Capítulo 29
Assim que a médica se afastou de nós, após nos informar que Bonnie já estava bem e estável, volto-me para Oliver. Mordo os lábios, com receio do que ele achará se eu entrar sozinha. Porém, ele quebra o silêncio, mandando embora os meus medos.
- Está tudo bem, Alice! Pode ir, haverá outra oportunidade propícia para conhecê-la.
Era exatamente isso que eu estava cogitando. Seria o melhor. Mas a verdade é que já tinha adiado o encontro entre pai e filha há muito tempo. Sem contar que, conhecendo o homem à minha frente, Oliver deve estar tão preocupado quanto eu. Pensando nisso, abro um sorriso pequeno e nego com a cabeça.
- Na verdade, acho que esse é o momento propício. - ele não esboça reação, mas percebo o brilho em seus olhos. - Apenas preciso de alguns segundos para falar com ela. - Oliver assente.
Deixamos Thony na recepção e seguimos para o quarto indicado. Ao chegarmos na porta, puxo o ar com força, ajeito a postura e giro a maçaneta.
- Estarei esperando aqui fora. - diz, encostando-se na parede ao lado.
Entro no quarto e já escuto a voz da minha pequena. Ela tagarela sem parar com uma enfermeira. Vê-la bem traz um grande alívio para minha alma angustiada. É inevitável chorar.
- Mamãe! - meu choro atrai a atenção das duas, e Bonnie me chama com uma mistura de alegria e preocupação.
- Oi, meu amor! - corro em sua direção. Seguro seu rosto e o encho de beijos. - Meu amor, que alívio! Graças a misericórdia de Deus, você está bem!
- Estou bem, mamãe! Só senti uma dor difelente. Mas já estou bem. - toca o meu rosto molhado.
- Não dê mais esse susto na mamãe, por favor! - digo com a voz embargada enquanto afago seu cabelo.
- Que susto? - pergunta com inocência.
- Senhora Green! - a enfermeira se pronuncia. - Me chamo Morgana, a enfermeira responsável por cuidar desta princesinha. - aperta a bochecha de Bon, que reprime uma careta. - Creio que a doutora já colocou a senhora a par da situação.
- Sim. - endireito-me, sentando na ponta do colchão. - Ela me passou todos os cuidados necessários e disse que amanhã mesmo ela receberá alta.
- Isso mesmo. - olha para minha filha, em seguida para mim. - Bom, irei deixa-las a sós. Volto mais tarde para as próximas medicações.
- Obrigada! - Agradeço. A enfermeira se despede e sai.
- Mãe, eu não quelo domi aqui. Quelo minha casa e minhas bonecas. E aqui está muito gelado.
- Infelizmente, precisaremos passar a noite aqui, Bon, mas não se preocupe, ficarei agarradinha com você. Ok?
- Ok! - ela sorri, mas logo em seguida morde os lábios com força.
- O quê? - crispo os olhos.
- Falou com ele? - pergunta com certa ansiedade. Reparo nas informações do monitor cardíaco e percebo a leve alteração. Isso me faz cogitar se é realmente uma boa ideia apresenta-los neste momento.
- Falei.
- E aí? Ele quer me ver? Vamos nos conhecer, mamãe? Ele veio me ver? - começa a se agitar
- Acalme-se Bonnie! - seguro seus pequenos ombros, mas tento não soar tão firme. - Se continuar assim, não poderemos conversar sobre isso, meu amor. Ou não sairá deste hospital tão cedo. - ela arregala os olhos, mas concorda com a cabeça. - Bom, - abro um sorriso sincero. - Nós conversamos sim, e o seu pai está doido para te conhecer. Assim como você. - toco em seu nariz e ela sorri largamente.
- Vedade, mamãe? Ele quer mesmo me ver? - os olhos verdes acinzentados brilham com ideia de conhecer o pai.
- Sim! Eu disse para você, querida. Todas as suas preocupações e anseios foram vãos.
- E quando ilei ver o papai novamente? - faço suspense, aproximando-me mais.
