Capítulo 16

— O que está fazendo?! — pergunto assustada, após recuperar minha visão.

— Nossa! Me perdoe! Eu pensei que... É que... — o homem começa a gaguejar.

Ele é alto, bem mais alto do que eu. Veste um moletom cinza e segura a bendita câmera fotográfica nas mãos. Seu rosto, atrás dos óculos de grau, está branco como papel. A boca abre e fecha sem emitir nenhum som.

— Por acaso isso é uma espécie de trote? — pergunto, já irritada.

— Trote? — questiona, por fim. — Claro que não! Olha, eu pensei que era outra pessoa. Eu sinto muito! — ele ergue a câmera. — Vou apagar agora mesmo.

— Agradeço! — controlo a respiração e cruzo os braços na altura do peito.

— Pronto! — vira o objeto em minha direção e deleta a imagem horripilante. Ele se afasta um pouco e olha para o interior do quarto. — Você deve ser a nova colega de quarto da Harper.

E as coisas começam a fazer sentindo.

— Não sei quem é a Harper, ainda não a conheci. Mas eu sou a outra ocupante do quarto. — estendo a mão em sua direção. — Alice!

— Anthony! — aperta a minha mão e sorri. Um sorriso largo em bem bonito, assim como ele. — Seja bem vinda ao seu novo lar, Alice! É um prazer conhece-la!

— Obrigada! — abro um sorriso verdadeiro e desfaço o contato. — É muito bom estar aqui.

— Que bom! As aulas começarão daqui a duas semanas. Qual é o seu curso? — cruza os braços e me olha com interesse.

— Engenharia mecânica. — digo com orgulho. Ele ergue a sobrancelha e balança a cabeça.

— Que incrível! Gosta tanto assim de exatas?

— Sim! — digo rindo. — E você?

— Prefiro ciências biológicas. Medicina.

Isso sim é incrível! — digo, admirada. — Se tivesse estômago, escolheria a medicina. — rimos juntos. Quando já não havia o que dizer, fico um pouco desconcertada. — Então... se eu te conhecesse de verdade, te convidaria para entrar e esperar sua namorada aqui, mas como acabamos de nos conhecer, acho um pouco imprudente.

— Sem problema! Concordo com tudo o que falou, tirando o fato de que Harper e eu não namoramos. — ele enfia as mãos no bolso e fita o chão.

— Ah, perdão! Associei errado.

— Tudo bem! — volta a me olhar. — Foi um prazer te conhecer, Alice. Quando a sua colega de quarto chegar, pede para ela me encontrar no lugar de sempre, por favor.

— Pode deixar, Anthony! — ele se despede e vai embora.

Fecho a porta e volto para o quarto, ainda desacreditada que realmente estava em Londres, que consegui uma bolsa no Imperial College e tinha acabado de conhecer um aluno da mesma instituição. Me jogo na cama e o celular toca. Atendo a ligação de Jully, rindo.

— Me conta tudo!

***

São exatamente dez horas da noite, quando escuto a porta do quarto se abrir e uma voz feminina ecoar.

— Já disse que não estou a fim de ir com você! Arranje outra pessoa! — em seguida a porta se fecha com força.

Paro de pranchar meu cabelo na mesma hora. Apoio a chapinha na bancada e abro a porta do banheiro, bem devagar. Silêncio. Coloco a cabeça para fora e consigo vê-la. A menina está jogada na outra cama, com os braços abertos e os olhos mirando o teto. Perdida em pensamentos.

Decido me pronunciar.

— Oi?

— AAAAH! — seu grito me faz pular. Mas o que me deixa mais assustada é a travesseirada que recebo na cara.

— Isso é sério? — resmungo, pegando o objeto caído no chão. — Acho que já estão fazendo isso de propósito...

— Mulher! Você me deu um susto! — ela senta na cama, com uma das mãos tocando o peito. Prendo a risada ao ver seu estado.

— Me desculpe! — entrego o travesseiro para ela. — Ouvi você entrando, então... — dou de ombros e aponto com a cabeça para a porta. — Está tudo bem?

— Tudo tranquilo! Foi um ficante me enchendo o saco. — ela me olha de cima a baixo, mas não com um olhar julgador ou superior. — Minha nova colega de quarto, certo?

— Isso! — estendo a mão. — Alice! E você é a Harper, certo? — sorrio quando vejo suas sobrancelhas formando um arco.

— Como sabe? — pergunta, desconfiada.

— O seu amigo passou aqui e...

— DROGA! — ela se põe de pé e pega o celular dentro da bolsa. — Esqueci completamente do Thony! — digita algo e coloca o aparelho na orelha. — Oi... É... — ela faz uma cara feia antes de voltar com as monossílabas. — Sim... Me desculpe, Thony! Estou indo agora mesmo. Prometo! — ela olha para mim e abre um pequeno sorriso. — Já jantou? — questiona, abafando o microfone do celular.

— Não, mas não estou...

— Ela vai! Até daqui a pouco! — desliga a ligação e joga o aparelho no bolso do sobretudo preto.

— Vou para onde? — arregalo os olhos.

— Para o poit! — sorri, pegando a bolsa. — Acho melhor trocar de roupa. Lá fora está bem frio.

— Mas eu não quero ir! Cheguei hoje de Cambridge e estou exausta.

— Cambridge? Uau! Adoro aquele lugar. — prende o cabelo preto em um rabo de cavalo.

— Mas...

