Capítulo 33

Oliver descruza os braços e vem para o meu lado.

— Olá para você também, mãe!

— Oliver! — a matriarca controla as próximas palavras, para em seguida segura o rosto do filho entre as mãos e depositar um beijo em sua bochecha. — Olá, filho! — o olhar dela volta para mim. — O que a Alice faz aqui?

— Ela é a convidada que te falei que traria. — seu comentário me pega de surpresa, assim como sua mãe, que arregala os olhos e o olha com descrença.

— Você só pode estar brincando comigo, Oliver!

— Eu não faria isso, dona Gianna. — seu sorriso tem um "que" de zombaria. — Se a senhora nos der licença, temos algumas coisas para acertar. Nos vemos no almoço!

Dito isso, sinto sua mão em minha lombar, nos conduzindo de volta à casa dos Walker.

— O que foi isso? — sussurro ao entrarmos.

— Isso o quê? — ele se faz de desentendido e continua seu caminho rumo ao andar superior.

— Oliver, não se faça de sonso! Não comigo! — Subo em seu encalço. Ele nada diz, até entrarmos em um dos quartos de hóspedes.

— Suas coisas estão aqui.

— Eu disse que não ficaria aqui! — comento assim que termino de observar, com certo encanto, o quarto. — Olha, Oliver, — viro-me de frente para ele. — eu sei o que está tentando fazer, e peço que pare com isso! Eu sei me defender sozinha! Não sou mais aquela jovem envergonhada de anos atrás.

— Eu sei disso! — responde com naturalidade. — Bom, você tem liberdade para fazer o que quiser. Se desejar pegar as suas coisas e ir para a casa da sua mãe, fique à vontade. Mas saiba que continuará sendo a minha convidada. Dessa forma, te espero no almoço.

Ele dá as costas para mim e sai do quarto, fechando a porta atrás de si. Fico parada no mesmo lugar, observando a porta fechada.

— Mas que droga foi essa? — solto uma lufada de ar.

Sem saber o que fazer, volto a observar o quarto de hóspedes. Quarto esse que tanto arrumei ao longo dos meus anos trabalhando para os Walker. Quem diria que após praticamente uma vida inteira sendo a empregada da família, estaria sendo recebida na mansão como hóspede.

Que grande ironia!

Com tal pensamento, um sorriso brota em meus lábios, e eu começo a gostar da ideia.

Desfaço minha mala e inicio a organização das roupas, acessórios e sapatos no closet. Passo um bom tempo curtindo esse momento em particular. Faço questão de pendurar cada peça de roupa nos cabides de veludo que dona Gianna comprou para suas visitas de honra.

Ao finalizar a organização, pego um suéter de tricot, na cor rosa antigo, uma calça branca e um salto baixo no mesmo tom do suéter. Jully amaria a escolha do look, afinal de contas, ela que me deu no meu último aniversário. Tomo um banho bem relaxante e faço uma maquiagem leve. Se seria uma convidada dos Walker, faria isso direito.

Alguém bate na porta no momento em que termino de colocar o batom. Abro-a e alargo o sorriso ao ver minha pequena sorrindo para mim.

— Fiu, fiu, mamãe! — dou risada de seu comentário.

— Obrigada, meu amor! — dou uma fungada em seu cangote, fazendo-a se contorcer no colo do pai.

— Vejo que tomou sua decisão. — Oliver não sorri com os lábios, mas o sorriso vitorioso está nítido em seus olhos. Uno forças para não deixar o meu sorriso escapar.

— Escolhi ficar perto da minha filha. — digo, recompondo-me.

— Entendo. — ele aponta com a cabeça para o andar inferior. — Vamos? O almoço já deve estar sendo servido. — apenas assinto.

— Quem escolheu essa roupa para a Bonnie? — ergo a sobrancelha, mas já imagino a resposta.

— Jully. — Oliver responde, dando uma rápida olhada no look da filha. — Ela entende dessas coisas melhor do que eu. — dá de ombros.

— Estou bonita, mamãe?

— Está perfeita, Bon! — rececebo um sorriso envergonhado como resposta.