- O que acha de conhece-lo agora? - pergunto em baixo tom. Bon senta na mesma hora, puxando alguns fios que estão conectados ao seu corpo. - Cuidado, mocinha!
- Ele está aqui? Ele veio me ver? - Assinto e volto a sorrir. Olho para a porta rapidamente, e meu movimento chama sua atenção.
- Ele está na porta. - afirma. Sua voz sai em um sussurro. O aperto de suas mãos em meu pulso é tão forte que eu riria se fosse em outra situação, mas percebendo a alteração dos batimentos cardíacos, volto a me preocupar.
- Ei! - seguro seu rosto entre minhas mãos. - respire com calma. - ela faz o que peço, olhando em meus olhos. - Agora inspire. - ficamos assim até os batimentos voltarem ao normal.
- Agola pode chama-lo, mamãe. Estou bem. - diz, ajeitando-se na cama e penteando o cabelo com os dedos.
- Eu te amo tanto! E ele também te amará.
Acaricio seu rosto, então levanto da cama e caminho até a porta do quarto. Dou uma olhada para trás antes de abri-la. Ponho a cabeça para o lado de fora e me deparo com Oliver andando de um lado para o outro.
- Está pronto? - ele olha para mim e balança a cabeça em afirmação.
Abro completamente a porta e dou um passo para o lado, a fim de que Oliver passe. E assim ele faz.
Com as mãos inquietas, esfregando o tecido da bermuda, ele entra no quarto. Nossos olhos se encontram rapidamente. O mesmo nervosismo que vi no olhar de Bonnie, está ali. Penso em dizer algo para acalmá-lo, mas lembro que não tenho direito algum. Afinal de contas, sou a grande causadora de toda essa situação.
Desvio meu olhar para a cama. Bon, com seus olhos arregalados, observa o pai entrando. Vejo o monitor cardíaco, mas as alterações não são tão alarmantes como imaginei que seriam. Com um suspiro quase inaudível, fecho a porta do quarto e passo por Oliver que, neste momento, está completamente parado observando a filha, sem saber o que fazer.
- Bem, - sou a primeira a quebrar o silêncio. Aproximo-me da maca com um sorriso nervoso. - acho que nenhum de nós sabemos exatamente o que dizer. - os dois olham para mim. Sinto-me um pouco intimidada, mas continuo. - Eu sei que não deveria ter acontecido dessa forma, e eu sinto muito por isso.
Evito o olhar de Oliver. Não precisava de um olhar acusador ou magoado neste momento. Quanto a Bonnie, bem, ela não tinha a real noção do que causei na vida de ambos. Ela segura minha mão e me lança um sorriso genuíno. Isso me encoraja a prosseguir.
- Querida, eu sei que você já sabe, mas - ergo o rosto em direção ao Oliver, que permanece com um semblante neutro, nenhuma reação que consigo decifrar. - este é o Oliver, seu pai. - ao escutar a palavra "pai", um pequeno sorriso surge em seus lábios. Os olhos se iluminam ainda mais ao observando a reação envergonhada da filha, que aperta minha mão e enterra o rosto em meu braço. - Oliver, - minha voz sai um pouco mais divertida e leve. - esta é a Bonnie, sua filha.
Ele olha para mim, procurando ajuda sobre o que fazer. Apenas faço um movimento com a cabeça, pedindo para que ele se aproxime. E com um sorriso radiante no rosto, ele o faz. Ao perceber a proximidade do pai, Bon abraça minha cintura com força enterrando o rosto em minha barriga. Isso nos faz rir.
- Meu amor, assim o seu pai achara que você é envergonhada! E sabemos que isso não é verdade. - acaricio sua cabeleira.
Após alguns segundos, ela se afasta devagar. Com um sorriso sapeca e envergonhado, vira a cabeça em direção ao pai. Sem perder tempo, Oliver aproveita a brecha dada por ela e se aproxima ainda mais.
- Oi, Bonnie! Estou muito feliz em te conhecer! - sua voz calma transmite toda emoção reprimida há alguns minutos.
- Oi, pai! - Bon responde docemente.
