Capitulo 6

3 semanas depois...

Parei em frente ao espelho quando  vi o meu reflexo nele, meus olhos desceram para minha barriga coberta pela blusa larga, segurei a barra e a ergui. Um calor gostoso tomou conta de mim enquanto encarava o relevo redondinho da minha barriga. Era dificil de acreditar que dentro dela havia outra pessoa, que necessitará de mim para sempre e me chamará de mãe.

Aquele dia minha mãe saiu batendo os pés com a ideia de seu neto viria ao mundo. E que ela não me ouvisse dando-lhe esse titulo. E quanto a meu pai, a única coisa que ele disse, foi que após o nascimentodo bebê ele voltaria para me buscar. No meu interior eu já sabia que ele não me abandonaria.

Sentei na pontinha da cama e suspirei quando meus olhos bateram no adesivo em cima da escrivaninha, era o mesmo que veio de brinde do chocolate que o Allan me deu. Era um desenho de vários arranjos de flores coloridas, me encantou bastante então colei ali.

Calcei um par de sapatos que estavam ao lado da cama, e levantei. Estava sozinha em casa, minha avó  ficou na fazenda pois seu Eduardo irá receber a vista de seu irmão e família, então minha vó irá preparar um jantar mais caprichado. Eu fiquei de voltar quando estivesse seca e agasalhada.

Eu vestia um vestido  que marcavs um poucominha barriga, e por cima um casaco.

Passei pela porta trancando por fora com a chave reserva que ganhei da minha vó, por fim a guardei em meu bolso.

Estava escurecendo mas o caminho estava visível, eu olhava para os lados vendo apenas árvores e moitas, não era longe, mas naquele momento parecia.

Quando finalmente alcancei os fundos da fazenda me aproximei da porta e bati, e logo foi aberta por minha vó.

- Minha flor, graças a Deus você chegou bem.

- Quer ajuda? - Perguntei ao ver vários pratos espalhados na mesa na bancada.

- Quero sim, pode me ajudar levando esses pratos para a mesa principal? Seu Eduardo está lá com os demais.

- Claro vovó. Esse aqui?

- Sim.

Peguei um dos pratos e ultrapassei a porta da cozinha entrando na sala de jantar, os olhares logo foram para mim me deixando envergonhada. Seu Eduardo sorriu pequeno, já Julia não economizou no sorriso, como sempre. Então, meus olhos foram para o filho de Eduardo, dessa vez ele estava sério, não riu. Na verdade parecia incomodado com algo.

- Empregada nova tio? - Olhei para o dono da voz, só então percebi a presença de mais três pessoas. Um homem um pouco mais velho que seu Eduardo, suponho ser seu irmão e ao lado dele a mesma mulher gravida que tinha visto no aniversário de Júlia e a frente dela um rapaz, cujo a voz sobressaiu.

- Essa é Rebecca, neta da Maria. Vocês a conhecem. Rebecca, esse é meu irmão Almir e minha cunhada Flávia  e aquele é ítalo, meu sobrinho. - O garoto que aparentava ter a minha idade me olhou de cima a baixo com um sorriso de lado.

- Legal...Você é bonita.

- Ítalo! - Seu pai falou sem paciência. Provavelmente uma atitude já esperada pelos mais velhos.

- O quê?

- Não seja inconveniente! - Ralhou Júlia.

- Desculpe pelo meu filho. - Pediu a mulher com um sorriso no rosto.

- Tudo bem. - Forcei um sorriso e deixei o cômodo, e voltei novamente com os demais pratos sentindo os olhos do garoto, ítalo, em mim.

Quando finalmente terminei, voltei para a cozinha e encontrei minha avó preparando mais dois pratos, respirei fundo pois não queria voltar para lá. Para meu alívio era para nós, puxei a cadeira e sentei na pequena mesinha de frente para minha vó. Comemos rápido pois a qualquer momento alguém poderia precisar de algo na mesa.

Algumas horas depois, por pedido da minha avó voltei para aquela sala, para levar a sobremesa. Deixei um suspiro fraco escapar pelo meu nariz ao encontrar a cadeira, que deveria está o sobrinho de Eduardo, vazia. Espero que tenha ido dormir.

