Capítulo 41

Há uma semana e meia eu voltei para Jesus. Decidi enfrentar os meus medos e lutar minhas guerras ao Seu lado, como Gizelle me aconselhara. Assim que retornei do meu encontro inesperado com a Ana Clara, no Champ de Mars, fiz uma oração junto com a matriarca dos Brown e seu filho. Nós nos alegramos e choramos juntos, um choro de alegria, diante da decisão que tomei. E no dia seguinte, ratifiquei tal decisão voltando para os braços do Pai diante dos meus irmãos em Cristo no meu primeiro culto, após longos anos afastada.

Desde então, nós três entramos em um propósito em prol da minha vida. Temos jejuado, orado e feito estudos bíblicos voltados para a batalha que está sendo travada em meu interior. Tinham noites que eu acordava gritando e chorando. Às vezes sonhava que estava sendo acusada, para em seguida receber muitas pedradas. Outras vezes, estava acorrentada e sendo levada para longe do meu Pai novamente. Nestes momentos, as acusações do diabo e a culpa tentavam ganhar espaço, porém, eu iniciava um clamor imediatamente.

Sentia-me como uma nova convertida em seu primeiro amor. A sede de busca-lo era tanta, que todas as madrugadas eu tenho feito isso. O meu maior medo, porém, é de que tudo isso passe quando voltarmos para Londres.

— O que foi, filha?

Ergo a cabeça da bíblia e encaro o rosto preocupado de Gizelle. Ela e eu estamos em nosso momento de estudo bíblico. Thony não estava presente dessa vez, decidiu leva a sobrinha para passear mais um pouco por Paris, antes de retornarmos.

— Só estava pensando no porvir. — dou de ombros.

— então pare de fazer isso, pois essas pré-ocupações só irão te fazer mal! Matheus 6.34 diz: "... não fiquem preocupados com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã trará as suas próprias preocupações. Para cada dia bastam as suas próprias dificuldades.". Filipenses 4.6,7: "Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os seus corações e as suas mentes em Cristo Jesus.". Poderia ficar o dia todo aqui citando versículos bíblicos, e você sabe como eu amo fazer isso. No entanto, iremos orar.

Ela estende as mãos por cima da mesa da área externa, onde estávamos, e segura as minhas. Sua oração, assim como as outras, tem um grande poder de acalmar a minha alma, imediatamente. O relacionamento da mãe de Anthony com Deus é algo que almejo para minha vida. Uma intimidade quase que palpável; um amor tão genuíno; uma fé inabalável; e a ousadia e autoridade divina diante de todo mal. É algo realmente admirável.

— Obrigada por toda a ajuda que tem me oferecido! Que nosso Deus te abençoe abundantemente! Tenha certeza que o seu trabalho não será em vão no Senhor!

— Amém! Eu creio nisso, Alice! Mas não se preocupe, o próprio Deus cuidara de você quando tiver que voltar para casa! Ele sempre envia alguém para estar ao nosso lado, nos auxiliando, nos momentos de dificuldade.

Abro a boca para falar, mas a voz de Bonnie, ecoando pelo interior da casa, chama nossa atenção.

— MAMÃE! — ela grita.

— Gizelle, me perdoe por toda essa agitação. Aposto que a paz reinava nesta casa antes de chegarmos. — ela ri, colocando-se de pé e fechando sua bíblia. Eu faço o mesmo.

— Que nada! Eu estava precisando exatamente disso.

— Mamãe! Chegamos!

Bonnie sai da casa com um sorriso gigante. Ela morde os lábios com força. Tal reação me deixa desconfiada. Minha filha só faz isso quando apronta algo. No entanto, não demora nem um segundo para eu descobrir o motivo de seu nervosismo, pois logo atrás dela Anthony aparece com um convidado inesperado ao seu lado.

— Oliver? — arregalo os olhos.

— Oi, Alice! — Ele alarga o sorriso ao ver minha reação.

— Ah! Vocês chegaram! — Gizelle se pronuncia. — Achei que não chegariam a tempo do almoço. Por que demoraram tanto? — Oi?

— Acho que a culpa foi minha, senhora Brown. — Oliver se aproxima da matriarca.

— Mãe, este é o Oliver, pai da Bonnie e... — Thony olha para mim rapidamente. — Apenas o pai da Bonnie! — coça a nuca.

— É um prazer conhece-lo, Oliver! — cumprimenta-o com um abraço.

— O prazer é meu, senhora Brown! Obrigado por me convidar para o almoço!

— Apenas Gizelle! E não há de quê!

— Vovó, o papai e eu não somos parecidos? — minha filha se aproxima do pai, que lhe dá um abraço lateral.

— Nossa! Vocês são idênticos! — responde com sinceridade. — Inacreditável! A Alice costumava falar, mas não imaginava que eram tão parecidos assim. — minha filha sorri ainda mais.

