Capitulo 4

Sorrio olhando o senhorzinho correndo de um lado para o outro todo sujo de lama, tentando capturar um porquinho fugitivo. 

— Posso ajudar seu Alfredo? — ele levantou os olhos até mim.

— Aqui não é lugar para meninas como você.

— Meninas como eu? — Questionei confusa.

— Da cidade grande.

— Bobagem seu Alfredo, por onde que entra? 

— Não acho que seria uma boa ideia, a senhorita está tão limpinha. 

— Eu não me importo, depois é só tomar um banho. — Falei indo até uma pequena portinha e a abri, coloquei um pé e depois o outro sentindo a bota afundar alguns  centímetros. 

Alfredo encurralou o porco, porém ele passou entre suas pernas e como o mais velho era lento não conseguiu pegá-lo. Aproveitei que estava atrás e me inclinei para pegar no momento em que estiquei os braços ele deu meia volta jogando lama em meu rosto. Fiz uma careta e ouvi a risada do Alfredo. 

— Seu porquinho mau. Venha aqui! — Falei batendo o pé no chão, como se ele fosse realmente me obedecer. 

— Acho que não funciona assim, filha. — O velho falou mostrando os dentes amarelos.

Juntei as sobrancelhas olhando para o animal suíno, e aproveitando que ele estava distraído fuçando a lama, me aproximei na pontinha do pé, para não assustá-lo mais uma vez. Mas acabei pisando em falso e caí sentada no chão, senti meu corpo doer e em um reflexo levei minha mão até minha barriga. 

— Se machucou? — Neguei e ele me ajudou a ficar de pé. 

— Estou bem. Acho que não será fácil capturar o porquinho. Afinal, por que o senhor quer pegar ele? 

— O padrão irá vende-lo. 

— Mas ainda é um filhotinho. 

— Justamente, ele costuma vender alguns animais ainda filhote. — Balancei a cabeça entendendo. 

— Bom, então vamos tentar novamente. 

Após uma longa tentativa entre lama e correria, conseguimos pegar o porco. Alfredo o levou para um banho. E eu estava fazendo meu caminho para avisar minha avó que iria voltar para casa mais cedo e me limpar. Porém encontrei seu Eduardo no meio do caminho, eu queria dar a volta e fingir que não tinha o visto mas essa atitude seria muito mal educada da minha parte. Ele me olhou com os olhos arregalados.

— O que aconteceu? 

Ele não escondeu sua surpresa e muito menos seus divertimento quando contei minha aventura com seu Alfedro. Quando conclui ele mandou que eu fosse falar com Júlia para tonar um banho e vesti suas roupas, mas eu neguei, mas ele insistiu dizendo que era muito melhor do que ir para casa de minha vó e depois voltar.  Eu poderia devolver a roupa de Júlia no dia seguinte.

Fiz o que foi me mandado e falei com Júlia, ela me conduziu até seu quarto e após tomar um banho demorado em seu banheiro, ela me entregou um par de roupas.  Era uma calça que certamente ficaria justa em mim, pois venho ganhando peso nesses últimos dias por causa da gravidez, mas para minha sorte a camiseta era folgada e confortável. 

Meu cabelo estava cheiroso pois havia lavado e o shampoo da Júlia era bastante cheiroso. Ela me emprestou uma escova então fui até a penteadeira e escovei meus cabelos molhados. 

— Ainda não acredito que você se meteu no chiqueiro. — Falou Júlia pela milésima vez, estupefata.

— Por que é tão difícil de acreditar? 

— Ah, é por que você é da cidade e não está acostumada com isso aqui. 

— Sim, eu nasci e cresci na cidade. Mas não sou nenhuma patricinha, isso aqui é uma experiência nova para mim, porém é uma experiência que me agrada muito. Acho que se eu tivesse crescido aqui, as coisas poderiam ser diferentes. — Conclui pensativa.

— Por que você não fica morando aqui, com sua avó?

— Apesar de tudo, minha vida está lá, Júlia. — ela balançou  a cabeça para cima e para baixo. 

Após um tempo em silêncio, Júlia soltou que estava feliz com minha presença em sua casa. E em seguida soltou uma pergunta que me pegou de surpresa.

- Dorme aqui essa noite?

- Hã?

- Poderíamos fazer tipo uma festa do pijama. Eu sempre quis fazer isso, mas não tenho amigos aqui.

- Eu não acho uma boa ideia.

- Ah porque não? Vai ser divetido, Becca! Podemos assistir alguma coisa e conversar.

