Capítulo 23
— Divirta-se, meu amor! — entrego a mochila de Bonnie para minha amiga.
— Mamãe, é a casa do vovô, é clalo que vou me diveti. — responde, colocando uma das mãos na cintura.
— Ei! É a casa da tia Jully! Esse é o verdadeiro motivo para a sua diversão, fofolete! — minha filha ri sapecamente, recebendo um abraço apertado da tia. Sua risada me faz sorrir.
Ela é a razão dos meus sorrisos, durante as tempestades incessantes da vida. O motivo que me faz levantar da cama todos os dias para enfrentar a rotina infeliz.
— Não está esquecendo de nada, mocinha? — pergunto quando Bon entra na casa.
— Ops! — ela volta correndo para me abraçar. — Te amo, mamãe!
— Também te amo, lindinha! — beijo sua bochecha. Então ela entra.
— Tem certeza que não quer entrar? Tomar um café... — Ju pergunta, cruzando os braços.
— Tenho. Quanto mais cedo eu chegar no trabalho, mais coisas consigo pôr em dia.
— Tudo bem.
— Mais uma vez, obrigada por ficar com a Bonnie hoje. O filho da Lia ficou doente e ela não pôde ir. Bon está de férias. Thony está de plantão, e eu não posso leva-la para a empresa hoje.
— Lice, você sabe que não precisa agradecer! Ela é a minha sobrinha, e eu faço isso com o maior prazer. — diz de maneira doce.
— Você está na época das provas finais. Eu sei muito bem como é.
— Bonnie é um amor, não dá trabalho para ninguém. Mas não se preocupe, o papai virá hoje à tarde. Então meus estudos não serão prejudicados. — ela pisca para mim.
— Fico mais aliviada. — ajeito a bolsa no ombro.
— Você está bem mesmo para voltar ao trabalho? — inclina a cabeça, observando-me. — Não passou nem uma semana.
— Eu preciso trabalhar. Ocupar a cabeça com alguma coisa, entende?
— Sim, eu entendo! — ela me abraça apertado. — Mudando de assunto, precisamos de um tempo juntas, antes da minha viagem.
— Verdade! Quando irá para os Estados Unidos mesmo? — encosto o corpo no corrimão da escada.
— Daqui a duas semanas. — um sorriso enorme aparece em seu rosto.
— Não sei como conseguem manter um relacionamento à distância. — balanço a cabeça em negação, mas sorrio também.
— O Bruce é especial. E o mais importante, nossa união veio de Deus. Então não será a distância que irá nos impedir de ficarmos juntos.
— Vocês ficam lindos juntos. É admirável. — sinto o celular vibrar. Retiro do bolso e volto à realidade ao ver o nome. — É a megera da minha chefe, preciso ir.
— Mande um beijo para ela. — nos despedimos com outro abraço. Atendo a ligação assim que desço o último degrau.
— Oi, chefa! Bom dia!
— Cadê você? Disse que chegaria cedo. Já estou na empresa há cinco minutos e nada da minha assistente.
— Estou surpresa por realmente ter chegado cedo. — ela bufa do outro lado. — Tive que levar a Bonnie até a casa da Jully, mas já estou a caminho. Chego em quinze minutos.
— Ok, estou te esperando. — diz cantarolando. — Ah! E eu já trouxe o nosso café. Não demore!
— Pode deixar! Até mais, Per! — desligo a ligação e apresso o passo, rumo ao metrô mais próximo.
***
— Todo esse estresse com a EngiCorp está me deixando de cabelo em pé. Há dias que não durmo direito pensando em todos os processos em nossas costas. — Harper entra na sala, após a quarta reunião só naquele dia. — O meu chefe está comendo o meu couro por não apresentar nenhuma solução concreta. Mas o que eu posso fazer? Me formei em engenharia ambiental, não em direito.
— Sinto muito. — respondo sem tirar os olhos dos papeis em minha mesa. — Só espero que minha chefe não faça o mesmo comigo...
De soslaio vejo minha amiga se jogar na poltrona de sua recepção e fechar os olhos.
— Sua sorte é que somos amigas. Caso contrário, já estaria na rua apenas pelo fato de ter escolhido esse aromatizador de ambiente horrível.
— O aroma de alecrim é o melhor de todos. Você que tem um péssimo gosto quando o assunto é fragrâncias. — analiso a folha seguinte.
— Não estou a fim de discutir sobre assuntos irrelevantes. — pergunta, colocando-se de pé. — Onde iremos almoçar hoje? Eu estou estressada. Você está de luto. Então diria para comermos no 108 Garage.
— Apesar de a comida ser deliciosa, não tenho grana suficiente para ficar me dando ao luxo de comer em um restaurante como o Garage. — Harper abre a boca para falar, mas eu continuo. — Nem adianta querer pagar para mim, não irei aceitar. — ela fecha a cara na mesma hora. — E, por favor, dá para você parar de falar sobre o meu luto todas as vezes que me vê?
Per morde o lábio inferior e arregala os olhos de leve.
