Capítulo 9
Após o episódio na London Eye, não consegui me concentrar em muita coisa. Jubs voltou com a animação de antes, porém, apenas Bruce lhe dava a devida atenção. Oliver, como eu, permaneceu a maior parte dos passeios em silêncio. O desconforto de ambos era nítido.
Mas as coisas mudaram assim que chegamos a um tipo de PUB, que mais parecia uma lanchonete rústica.
— Alice! — a mão de Oliver segura a minha, quando nossos amigos já estavam mais adiante de nós. — Podemos conversar?
Olho ao redor e nego com a cabeça.
— Se for sobre o que aconteceu mais cedo, este não é o momento e muito menos o lugar, Oliver.
— Eu sei! — passa uma das mãos pelo cabelo de forma nervosa. — Eu só... — Inspira fundo o ar pelo nariz e expira pela boca. — Ok! Mas precisamos conversar assim que chegarmos em casa. Por favor.
— Nós iremos! Prometo! — o estômago começa a embrulhar de nervoso pelo que viria mais tarde, porém, me forço a dar um sorriso e apontar em direção aos nossos amigos, que já tinha escolhido uma mesa. — Agora vamos aproveitar a noite.
Ele assente. Seguimos para a mesa escolhida perto de um mini palco.
— Música ao vivo? — franzo a sobrancelha.
— Apenas para os que gostam de se arriscar. — Jully diz, sorrindo. Ela ergue a mão, chamando o garçom.
Finalmente olho ao redor. Percebo, então, que a maioria das mesas estavam ocupadas, e diferente de outros estabelecimentos que vimos durante o nosso trajeto, este PUB era um dos mais tranquilos.
— Este lugar parece ser bem tranquilo! — Bruce explana o que está em minha mente.
— Não suporto PUBs, Bruce, mas o nosso pai costumava nos trazer aqui quando vínhamos à Londres. Este lugar é realmente tranquilo. Bem família.
— Isso se deve ao fato de que eles não vendem bebidas alcoólicas aqui. — Oliver diz, tamborilando os dedos na mesa de madeira.
O garçom chega e nós fazemos nossos pedidos. Um silêncio se instala, após a saída do funcionário. Estávamos exaustos demais pela viagem e pelo dia cansativo.
— Soube que vocês são da mesma igreja. — Bruce quebra o silêncio. Seu olhar vai de Jully para mim.
— Er... — encaro minha amiga, sem saber ao certo o que dizer. — Você é cristão? — pergunto, desconversando.
— Digamos que me converti há pouco tempo. Mas sim, eu sou. — sorri largamente, com os olhos brilhando. Uma paixão e uma sede que eu conhecia muito bem.
— Que bom! Fico feliz. — uno minhas mãos sobre o colo e fito a mesa redonda.
— Sabe, a caminhada com Cristo não é fácil. Muitas vezes enfrentamos dor, passamos pelo deserto e nos sentimos sozinhos, apenas porque Deus resolveu ficar em silêncio durante a nossa luta. Mas é muito importante lembrarmos de que ele jamais nos deixá sozinhos. Que estará conosco até o fim. Ele não é como o homem, Bruce. Ele jamais decepciona ou nos magoa. O segredo é confiarmos e perseverarmos até o fim.
As palavras de Jully, aparentemente, são direcionadas ao americano. Entretanto, no fundo, eu sei que eram direcionadas para mim. E isso apertava o meu coração. Sinto a mão de Oliver segurando as minhas por debaixo da mesa. Nossos olhares se encontram. Ele sabe o que estou sentindo, e tal ato é uma forma de dizer que está ao meu lado.
— Sábias palavras. Obrigado! — Bruce agradece. — Como se converteu?
Jully arregala os olhos, com alegria, e começa a contar a história do dia em que a convidei para um dos cultos de jovens, lá da igreja. Aproveitando a conversa paralela dos dois, Olie se aproxima de mim e diz em baixo tom:
— Está aqui para se divertir. Não gosto de te ver cabisbaixa e triste.
— É complicado. Você não entenderia. — meus olhos ardem por conta das lágrimas.
— Tem razão! — ele analisa meu rosto. — Mas continuo não gostando de te ver assim.
Neste exato momento, uma mulher sobe ao palco, segurando um violão acústico, e nos cumprimenta. Atrás dela, os músicos se colocam em posição, cada um ajeitando o seu respectivo instrumento.
— Vai começar. — Oliver se afasta com um sorriso no rosto. — Acho que vai gostar daqui.
Não digo nada, apenas observo a moça afinar o seu violão antes de começar a tocar as primeiras notas. Jully e Bruce, sem se incomodarem com o barulho, continuam conversando sobre a fé em Jesus. O mesmo brilho que irradiava dos olhos da minha amiga, todas as vezes que falava sobre a fé cristã para ela, estava agora nos olhos de Bruce. E a mesma animação com que compartilhava minhas experiencias, Jubs compartilhava as dela.
