Capítulo 54

Saio da empresa com Harper ao meu lado.

- Ainda não estou acreditando que você finalmente voltará para a universidade! - minha amiga para diante de mim, com os braços cruzados na altura do peito e um sorriso divertido no rosto.

- Oliver e eu conversamos, ele soube me convencer - coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha.

- É bom saber que você está deixando de ser cabeça dura. Pelo menos com ele - ri ao dizer a última parte, e eu a empurro, rindo também.

- Nem tudo tem a ver com ele. Chegou o tempo de viver as promessas que um dia recebi de Deus. Na verdade, é pela misericórdia que estou recebendo essa nova oportunidade, que era para eu já ter vivido há mais de cinco anos.

- Entendo... sabe, essa empresa sentirá falta de você. - diz, fazendo bico.

- Você sentirá falta de mim.

- Tanto faz! - revira os olhos. - Mas quem sabe, daqui há alguns anos, a futura engenheira mecânica Alice Walker fará parte do grupo de engenheiros da EngiCorp - pisca para mim. - Será muito bem recomendada, tenha certeza.

- Agradeço! E só para retificar, ainda não sou uma Walker - ela ergue a sobrancelha. - Não vindo do Oliver - sussurro a última parte.

- Por pouco tempo! Mas e aí? Já decidiram a data do casório?

- Conversamos sobre isso na semana passada. As coisas estão um pouco caóticas no momento, mas decidimos uma data sim - dou um sorriso misterioso.

- Qual o significado desse sorriso?

- Em breve você saberá.

- De qualquer forma, o meus desejo é que vocês sejam muito felizes e realizados um com o outro. O amor dos dois é tão escrachado e lindo. Você merece viver isso, minha amiga!

- Você é a melhor! Obrigada por tudo, Per! - dou-lhe um abraço. - Agradeço a Deus, todos os dias, por ter colocado você e o Thony em minha vida, quando mais precisei.

- Glória a Deus por isso, Ali! Posso dizer que a recíproca é verdadeira.

Afasto-me com a sobrancelha arqueada.

- Glória a Deus?

- O quê? Disse algo de errado? - pergunta preocupada.

- Claro que não! Você está dando a glória ao único que é digno de recebe-la. Meu espanto é por você estar fazendo isso. Nunca foi religiosa ou fez menção a qualquer deus...

Ela desvia o olhar para o chão.

- Sempre há uma primeira vez.

- Não me diga que está indo à igreja - toco seu ombro quando ela não responde. - Harper! Isso é incrível! Por que não me contou nada?

- Porque a impressão que passaria, é que eu só estava indo para a igreja com a finalidade de conquistar o Anthony, e eu juro que não é isso! - seus olhos desesperados encontram os meus. - Eu estava passando em frente àquela igreja aqui perto da empresa, quando senti algo queimar em meu coração. Eles estavam cantando, e eu resolvi entrar. Deus falou comigo, Alice! Juro que não foi por causa do Thony! Eu juro!

- Ei! - sorrio, realmente feliz. - Eu acredito em você! E quero que saiba que pode contar comigo para o que precisar, pois a caminhada não será fácil, mas valerá a pena cada segundo na presença do Altíssimo.

***

Chego exausta ao apartamento, mas radiante por saber que Harper foi encontrada por Deus. Ela nunca deu qualquer brecha para que falássemos sobre nossa fé, principalmente depois que Anthony e eu voltamos para os braços do Pai. Mas também nunca demonstrou insatisfação ou incômodo quando conversávamos sobre.

Estava distraída, quando coloco minha bolsa no aparador ao lado da porta e escuto o grito de Bonnie.

- Mamãe!

Ainda sorrindo, viro-me em sua direção, mas assim que vejo quem está ao seu lado, congelo no lugar. Meus olhos encontram os seus, apreensivos.

- Olha quem veio nos visitar! - minha filha diz empolgada. - O vovô!

- Oi, Alice! - senhor Charles, que estava sentado no meio da sala com a neta, põe-se de pé.

No primeiro instante, minha voz não sai. Mas quando encontro um pequeno fio conectado as minhas cordas vocais, Anthony desce a escada.

- Senhor Walker, eu... - então ele me vê. - Ah! Você chegou - seu olhar me analisa com atenção. - Está tudo bem?

