The Confessions
Jimin levantou, assim que a maquiadora declarou que tinha terminado. Ele se trocou, arrumando o microfone auricular em volta do pescoço, pronto para o show daquela noite. Estava no corredor prestes a entrar no palco, quando sentiu um peso sobre o seu corpo o empurrando bruscamente para a parede lateral.
Suga prendeu os braços do menor atrás do corpo, aproximando seu rosto.
- Toda vez que a gente terminar, você vai arrumar a porra de um namorado novo? - Suga perguntou irritado, com as palavras saindo por entre os dentes.
Jimin sentia as pernas moles, que não é um bom sintoma pra quem vai passar as próximas três horas dançando, sua respiração estava alta, juntando com a de Suga em uníssono. Ele girou o corpo violentamente, deixando a boca de Suga encostar de leve na sua, eles não se afastaram.
Era como se um escudo invisível estivesse entre eles, preparado para desaparecer assim que o primeiro tomasse uma atitude, perdendo o orgulho que os impediam. O corpo dos dois vacilavam para frente e para trás imperceptivelmente, a respiração quente, soprando uma mistura dos dois.
Jimin queria colocar as mãos enroscadas no pescoço de Suga e beijá-lo.
Suga queria tocar no rosto do menor, o acariciando antes de se enroscarem num beijo carinhoso e cheio de promessas.
No entanto, nenhum dos dois assim o fez.
- Pode ficar tranquilo, não se termina o que não existe, então não aparecerão namorados novos para te perturbar. - Jimin falou rancoroso.
E Suga reagiu da melhor forma que sabia, se afastando de Jimin e socando a porta que separava o corredor do palco.
Jimin pulou com o barulho da porta, impressionado com o som de madeira estalando após o estrondo. Respirou fundo algumas vezes até normalizar a respiração, congelou um sorriso no rosto e atravessou a porta rachada, entrando no palco.
...
Jimin acordou com a pior dor de cabeça da sua vida e ele nem tinha bebido.
Ele sentou na cama sentindo o estômago se contorcer pela milésima vez. Correu até o banheiro vomitando o que tinha no estômago, encostou a testa suada no azulejo gelado. Ele cheirou seu moletom rosa assim que a tontura passou, achando que devia pôr para lavar em algum momento entre o urgente e o agora.
Jimin juntou toda roupa que estava jogada pelo quarto, levando até a lavanderia para lavar, a maioria das roupas pertenciam ao Jungkook. Como tinha mais roupa de Jungkook no quarto dele do que no próprio quarto do garoto? Ele não sabia. Mas animado em fazer algo que distraísse a sua mente e seu estômago em contrapartida, ele fez sem questionar.
Ele pegou uma coca na geladeira, dando pequenos goles fazendo seu estômago doer menos, com o líquido gelado aliviando a queimação, que agora era cada vez mais constante.
Em algum momento a sala ficou cheia, mas não era como se ele quisesse sair da sua bolha do nada, para prestar atenção. Na sua mente, aquilo tudo era apenas o som da água escorrendo da torneira até bater no alumínio da pia, a TV que emitia sons baixos o suficiente para que a compreensão das palavras se perdessem em algum lugar no caminho, vozes ao longe discutindo sobre coisas rotineiras do dia.
- Jimin. - Jin bateu no seu ombro delicadamente o fazendo voltar para uma realidade mais tangível.
- A roupa na secadora é sua? -Jimin perguntou sorrindo amorosamente.
Jimin confirmou olhando para a entrada da lavanderia sem saber muito bem o que fazer.
- Já tá pronta. Quer que eu tire e dobre pra você? - Jin perguntou, pronto para largar o café e fazer o que falou.
- Oh, não! Eu faço, mas obrigado por se oferecer. - Jimin sorriu pequeno se arrastando até a máquina.
Ele estava distraído, dobrando tudo de qualquer jeito, até lembrar que ele tinha colocado seu moletom rosa em uma secadora separada para não correr o risco de estragar. Era a única lembrança que ele tinha dos momentos com Suga que não o machucava a ponto de causar muitos estragos, ou ele tinha se tornado masoquista, não saberia diferenciar de qualquer forma.