Ao ouvi-la chamando de pai, os olhos dele começam a marejar imediatamente. Ele engole em seco, travando o maxilar. Então inspira profundamente e se inclina em nossa direção. Com certo receio, ergue uma das mãos e acaricia o rosto macio de Bonnie.
- Você é tão linda! - nossa pequena alarga o sorriso.
- A mamãe costuma dizer isso. E ela diz que eu paleço com você. - neste momento não tenho onde enfiar minha cabeça. Principalmente quando Oliver ri. Agradeço mentalmente por ele permanecer com os olhos fixos na filha.
- Você tem o cabelo da sua mãe. - ele diz tocando em uma mecha de cabelo da Bonnie.
- Pelo menos alguma coisa... - murmuro, e os dois sorriem.
- Como você está se sentindo? - Oliver senta na ponta da cama.
- Bem. Mas vou ter que ficar uma noite aqui. - responde emburrada.
- Logo vai passar! Amanhã você já vai para casa, já poderá dormi em sua cama, brincar com seus brinquedos...
- Eu tenho muitos blinquedos, pai! - exclama animada - Quelo te mostlar todos eles! Tenho muitas bonecas e jogos. Você gosta de jogos? Podemos jogar juntos!
Sua animação nos faz rir.
- Podemos jogar sim, com certeza!
- OBA! - ela grita e em seguida começa a rir. - Estou tão feliz!
- Eu também estou, Bonnie!
Meu telefone vibra no bolso e eu o pego. Quando vejo o nome da minha mãe na tela resolvo atender.
- É a vovó, meu amor, volto logo ok?
- Tudo bem, mamãe! Manda um beijo pala ela.
- Pode deixa! - beijo o topo de sua cabeça e me afasto.
No corredor, atendo a ligação e deixo minha mãe a par de tudo o que aconteceu. É claro que ela ficou preocupada com a neta. E quando soube sobre os últimos acontecimentos com Oliver, quis vir na mesma hora. Mas consegui convence-la de que tudo estava sob controle.
Após finalizar a ligação, resolvi permanecer do lado de fora, com a intenção de deixar pai e filha conversarem à vontade. Após meia hora, Anthony se aproximou com um sorriso zombeteiro no rosto.
- Está mais tranquila? - reviro os olhos.
- Você sabe que sim. - cruzo os braços na altura do peito e miro a porta do quarto.
- E aí? Como foi o encontro dos dois? - pergunta ao se sentar no espaço vazio ao meu lado.
- Muito melhor do que eu imaginava. Eles estão se dando super bem. A Bonnie está feliz, o Oliver também.
- Mas...?
- Mas eu continuo me sentindo culpada por ter causado tudo isso. - olho para ele com sinceridade. - Eu nunca poderei trazer de volta o tempo que ele perdeu. Sabe, toda vez que eu me coloco em seu lugar, sinto ódio de mim mesma. Não sei o que faria se descobrisse ter um filho, e perceber que perdi momentos importantes de sua vida, momentos que jamais voltarão. Eu privei o Oliver de tanta coisa, e eu não consigo lidar com isso. Está sendo sufocante.
Anthony segura minha mão e me força olhar para ele.
- Alice, aconteceu! Não tem como voltar atrás, é verdade! Mas as coisas irão se ajeitar. Você tem o hoje, o agora. Daqui para frente, você tem a oportunidade de fazer o certo. Então foque nisso.
A porta do quarto é aberta. Oliver olha preocupado para mim, mas ao me ver sua expressão se alivia.
- Aconteceu alguma coisa? - levanto assustada. - Ela está bem?
- Está! - ele olha de Anthony para mim. - Só pensei que tinha acontecido alguma coisa com sua mãe.
- Minha mãe? - franzo o cenho.
- A ligação.
- Ah! - lembro-me da ligação e balanço a cabeça. - Ela está bem.
- Vocês se importariam se eu entrasse, o horário da visita está quase acabando? - Thony pergunta.
- Claro que não! - respondo, e Oliver concorda comigo.
Sento-me novamente, um pouco desconcertada. Oliver toma o lugar que antes era de Anthony.