Para onde foi todo esse brilho e animação que outrora tinha?
Sou arrancada dos meus pensamentos quando a voz da mulher ecoa pelas caixas de som. Diferente das vozes dos artistas da ponte, a dela é suave e profunda. Apesar de não conhecer a canção, a melodia me fazia balançar de um lado ao outro. Dá para perceber que ela canta com a alma. O sorriso permaneceu em meu rosto até o momento em que ela entrega o microfone, dando lugar a outra mulher. Esta, diferente da primeira, não tinha a voz nem um pouco afinada...
Estava quase levantando da mesa, com a desculpa de ir ao banheiro, pelo simples fato de que meus ouvidos já não aguentavam mais ouvir aquele som estranho. Para a nossa felicidade e alívio, a canção terminou. Digo isso, pois, ao meu lado, percebi Oliver desfranzir o cenho e respirar fundo. Até mesmo os nossos amigos tinham dado uma pausa na conversa durante a apresentação.
Os minutos se passaram, mais pessoas se arriscaram, subindo ao palco. Nenhuma voz tão ruim quanto a voz da segunda mulher. Ao fim de mais uma canção, Oliver olhou para mim, com um brilho bastante conhecido no olhar. O mesmo brilho que possuía quando tinha uma ideia mirabolante.
Crispo os olhos, e ele sorri de lado, antes de se colocar de pé e ir em direção aos músicos. Percebo que nem Jully, nem Bruce tinham notado a ausência de Oliver. Reviro os olhos e volto a focar em Olie, que agora sobe no palco, segurando um microfone. Ergo a sobrancelha e o sorriso é inevitável.
— Não acredito nisso! — digo a mim mesma.
— Boa noite a todos! — diz, chamando a atenção do pessoal. Ouço a mulher da mesa ao lado suspirar ao vê-lo. Olho feio para ela, mas a mesma nem percebe meu olhar mortal.
— O que esse doido está fazendo? — Ju pergunta, mostrando os dentes alinhados observando o irmão.
— Antes de começar a cantar, eu gostaria de convidar uma pessoa para me acompanhar nesta canção. — nossos olhos se encontram novamente, e eu arregalo os meus.
— Não... — digo, baixo demais. Desesperada demais.
— Alice, — seu sorriso se torna ainda mais descarado — poderia subir ao palco por favor?
Jully, com os olhos igualmente esbugalhados, olha para mim, antes de indicar o palco com a cabeça e sibilar um "vai".
Nego com a cabeça, inúmeras vezes. Já consigo sentir o meu rosto pegando fogo, pois a maioria das pessoas me encaram.
— Vamos lá, Ali! — frisa o meu apelido. Me controlo para não lançar o mesmo olhar mortal, que dei há pouco para a mulher da mesa ao lado. Ele jamais nos chamava pelo apelido, era simplesmente para me irritar.
— Ali! Ali! Ali! — Um homem, em algum lugar, começa a chamar o meu nome e a bater palmas. Em poucos segundos o lugar inteiro gritava por mim.
Oliver desce do palco, pega outro microfone e vem até nós.
— Não faça isso! — digo entredentes.
— O quê? — inclina a cabeça, fingindo não estar me ouvindo.
— Eu vou te matar, Oliver! — ele se aproxima, ainda sorrindo.
— Eu deixo, mas antes você terá que cantar comigo. — afasta-se, estendendo o braço.
Com as mãos, e o corpo todo, tremendo, coloco-me de pé e o sigo, ignorando seu braço estendido.
— ARRASEM! — Jubs grita da nossa mesa. Nem ouso olhar para trás, ou me depararia com dezenas de rostos desconhecidos, todos olhando para mim.
Pego o microfone oferecido por Oliver e mordo os lábios com força, encarando o chão.
— Não precisa ficar com vergonha. Sua voz é linda. Muito mais bonita do que qualquer uma que ouvimos esta noite. — continuo fitando o chão. Só ergo o rosto quando escuto a melodia de Someday we'll know começar a tocar. Ele lembrou. Oliver sorri e me incentiva a iniciar.
Fecho os olhos e levo o microfone na altura da boca. Tento cantar, mas nada sai. Isso acontece algumas vezes, o que me faz perder as contas de quantas vezes os músicos iniciaram a canção. Nego com a cabeça e simplesmente travo.
— Não consigo! — tento me afastar, mas ele segura minha mão.
— Você consegue! Apenas olhe para mim. — então olha para os músicos e faz um movimento com a cabeça, pedindo que eles comessem novamente.
Volto ao meu lugar, ainda com nossas mãos dadas, e faço exatamente o que ele falou. Fito seus orbes verdes acinzentados e inicio a música.
