Capítulo 39

Na manhã seguinte, Bonnie e eu nos unimos aos Brown para o café da manhã, servido na área externa. Apesar do verão estar chegando ao fim, o dia estava quente. Thony e Giselle já estavam sentados à mesa. O semblante do meu amigo estava bem melhor. Deve ter sido fruto da conversa que ele e a mãe tiveram ontem à noite.

— Bonjour! — saúdo com um sorriso divertido. Anthony diz algumas coisas em Francês, mas não compreendo absolutamente nada. — Espero que suas palavras tenham sido um elogio.

— E foi mesmo! — quem responde é Giselle, abraçando a neta, que ainda está um pouco sonolenta.

— Disse que está com a aparência bem melhor. Dormiu bem? — pergunta, colocando um pedaço de torta em seu prato.

— Dormi sim. Aliás, me desculpem por não ter voltado para sala de jantar. Na verdade, eu voltei, mas vi que estavam conversando. Decidi deixá-los a sós. — pego uma baguette e suco de laranja para mim, e um croissant com chocolate quente parar Bon.

— Sem problema, Ali!

— Uau! Essas delícias só podem ter vindo da Angelina! — comento após engolir um pedaço da baguette.

— Vieram mesmo! Pedi especialmente para nossas convidadas de honra. — diz, acariciando o cabelo de Bonnie. Ela sorri rapidamente e volta a comer seu croissant. Seu apetite estava aumentando a cada dia.

— E você, pequena? Dormiu bem? — sua resposta foi um balançar de cabeça positivamente. — E qual história da bíblia você aprendeu ontem? — ela engole antes de responder ao tio.

— A mamãe não leu a bíblia para mim. Eu dormi antes, enquanto ela estava ao telefone com o papai. — sua resposta me faz engasgar, e eu começo a tossir em parar.

Thony vem ao meu socorro com um copo de água em mãos. Assim que me recupero cem por cento, noto o sorrisinho zombeteiro.

— Não fale nada! — ordeno.

— Nem cogitei em abrir minha boca! — ergue as mãos, fingindo inocência.

— Vejo que decidiu contar ao pai da Bonnie sobre sua filha. Que notícia maravilhosa, Alice! E como foi?

— Na verdade, eu não contei. Ele descobriu. — ela alarga os olhos, espantada, e eu começo a contar toda a história.

Thony pega a sobrinha e a leva para dentro, prometendo mostrar algumas coisas de sua infância, dando-nos mais liberdade para conversarmos.

— O que acha de terminarmos esta conversa na biblioteca, querida? Tenho a impressão de que será longa.

— Tudo bem!

Seguimos para a biblioteca. Um lugar incrível repleto dos mais variados livros e gêneros literários. Lugar favorito do meu amigo, e de qualquer pessoa que ame ler.

— Alice, Deus falou algo comigo antes de vocês chegarem. Principalmente em relação a você. — arregalo os olhos. — Mas antes de compartilhar qualquer coisa, quero saber de você. O que, realmente, te motivou a vir para a França? — Giselle é direta.

— Er...

— Sente-se! — indica uma poltrona ao seu lado. E eu me sento.

— Eu precisava conversar com você. Pessoalmente.

— Pode fala! — seus sorriso sincero me impulsiona.

— Como você já sabe, tem muita coisa acontecendo em minha vida, e eu não estou sabendo lidar com nada disso. — uno os lábios com força. — Estou vivendo a vida que mereço. Tenho colhido os frutos das minhas atitudes e escolhas errados do passado, eu sei muito bem disso! Não posso reclamar, Giselle, porque, na verdade, merecia coisa pior. Mas eu estou perdendo a pouca força que me restava para continuar. Quando deito na cama... — enterro o rosto nas mãos e suspiro, antes de erguê-lo novamente. — só Deus sabe o que acontece. Eu não tenho paz. Eu não tenho descanso para a minha alma. É tanta tristeza, culpa, frustração...

Giselle toma minhas mãos, mas me incentiva a continuar sem dizer nada.

— Eu sei que já tivemos esta conversa antes. Sempre guardei os conselhos que me deu, em meu coração. Assim como os da minha mãe, da Jully e até mesmo os do Thony. Porém, a simples ideia de cogitar voltar para Deus era absurda. Os meus erros sempre me impediam de enxergar a verdade que eu conheço desde criança. As acusações do diabo me cegaram e me fizeram pensar que jamais receberia o perdão. E mesmo que Ele me perdoasse, não seria digna de tal perdão.