Nos aproximamos da sala de jantar, onde pudemos escutar as vozes de Jully e do pai. Paro imediatamente, segurando o braço de Oliver, obrigando-o a parar também. Não digo nada, mas ele conhece meus temores.

— Vai dar tudo certo, Alice!

— O que foi? — Bonnie pergunta, inocentemente.

Eu nada respondo, apenas observo a figura de pai e filha, lado a lado. Nunca estive tão próxima e tão atenta à semelhança de ambos. Eram assustadoramente lindos. Ergo uma mão e retiro a franjinha dos olhos dela.

— Nada, amor! — dou um sorriso e respiro fundo. — Eu amo muito você!

— Eu também amo você! Muitão! — diz sorrindo largamente.

Oliver nos observa atentamente. Fixo meus olhos nos seus e assinto, avisando que estava pronta para seguir com aquilo. Mesmo sabendo que em questão de minutos Gianna Walker descobrirá que era avó, e muito provavelmente daria um show.

Ao entrarmos na sala de jantar, as primeiras pessoas que vejo de pé, ao lado direito, são minha mãe e Penelope. Logo Penelope! Esta, olha para nós com o cenho franzido e confusão no olhar. Já mamãe me observa com admiração e um sorriso contido. O que não esperávamos foi a reação de Bonnie ao ver a vovó Abgail.

— Vovó! — ela chama, se balançando no colo do pai em direção à minha mãe. E claro, isso chama a atenção de todos presentes.

— Oi, minha querida! — mamãe se aproxima, acariciando o rosto da neta, mas não a tira do colo de Oliver.

— O que está acontecendo aqui? — a voz da matriarca chama a nossa atenção. Todos, incluindo Bonnie, olhamos em sua direção.

No momento em que os olhos de Gianna batem em minha filha, consigo ver as engrenagens de seu cérebro trabalhando com rapidez. Seu olhar muda para o rosto de Oliver, em seguida volta para o de Bonnie, e assim fica por algum tempo.

A sala está em completo silêncio. Todos esperando a próxima reação da mulher. Institivamente, dou um passo, aproximando-me da minha filha. tal reação não passa despercebida pela matriarca, que logo me fita. E como um estalo, tudo parece fazer sentido para ela.

Gianna Walker dá um passo para trás com os olhos arregalados. A mão vai aos lábios e um suspiro de surpresa sai de seu interior. Se não fosse a cadeira, certamente ela iria ao chão. O choque dá lugar a ira, e em poucos minutos a matriarca explode, perdendo todo requinte e educação de outrora.

— Oliver Walker, exijo uma explicação! — seu tom faz Bonnie se encolher nos braços do pai. Tudo o que desejo é pegar minha filha no colo e tirá-la daqui.

Entretanto, Oliver não se deixa abalar. Ignorando o escândalo da mãe, ele olha para a filha, com um sorriso tranquilizador, e acaricia seu cabelo.

— E eu darei, mas após o almoço. Bonnie está faminta, não é princesinha?

Com certo receio, ela assente. Seus olhinhos encontram os meus. Assim como o pai, tento sorrir da mesma forma, mas não sei se sou bem sucedida.

— Ótimo, pois também estou faminto! — o patriarca da família Walker se põe de pé com um sorriso sincero no rosto. — Venham, queridos, acomodem-se! O almoço começará a ser servido, e tenho certeza que uma certa garotinha irá amar o cardápio. — diz dando uma piscadinha para a neta, que ri voltando a se sentir mais confortável.

Sento-me em frente ao Bruce. Bonnie fica ao meu lado direito, e o pai senta do outro lado. Apesar de o senhor Charles tentar quebrar a tensão inicial com seu comentário, a tensão volta quando Gianna resolve tomar seu assento, ao lado da filha. A brutalidade de seus movimentos chama nossa atenção.

Mamãe e Penelope começam a servir o almoço. Como o patriarca disse, Bonnie amou o cardápio, afinal de contas, macarrão com queijo é a sua comida favorita.