— Estou a mais de 140 quilômetros de Chicago. Não consigo parar de dirigir, não sei por quê. Tantas perguntas, preciso de uma resposta. Dois anos depois, você ainda está na minha cabeça. — respiro fundo e me preparo para fechar os olhos, mas a voz rouca de Oliver me pega desprevenida.
— O que foi que aconteceu com a Amelie Earhart? Quem segura as estrelas lá no céu? — ele inclina a cabeça, olhando-me com intensidade. — É verdade que o amor verdadeiro só acontece uma vez na vida?
Em um movimento rápido, quase perdendo a entrada, uno-me a ele em uma só voz.
— Será que o capitão do Titanic chorou? — seu sorriso divertido me contagia, mas permaneço parada que nem uma estátua, mesmo quando chega a parte do refrão. — Um dia saberemos.
— Se o amor consegue mover uma montanha. — canto sozinha, antes cantarmos juntos novamente.
— Um dia saberemos.
— Por que o céu é azul. — Oliver canta, olhando para o céu.
— Um dia saberemos, por que eu não nasci pra você! — ele aponta para mim, sem desconectar nossos olhos. Então começo a cantar a segunda parte da canção. Ele me contorna, cantando no momento certo. Então me incentiva a me soltar mais.
Oliver estava sendo o mesmo Olie de sempre: divertido, expressivo e brincalhão. Tenho certeza de que sua apresentação, atrelado ao seu charme natural, chamaram a atenção de várias pessoas no PUB, principalmente do sexo feminino.
Apesar de tudo, na segunda parte da canção eu também consegui me soltar, graças às investidas incansáveis do meu parceiro de palco. Não desgrudamos os olhos um do outro. Ao mesmo tempo em que estávamos nos divertindo, foi impossível não sentir o clima por trás da diversão. Oliver me puxa pela mão e começamos a rodopiar que nem crianças em uma determinada pausa da música.
Ele aproxima seu rosto do meu ouvido e diz alto o suficiente para que eu escute acima do som dos instrumentos.
— Espero que esteja se divertindo. — meu sorriso se alarga e eu afasto o rosto apenas para olhar o seu.
— Como nunca! — digo sincera. — Obrigada!
— Que bom! — e lá estava ele novamente: o sorriso descarado. — Porque agora é a sua vez.
Ele não se afasta, e a distância entre nós era mínima. Meu coração estava completamente acelerado. Ergo a mão com o microfone e canto baixo, controlando o nervosismo. O olhar intenso e profundo de Oliver em mim.
— Se eu pudesse fazer a Deus só uma pergunta... — ele se aproxima ainda mais, tocando o meu rosto. Então tudo o que nos separa é apenas a distância de um microfone. Então catamos juntos.
— Por que não está aqui comigo... esta noite?
O refrão chega novamente, nos separando, mas não totalmente. Oliver ainda me girava ao ritmo da música. A diversão continuava presente, mas algo tinha mudado. Algo mais profundo pairava entre nós. E eu tive certeza absoluta no último verso, quando ele me puxa pela cintura, unindo nossos corpos. Seus olhos brilham intensamente, e a respiração está entrecortada. Não pela falta de fôlego, mas pelo desejo que ambos estamos sentindo.
— Um dia você saberá, que eu era o único pra você!
A forma como ele cantou o último verso me deixou completamente arrepiada. Era uma espécie de recado. O tempo passara, mas nada mudou. Ele mesmo disse. Nada mudou! Meus olhos vão para os seus lábios e eu engulo em seco. Quando volto a encará-lo, percebo que ele também olhava para os meus lábios. Toco seu peito e ele une nossas testas. E no momento em que estávamos prestes a eliminar a distância entre nós, a explosão de palmas me faz dar um pulo para trás, trazendo-me de volta a realidade.
Com os olhos arregalados pelo susto e pela vergonha, entrego o microfone a um dos músicos e desço correndo do palco. Jully e Bruce estavam de pé, ainda batendo palmas, assim como algumas pessoas.
— MEU DEUS! EU NÃO ACREDITO QUE DERAM ESSE SHOW! TÃO TROY E GABRIELLA. — Jubs pula em meu pescoço.
— Menos Jully! Menos! — Oliver aparece atrás de mim.
Peço licença, rapidamente, e corro para o banheiro. Não aguentaria ficar perto de Oliver por muito tempo, não após o que quase aconteceu.
>>>><<<<
Oiie, gente! Não publiquei na segunda por motivos especiais: meu lado leitora querendo engolir o livro em todo tempo livre que tive kkkkk Espero que me entendam e me perdoem. Antes de ser uma escritora, sou uma leitora 😍🥰
Agora bora falar do climão... Esses dois... eita, eita, eita! 😵
Att.
NAP 😘
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