- Diga a sua avó, que se quiserem podem dormir aqui. - Falou Eduardo.

- Não acho que ela irá aceitar, mas direi suas palavras a ela. - Ele assentiu sorrindo.

- Faça com que aceite, esta tarde não quero vocês andando por ai a esse horário, embora não seja perigoso. - Sorrio pequeno, agradecida por tamanha preocupação, e me inclinei para deixar a sobremesa sobre a mesa.

- Pode trazer um chá de avelã para mim? - senti um leve aperto em meu braço, e em um ato impensado soltei o bolo, que foi ao chão.

Todos os olhares foram para mim. Engoli em seco olhando vendo o bolo que minha vó fez com tanto carinho, todo destruído. Levantei meus olhos para o ítalo que ainda segurava meu braço.

- Por favor me solte. - pedi calmamente e ele obedeceu me olhando como se eu fosse um ser estranho. - Eu sinto muito por isso.

- Tudo bem Rebecca, mas o que aconteceu? - Perguntou Eduardo.

- Escorregou da minha mão - Meus olhos foram até Allan que fitava, furiosamente, o primo. Me abaixei e começei a recolher os pedaços e colocabdo de volta na bandeja. - Me perdoem estraguei a sobremesa.

- Não se preocupe. - Falou Júlia se abaixando também para ajudar. Eu iria pedir para ela voltar para seu lugar, que eu podia fazer sozinha, mas antes de eu abrir a boca, outra pessoa apareceu para a judar, sra Allan.

Encarei os dois e engoli o choro. Tamanha era a vergonha que estava sentindo nesse momento

- Me desculpem.

- A culpa não foi sua. - Allan falou.

Quando todis os pedaços maiores já estavam no lugar de antes, meus pés se moveram rápido em direção a cozinha.

- E o meu chá? - Ouvi a voz de ítalo.

Minha vó me olhou assustada ao ver meu estado e do bolo em minhas mãos. Em um segundo ela estava ao meu lado segurando meu rosto e perguntando o que tinha acontecido. Eu comecei a chorar e ela me abraçou, deitei minha cabeça em seu ombro me permitindo sentir seu carinho.

- E-estraguei o... seu b-bolo vovó...

- Bobagem minha rosa. Sente-se e se acalme. Irei limpar o chão.

Encostei na bancada abraçando meu corpo me sentido envergonhada pelo acontecido. Há um tempo isso não acontecia. Eu já conversei sobre isso com Helena em uma das sessões, ela disse que eu tinha desenvolvido um tipo de fobia ao toque, o que não fazia muito sentido por que com outras pessoas não era assim, como meu pai, minha irmã, minha vó. Mas ela explicou:

"Sua mente entra em alerta quando alguém que ela acha desconhecida a toca. Sua família são conhecidos por você, portanto seus toques não a deixa desconfortável. "

Então eu teria essa acepção de pessoas para sempre, e tendo ataques sempre que alguém que meu cerebro não conhesse relasse em mim? Isso era viver?

Funguei passado a mangada blusa no nariz quando Allan entrou no cômodo. Seus olhos cairam em mim.

- Voce esta bem? - Assenti com a cabeça.

- Eu sinto muito.

- Não peça desculpas por causa de um bolo, Rebecca. Quer respirar um pouco de ar fresco? - O olhei soltando um suspiro involuntário. - Quer dá um passeio? - reformulou a pergunta.

- Quero. - Seus labios esticaram em um sorriso.

A noite estava mais fria e a lua estava em seu mais alto ponto, iluminando tudo ao nosso redor. Minhas mãos estavam cruzadas uma na outra na frente do meu corpo. Ainda sentia pele do meu braço, formigando com o toque do Ítalo.

- "O próprio Senhor irá à sua frente e estará com você; ele nunca o deixará, nunca o abandonará. Não tenha medo! Não desanime!" Eu li isso em Deuteronômio há alguns dias e me veio na mente agora. É bastante reconfortante e é incrível saber que Deus nunca nos abandona.

Engoli em seco fitando o chão e parei de andar. Se era verdade que ele não nos abandonar então por eu me sinto abandonada. Por que Ele virou as costas para mim?