— Que comida é essa, Abigail? — Gianna despeja sua irritação em mamãe. — Isso nem poderia ser chamado de comida! — diz com nojo. — Leve de volta e nos sirva o que te ordenei!

— Não! — senhor Charles diz com autoridade. — Este foi o cardápio que pedi especialmente para o almoço de hoje. Obrigada pelo capricho, Abigail! Está com uma cara excelente! — oferece um sorriso sincero.

— Charles! — sua esposa exclama com horror.

— Bom, antes de comermos, quero dizer que estou muito feliz por estarmos todos juntos novamente. — ele olha para Oliver, que desvia o olhar, em seguida sorri para Bon e para mim. — Agora sim a família está completa! — seu comentário me faz corar, o que não acontecia há anos.

— Isso é um absurdo! — a matriarca bate na mesa com força.

— Gianna, será que podemos fazer essa refeição em paz? — a mulher nada diz, apenas lança um olhar duro para o filho, que a ignora completamente, enquanto prepara o prato da filha.

Uma conversa casual é iniciada por Bruce e Oliver. Em pouco tempo todos estão conversando. Menos Gianna e eu. Seu olhar encontra o meu, e a ira está presente ali. No início, penso em desviar, mas estou cansada de ser tratada como uma qualquer por essa mulher que tanto me odeia sem motivo algum.

— Alice? — quebro o contato visual apenas quando Oliver me chama.

— Oi? — pergunto baixo.

— Perguntei se deseja mais. — Nego com a cabeça respondendo que estou satisfeita. Ele se inclina sobre a filha, aproximando-se de mim. — Está tudo bem?

— Estou bem! — asseguro, mas a tensão não deixa o meu rosto.

— Isso tudo é ridículo! Será que ninguém percebe a grande piada que é tudo isso?

— Mãe... — o tom de Oliver é baixo e duro. Um alerta.

— Esta é a minha casa, Oliver! Eu exijo uma explicação agora mesmo. Quem é essa... — ela aponta com desdém em direção à minha filha.

Estava prestes a avançar nessa mulher, quando a voz do patriarca brada alta e firme. Nunca o tinha ouvido falar dessa forma antes.

— Cuidado com o que dirá sobre a minha neta, Gianna!

Ela abre a boca em um "ó" perfeito, desacreditada do que acabara de ouvir.

— Dona Abigail, será que poderia levar a Bonnie para terminar o almoço na cozinha, por gentileza? — Oliver pede à mamãe, para o meu alivio.

— Claro, querido! — ela pega a neta no colo e pede que Penelope leve o prato. As duas saem do cômodo, fechando as portas atrás de si.

— Estou esperando! — diz olhando para o filho.

Oliver respira fundo antes de falar com calma e naturalidade. Nada daquilo parecia estar afetando o homem ao meu lado.

— Essa linda menininha que estava aqui se chama Bonnie, mãe. E como a senhora já pode imaginar, ela é a minha filha. — sorri, olhando nos olhos da mãe. — A filha que Alice e eu tivemos juntos.

Gianna emudece por um instante. No entanto, ela começa a hiperventilar. Seus olhos piscam com rapidez.

— Mãe! — Jully tenta acudir a mãe.

— Não é possível, Oliver! Só deve ser uma punição divina! — sua voz sai entrecortada e baixa. — Não acredito que está com essa... essa garota!

— Alice e eu não estamos juntos. Ela é comprometida. — ele responde. Penso em conserta-lo, mas este não é o momento ideal para termos essa conversa.

— Mesmo assim! Como pôde fazer isso comigo?

— Isso? — ele ergue uma sobrancelha.

— ESSA DESGRAÇA! — grita, pondo-se de pé. — COMO PÔDE TER UM FILHO DELA? COMO PÔDE TRAZER ESSA DESGRAÇA À NOSSA FAMÍLIA?

— Desgraça? — vejo seu maxilar travar. — Como se atreve a chamar minha filha de desgraça? — sua voz parecia como um rosnado feroz.

— NÃO VÊ QUE ESSAZINHA QUIS APLICAR O GOLPE DA BARRIGA? VOCÊ CAIU COMO UM PATINHO! UM TOLO! ESSA MULHER NÃO PRESTA!