— Alice, você sabe que Jesus sofreu para pagar o preço pelos nossos pecados. Para que pudéssemos ser perdoados. Isso, se nos arrependermos verdadeiramente. Porém, não basta nos arrependermos, precisamos confiar em Sua graça salvadora para sermos purificados. É através da fé, meu bem!

— Sim, eu sei! — abro um sorriso trêmulo. — E eu estou cansada de fugir! Não aguento mais viver longe dEle. Do Seu amor. Mas... — faço de tudo para combater as lágrimas, no entanto, elas são mais fortes e rápidas do que eu. — uma guerra está sendo travada aqui dentro. — toco o meu peito. — E eu não sei o que fazer. Eu quero me entregar, mas ainda há uma parte de mim que luta contra. E ela parece ser mais forte. Tenho tentado lutar há dias, mas não consigo! Giselle, eu não estou suportando, mas eu não posso desistir!

— Minha querida, nós enfrentando batalhas espirituais constantemente, onde nossos reais inimigos são principados e potestades, príncipes das trevas deste século e hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. — cita Efésios 6.12. — Desde a criação, o reino das trevas tem se empenhado em afastar o homem de Deus. Vimos isso no Éden, com o episódio de Adão e Eva. Pois o grande objetivo de satanás e seus demônios é fazer oposição a Deus e tentar destruir o seu povo.

— A bíblia diz que o inimigo anda ao nosso derredor rugindo como leão, buscando a quem possa devorar. — complemento, entre fungadas, com 1 Pedro 5.8. — Reli essa passagem na semana passada.

— Exatamente! E Paulo também diz, lá em Efésios 6, que o diabo promove astutas ciladas e lança dardos inflamados. A palavra "cilada", do grego, quer dizer "método". E sabe o que isso significa, minha filha? — nego com a cabeça. — Significa que o diabo não brinca de ser diabo, como muitos pensam. Ele possui métodos bem definidos de empreender contra o povo de Deus. Ele não faz um ataque desordenado e sem sentido. E é com base nesses métodos que ele lança seus dardos inflamados. Ou seja, ele possui um alvo muito bem estabelecido. E outra coisa, ele conhece muito bem o nosso calcanhar de Aquiles.

— Eu me sinto péssima por ter caído em sua cilada, Giselle! — enxugo algumas lágrimas. — Pedro, antes de dizer que o diabo está ao nosso derredor tentando nos tragas, nos manda ser sóbrios e vigilantes. O próprio Jesus nos fez um alerta, justamente por isso: "Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca.".

— E como ela é fraca! — concorda. — Ainda bem que temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos pecados de todo o mundo. — sorri docemente, acariciando minhas mãos. — 1 João 2.1,2.

— Como vencer essa guerra? O que preciso fazer para conseguir vencer isso, Gizelle? — Ela alarga o sorriso antes de responder com convicção.

— Primeiro de tudo: A guerra já está vencida, querida! Na cruz Ele triunfou sobre os poderes malignos e despojou os principados e potestades. Colossenses 2.1. Aleluia! — ergue as mãos aos céus. — A obra de Cristo é perfeita! Ele não precisa de complementos humanos. Não somos nós que faremos isso, pois Jesus já o fez! Entretanto, precisamos nos posicionar como cidadãos do reino de Deus e nos revestir de Sua armadura, descrita em Efésios 6. Devemos nos submeter à vontade de Deus, em obediência, e resistir ao diabo. E é muitíssimo importante entendermos que o crente só consegue resistir ao diabo, sujeitando-se a Deus. É uma ordem que foi dada a cada cristão, mas ela está totalmente condicionada a uma atitude de submissão a Deus.

— Uau!

— Voltando a sua condição atual, Alice, — assinto. — as sementes de dúvidas, as acusações e condenações feitas pelo inimigo; nossos próprios sentimentos e opiniões, não devem ser a autoridade máxima na nossa vida, pois eles são enganosos. O nosso Senhor é maior, e o que Ele falou deve ser a autoridade que direciona e julga nossos pensamentos e sentidos. O ser humano tem muita justiça própria que atrapalha o caminho da fé. Mas a justiça de Deus é maior, e nós temos que nos submeter a ela. — segura minhas mãos novamente. — É através da fé!