- Então... - ele olha para mim, esperando que eu continue. - O que achou da Bon?
- Ela é uma menina incrível. - ele fita as mãos ao falar. - Conversamos bastante lá dentro. Ela é engraçada, doce, amável e muito esperta para a idade dela. - a última parte ele diz olhando para mim, com o cenho franzido.
- Muito! - concordo.
O silêncio paira entre nós. Até que Oliver solta um suspiro e olha para mim.
- Apesar de tudo... - sinto os olhos ardendo, mas me mantenho firme. - você fez um ótimo trabalho cuidando da nossa filha. - desvio o olhar no momento em que uma lágrima rola.
Não sei como ou por quanto tempo conseguirei lidar com essa situação. Cada vez que olho para Oliver lembro de tudo o que fiz, a culpa estraçalha o meu peito. Mesmo sem palavras acusatórias de suaparte, ou olhares julgadores, é inevitável não me martirizar.
O arrependimento de ter feito a escolha errada me perseguiu e persegue desde o momento em que decidi esconder a verdade dele. Eu falhei com ele, falhei com a Bonnie, falhei comigo e principalmente com Deus. Não, definitivamente não há escapatória. Estou condenada a carregar esse fardo para o resto da vida. E será totalmente merecido.
- Alice! - a voz de Oliver me desperta de minhas lamúrias. Olho para ele e me assusto ao ver sua expressão de dor e incerteza. Uma batalha está sendo claramente travada em seu interior. - Eu quero que você saiba que eu te perdoo. - arregalo os olhos, mas ele continua. - Estou magoado. Ainda estou muito, muito chateado com tudo isso e não sei como lidar. Eu não sei como será a nossa relação, visto que temos uma filha juntos. Mas com a ajuda do Senhor Jesus eu pretendo deixar todo tipo de sentimento ruim em relação a você, ir embora. Provavelmente levará um bom tempo, mas estou disposto a fazer isso. - abro a boca para falar, mas ele prossegue. - Eu já cometi muitos erros nessa vida, fiz muitas coisas piores do que essa e mesmo assim recebi O perdão. Quem sou eu para não liberar perdão?
Fico perplexa. Quem é esse homem? E o que fizeram com o antigo Oliver?
- Você não pode fazer isso! Não se escuta? - olho para ele com horror. - Não vê todo o mal que eu te causei? Não consegue enxergar todas as desgraças que eu trouxe para nossas vidas, Oliver?
- Alice...
- Eu não mereço! E eu nunca vou merecer o seu perdão! - coloco-me de pé no momento em que um funcionário do hospital vem avisar que o horário de visitas chegou ao fim.
Aproveitando a deixa, entro no quarto de Bonnie e aviso ao Thony sobre o fim da visita. Ele fica de entregar algumas peças de roupas para nós, mais tarde, através de uma de suas colegas de trabalho. Oliver não volta a falar comigo, o que me deixa aliviada. E pouco tempo depois, os dois vão embora, deixando-nos sozinhas. Bon cai no sono rapidamente. Quanto a mim, não prego o olho, digerindo cada palavra dita por Oliver.
>>>><<<<
Oii, genteee!! Como é bom estar de volta, vocês não tem noção!! Muito obrigada pela paciência e pelas orações! Estou quase 100% do braço, por isso consegui terminar o capítulo hoje. Para quem no me segue no insta, meu IG é @escrevacmg também. É um IG literário onde falo sobre FÉ & LIVROS 😍 Eu costumo interagir mais lá do que aqui no Wattpad, apesar de publicar alguns anúncios vez ou outra 😬
Eu queria fazer uma observação, no capítulo anterior, mais precisamente na oração do Oliver, ele fala sobre sala de cirurgia. IGNOREM, foi erro meu. Ainda estava na dúvida de como seria, no fim das contas acabei errando essa parte, pois não houve cirurgia.
Enfim, espero que tenha gostado desse capítulo. Nesse tempo em que estive ausente, Deus falou bastante comigo acerca desse livro. ♥️
Deus abençoe cada um de vocês!! Um beijão!!
Att.
NAP 😘
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top