Abro a boca para me defender, mas Oliver se coloca de pé antes de mim.

— A ALICE É A MÃE DA MINHA FILHA! EXIJO QUE A RESPEITE, ASSIM COMO A BONNIE!

— Nunca! — responde com petulância, olhando em minha direção. — Essa garota nunca me enganou! Ela sempre quis ter o que você e Jully tiveram, e a única forma de conseguir seria fingindo gostar do filho do chefe, seduzi-lo e engana-lo. E devo parabeniza-la por ter conseguido. Parabéns! — sorri falsamente. — Você pode até ter enganado o meu filho e o restante da minha família, mas não me enganou, Alice!

Oliver ia revidar, mas eu seguro seu braço. Ele olha para mim, o semblante furioso. Então tomo a palavra.

— Você não me conhece, Gianna! Fala como uma louca! — tento controlar o meu tom de voz, mas consigo sentir o tremor da raiva em cada palavra. — Todo o relacionamento que tive, e tenho, com os seus filhos sempre foi o mais sincero e verdadeiro. Eu nunca faria nada disso! Fui muito bem criada e educada pelos meus pais. 

— Pois devo parabeniza-los por terem criado uma vagabunda? Ah, não! O seu pai já está debaixo da terra.

— BASTA, GIANNA! — senhor Charles espalma as mãos contra a mesa e também se põe de pé.

Mas era tarde demais, seu veneno já tinha me atingido em cheio. A esta altura é impossível conter as lágrimas. Saio da sala de estar aos prantos, como da última vez.

— Como você pode ser tão cruel? — escuto Jully dizer com a voz chorosa.

Do lado de fora, com o ouvido colado na porta de madeira, estava Penelope. Ignoro seus pedidos de desculpas e continuo correndo para fora da casa. E a história se repetia.

— Alice, espera! — Oliver me chama, correndo atrás de mim.

— Por favor, me deixa em paz, Oliver! — enxugo as lágrimas, tentando apertar o passo, mas com os saltos fica difícil.

— Alice, por favor! — ele consegue me alcançar e se coloca em meu caminho, fazendo-me parar.

— O que você quer? Me ver chorar? Porque é exatamente isso que eu... — não consigo terminar de falar, pois sou puxada para os seus braços. O que me faz chorar ainda mais.

— Eu sinto muito! — ele sussurra entre meus cabelos. Meus soluços se tornam altos.

— Por que ele se foi, Oliver? Por quê? — sinto o aberto de seus braços se intensificar em volta de mim. Não havia explicação. Não haviam palavras que me consolasse. A dor ainda estava viva em meu peito, e ninguém poderia fazer nada a respeito. Afasto-me um pouco, após um bom tempo. — Eu quero ir embora! Não posso mais ficar aqui.

— Já pedi para Penélope arrumar nossas malas. — ele diz com cautela, analisando meu rosto.

— Você não precisa ir!

— Eu te trouxe para cá, não deixarei você voltar sozinha. — assinto.

Respiro fundo, tentando controlar as lágrimas, mas elas não cessavam. Ergo a mão para enxugá-las, mas Oliver é mais rápido.

— Eu não consigo imaginar o tamanho da sua dor, Alice. Nenhuma palavra de consolo que eu diga irá aplaca-la, mas eu oro para que o Espírito Santo te ajude e console neste momento. Apenas Ele será capaz de trazer a paz em meio ao caos.

Suas palavras me acalmam momentaneamente. Consequentemente, as lágrimas começam a cessar.

— Obrigada, Oliver!

— De nada, Alice! — ele retira a mão do meu rosto e olha para a casa. — Vamos ver como a Bonnie está?

Concordo com a cabeça. Então seguimos em silêncio de volta para a mansão.



>>>><<<<



Que víbora, meu povo! E olha que essa espécie não está em extinção, hein! O coração dói pela Alice. Só me pergunto quando as coisas irão começar a mudar, e se irão... Sabemos que só há uma forma disso acontecer, não é verdade?? Espero que ela consiga enxergar isso em meio à cegueira causada pela dor.

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