Capitulo 14
Davi não teve mais febre, mas a preocupação não me deixou dormir. Observei a criança dormir traquila por horas incontáveis, repetindo cenas do dia e relebrando o emcontro inusitado.
Atravessar aquela porta e ver Allan havia me pegado de surpresa. Não esperava ve-lo tão cedo, não que eu não quisesse. Eu só não esperava.
Ele estava diferente, mas ao mesmo tempo continuava o mesmo, talvez pelos olhos que portavam o mesmo breu ou o sorriso que não deixava seu rosto, toda vez que olhava para o Davi.
Não vou mentir aquelas olhadas carinhosas haviam mexido comigo. Saber que alguém transborda de carinho por meu filho, além de mim, me alegrava. E muito.
Acho que o maior desejo de toda mãe é ver as pessoas cuidando e amando seu filho, mesmo com gestos discretos, como no caso do médico.
Quando o sol clareou o quarto, eu despertei. Se é que dormi em algum momento.
Toque a testa da criança que dormia. Não estava quente, sinal que não tinha febre. Graças a Deus.
No entanto, Davi despertou estava enjoado. Não permitia que eu saísse para nenhum lugar que não o levasse, o que resultou em um dia de férias para nós dois. Como Allan havia recomendado, dei bastante água ao Davi. Às vezes reclamava, mas bebia.
Estávamos assistindo tv sentados no chão quando ele vomitou sujando o tapete e a mim. Eu odiava quando isso acontecia. Corri com o Davi para o banheiro e lhe dei um banho quando me certifiquei que ele estava bem e não corria o risco de vomitar novamente. A roupa ficou encolhida no canto do banheiro. Daria atenção a ela após limpar o chão da sala. Enrolei o tapete e levei para a área de serviço e no chão passei pano até está tudo limpo.
Do nada o garoto começou a chorar.
- Está sentindo dor filho? - Ele negou com a cabeça. - Então por que está chorando?
- Cadê a botãozinho?
- Eu não sei, amor.
- Procura ela, mamãe. - Respirei fundo e assenti.
Sempre que Davi adoecia ou até se machucava, ele ficava sensível e manhoso.
Encontrei a gata, próximo ao corretor e a levei até a criança. Ele segurou o animal nos braços fungando.
- Você quer continuar assistindo? - Ele assentiu indo em direção ao sofá. Ajudei a sentar. - A mamãe vai colocar a roupa na máquina, tá bom?
- Não mamãe.
- Será rápido amor, A botãozinho ficará fazendo companhia pra você, ok? Mamãe volta logo.
Ele começou a acariciar o pelo da gata. Apreveitei e sai de fininho. Enquanto ia em direção ao banheirp percebi que eu fedia a vomito, só então lembrei que habia me sujado também. Tomei um banho rápido e logo após coloquei nossas roupas na máquina de lavar. Na área de serviço começei a lavar o tapete com uma escova.
Minha mãe chegou meia hora depois do ocorrido. Passou direto da sala, nem ela, nem meu filho deu a tenção um ao outro. Mamãe por que ignorava a existência do neto. O Davi por que dormia com a gata próximo aos pés.
- Quantas vezes eu preciso dizer que não quero aquele gato no sofá, Rebecca?
- Que mal há, mamãe? O Davi estava todo enjoado hoje, deixei que ficasse com ela.
- Sempre fazendo as vontades dele. Sabe que o pelo desse animal faz mal, não é?
- Também não é assim mamãe. Botãozinho toma banho sempre.
- Ainda faz mal.
Fechei os olhos e respirei fundo.
- Desculpe, mamãe. - Retirei a gata do sofá.
- Por que não foi trabalhar hoje? - olhei incrédula para ela.
- O Davi está doente, mamãe, agora pouco falei isso.
- Hum. Só pode ser alergia ao animal peludo.
- Claro que não mãe! Davi está com infecção. Eu falei ontem. Foi o motivo de eu ter passado o dia fora. Mas você parece que não ouve o que digo mamãe.
Ela ficou em silêncio por uns segundos.
- Eu não lembro disso. - Soltei um riso incrédulo.
