Por Layka

  Eu ainda não esquecera aquela cena que eu havia chorado em frente ao Leon. Ainda morria de vergonha daquele dia e praticamente todos os dias aquela cena voltava a me atormentar, lembrando principalmente do fato que eu havia chorado.

Mas pela forma como me olhou angustiado, parece que eu tinha interpretado alguma coisa errada. Aliás, muita coisa errada. E eu não tinha como me explicar naquele momento e nem ele tinha como, principalmente por eu estar naquele estado.

  Eu realmente pensei muito a respeito e, como senti que Leon estava sendo sincero, pelo modo de falar e por seus olhos estarem agoniados, decido chama-lo para conversar, para resolver as coisas.

  Assim que puder, queria conversar com você, para esclarecermos o que aconteceu naquele dia.

E ah, só para constar, já estou melhor.

  Sorrio ao enviar a mensagem e marcamos de nos encontrar na sua casa mesmo, mais tarde.

[…]

  -Que quarto maneiro, cara. -Falo assim que entro no mesmo, onde tinha vários livros em uma estante e plantas que decoravam todo o cômodo, e o que mais me surpreendeu foi ter um violão e um microfone no canto.

-Valeu, Layka. -Leon sorriu largo, e não foi apenas a boca que sorriu, já que seus olhos também emitiram uma felicidade profunda ao me agradecer. -Mas eu estava lhe devendo uma explicação né? -Ele disse sem jeito, coçando a cabeça de um jeito que eu achava muito fofo, sem olhar para o meu rosto.

-Na verdade, eu também lhe devo uma, porquê... Fui embora e nem te expliquei nada. -Falo sem graça, sorrindo envergonhada.

-Mas deixa que eu te explico primeiro então. -Riu e voltou a me olhar nos olhos, o que infelizmente me deixou nervosa e com os pelos do corpo arrepiados, além da garganta seca e brotar um suor em minhas mãos. Merda!Como odeio suar. -Eu,por mais incrível que pareça, não sabia como mais te falar que gostava de você, já que tinha feito de tudo e você não entendia,ou fingia que não entendia. E quando finalmente tomei coragem de mandar uma "indireta direta" , você teve aquela reação e...-Ele parou,  engolindo em seco, voltando a não olhar para mim. -Eu não soube o que fazer e foi difícil por isso. -Finaliza sussurrando e soltando o ar com força, como se tivessem tirado um peso de suas costas. -Você não faz ideia o quanto só pensava nisso por dias. -Acrescentou sorrindo de maneira grata e se aproximando. Mordi o lábio e o olho, extremamente magoada com eu mesma e por tê-lo feito sofrer assim.

-Desculpa, Leon, eu não imaginava isso. -Falo tão baixo que nem eu mesma consegui ouvir direito. -Eu... Associei a uma outra coisa do meu passado. -Respiro pela boca sentindo todo meu oxigênio se esvair com aquilo e ele percebe, pois pergunta, parecendo preocupado:

-Está bem? Quer um copo d'água?

-Não, obrigada, estou bem. -Rio baixo, o olhando. -Agora eu que tenho que te explicar.-Respiro fundo, olhando para baixo desconfortável por sentir seu olhar sobre mim. -É por conta do meu passado que eu fiquei... Daquele jeito naquele dia. Quantos garotos não me respeitaram, principalmente o último que namorei e isso... Me deixou extremamente fechada para qualquer tipo... De relacionamento amoroso. -Fecho os olhos com força e engoli em seco, com as mãos suando e me afastando um pouco mais dele por não me sentir confortável estar sozinha com um garoto.

-Você pode ter o tempo que quiser para pensar, Layka, só... Desculpe-me por aquele dia. -Abri os olhos e vi que ele estava completamente atônito. E um pouco mais próximo de mim, mas isso não importa nada. Ou importa?- Eu... Nunca imaginei que era isso. -Acrescentou passando a mão pelo cabelo, buscando uma ponta de esperança ao me olhar diretamente nos olhos, como sempre fazia quando queria me deixar sem fôlego, sem saber o que fazer principalmente com as mãos.

-Você nunca ouviu falar do meu apelido na escola? -Ele balançou a cabeça negativamente, franzindo o cenho, aparentemente sem entender. -"Garota problema." Por conta daqueles garotos babacas, eu fui chamada assim... -Finalizo quase chorando, mas seguro aquele nó que sempre estava ali quando eu tinha a mínima vontade de chorar. E, infelizmente, Leon percebeu isso, pois não hesitou em me abraçar forte e sussurrar:

-Calma, você não os merece, você é maior do que isso. -Falou com tanta convicção, com tanta emoção em sua voz, que apenas o olhei agradecida e falei baixinho:

-Obrigada.-Mas assim que paro de falar, ouço um miado e Leon ri baixo, se afastando apenas um pouco de mim para olhar um gato preto.