- Desculpe, você nem deve acreditar em Deus. - Ele riu sem graça. E se aproximou. - Você acredita n'Ele?

Essa era uma pergunta que até eu queria saber a reaposta. Eu ainda acrditava? Não como antes, tenho certeza. Eu cresci em um lar religioso graças a minha mãe, sua fé era indestrutível e ela deixava claro seu amor por Deus, por Jesus Cristo. Nada tirava isso dela, nem mesmo quando sua vida estava em risco.  Meu pai foi quem pouco a pouco deixou de caminhar no mesmo caminho quê nós.

Mas hoje depois de tudo que aconteceu...

- Eu não sei.

- Humm, como você se sente quando ouve o nome de Deus, ou quando alguém fala d'Ele como acabei de fazer?

Depois daquele incidente, as coisas ficaram fora dos eixos, foi como se tudo que eu acreditasse tivesse escorrido pelo ralo do banheiro juntamente com aquela água suja. E por mais que eu quisesse continuar no caminho de Deus, os empecilhos começaram a me empurrar para trás. Os pensamentos, a culpa, o medo, o ressentimento, o ódio, o desespero, a tristeza, o abandono.

- Eu não sei.

- Você sabe. Veja bem, eu lhe perguntei se acredita em Deus e você disse que não sabe, então eu quis saber o que sente em relação a menção de seu nome e novamente você não soube me responder. E por que eu fiz a segunda pergunta, acredito que queira saber. Enfim, a forna como se sente responde a primeira pergunta. Se você se sente angustiada por um suposto abandono eu fico feliz por que quer dizer que você acredita n'Ele mas está quebrada demais para reconhecer isso. E como eu cheguei essa conclusão? É simples. O fato de você está magoada mostra o quando você confiava em  Deus.

- Se eu não estiver magoada...

- Então você nunca confiou n'Ele. Nunca amou, ou nunca acreditou em sua existência. É como se não tivesse expectativas em Deus.

- Se sua teoria estiver certa, estar magoada não me faz uma filha ruim?

- Não. O mundo nos coloca contra Deus o tempo todo e ele está sempre ao nosso lado. O problema é que nem sempre estamos ao lado d'Ele, e por isso nosso espirito enfraquece e nossa carne se fortalece, então nossos pensamentos e sentimentos são controlados para nos afastar de Deus. As coisas acontece não por que ele permite, mas por que nós não permitimos sua intervenção. Eu não sei ao certo o que aconteceu para que você chegasse ao ponto de achar que, não acredita mais em Deus, mas eu quero que entenda que Ele não a abandonou. Pode parecer que sim, mas é  apenas seu subconsciente que faz com que pense assim.

Meus olhos pernaceram no rapaz à minha frente. As coisas que ele me falou flutuando em minha mente como se estivessem sendo analizadas.

Então Deus não impediu que aquele incidente acontecesse por que eu não permiti? A minha fé que não era suficiente? E todas as vezes que fiz de acordo com suas leis? Quer dizer que obedecer seus mandamentos não era suficiente?

Ah como eu queria que ele estivesse certo. Que Deus realmente não havia me abandonado.

- Não, a culpa não é sua. - Arregalei meus olhos supresa e ao mesmo tempo assustada, como sabia o que eu pensava? -  Da para perceber sua confusão. Não é sua culpa, na vida tereis aflições, lembra? Não estamos imune as desgraças da vida. As vezes Ele apenas deixa que passemos por ela para nos testar. Para o nosso bem. Mas o mundo tira totalmente nossa atenção e nos confude, e isso é frustrante por que nos deixa cegos para as maravilhas de Deus.

Ele parecia realmente frustrado.

- Mas isso não é motivo pra se abater. Espero que perceba isso, Rebecca! Vamos nos sentar em algum lugar.

As palavras de Allan ainda soam em minha mente.

- É confuso imaginar que Deus permita as desgraças como forma de fortalecimento. Mas é reconfortante imaginar que Ele realmente não me abandonou.

- Infelizmente não somos capaz de endende-lo.

Allan parou de andar e me encarou por uns segundos e depois seus olhos desceram para minha barriga e então soltou um suspiro.

