Capítulo 28
Mais uma vez, sinto o chão desaparecer debaixo dos meus pés. Aquilo não poderia estar acontecendo novamente. A minha menina, minha princesinha. Não posso perder a razão da minha existência.
Como um soco na boca do estômago, as palavras ditas pela pediatra, há quatro anos, gritam em minha mente, trazendo-me a memória aquele período tenebroso: "1% de todos os bebês que nascem na Inglaterra, tem alguma cardiopatia congênita. Infelizmente a pequena Bonnie faz parte da porcentagem. Ela apresenta quatro más formações no coração, sendo extremamente necessária a realização de uma cirurgia, imediatamente. Sinto muito, senhorita Green, mas faremos de tudo para salvar a sua filha".
— Alice, está tudo bem? — Oliver me chama com preocupação, colocando-se diante de mim, e eu volto a realidade.
— Bonnie... — sussurro seu nome com pesar. Sem pensar duas vezes, empurro Oliver para o lado e corro em direção a saída, mas sou impedida por ele, que me segura pelos braços e me faz virar de frente para ele. — Me solte, Oliver! Eu preciso ir! — ordeno com a voz trêmula.
— Não te soltarei enquanto não me contar o que aconteceu. — diz firme.
Mas eu nada digo, apenas me lanço em seus braços e começo a chorar. Um choro tão dolorido, seguido de soluços altos e sôfregos. Sinto as mãos de Olivier tocar os meu ombro com certo receio.
— Alice, por favor, fala comigo. — percebo a preocupação em sua voz. E mais uma vez eu volto à realidade. Eu preciso ver a minha filha.
— Precisamos ir ao hospital! — afasto-me em um rompante. — A Bonnie sofreu uma parada cardíaca. — As lágrimas embaçam os meus olhos, mas vejo os orbes dele se arregalarem.
No minuto seguinte, estávamos dentro do carro de Oliver, rumo ao hospital em que Anthony trabalha. No início do trajeto, o único som que se ouvia eram os meus soluços e fungadas. O homem ao meu lado nada disse. Até pararmos em um dos semáforos, que ele não pôde avançar, onde solta uma lufada de ar forte e olha para mim.
— Ela tem algum problema cardíaco? — assinto sem olhá-lo. — O que ela tem, Alice? — o medo está ali, presente em seu questionamento.
— Cardiopatia congênita. — digo baixo. Então olho para ele, que trava o maxilar com força. Assim que o sinal abre, ele pisar no acelerador e continuar o trajeto, acima do limite de velocidade permitido. — Pouco tempo depois que a Bonnie nasceu, a pediatra passou alguns exames, onde descobriu que ela possuía quatro más formações no coração.
— Quatro? — eleva a voz, mas sem desviar os olhos do trânsito.
— Sim. — continuo, sentindo a dor no coração, ao ter que trazer tais memórias à tona. — Por causa disso, ela precisou fazer uma cirurgia com apenas três meses de vida. Foi terrível ver a minha menininha tendo que passar por um procedimento tão delicado com pouquíssima idade e não poder fazer nada.
— Durante esse momento você ao menos pensou em ligar para mim? — pergunta com certo rancor.
— É claro que sim. Mas não o fiz. — não consigo olhá-lo nos olhos.
— Ela poderia ter morrido. — diz para si mesmo. Fecho os olhos com força, sentindo-me o pior ser humano da face da terra. A mais miserável. Não tinha o que dizer.
Chegando ao hospital, saio do carro sem nem esperar o veículo parar. Corro para a emergência como uma louca, esbarrando em qualquer um que estivesse no meio do caminho.
— Por favor, onde está Bonnie Gre...
— Ali! — viro ao ouvir a voz de Thony. Ao vê-lo, corro para abraça-lo.
— Thony! — nos braços do meu melhor amigo e irmão do coração, permito-me chorar ainda mais. — Thony, salve a minha filha! Salve a nossa pequena, por favor! — suas mãos acariciam minhas costas. A cabeça apoiada na minha, fazendo certa pressão.
— Ela vai sair dessa, Ali. Vamos confiar no Senhor Deus! — sussurra com a voz embargada.
— Eu não posso perde-la, Thony! Eu não posso! Eu prefiro morrer. Não tem sentido viver sem ela aqui. — Anthony segura o meu rosto entre suas mãos e diz com carinho.
— A Bonnie ficará bem, Alice! Aquieta o seu coração. Ela está em boas mãos, ok? — apenas assinto, sem muita certeza. Meu amigo ergue o rosto e olha para o nosso lado.
— Como ela está? O que realmente aconteceu? — Oliver pergunta ao se aproximar.
— Está em observação. — o mais novo doutor responde com cautela. — Não sei o que a Alice te contou, mas a Bonnie possui um coração frágil, devido à má formação. Por este motivo, todo cuidado é pouco diante dela. Ontem, ao presenciar a discussão dos dois, — Thony olha de Oliver para mim. — ao ver o pai pela primeira vez e ao achar que não seria aceita por ele, uma série de emoções tomaram conta dela. — apoio o rosto nas mãos, tamanho era o meu desespero e culpa. — Hoje pela manhã, os pensamentos, sentimentos e preocupações voltaram com força, o que causou a Taquicardia. Devido à arritmia, o frágil coração da Bon não resistiu. Mas pela misericórdia de Deus, eu estava presente e consegui recuperá-la com a massagem cardíaca.
Ouvir as palavras de Anthony foi como levar milhares de facadas no coração. As minhas pernas, assim como todo o corpo, estavam fracas, levando-me ao chão. Sou amparada por ambos, e acabo atraindo a atenção de outras pessoas.
— É tudo culpa minha! Minha filha está entre a vida e a morte por minha causa! — empurro Anthony para longe de mim e enterro o rosto entre os joelhos. — Eu sei que não sou digna de ser ouvida por Ti, mas por favor, não leve a minha filha! Me leve em seu lugar. — com o coração em pedaços, clamo aos prantos. Após cinco anos em completo silêncio, da minha parte, ergo a voz aos Céus. Porém, nada mais consigo dizer, pois a culpa inunda o meu peito, calando-me mais uma vez.
Sou puxada para um abraço. Tento me afastar, mas o abraço se torna mais apertado, e eu me rendo. Em seguida, escuto algo que me surpreende.
— Pai, a Tua palavra diz que tu és o socorro bem presente nos momentos de angústia! E eu creio nisso! É por esse motivo que, neste momento, de dor e incerteza, nós queremos colocar diante de ti a nossa confiança. Senhor Jesus, visite aquela sala de cirurgia e toque na Bonnie. Se assim for do seu agrado, restaure completamente a saúde da nossa filha. — Oliver silencia por um segundo, antes de continuar com a voz embargada. — Por favor, se for da sua vontade, me dê a chance de ser um pai presente para a minha filha, assim como o Senhor é para nós. Mas que, acima de tudo, a sua vontade se cumpra. — respira fundo. — Amém!
Ergo o rosto, olhando aqueles orbes verdes acinzentados, com uma mistura de admiração e espanto. Oliver encontrara a salvação. Apesar de tudo, saber disso me traz um certo alívio.
— Família de Bonnie Green? — desvio o olhar para a médica que entra na sala de espera. Com a ajuda de Oliver, coloco-me de pé.
— Estamos aqui. — pronuncio-me, sentindo o coração um pouco mais leve. Então a moça diz, com um sorriso simpático.
— Temos boas notícia!
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