capitulo 7

Olhei para os lados assustada, estava muito escuro e não conseguia ver muita coisa, andei pelo local mas eu estava presa em algum lugar. Mas mesmo assim não parei, segurando nas paredes, tentando encontrar a saída, de repente sou puxada brutalmente pelo cabelo e jogada no chão, arfei vendo uma figura masculina a minha frente sorrindo macabro, a pouca luz deixava ainda mais assustador.

Comecei a me arrastar para trás no chão enquanto ele se aproximava a passos lentos. Engoli em seco, e chorando gritei com toda força por ajuda o que fez o homem sorrir ainda mais.

Ele se abaixou colocando a mão no meu pescoço e apertou.

- Não adianta gritar. - Ele sussurrou perto do meu ouvido. - Você não vai fugir de mim. - Diz ainda afundando os dedos em meu pescoço, tentei afasta-lo com minhas mãos, mas falhei. - Fique quieta! - Mandou ainda aos sussurros. Estremeci quando senti a sua mão livre descer pela minha cintura, enquanto mantém seus olhos ferozes em mim e um sorriso malicioso.

Minha garganta estava seca e era apertada pela mão do homem, mas mesmo assim eu gritava pedindo para que ele parasse.

- Para...por favor... para! - Sinto meu corpo balançar ao mesmo tempo em que ouvi alguém me chamar ao longe. - Socorro...

- Rebecca... Rebecca! Acorda! - Abri os olhos ficando sentada.

Minha respiração estava ofegante e meu coração acelerado, passei minha mão no meu rosto que estava molhado pelas lágrimas, olhei para frente dando de cara com minha avó ao lado da cama com expressão preocupada. Ela tentou se aproximar porém por instinto me encolhi na cama abraçando minhas pernas e escondendo meu rosto nos joelhos.

- Florzinha, beba um pouco de água - Levantei minha cabeça e ela estendeu o copo para mim, com as mãos trêmulas peguei e bebi todo o líquido.

- Obrigada... - Sussurrei devolvendo o copo, ela pegou e entregou ao meu tio que estava na porta, eu nem tinha o visto.

- Minha flor, eu sei que não quer ser tocada, mas está segura aqui. Você irá sobreviver a isso, pois eu sei que você é forte minha flor e mesmo que não queira irei ficar aqui ao seu lado. Sei que precisa. - Meus lábios tremeram e eu voltei a chorar, eu estava com muita vergonha. Não queria olhar para ninguém, mas deixei que ela ficasse.

Voltei a esconder meu rosto nos meus joelhos, e assim fiquei por muito tempo. Cheguei a pensar que minha vó já não estava mais no quarto, porém eu logo senti dois braços me cobrirem em um abraço, arregalei os olhos e tentei afastá-la mas ela me abraçou ainda mais forte, então desisti.

- Vai ficar tudo bem florzinha, Deus está no controle de tudo.

(...)

Meus olhos estavam pesados, as vozes estavam ficando cada vez mais distantes como um eco ilegível e quando estava quase me entregando ao sono minha mão escorregou me fazendo despertar assustada quando, minha cabeça quase foi com tudo na mesa.

- O que? - Falei com os olhos arregalados porém sonolentos, e ouvi risadas.

- Você está dormindo sentada - falou minha avó, enquanto enxugava a louça.

- Faz um tempão que você tá quase caindo, não foi Maria? - ela confirmou. Júlia riu olhando para a bacia de grãos de feijão. - Não tem nenhum estragado Maria.

- Certo, pode deixar aí.

- Você não quer ir para meu quarto, Rebecca?

- Estou bem - Falei sentindo minhas pálpebras querendo fecharem.

- Você deveria descansar um pouco, florzinha. - Suspirei  encarando aquele olhar piedoso da monha vó.

- Tá. - Falei cruzando os braços e as duas presentes se entreolharam e negaram com a cabeça, rindo.

- Então vá, e descanse.

Respirei fundo querendo novamente negar, mas eu realmente estava cansada. Desde que completei os 8 meses as noites em que dormia eram minimas, eu já não sabia o que era dormir 8 horas por dia. Apesar do sono, eu mal pregava os olhos, eram varias idas ao banheiro para fazer xixi, desconforto, dores.

Não vou dizer que consegui dormir, mais dei sim uma cochilada e até descansei os meus pés inchados. Quando despertei, sai pelos fundos da casa e andei rumo a grande árvore perto do lago. Sentei a borda e coloquei meus pés descalços na água.

- Acho que quer ficar sozinha, mas eu não. Então ficarei aqui com você - Disse julia sentando do meu lado. - Descansou?

- Humhum - Murmurei mexendo meus dedos dos pés sentindo eles mais relaxados- Como você e o Paulo estão?

- Estamos bem. Ele disse que quer casar comigo. - A olhei.

- Casar? Não acha um pouco precipitado?

- Sim e não. Veja bem, nos conhecemos desde sempre. Nos gostamos. E queremos um ao outro, então por que não?

- Prefiro não me envolver.

- Me dá um conselho amiga.

