10° capítulo: Um dia que marcou

Por Leon

O dia que Rhavi iria dançar tinha chegado e eu estava animado; e não, não é porquê a Layka vai, estou feliz pelos meus amigos também. Mas não posso negar, é mais uma oportunidade de tentar descobrir algo dela e de quebra, ficar mais tempo na companhia dela.

-Acordou animado hoje, não é? -  Meu irmão me lança um olhar significativo, com um leve tom de ironia, levantando as sobrancelhas, assim que chego na cozinha com um sorriso no rosto, logo de manhã.

-Mas eu nem falei nada... Agora não posso mais acordar feliz? -Brinco pegando algo para comer, sentindo seu olhar sobre mim.

-Você nunca acorda feliz. E quando acorda, sempre tem um motivo. Todos sabemos qual motivo é esse. -Ele dá uma leve risada, e se senta na cadeira, na mesa da cozinha. -Sempre tem a ver com a amiga da Racy. -Fala e me olha de canto, ainda com um sorriso nos lábios.

-Ta bom, eu me rendo. -Levanto as mãos em sinal de rendição, rindo mais de nervoso do que por outra coisa.

Queria saber controlar meu corpo às vezes. Odeio rir quando nervoso.

-Eu gosto dela, me deixa.- Ele ri mais uma vez e começo a comer.

[…]

  Combinamos de buscar Layka em sua casa ás 4 da tarde, pois a apresentação seria umas 5:30 e a cidade era meio longe daqui; uma hora de viagem até lá.

  Então chegamos na casa dela no horário combinado e ela entra no carro, se sentando ao meu lado. Rhavi fora com a namorada no carro dos pais dela, porquê não caberia no nosso.
 
  E assim que entra, não consigo evitar um sorriso ao ver como estava bonita. Estava com uma calça preta, camisa branca com manga colorida e uma boina vermelha. Adorava o jeito que ela se vestia, com roupas sempre muito alegres.

  É óbvio que ela repara o jeito que eu a olhava, e com isso, deu um sorriso sem graça e me cumprimentou apenas com um aceno de cabeça, cumprimentando meus pais com um "oi" tímido. Nessas horas eu queria mata-la. Ou melhor, beija-la, por ela ficar ainda mais fofa envergonhada.

   Não sabia o que falar e fiquei um tempo pensando em como abordar qualquer assunto, até que um me vem na cabeça:

-Então, está animada para a apresentação? -Era um assunto bem sem graça por conta de que estávamos indo assistir a uma apresentação, mas foi o único que consegui pensar. Por sorte, ela embalou na conversa, fazendo com que eu dê um suspiro de alívio.

-Claro! Eu sou apaixonada por qualquer tipo de dança,  e eu já vi eles dançando uma vez. Eles dançam... Tão bem! - Layka se vira para mim, gesticulando com as mãos freneticamente e os olhos cor de azeitona brilhando ainda mais quando o sol batia em seu rosto, acompanhado de um sorriso largo; o mais á vontade que ela já me deu em uma conversa. E eu, me peguei novamente a observando, tanto que quase esqueci de responde-la.

-É verdade, eles dançam bem demais. Mas isso não vale, você está "puxando saco" da sua amiga! -Brinco, piscando um olho e rindo.

-Ah, é? Então você também está "puxando saco" do seu irmão. -Ela responde depois de um tempo, como se não soubesse o que falar, mas ri ao responder. Não esperava que ela respondesse isso, então dei de ombros, mas ainda em tom brincalhão:

-Eu posso. Só eu posso. -Me responde apenas balançando a cabeça, me repreendendo.

-Isso não vale! A regra vale para todos. -Layka semicerrou os olhos, cruzando os braços e falando com um forte tom de ironia. Em resposta, dei uma risadinha e cheguei um pouco mais perto, percebendo logo de cara que ela ficara um pouco mais tensa por causa disso.