Eu já tinha feito isso com as gemias, mas foi uma única vez quando estávamos no 7°ano do ensino fundamental. Foi realmente divertido. Tudo naquela época era bom.

Engoli o bolo que se formou em minha garganta e olhei para a menina. Acho que seria uma boa oportunidade para se divertir um pouco e esquecer o que há dentro de mim.

(...)

Após colocar tudo que preciso para passar uma noite fora, dentro da mochila, a coloquei em minha costas e sai do quarto. Júlia tinha conversado com minha avó mais cedo e ao contrário do que pensei, ela ficou muito feliz. Segundo ela, era bom que sejamos amigas. 

Eram umas 5:00 horas da tarde quando saí da casa da minha vó. Assim que cheguei em sua casa Júlia estava me esperando fora, quando entramos fomos para o quarto dela.

— Você quer jantar aqui em cima, ou lá embaixo.

— Não podemos jantar aqui e deixar seu pai sozinho. — Disse sentando na pontinha da cama.

— Rebecca, você parece desconfortável aqui.

— Não é isso, é só que...

— Tudo bem, mas pode ficar a vontade ok? — Crispei os lábios afirmando. 

A garota na minha frente é uma ótima pessoa e mesmo que eu queira não parecer desconfortável, é impossível. Eu ando por todos os lugares com medo de pisar em falso.

Eu sou lamentável. 

— Vamos jantar, então depois colocamos nosso pijama. — Afastei minha mão quando ela tentou segurar. Ela encarou minha mão, e respirou fundo. — Vamos!

Segui ela até chegarmos na cozinha. Seu Eduardo já estava sentado à mesa.

— Boa noite — Falei quase inaudível.

— Boa noite, Rebecca — Me respondeu sorrindo. 

O jantar ocorreu quase silencioso. Eduardo me fez algumas perguntas, que eu evidentemente respondi com receio. Júlia comentou sobre seu aniversário está próximo, ela deixou claro que gostaria de comemorar. Depois disso foi tudo no mais puro silêncio até que o mais velho se retirou da mesa. 

Quando nós duas acabamos, voltamos para o quarto, enquanto Júlia foi ao banheiro colocar o pijama, eu fiquei no quarto. Comecei a andar pelo mesmo, vendo como era diferente do meu, mas alegre e espontâneo.  Havia várias fotos zoadas dela com o irmão coladas na parede, em algumas estavam juntos com os pais, e sorriam, felizes. Peguei um porta retrato em mãos, na foto estava os irmãos em uma selfie desajeitada mas muito bonita. A lembrança dos olhos do garoto, veio em minha mente. 

Seus olhos eram suaves e até muito bonitos. 

A porta de abriu e rapidamente devolvi o porta retrato ao seu lugar, quase o deixando cair. 

— Você pode ir agora. — Falou ajeitando as alças do seu pijama, que mais parecia um conjunto babydoll. 

Fui ao banheiro e tirei minha blusa, fitei minha barriga ainda lisinha e sorrio pequeno apesar de ainda ser assustador a ideia de ter alguém dentro de mim, alguém que me chamará de mãe.

Coloquei o meu casaco, que era três vezes maior que meu tamanho, e as calças folgadas cobrindo todo meu copo. Era confortável e eu gostava. 

— Rebecca, você está aí dentro? — Brincou Júlia assim que abri a porta do banheiro.

- É confortável...

- Quase não dá pra te ver. Vem senta aqui, estava pensando em assistirmos um filme, o que acha? Você prefere romances ou aventuras? Eu gosto de ambos, porém o que me prende mesmo é uma boa ação. Você gosta de fantasia? Eu gosto mas não aquelas muito fantasiosas, sabe? O que você acha de maratonarmos uma série? Tem umas que estou louca para assistir faz tempo. 

Não aguentei e soltei uma risada, Júlia que estava distraída mexendo em seu notebook enquanto falava, olhou para mim confusa.

— O que foi? 

— Nada. — Falei parando de rir — Continua. 

— O que você acha?

— O que você escolher está bom. 

— Ok, então vamos assistir um filme de romance, parece ser a sua cara. Agora senta aqui do meu lado.

Minha respiração travou quando ela segurou meu pulso me puxando. Rapidamente me soltei do seu aperto e trouxe minha mão contra mim, e abracei meu corpo dando um passo para trás. Não entendi a reação do meu corpo, mas alguma coisa naquele toque me levou se volta aquele dia.

Julia piscou várias vezes confusa e desceu da cama preocupada.