- Entendi mamãe. Tudo bem. Agora você lembra, não é? Certo.
Fui até o sofá e peguei o Davi para levá-lo para o quarto.
No dia seguinte Davi estava bem melhpr, sua energia de criança estava carregada. Mas foi o caminho da escola reclamando e afirmando que ainda estava doente porque queria ficar em casa. O deixei choramingando na porta da sala e sai correndo para o trabalho.
A noite do mesmo dia, não dormi bem mais uma vez. Porém, o motivo não foi a piora de Davi, e sim um sonho ruim.
Mesmo que todos esses anos tenham passado, relembrar o que aconteceu há 4 anos ainda era um desafio e tanto, e por mais que não sejam frequentes os pesadelos ainda me atormentavam. E essa noite não foi diferente. Tive um pesadelo que ao acordar não consegui distinguir se era real ou não. Karina me ajudou a me acalmar antes que eu acordasse todo mundo, inclusive o Davi. E toda vez que acontecia eu agradecia a Deus por nenhum momento ter aversão em relação ao Davi.
Conheço inúmeros casos em que mães desenvolvem depressão e não reconhecem seus filhos, mesmo que não tenham passado por algo traumatizante.
Tem certeza que está bem? - Olhei para a morena em minha frente e sorri afirmando.
Após duas noites em claro meus olhos deveriam está pesados.
Apenas não tive as 8 horas de sono.
Saia mais cedo hoje e durma um pouco antes de pegar seu filho na escola. Não é uma alternativa e sim uma ordem.
Você não pode mandar em mim!
Posso sim, até porque graças a mim vc não perdeu o emprego aquele dia. Agora está em minhas mãos.
Só você mesmo Cris. Então deixa eu voltar para o trabalho. - conclui pegando o bloquinho de notas e caneta.
Fui em direção a um casal jovem, a moça tinha um sorriso lindo, seus olhos fechavam e ruquinhas apareciam no canto dos olhos. O rapaz a olhava com admiração, era visível que no auge da mocidade deles, estavam apaixonados.
Por um segundo, Daniel veio à minha mente. Questiono-me interiormente se ainda estava com a mesma namorada, por onde andava e se estava feliz.
Depois que voltei na fazenda não me encontrei com quase ninguém da minha antiga turma com exceção da Cris, e Jamily uma das minhas melhores amigas, ela estava morando no interior de minas, e a última notícia que tive dela é que casou e tem uma filha já sua irmã, Gabrielly, havia se mudado para outra cidade, quando conseguiu uma bolsa na Universidade, perdemos totalmente o contato, infelizmente. Sinto saudade dela e de todos os meus amigos da escola, e até mesmo da própria escola, apesar do meu ensino médio não ter sido lá essas coisas. O fundamental foi maravilhoso, os professores eram uns amores e a diretora tinha um carinho especial por mim, pois eu sempre recitava poemas nos eventos que ocorriam na escola. Na festa de despedida do 9° ano, fiz um vídeo com mensagens e fotos de todos professores e diretores que nos acompanharam durante todos esses anos, eles ficaram muito felizes e alguns até se emocionaram.
Anotei alguns pedidos e os levei para Cris.
- Olha o policial voltou, e trouxe companhia - Ouvi a voz de Cris ao meu lado.
Olhei para a porta e arfei quando vi a pessoa que entrava atrás do policial arrogante.
- Cris, será que eu já posso ir?
- Ah Rebecca, quer embora logo agora que o policial está aqui?
Cocei a nuca nervosa.
Não, quero ir porque o Allan está aqui.
- Quando você atender aqueles dois, pode ir para casa -Respirei fundo tomando-me por vencida pois sabia que ela não mudaria de ideia.
- Eu te odeio Chris.
- Muito pelo contrário Becca, você me ama! - Revirei os olhos e peguei o bloquinho e andei em direção a mesa, Allan estava de costas para mim.
Quem me viu primeiro foi o policial.
Lá vem ela, maravilhosa como sempre.
Desejei colocar minha cabeça no primeiro buraco que aparecesse, no momento Allan olhou para trás quando estava próxima deles.