— Desculpe cortar o seu barato, mas é melhor nos apressarmos. O Thony não suporta atrasos, e eu já estou mais que atrasada. — ri, então segue para o banheiro.

Solto o ar lentamente. Sentindo-me vencida, abro o guarda-roupa e pego uma das roupas mais quentinhas que trouxe.

— Amei a bota! — diz, assim que sai do banheiro.

— Minha melhor amiga me deu. — olho para os meus pés, calçados com a bota de pelinhos preta, de cano curto.

— Está pronta? — volto a encará-la.

— Sim.

Pego uma bolsinha de mão, a mais simples e menos chamativa possível, e sigo-a para fora do quarto. Durante todo o percurso que fizemos Harper falava com as pessoas. Ela parecia conhecer todos os alunos que moram na Woodward Buildings.

Ao sairmos do edifício, sinto o ar congelante atingir o meu rosto. Não era tão diferente de Cambridge, mas acabei subestimando o tal frio que minha colega disse que estava fazendo. Ajeito ainda mais o cachecol no pescoço e a sigo.

— Acho que irá gostar do lugar. É tranquilo. Sem muito falatório. — olha para mim, com um sorriso de lado. — Você parece ser tranquila, e não gostar de muito falatório.

— Na mosca. — dou de ombros. — Na verdade, eu sou envergonhada. Prefiro ficar na minha.

— Então vocês dois se darão bem. — franzo o cenho. — Você e o Anthony! — diz como se fosse a coisa mais óbvia. — Ele prefere os eventos mais tranquilos. E normalmente não gosta dos meus amigos. — diz a última parte rindo. — Chegamos!

Suspiro aliviada ao entrarmos em um café/biblioteca.

— Que lugar incrível!

— Não disse... — resmunga ao meu lado. — Lá está ele, vai na frente para amolecer a fera. — pede, já me colocando em sua frente e me empurrando em direção à uma mesa mais afastada.

— Colocar a sua colega de quarto na frente não vai diminuir a minha irritação. — Anthony diz, sem tirar os olhos do livro.

— Não custava tentar. — Harper sai de trás de mim e se joga na cadeira ao lado dele. — Oi, ursinho! — beija sua bochecha. Em seguida, pega a xícara que está na mesa e toma uma golada. — Eca! Chocolate quente.

— Ninguém mandou você beber. — ele fecha o livro, com um sorriso zombeteiro nos lábios. Continuo de pé, sem saber o que fazer. Seus olhos encontram os meus, e o sorriso se suaviza. — Oi, novamente, Alice!

— Oi!

— Sente! — aponta para a cadeira a sua frente, e eu o faço. — O que vão querer?

— O mesmo de sempre! — Harper responde, brincando com uma cutícula da unha.

— E você? — pergunta diretamente para mim.

— Não sei. — olho ao redor. — Não conhecia este lugar. Na verdade, não conheço Londres muito bem.

— A Alice é de Cambridge! — Harper se apoia na mesa, animada.

— Sério, Alice?

— Sim! — assinto. — Tudo o que eu conheço é Cambridge e algumas poucas partes de Londres. Só!

— Tipo, do mundo todo, você só conhece esses lugares? — Harper parece abismada. Apenas dou de ombros. — Bem, precisamos mudar isso!

— E o que achou de Londres? Pelo menos dos lugares que conheceu.

— Estou apaixonada. Sempre quis vir para cá, só nunca tinha tido a oportunidade. Até a semana passada. — uno minhas mãos e as fito. Lembra da viagem... Lembrar de Oliver... Não era fácil.

O garçom chega bem na hora. Anota os nossos pedidos e volta para a cozinha.

— Estranho... — Olho para minha colega, que me analisa com atenção.

— O que é estranho, Per? — Anthony pergunta com ceticismo.

— Sabe, seu rosto não me é estranho. Acho que já te vi em algum lugar. — ergue a sobrancelha e esfrega o queixo com o indicador. — E eu não me esqueço de ninguém...

— Isso é verdade! — o amigo concorda, bebericando um pouco do chocolate quente.

— JÁ SEI! — ela grita. Eu pulo no lugar. E Anthony quase deixa a xícara cair.

— Já pedi para parar com isso! — resmunga.

— E eu já pedi para parar de ficar tirando fotos de mim quando estou distraída! — ele dá de ombros e sorri. Ela revira os olhos, mas continua olhando para mim. — Você é a menina envergonhada que cantou no karaokê do KÊPUB. — pisco os olhos, nervosamente. — Tenho certeza! — Anthony me lança um olhar incrédulo. — Você perdeu, Thony!

— Não acredito que estava lá! — escondo o rosto entre as mãos e escorrego pela cadeira.

— Não só estava, como também aplaudi de pé! A garota deu um show ao lado daquele bonitão! — diz a última parte para o amigo. —Aliás, seu namorado é um gato, Alice! Agarra e não solta mais!

— Ele não é meu namorado! — endireito-me na mesma hora. — Não mais! — Harper se cala, e os dois me encaram, assustados com minha reação. — Er... eu vou ao banheiro. — Levanto-me e saio de perto deles. Não queria desabar na frente de pessoas que acabei de conhecer.

>>>><<<<

Oii, gente! Como está sendo a semana de vocês! Espero que esse capítulo extra traga um pouco mais de alegria 🥰 Obrigada a todos que estão acompanhando essa história. 💖

Att.
NAP 😘

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