividir em algumas partes, o bloqueio em si, a intenção do adversário e a reação do seu time. O meio da equação não tem como definir, mas você pode combinar com o seu time alguns resultados — girei o lápis na mão. — Meio de rede não é muito a minha especialidade, mas penso ser uma posição que precisa de uma visão geral da quadra. A Fukurodani joga usando a Corujinha de referência, mas às vezes o bloqueio precisa assumir esse papel. E não vai cair no seu colo, quem tem que chamar a responsabilidade é você.
Algo pareceu estalar em sua mente, seus braços se soltaram e os ombros caíram. Sora suspirou.
— Até que você sabe falar bem.
Sorri — Eu também já fui capitã, tenho minhas maneiras de saber o que passa dentro da cabeça dos jogadores. Aposto que a Corujinha diria algo semelhante.
— Provavelmente, já que duas idiotas do vôlei — as barreiras dela se abaixaram um pouco. Sora olhou para o outro lado, limpando a garganta — Obrigada, por abrir um pouco meus olhos.
— Não fale assim — brinquei colocando a mão no rosto —, vou ficar envergonhada.
Sora revirou os olhos em resposta e voltou a prestar atenção no jogo.
O tempo passou, os time tiveram as suas rotações e quando chegou o momento de pausa novamente as espartanas voltaram a se organizar para jogar. Dessa vez com times mistos e sorteados, não cheguei a participar do sorteio. Por hora estava mais interessada em observar como as combinações iriam reagir em quadra.
No geral, é sempre uma boa fonte de ideias. Ver o que funciona ou não, saber quais outros papéis os jogadores conseguem cobrir em quadra. Também sei os meus limites, deixaria para entrar em quadra na próxima pausa.
O jogo que parei para observar tinha de um lado Kai, Fukunaga, Tobio, Tsukishima, a Capitã e Konoha, um ponteiro da Fukurodani. Nos adversários, Tetsurou, Akaashi, Daichi, Chapeleiro Maluco e as duas jogadoras do time feminino, Sora e Chizue. Essa última sendo a segunda ponteira de força do time, a mesma que estava observando das laterais mais cedo.
Como esperado do meu aprendiz Tobio, ele se adaptou rapidamente ao estilo de jogo da capitã, e também dos garotos atacando. Ainda que a garota tenha assumido uma posição de central para cobrir a posição vaga, geralmente a veria assumindo na defesa, mas Kai como um bom jogador da Nekoma estava cumprindo bem a função de líbero.
Ambos os times estavam jogando para ganhar o set, o que resultou em ataques insanos dos dois lados. Nada perto do que o levantador da Karasuno fazia com Hinata, mas tendo jogadores com um leque maior de habilidades tirando o máximo de seus levantamentos.
Porém, o conjunto e a combinação do time conta, foi por pouco, mas o time de Tetsurou levou o set.
— Se fosse um jogo sério, eles dariam mais trabalho e provavelmente levariam o segundo set. O time se encontrou no fim, principalmente a capitã e o Tsukki no bloqueio.
Tetsu pegou a toalha da minha mão agradecendo — Sim, ela comandou bem o tempo. Não quis jogar?
— Agora não, tenho uma coisinha mais interessante para fazer no resto da pausa. — pisquei um olho e me afastei. O capitão balançou a cabeça e logo foi arrastado por Bokuto para outra quadra.
Passei por um carrinho de bolas e segurei ela em mãos passando de uma para a outra, e em seguida jogando para cima.
— Capitã-senpai! Vamos jogar de novo mais um set!
Hinata que tinha saído de outro jogo com um time aleatório estava pedindo, empurrei de leve o garoto que estava de costas para mim com um sorriso.
— Sinto muito baixinho, mas a capitã agora é minha.
Corujinha riu — Se continuar assim, muitas pessoas vão interpretar errado.
Segurei seu braço no meu — Não é uma mentira, disse para guardar um tempo seu para mim.
— Chiasa, obrigada — ela entregou a toalha para outra jogadora e se deixou levar por mim em seguida para outro canto do ginásio.
— Antes de tudo, o que estava pensando quando me pediu para ensinar o meu levantamento para você?
— Que é uma boa técnica e parece divertido — respondeu sem perder tempo. Mas de maneira rasa, não satisfeita, fiquei esperando ela continuar.
— Não sou a melhor em levantamentos — disse —, dou meu jeito. Costumo buscar muitas bolas fora de quadra, em dias normais treino para conseguir usar os pés ao meu favor, conseguir fazer um bom levantamento de longe parece ideal para o tipo de jogadora que me enxergo.
Parei de andar — Concordo, apesar de jogar na posição de oposto. Também tem seu valor da defesa, principalmente quando está na linha de trás, e é por essa característica de resgatar a bola que resolvi acatar seu pedido.
Girei a bola na mão e joguei para ela — Não deixaria meu levantamento com ninguém meia boca.
— Obrigada majestade — ela colocou a bola debaixo do braço e se curvou fazendo uma reverência teatral. Quando sua cabeça voltou a se erguer, havia chamas atrás de seus olhos. — Por onde começamos?
Ela voltou a jogar a bola para mim, um sorriso puxou os cantos da minha boca para cima.
— A verdadeira Esparta.
N/A: Um capítulo mais curto, de transição. Já vamos entrar nas partidas de Tóquio, então devemos ter uns capítulos para avançar no tempo.
Não dá para ser fecho atrás de fecho, vamos relaxar um pouquinho.
Vindo um pouco mais cedo, pois amanhã (01/06) irei assistir esses mesmos queridos no cinema :)
Obrigada por ler até aqui!
Até mais, Xx!!
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