— Desculpe, amiga. É que eu realmente não sei lidar com essas coisas. O Thony já me alertou sobre isso vária vezes, mas eu sempre fico nervosa durante a situação e acabo falando demais.
— Tudo bem! — levanto da cadeira e contorno a mesa. Pego minha bolsa. — Que tal o Footnote? É bom e não é tão caro assim.
— Perfeito! — volta a se animar. Ela entra em sua sala. Segundos depois, volta de lá carregando uma bolsa preta, que combina perfeitamente com o seu look all black de sempre. — Vamos?
— Claro! — assinto.
Caminho em silêncio ao seu lado. Harper falou ao telefone durante todo o percurso. Assim que chegamos ao restaurante, sentamos em uma mesa vaga. Eu fiz os pedidos, e ela ainda estava na ligação.
— Isso é um saco! — murmura ao encerrar a chamada. — Até no meu horário de almoço eles não me deixam em paz. A minha vontade é de jogar tudo para o ar, e eles que se virem!
— Te entendo, Per. Às vezes tenho vontade de fazer o mesmo. Mas lembre-se que você tem um emprego maravilhoso, na área de sua formação. Ganha muito bem e possui um cargo invejável. — pego uma das bruschettas que eles nos trouxeram como entrada. — Então, quando estiver com vontade de fazer isso, lembre-se de sua amiga aqui. — finalizo com uma mordida dramática.
— Odeio quando fala essas coisas!
— Eu sei! É bem deprimente, mas é a realidade. — dou de ombros.
— Você sabe que infelizmente não posso te colocar em um cargo melhor sem que...
— Sem que eu termine a faculdade. Eu sei! — ela concorda. — Mas eu não posso, não agora. Bonnie ainda é muito nova. Lia não pode ficar até mais tarde, e eu não confio em qualquer pessoa.
— Tem o Thony, a Jully e eu! Podemos fazer um rodízio.
— Já conversamos sobre isso! E eu agradeço imensamente a boa vontade de vocês, mas cada um tem sua vida. Não podem ficar presos por cauda da minha filha. Bonnie é responsabilidade minha.
— E do Oliver... — sussurra a última parte. Olho sério para ela.
— Eu irei terminar o meu curso, mas não agora. — o garçom chega com os nossos pedidos.
— Já parou para pensar em como seria a sua vida, caso tivesse contado ao pai de sua filha toda a verdade? — questiona após um tempo.
— Não paro de pensar sobre isso. — silêncio.
— Sabe, — reviro os olhos quando ela volta a falar. E o assunto continua... — com tudo o que Jully diz sobre o irmão, tenho certeza que ele seria um ótimo pai para a Bon.
— Nunca disse o contrário. — continuo comendo.
— Outra coisa, você não precisaria ter parado a faculdade. — desata a falar. — Eu sei que não gosta de ouvir, mas teria sido a melhor opção para os seus problemas, mas principalmente para a Bonnie. Não é justo que ela tenha que crescer sem o pai. Sem contar na saúde fra...
— Acha que não sei disso? — digo um pouco alterada, largando o garfo na mesa. — Já disse que penso nisso todos os dias. Eu já sei que cometi vários erros, um atrás do outro. Mas sinceramente, Harper, eu não preciso que ninguém fique me lembrando disso. Já sou ótima em fazer isso sozinha.
— Eu sou sua amiga e só digo isso para o seu bem. Para ver se você acorda para a vida e ajeita essa bagunça toda de uma vez! — fico calada. — Eu sei que o seu pai morreu há poucos dias, mas se eu fosse você, não perderia tempo e entraria em contato com ele o quanto antes. Se não puder ir até os Estados Unidos, faça uma chamada de vídeo, envie um e-mail, peça para a irmã dele o convidar para algum evento... Sei lá! Apenas faça alguma coisa, antes que ele descubra a verdade de outra forma, e você se arrependa disso para o resto de sua vida.
E foi pensando sobre a nossa conversa que voltei para a casa de Jully. Decidi que viajaria junto com ela para a américa do norte e o encontraria. Só de pensar no assunto sinto o estômago revirar. Não faço ideia de como será a reação de Oliver, mas tenho certeza de que não será nada agradável.
Subo os degraus me arrastando, como de costume. Toco a companhia no momento em que meu celular vibra. Anthony.
— Thony! — o cumprimento.
— Já saiu do trabalho? — sinto a exaustão em sua voz.
— Sim, vim pegar a Bon na casa da Jully. — solto uma lufada de ar e fecho os olhos. Também estou exausta.
— Ótimo! Chego em dois minutos, me espere aí. — agradeço internamente. Seria horrível pegar o metrô uma hora dessas com a Bonnie.
— Perfeito!
Estava prestes a dar um sorriso, quando, de repente, um barulho me faz abrir os olhos. Imediatamente sou atraída para os orbes verdes acinzentados que me fitam com curiosidade e surpresa.
— Alice?
>>>><<<<
É agora que eu digo: deu ruim! 😵
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