-Claro que vale! Por quê não? -Sussurrei sorrindo e acariciei sua mão, percebendo que infelizmente ela vira o rosto devagar, porém sem conseguir evitar um sorrisinho em seus lábios, para após mordiscar os mesmos, não sabendo o que responder.

-Porquê... É uma injustiça! -Exclama depois de um tempo pensativa, tentando ficar séria, mas acaba soltando a risada que tentara segurar.

Pelo menos ela ainda deixou eu continuar a carícia em sua mão.

-Ta bom, eu também estou "puxando saco" do Rhavi, admito. -Falo me rendendo e Layka sorri orgulhosa, conseguindo o que queria.

-Obrigada. -Diz ainda sorrindo, e eu ainda fazia carinho em sua mão. Ela só percebe quando vai me mostrar alguma planta na estrada e arregala os olhos, tirando minha mão discretamente da sua e me mostrando uma árvore grande, como se nada tivesse acontecido. Portanto, eu percebi que ela ficara nervosa e perguntei, sem conseguir me conter:

-Por quê tirou minha mão da sua? - Falei triste, a olhando nos olhos, a espera de uma resposta. Layka engoliu em seco, remexendo as mãos e automaticamente desvia o olhar do meu; claramente procurando saber o que falar, mas sem sucesso.

-Por quê... Faz perguntas difíceis? -Quando fala, parece que agora sou eu que não sei o que dizer. E como demorei a responder, ela continua:

-Então não faça essas perguntas. - De repente o clima dentro do carro não estava o mesmo do que há poucos minutos atrás; ficou com uma neblina, mesmo que lá fora o clima estivesse bom.

E foi culpa minha.

Engoli em seco, virando para a janela e observando aquela estrada tão bonita, ainda constrangido com a situação em que eu próprio me metera.

  Até que minha mente vaga de volta ao dia que a conheci:

Meu irmão me apresentou Racy -sua namorada- que estava com seu grupo e sua amiga e, desde desse dia, não consigo tirar aqueles olhos verdes da minha mente nem por um segundo.

-Prazer, Layka. - Ela se apresentou sorrindo e com um leve aceno de cabeça, sem nenhuma aproximação.

-Prazer, Leon, mas se quiser pode me chamar de "leão."- Fiz um trocadilho rindo baixo e todos ali riram, menos ela, que apenas deu um risinho, indicando que não havia graça nenhuma.

A partir daí, tentei puxar conversar com ela algumas vezes, porém me cortava, falando pouco. Mas insistindo mais algumas vezes, consegui pelo menos me aproximar dela, aos poucos.

[…]

  Chegamos na cidade e fomos direto para o teatro, aonde aconteceria a apresentação. E como é de praxe, fui para o camarim para dar um forte abraço em Rhavi.

-Valeu, Leon! -Ele me agradeceu, e mesmo que eu sempre fizesse isso, meu irmão sempre parecia surpreso, com aquele sorriso nos olhos e aquele brilho tão peculiar dele. Desejei o mesmo para sua namorada e voltei para a plateia, esperando começar.

-Sua relação com seu irmão é tão fofa. -Layka fala parecendo admirada, com os olhos brilhando e aquele sorriso grande, assim que me sento ao seu lado.

-Obrigado. -Sorrio ao ouvi-la falar, mas viro a cabeça, sem entender. -Por quê?

-Porquê é difícil ver irmãos tão juntos assim. Não é qualquer irmão que tem uma amizade assim com o outro não. -Ela responde, sua expressão ficando mais dura aos poucos; nem parece a mesma pessoa que sorria minutos antes.

-Você... Tem algum irmão e não se dá bem com ele? -Falei devagar, com medo de sua reação, já que não se abria tanto comigo em relação a sua vida.

-Sim, eu tenho um irmão por parte de mãe e quando nos encontramos não é muito legal. Mas não é nada demais, é só para você valorizar a relação de vocês, sabe? -Sorriu mínimo, relaxando mais na cadeira e eu concordo com a cabeça, me virando para a frente, na direção do palco.