— Amém!

— A decisão de servir a Deus precisa ser firme. Os erros precisam ser confessados, tanto a Deus, quanto aos homens, se for necessário. E precisa haver o verdadeiro arrependimento, em Jesus. Aquele que gera a mudança verdadeira, Alice. — ela aponta para mim. — Apenas você e Deus sabem o que realmente está acontecendo aí dentro. A tristeza e aflição são reais, mas o remorso também causa tudo isso. Quero que analise o seguinte: Essa tristeza que te aflige é por causa das consequências de seus pecados ou porque eles te afastaram do seu Pai?

— Eu não preciso de tempo para pensar sobre isso, pois foi o que fiz ao longo das duas últimas semanas. No início, sim. O que eu sentia era remorso. Mas hoje, não! Ao contemplar o cuidado, o amor, a graça e a bondade de Deus, mesmo diante do meu estado vergonhoso e pecaminoso, eu fiquei constrangida. Eu percebi que perdi a coisa mais importante que tinha, minha comunhão com o meu Pai. — volto a chorar. — E eu me arrependo amargamente, Giselle! Me arrependo de tê-lo entristecido. De tê-lo magoado. E de ter rompido a comunhão tão preciosa que tínhamos, pela minha falta de fé e confiança nEle.

— Querida...

— E foi apenas quando eu me arrependi, verdadeiramente, que eu tive uma clareza e certeza de que eu posso sim ser perdoada. Que os meus pecados podem ser lançados no mar do esquecimento. Que Deus pode restaurar a minha vida, nossa comunhão e minha fé. Mas como eu disse, eu não sei como fazer isso. Não tenho conseguido falar aa acusações do diabo! Estou exausta e não consigo sozinha.

— Mas você não está sozinha, querida! — ela toca meu ombro. — Iremos te ajudar nesse processo, Alice! Mas você precisará colocar sua fé em ação!

— E eu irei! — digo com convicção.

— Sabe, Alice, eu soube que vocês viriam, pois Deus, em sonho, me falou uma única frase: "Chegou o tempo, eu irei tratar a minha filha e conto com a sua ajuda." — meus lábios tremem. — Ele não precisou falar o seu nome, mas assim que acordei, soube imediatamente de quem se tratava. — ela acaricia minha bochecha. — Se você soubesse o quanto é amada, querida...

E eu choro copiosamente. Fecho os olhos e apoio a testa nas mãos.

— Meu Deus! Eu não mereço tanto amor! Eu não mereço tanto cuidado!

— Nenhum de nós merecemos! Foi pela graça de Deus, o favor imerecido que nos alcançou e nos alcança todos os dias!

— Mãe! Ali! — Thony nos chama, do corredor.

Enxugo os olhos rapidamente, pois é muito provável que Bonnie esteja come ele. Coloco-me de pé, assim como Gizelle, que responde o filho.

— Estamos na biblioteca, príncipe!

— Dona Gizelle, a senhora não tem jeito mesmo! — diz ao ver a mãe, que ignora seu comentário. Ele vira em minha direção, analisa o meu rosto e me oferece um sorriso reconfortante. — Pensei em darmos uma volta por Paris. O que me diz?

Olho da matriarca para o filho.

— Acho uma excelente ideia, querida! Vá se divertir e pense nas coisas que conversamos. Mais tarde retomamos de onde paramos. Temos muito o que conversar ainda.

— Muito obrigada! — dou um abraço apertado nele e sigo o meu amigo para fora.

— O que aconteceu lá dentro? — quer saber.

— Eu realmente não sei. Mas de uma coisa eu tenho certeza, não voltarei para Londres da mesma forma.

>>>><<<<

Gente, eu não sei o que Deus tem falado ao coração de cada um através desta história. Ma o meu desejo, assim como costumava dizer em todos os livros que escrevi anteriormente, é que vocês saiam edificados desta leitura. Consequências não se trata apenas de um romance cristão que aquece os corações e nos faz suspirar (na verdade, está um pouquinho longe disso, né? Kkkk). Mas eu espero, de coração, que vocês estejam entendendo o que Deus quer falar através da vida da Alice e dos demais personagens.

Deus abençoe!

Att.
NAP 😘

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