Ele abriu a outra secadora sem acreditar no que via.
O moletom estava destruído, todo manchado de azul. Jimin se agachou novamente, pescando dentro da máquina um uniforme azul, da época da escola. Ele olhou confuso para o objeto assassino de blusas, até virar e ler KIM TAEHYUNG bordado com linha branca, no bolso do paletó.
- Você só pode tá de sacanagem. - Jimin sussurrou jogando o paletó velho no chão, pisando nele várias vezes.
Ele pegou a blusa estragada nas mãos entrando na sala com os olhos cheios de lágrimas, o motivo do seu sofrimento apertado entre os dedos.
-Taehyung. - Jimin gritou falhando a voz pela raiva embutida.
Suga se empertigou no sofá, quase correndo para socorrer o menor, mas disfarçou se arrastando de volta para o sofá quando notou o motivo da discussão.
- Por que você faria isso? Você nem usa essa merda de paletó. Por que você... - Jimin suspirou com seu bico tradicional pré choro.
V estava relaxado, encostado no batente da porta com um sorriso no rosto.
- Ah! Mas você sabe porque. - V falou num tom debochado, abriu a porta e foi embora.
Jimin enrugou a testa enquanto o esclarecimento tomava conta da sua mente aos poucos. Ele correu em direção a porta ainda transtornado.
- Você sabia o que aquela blusa significava pra mim, certo? -Jimin gritou no corredor, descendo as escadas com uma velocidade nada segura.
- É só uma blusa Jimin. - V falou calmo enquanto saia para o ar gélido da manhã.
- Não. Não é só uma blusa, você não entende. - Jimin puxou V pelos braços o forçando a parar no meio do jardim do prédio.
- Não. Jimin, você que não entende. - V se aproximou de Jimin carregado de um olhar ameaçador. - Eu só não fiz nada pior, porque eu tô adorando o monstrinho que você criou só pra mim. - V se arrepiou com o pensamento da noite anterior, precisando estalar o pescoço para se livrar das imagens impregnadas em sua mente. - Mas, da próxima vez que você se meter na minha vida, você vai perder muito mais do que só um pedaço de tecido velho.
V se aproximou de Jimin, beijando a testa do menor, para logo sair em direção ao rio Han, em frente ao prédio, na tentativa de repensar a sua existência, que era exatamente o que precisava fazer, depois de ter se deparado com o Jungkook, versão impossível de resistir.
Jimin entrou no prédio batendo os pés em indignação, ainda avaliando se a ideia da pinhata humana com sua cabeça não era melhor do que a blusa arruinada daquele jeito. Entrou bufando na sala, jogando o resto de tecido estragado no lixo e indo para o quarto a passos largos e revoltados.
Suga analisou a blusa no lixo e suspirou desanimado saindo do apartamento para fumar um cigarro.
Era estranho fumar em algum lugar que não fosse um terraço, ele pensou enquanto analisava a grama molhada por causa do orvalho da manhã.
- Você tá vendo o estrago que você fez? - Jungkook apareceu gritando do nada, olhando para Suga transtornado.
Suga não se incomodou em olhar para o mais novo, mas agora o cigarro deixava um gosto amargo na língua.
- Agora, por sua causa, Jimin se trancou de novo no quarto. -Jungkook andava pra lá e pra cá, parando vez o outro para encarar Suga.
Não demorou para se acalmar e enfiar as mãos nos bolsos, como forma de contenção para o próprio corpo.
- Olha, só fica longe do Jimin, ok? Ele não precisa mais de você. - Jungkook parou entre a porta e o corredor, pensando se deveria ou não irritar o mais velho.
- Sem contar que ele tem a mim agora, ele não gosta mais você. - Jungkook sorriu torto. - Você sabe, na cama.
Suga jogou os cigarro que tinha entre seus dedos, rindo de um jeito amargo e debochado.
- Estranho, porque quando Jimin está na minha cama, ele me chama de Daddy entre gemidos estridentes. - Ele girou o corpo ficando ombro contra ombro. - Do que ele te chama irmão? - Suga reforçou a última palavra, dilatando a dicção e subiu as escadas sem sentir nada, além de um completo idiota por não ter paciência de ouvir merda àquela hora da manhã.