Sua pergunta busca saber sobre a minha atual condição física, emocional e psicológica. Em outras palavras, Anthony quer saber se estou prestes a pirar.

- Sim! - pigarreio. - Thony, você poderia levar a Bonnie para o quarto?

- Por quê, mamãe? Eu quero brincar mais um pouco com o vovô.

- Querida, já, já você voltará a brincar - caminho até eles, deposito um beijo em sua cabeça e volto a fita-lo. - A mamãe só precisa conversar um pouco com o vovô.

Ele parece liberar o ar que estava preso em seus pulmões.

- Vamos, Bon! Que tal montarmos o quebra cabeça que a sua tia Jully te deu?

- O das princesas?

- Pode ser. - Thony me dá uma última olhada, antes de subir a escada com a sobrinha ao lado.

- Bom, o senhor quer comer ou beber alguma coisa? - aponto para a cozinha.

- Não, não! - espalma as mãos na frente do corpo. - Está tudo bem! - assinto, sentando no sofá. Ele faz o mesmo. - Espero não ter me precipitado ao vir sem ser convidado.

- Acho que não! Para falar a verdade, não sei se teria coragem de convidá-lo - passo a mão pelo cabelo, nervosamente. - Quer dizer, isso é uma loucura! - digo por fim.

- Entendo o que está sentindo - ele se aproxima um pouco. - Se para mim, que protagonizei a maior parte da história, foi um baque descobrir tudo isso, imagine para você, que não fazia ideia de nada do que aconteceu - concordo com a cabeça.

Silêncio.

Ele analisa cada detalhe do meu rosto. Talvez esteja procurando alguma semelhança entre minha mãe e eu.

Envergonhada, abaixo a cabeça.

- Seus olhos castanhos são exatamente como os dela. E o seu cabelo, quando era jovem, tinha o mesmo tom de loiro e as mesmas ondas que os da sua mãe, Alice - seu comentário me faz erguer o rosto. - Assim como suas expressões faciais. Como não percebi isso antes? - ele trava o maxilar, mas logo sorri tristemente. - Para ser sincero, acho que não quis deixar que qualquer tipo de lembrança relacionada à Margaret viesse à tona.

- Ainda dói? - a pergunta sai antes de conseguir completa-la em minha mente. - Ainda dói pensar nela?

- Em cada parte do meu ser. Cada vez que penso em sua mãe, o meu coração perde mais um pedaço. Como se fosse possível - ri amargamente. - A sua mãe foi o grande e único amor da minha vida. Tudo o que eu mais desejava era viver uma vida inteira ao lado dela.

Ver esse lado frágil do poderoso Charles Walker é assustadoramente triste.

- Ela era forte; destemida; corajosa. Amava um desafio e jamais levava desaforo para casa. Acho que eu era o oposto dela. Vivia uma vida monótona, completamente planejada pelos meus pais. Jamais saí da minha zona de conforto. Não tinha razão para isso. Mas quando a conheci... - ele desvia o olhar. - Ela me deu um motivo real para lutar pelo que eu realmente queria. E eu a queria. Mas não fui corajoso o suficiente para lutar por ela.

- Você diz que ela era corajosa e não levava desaforo para casa, mas segundo minha mã... minha tia, e os relatos descritos no diário da minha mãe, ela sentia medo dos seus pais. Por quê? Por que ela tinha tanto medo?

Seus olhos voltam para mim. Agora ele está sério e um pouco tenso.

- Alice, sua mãe foi, sem sombra de dúvidas, a mulher mais corajosa que eu conheci. Ela não tinha medo de ser quem era diante dos meus pais. Não tinha medo de lutar pelo nosso relacionamento. Ela não abaixava a cabeça quando um dos dois tentavam humilha-la diante dos seus amigos poderosos - faz aspas no ar. - Até que um dia, quando estávamos em um jantar, onde ia pedi-la em casamento, a minha mãe tentou envenená-la. Na verdade, isso chegou a acontecer.

Arregalo os olhos, apavorada.

- Sua mãe quase morreu em meus braços. Então, sim, ela tinha motivos para temer. Por sorte, agi rapidamente, levando-a ao hospital mais próximo da mansão. Os médicos conseguiram salvá-la - suas mãos fecham em punho. - Sua avó não conseguiu acabar com a vida dela, graças a Deus, mas conseguiu acabar com o nosso relacionamento de uma vez por todas.