- Ele já fez o pedido? - Ela negou - Então não se preocupe até lá. Você disse que ele apenas comentou que queria, talvez não seja por agora. Mas se for, faça o que seu coração mandar.

Depois de minutos de conversa, julia avisou que tinha um encontro com o namorado. Eles iriam a um restaurante que inaugurava hoje, no vilareijo.
Eles saim bastante juntos e pareciam cada dia mais apaixonados. Quando os vejo penso que eu poderia está assim também, mas minha história foi escrita diferente e talvez eu nunca viverei algo assim. Amar e ser amada. Isso é pra mim? As vezes penso que não.

- Pensando no namorado? - Assustei olhando para trás e vendo Ítalo com as mãos nos bolsos e um sorriso divertido nos lábios. Fiquei de pé.

- Está precisando de algo?

- Sim. - ele passou a língua pelos lábios e veio até mim. Dei um passo para trás me afastando dele - Está com medo de mim?

- Não. - Respondi firme embora não fosse verdade. Ele riu.

- Ainda estou esperando a resposta. - Cantarolou como se estivesse impaciente.

- Meus pensamentos não interessam você.

- Não perguntaria se não me interessasse. - Respirei fundo quando ele se afastou. - Mas não precisa falar. Só me responda uma coisa. - Ele fitou minha barriga depois levantou os olhos para mim, Ítalo estava sério, diferente de alguns segundos atrás, onde ele sustentava um sorrisinho sarcástico no rosto. - O Allan é o pai dessa criança?

- O que faz aqui ítalo? - Olhei para o lado vendo Allan fitando o outro de forma irritada.

O clima pareceu escurecer assim como o céu quando as nuvens pesadas se encontravam no ar.

- Ué, é proibido andar pelas redondezas da fazenda? - Falou irônico voltando a cruzar os braços. - Só estava perguntando se você é o pai do filha dela.

-  Isso não lhe interessa.

- Então é voce?

- Não! Por favor pare de questionar a paternidade do meu filho. Você está sendo inconveniente e muito chato. Além disso, nós não temos nenhuma relação com você para darmos satisfação!

Ítalo murmurou algo entre dentes e avançou um passo, no entanto Allan o impediu de se aproximar ficando entre nós. Seu braço direito estava um pouco para trás me pondo atrás se si, sem me tocar. Me protegendo.

- Vá embora ítalo e nos faça o favor de nos evitar enquanto estiver aqui. - Falou, mas o citado apenas riu.

- Por que está bravo primo? Por acaso está apaixonado por essa garota?

- E se eu estiver, o que vai fazer? - Arfei, olhando para Allan por suas costas.

Ítalo riu incrédulo.

- Meu primo metido a certinho, apaixonado por uma vagabunda, que pega barriga e se esconde na casa da avó?

Allan avançou um passo segurando o primo pela gola da camisa, ambos se encarando com o ódio vivo nos olhos.

- Cale essa maldita boca!

- A porra de um romance clichê. O cara certinho e a Vad...

Ele não concluiu pois Allan o atingiu com um soco no olho. Coloquei minha mão na boca quando ele cambaleou para trás com a mão no local.

- Tá ficando louco? Comprando briga por causa dela?!

- Você estava pedindo por isso a muito tempo, primo!

Ítalo espremeu o rosto em uma careta raivosa e avançou contra Allan devolvendo o golpe. Fiquei desesperada ao ver os dois trocando socos um no outro.

- Pelo amor de Deus, parem de brigar! - Minha visão já estava desfocada pelas lágrimas que se acumulavam nas bordas dos meus olhos.

Allan agarrou Italo pela camisa e girou o primo o empurrando contra o tronco da árvore. Ítalo gemeu mas acabou rindo em seguida.

- Por Deus! parem! - Mandei segurando o braço de Allan. - Solte ele Allan! - Porém ele não o fez. - Solte! - Gritei, e dessa vez ele obedeceu.

Respirei fundo enxugando minhas lágrimas, eu odiava quando pessoas brigavam ou até mesmo discutiam.

Ítalo riu de lado ajeitando a camisa e antes de sair piscou em minha direção.

Olhei para Allan e não consegui conter as lágrimas. O osso se sua bochecha estava vermelho e com certeza ficará roxo, seu lábio também estava ferido.

Respirei fundo e abracei meu corpo. Senti quando os olhos de Allan caíram sobre mim, era possível ouvir sua respiração exasperada. Achei que ele fosse falar algo mas não foi o que aconteceu, levantei meus olhos quando ouvi seus passos e encarei suas costas que se afastavam.

E por algum motivo aquilo havia doído em mim.

(...)

Era por volta das quatro horas da tarde quando minha vó pediu que eu ficasse de olho no fogão para não queimar o ensopado. Foi apenas essa tarefa que me foi dada, por algumas horas enquanto ela resolvia algo com o Eduardo. Porém, enquanto minha mente voava o ensopado queimava.

Bom eu acho que estava queimando já que a fumaça subia do caldeirão.