- Estou feliz que tenha tomado aquela decisão. Deve ter sido muito difícil decidir isso, por isso estou orgulhoso de você.

Não demorei a entender a qual decisão ele se referia. Senti-me aquecida com sua fala. Abaixei a cabeça sem saber o que responder.

- Por isso fica mais fofa a cada dia.

- É a segunda fez que diz que estou gorda. - Senti vontade de rir da sua cara desesperada.

- N-não foi isso que...ora, não ponha palavras em minha boca. Já lhe disse que isso não faz diferença e...e agora que sei o motivo é ainda mais linda. Nossa! Imagina quando tiver com um barrigão igual minha tia? Eu quero muito ver isso.

- Esse passeio era para eu me sentir melhor? - Ele riu.

- Ficará ainda mais linda, Rebecca.

(...)

Algumas semanas haviam se passado,  os parentes de Eduardo ainda estavam hospedados em sua casa, e ele avisou que chegaria mais uma pessoa. Veronica. Ex-mulher dele e mãe  da Júlia. Eu e o Allan estavamos mais proximos, não podia negar que gostava de ouvi-lo falar pelos cotovelos assim como a Júlia, os dois pareciam dividir o mesmo sangue. Eu e ela decidimos fazer a festa do pijama uma ou duas vezes por semana. Eu gostava. Era divertido.

Enquanto penteava meus cabelos um vento forte abriu as janelas, me arrepiei quando a brisa gelada da noite entrou em contato com minha pele. Deixei a escova em cima da penteadeira e levantei indo até a janela, mas quando iria fechar uma silueta tomada pelo escuro em frente a um balanço velho, chamou minha atenção. De primeira quis fechar logo a janela assustada, porém quando me permiti olhar mais um pouco eu logo o reconheci. 

Juntei minhas sobrancelhas e olhei para o relógio que marcava 10:47 da noite. O que ele estava fazendo ali? 

Por algum motivo senti a necessidade de ir até lá, então peguei meu casaco e o vesti indo até a porta. Quando sai para fora o frio tomou conta de mim, mas continuei andando até está próximo ao rapaz. Tenho certeza que ele ouviu meus passos mas mesmo assim não virou, nem sequer se mexeu. Estava de costas para mim encarando o nada, o que era muito estranho.

— Volte para dentro, está frio. — Ouvi sua voz.

— Eu digo mesmo. — Ele me olhou. — O que faz aqui a esse horário? 

Ele suspirou virando de uma vez e ficando de frente para mim. 

— Só quis esvaziar um pouco minha mente. A casa está cheia e barulhenta.

— Sua mãe já chegou? 

— Ela não é a minha mãe, e sim, chegou a mais ou menos meia hora. — Balancei a cabeça levemente. Nos encaramos em silêncio. Seus olhos desceram para meu braço e ele respirou fundo se aproximando. 

Allan segurou meu braço e o avaliou. Perguntou se doia muito e eu apenas neguei com a cabeça apesar de que às vezes ardia um pouco, mas ele não precisava saber, pois já dava para perceber que se culpava pelo ocorrido. 

Ontem eu estava descascando batata na cozinha, junto com minha avó. Allan foi o primeiro que apareceu e se ofereceu para nos ajudar, e se colocando ao meu lado alcançou uma batata. Ele trabalhava enquanto puxava conversa com minha vó, e eu apenas ouvia, tentando não estragar a batata com a faca. Ele sorria docemente quando, no meio da conversa, saia algo que ele achava ser engraçado, eu apenas o olhava pelo canto do olho. Mas  o clima mudou totalmente, quando Ítalo apareceu. Ele olhou para cada um de nós e sorriu, e ofereceu sua ajuda também.

Allan ficou quieto. 

Ítalo que estava ao meu lado esquerdo começou a falar coisas aleatórias, soltando vez ou outra algo na intenção de implicar com o primo. Minha avó saiu por uns instantes. Ítalo parou o que fazia e disse: — Você é muito linda, Rebecca.

Allan respirou profundamente e Ítalo continuou. — Eu não me importo que você esteja grávida de outro. 