- Seus olhos se encontraram com os meus, e meu coração acelerou de um jeito bom.
- Rebecca?
- Oi…Allan. - Nos encaramos em silêncio por uns instantes. Mas despertei pata realidade com a voz do outro na mesa
- É, parece que minhas chances foram de 0 a nulo. Vocês se conhecem?
Allan olhou para ele na intenção de respondê-lo, mas eu fui mais rápido o cortando.
- Sabem o que vão pedir?
Quanto mais rápido eu terminar, mais rápido eu posso ir embora. Não que eu estivesse fugindo de Allan, apenas sinto-me envergonhada perto dele, sinto-me pequena demais. E talvez, só talvez ainda ressinto-me por ele não ter voltado a tempo, como prometeu, há 4 anos.
- Posso ir agora, Cris? - Perguntei voltando ao balcão.
- Não, sem antes me dizer o que foi aquilo.
- Aquilo o que?
- Não se faça de idiota, Rebecca. Pensa que eu não vi como você e aquele homem trocaram olhares.
- Como sempre você vê coisas onde não tem.
- Vocês se conhecem?
- O conheci há 4 anos - seu queixo caiu.
- Ele é o pai do Davi? - Sussurrou.
- Quê? Não, Cris! Éramos…amigos, eu acho. Não tivemos muito contato. Ele é filho do dono da fazenda em que minha avó trabalha.
- Ah. Precisamos rever o conceito de "amigo". - Ela riu e eu revirei os olhos. - Pode ir agora.
Peguei minha bolsa e fui em direção ao banheiro, coloquei minhas roupas e guardei meu uniforme na bolsa. Antes de sair olhei o horário e faltava 1 hora e meia para pegar o Davi, dava tempo de tirar um cochilinho antes, para renovar as forças para passar a tarde com meu filho, que sempre voltava mais elétrico que o normal da escolinha. Passei pela porta dos fundos, tomando cuidado para não dá de cara com o muro que ficava extremamente perto, passei pelo beco tomando cuidado para não bater nas sacolas de lixos, que por incrível que pareça, estavam intactos levando em conta que estavam há dois dias do lado e fora.
O caminhão de lixo já foi mais pontual na coleta.
O ponto de ônibus não era tão lonje, mas a caminhada me deixou cansada, quando sentei no assento ao lado de uma senhora baixinha, senti meus olhos pesados e a barriga vazia.
Quando chegar em casa terei que escolher entre matar o sono ou matar a fome.
Encostei minha cabeça na lateral da pilastra do ponto de ônibus, mesmo com o desconforto meus olhos fecharam-se lentamente. Eu poderia dizer que já estava vendo os carneirinhos pulando as nuvens, quando senti meu corpo ser levemente chaqualhados, e uma voz chamar meu nome.
Abri meus olhos assustada, e quase não acreditei no que vi, ou melhor, quem eu vi. Tive que piscar algumas vezes para ter certeza que não estava tendo alucinações.
Allan estava abaixado de frente para mim ele me olhava com aqueles olhos negros e penetrantes, ajeitei minha postura e ele sorriu meigo. Como um homão desses podia ter um sorriso tão doce?
- O que está fazendo aqui? - Eu que deveria fazer essa pergunta.
- Esperando o ônibus. - Ele riu.
- Da forma que estava, o ônibus passaria e você não iria ver.
E-eu..
- Venha, a levarei até sua casa.
- Não, não precisa. O ônibus está quase passando.
- Por favor aceite. Seus olhos me encaravam com esperança, então repirei fundo e assenti.
Seu carro estava estacionado impropriamente, segundo a lei, mas não impedia os outros veiculos passarem. Repirei fundo mais uma vez quando ouvi o clik do meu cinto, apertei a bolsa em meu colo quando deu partida no carro. Ele me pediu o endereço e eu lhe dei, ele sorriu dizendo que já esteve no meu bairro.
- Uma pena que não sabia que estava próximo a sua casa, se não teria lhe feito uma visita. - Como está o botãozinho?
- Davi. O nome dele é Davi.
