2° capítulo: Um garoto fechado


Por Leon

    Quando acordei na manhã de sábado, parecia que tudo girava, lembrando-me da noite anterior.

  Cara, você é uma merda. O que você fez? Para quê não foi estudar? Agora fica chorando, arrependido, por quase não ter estudado. Além de não conseguir ser inteligente como seu irmão, ainda não estuda? Assim não ?

  Uma voz dentro da minha cabeça não parava de repetir isso, e mesmo que me lembrasse das coisas boas que fiz, ela vinha e me arrebentava com força, reforçando e repetindo ainda mais essas palavras.

  E por isso, sempre acontecia de eu chorar baixinho, sozinho no quarto.
Os acontecimentos daquele dia ainda estavam girando em espiral na minha mente, como se nunca fossem capaz de parar.

  Mesmo assim, consegui levantar e geralmente quando penso demais, consigo me inspirar para escrever músicas.

  E assim foi. Sentei-me na cama e ajustei o microfone a altura da minha boca, logo depois me esticando para pegar o violão que ficava ali perto.

  Fechei meus olhos e comecei a cantar, com um bloquinho e uma caneta ali do lado caso ficasse bom, para ir anotando a letra.

  Quando me olho no espelho, diretamente para os meus olhos, me pergunto:
Como ninguém percebe nada
Se um furacão está dentro de mim?

Assim que cantei a última frase, pego o bloquinho e anoto de qualquer maneira. Aliás, era só um rascunho.

  Iria continuar compondo se uma sombra não aparecesse e eu olhar rapidamente para a pessoa na porta:

-Já cantando tão cedo, Leon? -Meu irmão me pergunta com uma ironia na voz, mas ao mesmo tempo séria e sabia que quando não me chamava de "irmãozinho", era porque estava falando sério, quase brigando comigo, com uma sobrancelha arqueada, sabendo que algo não estava certo comigo.

- Acordei inspirado, quis logo cantar. -Dou de ombros como se não fosse nada demais, mas nós dois sabemos que era. Principalmente porquê não consigo encara-lo ao dizer as palavras e minha voz sai rouca, quase como um sussurro.

  Em resposta, ele respira fundo e apenas me lança um olhar, percebendo que havia mentido, e sai dali.

  Com isso, fechei os olhos com força e passei a mão no meu cabelo de forma que bagunçasse, como sempre fazia quando estava nervoso, além, é claro, de uma água brotar em minhas mãos, o que eu mais odiava e que eu queria saber controlar: suor; ou simplesmente não mexer em minhas unhas minúsculas o tempo todo.

  Balancei a cabeça de forma que aqueles pensamentos cessassem -ou pelo menos afasta-los pelo tempo que conseguisse- e voltei ao violão, cantando outra parte que havia pensado :

E Talvez você não perceba,
Mas estou morrendo por dentro
Aos poucos.

  Anoto mais essa parte e sou invadido pelo cachorro do meu irmão: Pelúcio, que me derruba na cama, fazendo-me rir e após isso,  afasta-lo de mim, já que pelos dourados de seu pelo grudavam em meus lábios.

-O que você quer, neném? Quer brincar, quer? -Late alto, e pego uma bolinha, logo indo para o quintal para brincarmos de jogar a bola e ele trazer para mim. O que quase nunca acontecia, já que ele sempre mordia para eu pegar de volta.

[…]

  Ao acabarmos de brincar, sento na grama cansado e ele se joga em cima de mim.

-É, amigão... Você é o único que me entende. -Falo o acariciando, sorrindo triste.

-Nem eu te entendo? -Uma voz masculina conhecida me chega aos ouvidos e eu levanto a cabeça  lentamente, com medo. -Poxa, pensei que te ajudava.-Meu pai fala brincalhão,com aquele sorriso de lado de sempre, porém no fundo, sei que falava sério. Era assustador o quanto eu parecia com ele.

-Claro que me ajuda, papai.-Tento dar meu sorriso mais sincero; pelo menos com ele sei que  não vai reconhecer que isso é uma mentira. Já com a minha mãe... -Eu só pensei alto, não se preocupe. -Falo com a voz mais firme que consigo, ainda acariciando o Pelúcio, até que um gato preto vem-chamado Noite -e briga com o cachorro, fazendo com que o bicho saísse de mim, enquanto sinto o olhar de meu pai, já que estava olhando para os animais.

-Tudo bem então, se precisar de mim, já sabe.- Fala com um leve tom de desconfiança, me deixando sentado na grama sozinho.

____

Pela autora:

Os capítulos estão sendo curtos, mas espero que vocês tenham gostado. Ainda vem muita coisa por aí hehe.

Bjs e obrigada por lerem 💕

P. S. : Espero vocês na sexta que vem. 😉

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