Allan soltou a faca e quando percebi Allan já tinha ido para cima do Ítalo. Eu fiquei desesperada quando vi que o ítalo estava com a faca em mãos, mais uma vez entrei no meio da briga. Mas dessa vez fui eu a sair machucada. Quando ambos rapazes me ouviram gemer de dor, imediatamente ficaram quietos.

Depois foram pedidos de desculpas, cuidados aqui e ali.

Eu ainda estava com o braço enfaixado, no local onde levei o corte. 

O barulho dos grilos no meio do mato estava alto, mas era incômodo.

Soltei um suspiro no mesmo momento em que meu rosto se contorcia em um careta desconfortável ao que o bebê mexia dentro de mim. Levei minha mão até a barriga pedindo silenciosamente que parasse. Tudo estava caminhando bem, as minhas consultas com a psicóloga vem me ajudando muito, meus pesadelos diminuíram, e quase nunca acontecem. Porém meu coração ainda martelava quando isso acontecia, era estranho a sensação de ter alguém dentro de mim. 

As conversas com Helena, a psicóloga, estavam me ajudando nisso também. Sempre saia de seu consultório mais confiante, contudo quando, coisas como a chuva ou o movimento do bebê, ainda despertam memórias ruins em mim.

E só em pensar que talvez minha mãe tivesse razão, me entristecia.

— Aconteceu algo? — Levantei meus olhos para Allan. 

— O bebê está mexendo. — Foi tudo o que disse.

— Posso sentir? — Arregalei meus olhos quando ele ergueu a mão, e por instinto, que ainda havia em mim, me afastei levemente o fazendo encolher a mão confuso. — Ahn...desculpe — Pediu coçando a nuca envergonhado. 

Me senti mal ao ver sua feição desapontada.

Respirei fundo e peguei sua mão colocando no local exato que tinha a 'sutil' movimentação. Allan arregalou os olhos para mim, surpreso pela minha atitude, confesso que até eu estava.

No início senti um formigamento, meu cerebro automaticamente me dizendo que era errado, mas não lhe dei ouvidos. Allan era um bom rapaz.

Posso dizer que vi um brilho extasiado em seus olhos negros. Ele mordeu o lábio inferior contendo o sorriso e baixou os olhos deslizando o dedão, em um carinho contido. Sua sutileza no movimento me fez deixar um suspiro fraco escapar. Eu nunca havia deixado ninguém tocar em minha barriga, confesso que havia gostado. Nem havia notado que o formiganento tinha cessado.

— É um menino ou uma menina?

— Ainda não sei.

— Já tem nomes? — Neguei com a cabeça — Então posso chamá-lo de botãozinho, por enquanto? Serve para os dois sexos.

— Botãozinho? 

— Sim, sua avó a chama de florzinha, acho que botãozinho combina como ele, ou ela. — Ele riu sem graça.

Minha mão ainda estava sobre a dele quando percebi, a tirei o que fez ele afastar a sua também. O apelido carinhoso me pegou de surpresa, mas havia gostado bastante.

— Eu gostei. 

(...)

Adentrei a cozinha arrastando o solado do chinelo no chão de madeira, incapaz de levantar os pés para andar corretamente, acontece que eu estava extremamente pesada, o que não era novidade. Minha avó sorriu doce enquanto colocava o café da chaleira na garrafa térmica. 

— Bom dia minha flor.

— Bom dia vovó. 

— Que carinha é essa? — Ela puxou a cadeira para mim e eu sentei. 

— Não é nada vovó, não se preocupe.

— Tarefa difícil, florzinha. — Ela falou e eu ri.

Tomamos nosso café antes de irmos para a fazenda. Eu só ia porque minha vó não queria que eu ficasse sozinha em casa, então eu a acompanhava. 

Às vezes era chato, pois não tinha nada que eu pudesse ou tivesse permissão para fazer. Mas na maioria das vezes Júlia me fazia companhia o que tornava as horas mais divertidas e até passavam rápido. 

As lembranças de ontem a noite tomaram minha mente. Eu e o Allan ficamos conversando por mais de meia hora, sua companhia era agradável ele não me deixava desconfortável, algo que eu já havia notado. Porém, não entendia o motivo pelo qual em nenhum momento, desde a primeira vez que nossos olhos se encontram, eu não me senti amedrontada e insegura.