— Alguém poderia, por gentileza, me explicar o que está acontecendo aqui? — viro-me para Oliver. — O que faz aqui?

— Realmente achei que iria te surpreender, só não imaginei que não gostaria da minha presença. — Ele está ofendido? Nego com a cabeça rapidamente.

— Não é isso! Eu só estou surpresa mesmo.

— Eu sei! — diz com um sorriso zombeteiro. Mas logo responde minha pergunta. — Eu vim a trabalho. Amanhã tenho uma reunião importante e decisiva aqui, então decidi vir um dia antes, para poder passar um tempo com minha princesinha. — acaricia o braço da filha, que ri bobamente.

Não resisto e abro um sorriso sincero. Ultimamente tudo tem me feito sorrir. Um peso gigantesco foi tirado das minhas costas, eu me sentia muito mais leve. Era a alegria da salvação, a certeza carimbada em meu coração pelo Espírito Santo.

Nossos olhos se encontram. A minha vontade de sorrir aumenta ainda mais, e eu o faço. Oliver analisa meu rosto com cuidado, mas não diz nada, apenas retribui com um sorriso verdadeiro.

— O almoço começará a ser servido. Vamos? — Gizelle nos chama.

***

— A bateria dela não parece descarregar!

Oliver senta ao meu lado sem fôlego, assim que Bonnie volta para a casa, a fim de matar sua sede, dando um rápido descanso ao pai.

— Acostume-se, papai! — tomo um gole da minha limonada, observado a grande piscina. — Como estão os processos da EngiCorp?

— Estamos juntando documentos suficientes para provar a inocência do seu chefe e seus sócios. As pessoas conseguem ser bem perversas quando querem. — ouço-o suspirar. — Se for da vontade de Deus, tudo acabará em breve. — de soslaio, vejo ele olhar para mim, e eu faço o mesmo.

— Você é bom no que faz!

— Procuro dar o meu melhor sempre! — assinto com a cabeça, sorrindo. Mais uma vez ele analisa o meu rosto.

— O que foi, Oliver?

— Você está diferente! Há um brilho diferente em seu olhar. Você tem sorrido bem mais em um único dia do que nos últimos meses. — suas observações alargam meu sorriso, e eu acabo rindo.

— Teorias? — ergo uma sobrancelha. Ele ri.

— A primeira teoria seria a de que você realmente precisava de férias. — assinto. — A segunda, de que Paris é responsável por isso. A união das duas seria a minha resposta final, caso não tivesse reparado nas bíblias e livros espalhados na mesa, mais cedo. — aponta para o local onde Gizelle e eu estávamos fazendo nosso devocional antes deles chegarem.

— Observador! — comento, tomando mais um gole da limonada para conter o sorriso. — E qual é a sua resposta final?

— Minha teoria é a seguinte: — Oliver se inclina um pouco em minha direção, apoiando-se em um dos braços da cadeira. — Você começou a ler a bíblia para a Bon, e o Espírito Santo foi falando com você. Então você não resistiu a sua presença e decidiu voltar. — ele diz com diversão na voz.

— Acha mesmo que sua estratégia deu certo? É tão presunçoso assim, Walker? — isso o faz gargalhar.

— Longe de mim ser presunçoso, Alice! Apenas tenho fé de que deu certo. — ele fixa um ponto qualquer a sua frente. — Além do mais, tenho certeza que houveram outras pessoas intercedendo por você.

— E eu sou grata por cada uma delas, pois suas orações surtiram efeito. — digo em um tom mais calmo e leve. Os olhos de Oliver voltam rapidamente para mim.

— Então é isso mesmo? — questiona incerto. Dou de ombros e assinto.

— Parece que sim!

Em um rompante, Oliver levanta da cadeira e vem para perto de mim.

— O que está fa...? — sou erguida direto para os seus braços.

— Estou tão, tão feliz! Você não faz ideia! — consigo sentir a emoção em sua voz. Então eu retribuo o abraço.

— Eu também! — fecho os olhos e sorrio. — Obrigada por fazer parte das pessoas que oraram em meu favor. — afasto-me, olhando para os orbes verdes acinzentados. — Eu sempre soube que minha mãe, Jully, Thony e Gizelle intercediam por mim, mas nunca imaginei que você faria parte desse grupo, Oliver! Principalmente depois do que eu fiz. — ele abra a boca para falar, mas eu continuo. — Por favor, me perdoe pelo que eu fiz! De coração, eu também te peço desculpas por tudo o que fiz.

— Eu te perdoo! É claro que te perdoo! — seu sorriso sincero faz meus olhos marejaram. — Nós dois erramos, Alice, e pela misericórdia recebemos um recomeço! Uma nova chance!

— Sim, nós recebemos! — minha voz embarga, e eu volto a abraça-lo.



Att.
Nap 😘

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