-Ah, esse é o Noite, meu gato. -Ele fala o pegando e o colocando sobre a cama. -Me desculpa rir nessa situação...

-Tudo bem, é até melhor para suavizar o clima. -Sorrio mínimo e acaricio o Noite. -Aliás, adorei esse gato.

-Você diz isso porque não o conhece. Ele me acorda de madrugada e nunca deixa ficar no colo. -Ele diz sério, mesmo que seu tom fosse brincalhão e olhando-me mexer no gato. Bem que ele podia parar com esse olhar sobre mim, porque eu me concentrava e daria para falar algo, mas em resposta apenas ri.

-Ah eu queria te mostrar uma coisa. -Leon diz tenso, se aproximando de mim e fazendo carinho no Noite também, com a mão perto da minha, como se fosse nada demais. E eu finalmente levanto meu rosto, encarando seus olhos, que pareciam inquietos.

-Tudo bem, pode me mostrar. -Sorrio fraco o observando sair de perto de mim e pegar um bloquinho na parte de cima do seu armário, parecendo estar muito bem escondido.

-Mas nunca contei para ninguém sobre isso, então quero que fique entre a gente. E pode ser sincera se não gostar.-Ele diz determinado, me entregando o bloquinho e se sentando ao meu lado na cama, fazendo com que seu gato reclame, mas nenhum de nós dois liga para isso naquele momento, pois já estávamos concentrados lendo suas letras de músicas. E a cada folha que eu passava, arregalava os olhos, pois aquilo era realmente bom.

Eu  preciso  do  amor  para  me aquecer.

O amor  é  o  fogo  que  me  aquece, que  me  conforta, que me  abraça.

Mas  também  é  o  fogo  que  me  queima, se  eu  não tomar cuidado.

Fiquei com um pouco de medo com o que ele quis dizer com essa letra, mas como ele estava sem graça de mostrar aquelas letras, decidi ficar quieta e continuar lendo, mesmo tensa sobre seu olhar.

O mar, ás vezes agitado, ás vezes calmo, porém, mesmo tendo épocas diferentes, a maioria das pessoas acha ele lindo e único.

E, ele é realmente lindo e único!

  Com suas ondas fortes, com suas ondas calmas...

    Como a natureza  humana!

    Um dia estamos calmos, tranquilos; simplesmente felizes.

      Já em outros...

       Estamos confusos, tristes e perdidos.

        Porque é da própria natureza humana ser assim, como é da natureza do mar um dia estar calmo e, em outro, estar forte!

  -Isso tá... Incrível, Leon! Por quê não fez essas músicas? -Exclamo sorrindo largo. -Seria pedir muito se cantasse uma...? -Peço olhando para baixo, envergonhada, mas isso não dura muito pois ele levanta meu rosto sorrindo, fazendo com que eu tremesse.

-Não, não seria. -Ele diz pegando o bloquinho de volta e sentando-se num puf, perto de seu microfone, respirando fundo antes de começar a cantar minha letra favorita: a do amor.

  Acabo sorrindo ao ouvi-lo cantar, mesmo que eu não queira e, assim que ele termina, me olha ainda envergonhado.

-Se sinta privilegiada. -Sorriu de maneira doce. -Você foi a única que leu essas letras. -Sussurra olhando para mim ainda sorrindo, pegando seu violão e se aproximando. -Quer tentar tocar algo?

-Ah...Eu quero. -Digo surpresa,piscando rápido.-Eu toco violino, então devo ter uma base. -Rio e ele me olha com aquele brilho no olhar.

-Um dia desses poderia me ensinar também. -Sorri mas logo se recompõe, colocando a mão sobre a minha para ensinar como tocar as notas. E confesso, fiquei um pouco nervosa por ele estar tão próximo de mim, então acabei suando e estragando o que Leon tentava me mostrar com tanta boa vontade.

-Bem, obrigada por hoje. Mesmo. -Sorrio o abraçando forte, na hora de ir embora. Mas antes que pudesse me separar dele, Leon me olha nos olhos e diz:

-Nada, até mais. -E me olha daquele jeito que me fazia suar, fazendo com que eu desvie o olhar para o chão e me afastasse devagar dele, até conseguir me separar por completo.

Eu não posso negar que sinto algo por ele, mas meu medo é maior do que meu amor.

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Pela autora:

A fic está acabando, infelizmente, mas espero que estejam gostando e até quinta que vem 🥰