- Misericórdia! - cubro a boca com as mãos, sentindo os olhos arderem. - Agora entendo o medo em cada palavra escrita por ela. Oh, meu Deus! Você acha que se eles descobrissem sobre mim, seriam capazes de me matar?

Ele preenche o espaço entre nós, segurando minhas mãos.

- Eu jamais permitiria isso, Alice! Nunca!

- Você não respondeu - insisto.

- Eles seriam capazes de fazer qualquer coisa para evitar um escândalo em nossa família.

Este é o momento em que agradeço a Deus, internamente, por eles não estarem mais vivos. Entretanto, sua última frase vem como um baque.

- Então é isso que eu sou? Um escândalo? Uma verdadeira bastarda, não é? - tento puxar minhas mãos e me afastar, mas ele me impede.

- Por favor, não distorça minhas palavras. Para eles, sim! Você seria tudo isso e talvez um pouco mais. Mas para mim, Alice, você é o melhor presente que eu poderia receber do Céu. Você é o fruto de um amor tão profundo e verdadeiro entre sua mãe e eu. Tê-la ao meu lado ao longo de todos esses anos e não saber que era minha filha, me quebrou de várias formas possíveis. Sei que Abigail e Robert cuidaram muito bem de você, mas você é minha filha, Alice. Minha! - sinto as lágrimas rolarem livremente, mas não as enxugo. - Era para eu ter cuidado de você. Era para eu ter te protegido. Era para eu ter te educado. Era para eu ter te amado incondicionalmente!

Jogo os meus braços sobre ele e o abraço com força, deixando os soluços escaparem, assim como os dele.

- Eu sinto tanto por ter vivido esse tempo todo tão perto, mas ao mesmo tempo tão distante - diz entre lágrimas, retribuindo o abraço apertado. - Eu tenho muito orgulho da mulher que você se tornou, Alice! Você pode não acreditar, mas antes mesmo de descobrir a verdade, eu já te amava como uma filha.

- Eu acredito! Acredito em cada palavra.

- Eu te amo, minha filha! Eu te amo! - fecho os olhos com força, tentando conter um sorriso.

- Eu também amo você... pai!

A campainha toca no momento em que nos afastamos.

- Acho melhor atender - digo, um pouco envergonhada, após o nosso breve momento.

- Fique à vontade - levanto do sofá e sigo até a porta.

De cabeça baixa, apoiado no batente, com seu terno cinza escuro, está o homem mais belo que meus olhos já viram. Ao olhar para mim, Oliver alarga um sorriso que me arranca o fôlego.

- Olá, linda!

Sinto as bochechas arderem. É a minha vez de olhar para baixo. Sua risada me deixa mais envergonhada do que já estava anteriormente, mas ao notar que não estávamos sozinhos, ela cessa.

- Pai?

- Oi, filho!

De imediato, sua mão ergue o meu rosto. Então ele nota os meus olhos vermelhos e inchados.

- Ei, está tudo bem? - pergunta baixinho.

- Está sim! - toco sua mão, dando um sorriso sincero. - Mais que bem. Venha, entre!

Os dois se cumprimentam, como de costume. Então deixo Oliver a par do que acabou de acontecer. Ele parece estar radiante.

- Deus é bom! Fico muito feliz e aliviado- diz, segurando minha mão sobre a sua. - Acho que este seria o momento ideal para fazer o pedido oficial, mas parece que ser o pai de ambos te dá direito a spoiler - os dois riem, e eu continuo sem entender nada. - Antes de te pedir em casamento, eu tive uma conversa séria com ele, pedi alguns conselhos. E, pai, deu certo! - ele ergue minha mão. - Ela disse sim.

- Isso é incrível! Parabéns, meus filhos! - Nos abraçamos mais uma vez. - Mas quando será o casamento?

Oliver olha para mim com um sorriso torto nos lábios. Eu me uno a ele em um olhar cúmplice. Abro um sorriso arteiro e deposito um beijo em sua bochecha, antes de responder a pergunta do meu pai.

- Em breve! Muito em breve!

>>>><<<<

E este é o momento em que digo que estamos chegando ao final de mais uma história. E volto a repetir: não estão preparada pra isso 😩

Att.
NAP 😘

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