Era como se os seus olhos transmitissem segurança. 

Sem que eu pudesse perceber um sorriso se formou em meus lábios, mas logo o desfiz olhando para minha vó que, graças a Deus, estava alheia. 

Enquanto andava pela grama verde da fazenda, sentindo o calor quentinho do sol misturado com a brisa gelada da manhã, avistei Allan no cavalo ao longe, caminhando na minha direção. Quando seus olhos bateram em mim ele sorriu, não pude deixar de retribuir. 

Já próximo ele desceu do cavalo e caminhou junto ao animal até parar diante de mim. Vovó cumprimentou ele, e depois lançou um olhat estranho para nós dois e saiu com um sorrisinho de lado.

— Dormiu bem? — Foi a primeira coisa que ele perguntou. Sorrio afirmando com a cabeça. — Que bom. Vamos procurar um lugar para sentarmos, não gosto de vê-la em pé. 

— Não é incômodo, quero dizer, não tanto. — Ele riu. E começou a andar me deixando parada. 

— Vamos! — Juntei minhas sobrancelhas incrédula e o segui. 

Próximo ao estábulo havia bancos, então enquanto ele tirava a sela do cavalo e o prendia novamente,  sentei no banco.

Suspirei apoiando minhas mãos sobre minha barriga o esperando. Não demorou muito e ele se juntou a mim, sentando ao meu lado. Em cima de nós havia a árvore que nos mantia protegidos do sol, embora não estivesse tão forte, por enquanto.

— Achei que não ficasse muito na fazenda. — Comecei. 

— E não fico. Depois que fui para São Paulo, voltava poucas vezes e não passava mais que dois dias, porém ultimamente tenho motivos para não querer ir embora, ou melhor, um motivo. — Ao concluir ele me encarou.

— Não deveria pegar tanto no pé de sua irmã, Allan. — Ele franziu o cenho confuso. — Você querer ficar aqui só para vigiar sua irmã. — Allan riu abaixando a cabeça e depois olhou para mim. — Eu sei que você quer protegê-la, mas não faça isso brigando com quem ela ama, caso contrário ela o odiará. — novamente ele riu me deixando confusa. — Por que está rindo, falei algo errado? 

— Não, claro que não! Na verdade, você tem razão. 

— Então pense bem! — Falei cruzando meus braços e olhando para o lado oposto. 

— Fico muito feliz que a Júlia tenha você como amiga. — Ele falou em um suspiro.  — Gentil, companheira e linda. — Arfei o fitando.

Ele se mexeu no banco colocando a metade de uma perna dobrada no assento e o braço no encosto, ficando de frente para mim, depois deitou a cabeça no braço me fitando. Constrangida olhei para frente, sentindo seus olhos em mim.

— Por que está me olhando assim? 

— Desculpe se te deixei desconfortável. 

— Não...só não estou acostumada.

— Com o que? Em ser admirada? — O olhei — Seu rosto é simetricamente perfeito, mas o que o deixa mais bonito são seus olhos. Se bem que há alguns meses era como se eles não tivessem vida. Mas eu agora entendo. — Abaixei minha cabeça, fitando minhas mãos. — Desculpe não quis tocar nesse assunto. 

— Não tem problema. — Suspirei brincando com meus dedos.

Não gostava de lembrar de nada do passado, o que chega a ser até irônico levando em conta que eu levava o fruto do passado no meu ventre. Mas não gosto de pensar no bebê como parte do passado e sim como uma peça fundamental para meu futuro. 

Uma florzinha lilás tomou conta do meu campo de visão e eu ergui os olhos para Allan.

— Sinto muito por deixá-la triste. — Sorrio pequeno e encarei a flor, e delicadamente a peguei. 

— Não é culpa sua. 

— Ainda sim eu tirei o seu sorriso. Por favor volte a sorrir — Eu tentei segurar mas não consegui, eu realmente sorri. E quando ele sorriu também, mostrando todos seus dentes, eu gargalhei por que ele era extremamente cativante e estranho. 

— Você é apaixonante Allan. - O sorriso abandonou seu rosto.

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