— Ei...o que foi? — Ela tentou se aproximar, mas eu recuei. —  Está tudo bem...

— E-eu...desculpe. — Falei olhando para ela. 

— O que houve? 

— Vamos assistir o filme. — Falei rápido indo para cama.

Sentei na mesma e cobri minhas pernas com o cobertor. Julia respirou fundo e veio para cama também. Ela sentou ao meu lado olhando para frente sem dizer nada.

— Por que você não permite que te toquem? —  Virei meu pescoço rápido com os olhos arregalados. 

— Não é isso, é  só  que...

Virei meu rosto para frente e encolhi minhas pernas as abraçando enquanto mirava o jarro de flor em cima da mesinha a minha frente. Não é que eu não permita, mas é como se meu cérebro não aceitasse aproximação de outras pessoas que ele classificava como desconhecidas.

— Isso é estranho para mim. — Falei sentindo meu peito apertar. 

— Aconteceu alguma coisa? Seus pais maltratavam você? 

— Estou grávida… — Júlia soltou o ar surpresa.

— Nossa...mas...o que isso tem a ver com o fato de você não gostar de ser tocada... — Júlia pausou com com o cenho franzido mas logo seu rosto se transformou em uma expressão surpresa. Ela olhou para mim com os olhos arregalados — Você foi...

Ela não terminou, não precisava. 

— E você irá ter essa criança? Seus pais estão te obrigando? 

— Não. — Falei com a voz embargada - Eu vou abortar.

Falar isso em voz alta me fez sentir náuseas. 

(...)

Mexi minha língua dentro da boca abrindo os olhos, sentindo e minha garganta implorar por água. Olhei para trás sobre meus ombros, onde Júlia dormia virada para o outro lado, me virei para o mesmo lado que ela e hesitante levei minha mão até seu ombro e balancei suavemente. Não resultando em nada decidi por um pouco mais de força e ela se mexeu virando de barriga para cima.

— Júlia. — Sussurrei — Júlia! 

Me assustei quando ela virou-se para meu lado colocando o braço e a perna em cima de mim.

— J-julia… — Era inútil, ela não acordaria. 

Ainda sem reação afastei sua perna e depois seu braço logo pulando para fora da cama. 

— Queria ter um sono pesado assim. — Falei para mim mesma observando Júlia abraçando, agora, o travesseiro. 

Já que ela não acordava de jeito nenhum e eu realmente precisava de um copo de água, tomei a decisão de descer e pegar na cozinha. Será rápido então talvez não se importem.

Abri a porta devagar e na ponta do pé fui até a escada e segurei no corrimão. Olhei para baixo, estava um pouco escuro mas mesmo assim, decidi descer, um pé descalço atrás do outro, pisando sutilmente no piso de madeira. 

Respirei fundo chegando na sala, o breu da escuridão me impedindo de enxergar muita coisa, e por isso acabei derrubando algo no chão, fechei meus olhos com força embora não precisasse e me encolhi no meu lugar como se alguém fosse brigar comigo, e foi mais ou menos o que aconteceu.

De repente a luz acendeu me assustando.

— Rebecca? — Arregalei meus olhos e olhei para o lado. O homem olhou para o chão e eu fiz o mesmo. Lá  estava o tal objeto que havia caído no chão. Crispei os lábios me arrependendo de ter sede. 

— M-me desculpe. — Falei ele e imediatamente peguei o porta retrato, graças a Deus não havia quebrado nada. Devolvi a mesinha e olhei para frente. — Eu não queria ter derrubado, eu sinto muito. 

— Você comprou esse pijama tamanho titãs? 

— Eu realmente não que...- Parei olhando confusa para o homem que segurava o riso. Pisquei tentando entender o que tinha escutado e desci meus olhos por minhas vestes.

— Acho confortável para dormir. 

— Ah claro! — Disse balançando a cabeça — Mas me diga, o que faz acordada a essa hora? 

— E-eu, senti sede. 

— Certo, vá beber água! 

— Obrigada. 

Deixei a sala e caminhei apressadamente até o outro cômodo, respirei aliviada por está sozinha, ou não. Ele ainda está na sala, acordado, e eu aqui acordada na cozinha. Sozinhos e acordados. Deus! Por que estou com medo? Seu Eduardo não seria capaz de fazer nada comigo...ou seria? 

— Por Deus Rebecca é claro que não! — Cochichei para mim mesma.

Minha mente que insistia em ficar alerta para qualquer homem que se aproximasse, eu precisava me livrar disso, claro que cuidado nunca é demais porém não é saudável que eu tenha medo de qualquer um. Mas não era como se eu desconfiasse dele, era mais como receio. 