-Entendi... -Falo ainda devagar e acaricio sua mão da mesma forma que fiz lá no carro, enquanto o show finalmente começa, com um rapaz aparecendo no meio do palco para explicar quais danças teriam ali: jazz,ballet, hip hop (a que eles iriam dançar), sapateado e mil outros tipos.

Mas o mais impressionante foi que, dessa vez ela me deixou acariciar sua mão, o que me deixou bem feliz.

Entretanto, ela não demora tanto tempo para perceber isso e logo tira minha mão discretamente, assim que a dança deles começa.

"Insomnia" começa a tocar nas caixas de som e eles aparecem sentados no chão, com a luz do palco aumentando aos poucos; ela estava com uma blusa rosa curta e uma calça rasgada preta, com um tênis branco completando a roupa inteira e ele com uma blusa e uma calça preta, menos o tênis, que também era branco.

Rhavi coloca uma das mãos no rosto, parecendo preocupado, enquanto Racy mexe no cabelo com a expressão séria, respirando fundo. Até que seu namorado faz um movimento e ela o copia, colocando a mão no joelho de forma meio largada. Ele se aproxima, tentando conversar, mas ela vira o rosto, sem querer falar nada. Então ele volta à mesma posição em que estava e ela tenta deitar nele; o ato é falhio pois a mesma cai com o corpo mole no chão.

  As luzes ficam rapidamente fracas, de modo que não dê para ver exatamente o que eles estavam fazendo. Dava para ver apenas as silhuetas dos dois.

Racy se levanta, vai para a frente do palco e Rhavi aparece ao seu lado. Agora as luzes estão normais e o casal continua a dançar fazendo os mesmos movimentos juntos, mas ainda assim pareciam cansados um com o outro.

  De frente um para o outro, Rhavi mais uma vez tenta tocá-la, mas sem sucesso. Até que, em certo momento, as luzes novamente ficam fracas e ela tenta abraça-lo, porém acaba abraçando a si mesma assim que Rhavi some de novo, aparecendo sentado lá atrás no palco.

  As luzes piscam várias vezes, mostrando meu irmão em várias posições  e Racy continua a dançar, parecendo inquieta. Então ela corre até ele, tentando alcançá-lo e como sempre, falha. Portanto, Rhavi fica tão próximo dela que podemos até pensar que iriam se beijar, após ele "cair" no chão. Ela estende a mão, mas não adianta nada pois ele "cai" de novo.

  Rhavi levanta e eles começam mais uma sequência de passos juntos, e apenas uma luz se concentra nele dançando sozinho; depois Racy volta a dançar, sozinha também. Fazem mais passos iguais e Rhavi está em frente a ela, de costas, com a música quase terminando e Racy procurando a sua mão, em vão. Então, por uma última vez, as luzes piscam e Rhavi aparece atrás dela, segurando em sua mão levemente e ficando nessa posição até que todas as luzes do palco sejam apagadas.

Ouço palmas e assovios,fazendo com que eu automaticamente faça o mesmo, orgulhoso dos dois. Viro o rosto para a Layka com um sorriso tão grande que parecia que ia rasgar minha boca.

-Gostou?

-Não, eu adorei! Simplesmente perfeitos.- Ela diz, eufórica, devolvendo o sorriso.

-Eu sabia que você ia gostar, não te falei?- Meu irmão aparece repentinamente, e ela ri com o susto que havia tomado.

-Parabéns!- Fala animada, se aproximando e abraçando os dois. Não resisto e parto para o abraço também.

Nunca vou esquecer esse dia. E toda vez que estiver com saudades da Layka, eu me agarrarei a essa memória.

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Pela autora:

Esse foi o primeiro capítulo de 2020! Espero que tenham gostado e até quinta que vem 🤩

P. S.: A dança deles foi inspirada no vídeo que está na mídia. ^^

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