- Ah...- Sorriu sem graça - Como está o Davi?
- Está bem.
- Não teve mais febre?
- Não.
- Você não mudou nada, ainda continua sendo de poucas palavras - E você continua falando pelos cotovelos - Sabe, espero que seu marido não seja ciumento e venha quebrar minha cara por lhe dar uma carona.
- Não…não sou casada.
- Ah, então namora?
- Não. - Percebi quando me olhou rapidamente, e quase o vi sorrir.
- Como está a Julia?
- Bem. Eu acho. Não nos falamos muito devido ao trabalho. Raramente ela nos visita.
Olhei para fora da janela do carro, vendo as casas conhecidas por mim passando uma a uma.
- Minha casa é aquela - apontei para a casa com o muro rosa pastel. havia visão para a casa em si pois o muro era alto.
Eu havia escolhido a cor quando tinha pouco mais de 10 anos.
A mamãe me mandou comprar tintas para pintar o muro na venda do seu Inácio, já que, ela não podia ir pois Karina estava doente e papai trabalhando. Ela havia me dito a cor antes de sair. Verde. Eu ouvi bem, mas quando cheguei na venda meus olhos caíram na cor rosa pastel, não vendo problema pedi a Inácio que entregasse aquela cor lá em casa. Satisfeita, voltei para casa e pouco tempo depois a tinta chegou, mamãe quase me matou com o olhar, mas optou por ficar com aquela cor e até hoje ela não mudou mais a cor do muro.
O carro foi perdendo a velocidade até esta parado em frente ao portão. Allan se inclinou para frente e olhou para a casa.
- Muro bonito. - Não consegui não rir com sua fala.
- Obrigada Allan, pela carona e por elogiar o muro da casa dos meus pais. - Ele riu.
- Uau, mais de duas palavras. Estava com saudades disso. - Ele pegou uma carteira no porta luvas e tirou de dentro um cartão e estendeu para mim. - Eu deveria ter lhe entregado naquele dia no hospital, mas eu não entreguei porque não poderia esperar sua ligação, já que a mesma significaria a piora do Davi. Mas agora eu posso esperar.
Olhei para o cartão em sua mão e respirei fundo. Eu deveria pegar? Eu queria ter seu número para ligar ou mandar mensagem sempre que quiser? Mas se eu pegar o cartão não significa poder ligar sempre que quiser, ele definitivamente está apenas me entregando como médico para no caso de precisar.
- Por favor, pegue e me dê falsas esperanças de que vamos conversar e ser amigos. - Olhei para ele e peguei o cartão.
-"Podemos ser amigos. - Falei e ele assentiu com a cabeça.
- Como amigo, meu primeiro conselho é: não durma em um ponto de ônibus, ou em qualquer lugar que seja público, mesmo que esteja com muito sono.
- Não é como se isso acontecesse sempre. - Falei olhando para frente. - Na maioria das vezes estou sempre em alerta, hoje foi um deslize que não se repetirá. - Soltei o ar e olhei para ele sorrindo. - Bem, obrigada mais uma vez, Allan.
Retirei o cinto e saí do veículo. Assisti-o da à volta com o carro e antes de ir embora ele sorriu e eu fiz o mesmo.
Entrei em casa e me deparei com o papai largado no sofá, estranhei por vê-lo tão cedo em casa. Algumas garrafas estavam perto dele o que denunciava que estava bebendo, não fiquei menos preocupada com isso. Por mais que ele estivesse bem, o álcool ainda era perigoso para sua saúde.
Subi direto para meu quarto, e após um banho gelado retornei a sala e tentei acordar meu pai para que ele fosse para o quarto, porém ele apenas resmungou e bateu em minha mão para deixá-lo. Respirei fundo e decidi tirar um cochilo, que era meu plano desde o início. No entanto, assim que encostei minha cabeça no travesseiro ouvi o barulho do toque do meu celular.
Talvez eu só consiga dormir à noite.
Quando atendi, a ligação caiu, ou a pessoa desligou. Era um número desconhecido, certamente alguém do presídio passando trote.
Voltei para a cama, mas não consegui dormir.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top