Rapidamente peguei as luvas colocando de qualquer jeito e corri tirando a grande panela e desligando o fogão. Alcancei a concha e mexi vendo o fundo um pouco escura.

- Minha vó vai me matar, - Murmurei encostando na mesa com a mão no rosto.

Uma ideia brilhou em minha mente.

Estava cedo, então e se eu fizesse um novo? Minha culinária não era lá essas coisas mas um ensopado eu sabia fazer, além disso já vi a forma que minha vó faz, várias vezes.

Deixei a "queimada" de lado e peguei outra panela quase do mesmo tamanho, depois juntei todos os ingredientes e comecei o preparo, não levou meia hora e eu já estava colocando no fogo, agora era só esperar e dessa vez com atenção.

Sorrio aliviada, após levar da forma mais cautelosa possível, o ensopado até o cocho dos porcos, claro depois de está fria o bastante.

Suspirei quando meu estômago roncou alto, fui até a geladeira e a abri passando meus olhos até avistar um potinho de Nutella. Minha boca salivou por uma colherzinha, fechei a geladeira e peguei uma colher na gaveta. Tenho certeza que minhas pupilas dilataram quando abri o potinho.

Eu amo chocolate.

Mergulhei a colher e tirei uma quantidade significativa, e levei até minha boca.

- Maria você...

Virei rápido para trás ainda com a colher na boca, arregalando meus olhos ao mesmo tempo que a pessoa à minha frente me olhava, confusa e divertida. Guardei a colher e o potinho em cima em cima da pia, desviando meus olhos. Certamente estava vermelha por ter sido pega no flaga, pegando comida da geladeira. O que ele irá pensar de mim? Que sou uma ladra, ou esfomeada?

- Onde está sua avó? - O olhei.

- Falando com seu pai. - Ele balançou a cabeça afirmando.

- Sua boca está suja - Meu rosto queimou quando ele disse isso.

- A sua também - Falei tentando aliviar o rubor das minhas bochechas, ao mesmo tempo que me sentia culpada pois a sua não estava suja de chocolate.

Allan passou o dedo no cantinho da boca e o avaliou.

- Droga! Sabe onde tem algodão e álcool?

- Aqui. - Falei virando, e abri a porta do armário, onde minha avó havia deixado o álcool e o algodão outro dia quando cortei meu dedo e precisei fazer um curativo.

- Obrigada.

Ele puxou a cadeira e sentou. Por que continuou aqui? Não podia ir para outro lugar? E por que estava nervosa com sua presença?

Respirei fundo indo até a pia e pegando a Nutella para realmente guardar na geladeira. Quando voltei ele tentava acertar com o algodão um corte que tinha na sua bochecha, suspirei alto chamando sua atenção.

- Pode me ajudar? - Por um instante congelei.

- S-sim. - Limpei a garganta e me aproximei hesitante.

Ele ficou de pé encostado na mesa e me entregou o algodão, ergui minha mão um pouco mais alta e levei até o corte onde fiz pressão lentamente e ele puxou o ar com força.

Desviei meus olhos até os seus me surpreendendo por encontra-los em mim. Senti algo estranho em meu estômago, algo que nunca senti.

Ignorei a sensação e desviei minha atenção para sua bochecha tentando me concentrar apenas nisso.

O corte em seu lábio não foi grave, porém de sua bochecha era maior. Talvez causado por um anel que ítalo usava aquele momento. Só em pensar que aquela briga foi ocasionada por mim me batia uma tristeza

Ambos estavam machucados por minha culpa.

- Não se culpe. - Allan soltou me pegando de surpresa. - Eu e o Ítalo não nos damos bem desde crianças. A culpa não foi sua. - Concluiu.

- Você parece não se dar bem com muitas pessoas - Falei lembrando das vezes em que ele discutia com o Paulo, mas me arrependi em seguida por ter sido inconveniente. - Desculpe. - Pedi me afastando mas ele segurou minha mão, olhei para seu rosto assustada com seu gesto.

Então de repente senti sua outra mão ir de encontro ao meu rosto, delicadamente senti seu polegar passar pelo canto da minha boca.

Enquanto seu dedo deslizava abaixei meus olhos acompanhando o movimento de sua mão e depois olhei seu rosto o fitando. Permanecemos nessa troca de olhares por alguns segundos, meu coração disparou no peito e mais uma vez não era medo. Era algo que não conseguia decifrar.

Era bom e...assustador.

Nosso contato visual foi interrompido por ele, que me soltou se afastando. Fiquei no mesmo lugar ainda tentando entender o que tinha acontecido.

Allan levou o mesmo polegar, que havia passado em meus lábios, até a boca E sorriu.

- Você gosta muito de chocolate. - Não foi uma pergunta e sim, afirmação. - Obrigada Rebecca!

Então ele foi embora enquanto eu fiquei estática, olhei para o algodão em minha mão e fechei meus olhos fortemente. Apenas sentindo o tum tum tum descontrolado em meu peito.

Nesse momento eu senti que tinha embarcado...e não havia mais volta.

Por que meu coração já estava apaixonado.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top