Após beber a água e finalmente saciar minha sede voltei fazendo meu caminho, para assim voltar ao quarto porém, parei na sala quando vi que Eduardo ainda estava lá.

Ele olhava pela janela de vidro pensativo. Respirei fundo colocando minhas mãos para frente do meu corpo. Tentei passar despercebida e subir as escadas, porém não obtive sucesso.

— Já bebeu água? 

— S-sim. 

— Tenha um bom restante de madrugada. — Ele falou com um sorriso gentil. 

Desviei meus olhos para a parede, e realmente já era madrugada. Voltei a fitar o mais velho, seus olhos estavam escuros e abaixo deles havia olheiras fundas. 

— O senhor tem insônia? — Questionei baixinho, ele me olhou curioso e sorriu. 

— Não, mas hoje eu realmente estou com dificuldades para dormir. Você bem que poderia me ajudar...

— E-Eu? 

— Você sabe de algo que possa me fazer ficar com sono? 

— Ah… Quando eu não c-conseguia dormir, minha mãe me contava histórias, sempre funcionava. 

— Vai me contar historinhas para dormir? — Desviei os olhos envergonhada. Como sou tola, isso só serve para crianças! 

— Desculpe, eu posso fazer um chá...

— Não, uma história parece mais divertido. — Afirmei com a cabeça um pouco baixa, ele riu e me deu as costas indo para o sofá deitando no mesmo. — Sente-se e me faça dormir Rebecca. 

Busquei uma das histórias que minha mãe me contava, pigarriei antes de começar. Estava me sentindo uma idiota por ter proposto isso, eu devia ter indicado ouvir vídeos com barulho de chuva no YouTube. Contudo, antes que eu pudesse concluir a história fui interrompida pelo ronco do homem no sofá. Bom, pelo menos ele havia dormido. Levantei para sair, porém minha consciência pesou por ele está descoberto, mesmo não  estando frio.

No entanto, como não tinha cobertor aqui, e eu não iria pegar um, decidi deixá-lo dessa forma e finalmente poder voltar a dormir. Quando virei para a escada meus olhos encontraram os mesmos olhos negros de hoje cedo. Não foi possível conter um arrepio involuntário que correu pelo meu corpo, enquanto o mesmo gritava para que eu saísse rápido daqui. 

— Espere! — Ouvi sua voz quando ameacei subir as escadas. Ele me estendeu uma caixa de bombons e eu o olhei confusa. — Pode entregar isso a minha irmã? Ela está brava comigo...

— Você deveria entregar. — Falei baixo fitando meus pés. 

— Eu sei, mas eu passei o dia inteiro fora, e daqui há algumas horas estarei viajando de volta para São Paulo. — Olhei para a caixa, ele irá voltar sem fazer as pazes com a irmã? 

— Ao menos ligue para ela quando chegar lá, e se desculpe. — Ele assentiu, erguendo novamente a caixa e eu a peguei. 

No mesmo momento minha barriga roncou e uma enorme vontade que certamente não era minha, de comer chocolate se apossou de mim apenas por ver a caixa. Tentei fingir que isso não havia acontecido e respirei fundo virando para subir. 

—  Por favor não coma esses chocolates. — Falou divertido e eu corei me encolhendo. 

— Eu não faria isso! — Ele riu, e tateou os bolsos da calça procurando algo. 

— Aqui, pode comer esse. — Olhei para a barrinha de chocolate em suas mãos.

— Não precisa. — Falei fitando a barrinha e minha barriga roncou novamente me fazendo suspirar desacreditada. 

Bebê idiota!

— Não é o que seu estômago diz. Vai, pode pegar... Esse vem com um brinde dentro. — Dominada pelo desejo, peguei a barrinha de suas mãos e ele riu se apoiando no corrimão da escada. 

O olhei vendo seus olhos em mim e um sorriso contido brincando nos lábios. Ele era bonito. Sua pele era branquinha, o que destacava bastante seus olhos e cabelos negros. 

- Os seus olhos.

- O que eles têm?

- São bonitos, mas estão tristes.

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Capítulo mal revisado por isso deve ter algum erro por aí, peço desculpas por isso 😅❤️

Muito obrigada por sua leitura, pode ter certeza que ela é muito importante para mim. Ah, não esqueça de votar e dizer o que  achou do capítulo. 

Um beijo e até a próxima.

Fique com Deus! 🙌❤️

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