...
A era Wings finalmente acabou, não que Suga não gostasse, ele só lembrava demais de Jimin com ela.
A era Love Yourself se deu início, trazendo o sentido das palavras na prática, para todos os garotos.
Suga se acalmou um pouco, começando a aceitar que Jimin não era pra ele. Sim! Tinha momentos terríveis entre os bons, mas ainda assim.
O grupo chegou a um estágio incrível de reconhecimento, principalmente do outro lado do oceano. O Bangtan ficou tão conhecido, que era quase impossível ter tempo para si mesmo, o que era anestésico para todos.
Jimin teve idas e vindas com seu distúrbio alimentar. Ele passou a usar apenas blusas enormes, abandonando de vez as camisetas de tecido leve, assim ninguém sabia exatamente quão magro ou inchado ele estava no momento. HIT fazia seu melhor para esconder as variações constantes de peso do público. O psicanalista era inútil naquele momento, e os meninos só olhavam tudo, impotentes. Não é que eles não podiam fazer nada, mas para começar a fazer algo, Jimin precisava querer, isso não era o tipo de coisa que se forçava. RM estava pronto para ser útil, assim que Jimin o pedisse para tal de qualquer forma.
Jimin desmaiou no banheiro do avião em seu último episódio, a falta de nutrientes e vitaminas o deixava fraco. Ele foi levado ao hospital e como, dessa vez com todos aqueles fotógrafos esperando o desembarque do grupo, foi impossível esconder o fato da mídia, fazendo HIT inventar qualquer desculpa sobre um ombro machucado ou algo assim.
Aquele dia Suga passou em claro, ao lado do desacordado Jimin, numa cama de hospital. Chorando enquanto segurava aquelas pequenas mãos adoráveis.
Foi só quando a enfermeira veio avisar que ele estava prestes a acordar que Suga foi embora, antes que o menor o visse. Ele lembra de parar no meio do corredor e não querer partir, o que era irônico porque ele tinha pavor de hospital, do cheiro, da cor, da iluminação clara demais e das pessoas resmungando pelos cantos, mas ele moraria lá se fosse preciso, só para ter certeza que Jimin ficaria bem.
Foi tão desesperador que no próximo show que eles fizeram com Jimin sentado numa cadeira impossibilitada de dançar, Suga fez mais de uma merda por não conseguir se concentrar, o que foi uma pena, pois Jimin não tirou os olhos dele a noite toda e ele queria ter dançado melhor para o pequeno.
RM, dando uma de santo casamenteiro, Jimin tinha certeza que por influência de Jin, criou uma música falando sobre o amor de Jimin para Suga. Jimin estava preparado para se recusar a fazer um solo com aquele tema, mas RM sabia usar o maldito cérebro quando precisava, a música era exatamente o estilo de som que ele queria cantar, suave e singelo, algo que mostrava quem ele realmente era como cantor, sem que ele precisasse gritar para tal. Jimin amou tanto a música, que a colocava para ouvir o tempo todo. Com a voz de RM, que era menos doloroso, é claro. O fato de passar noites em claro ouvindo uma música que falava de alguém que abalou sua vida e o tirou do escuro, enquanto Jimin pedia para ser permitido amá-lo, não era a melhor forma de superar uma pessoa, ainda assim por motivos masoquistas ou só inexplicáveis mesmo, Jimin não conseguia parar de ouvir.
A música que Suga escreveu, no entanto, fazia Jimin querer ir lá arrancar todos os fios daquele cabelo azul irritante.
Primeiro que a música chamava Her (Ela) e segundo que ela dizia exatamente isso:
"Talvez eu seja a sua verdade e a sua mentira
Ou, talvez, o seu amor e o seu ódio
Talvez eu seja o seu amigo e inimigo
Seu céu e inferno, e, algumas vezes, até o seu orgulho e humilhação
Eu nunca poderei tirar essa máscara
Pois o eu por trás dessa máscara, não é bem quem você conhece
Hoje também passo maquiagem pra acordar
E visto uma fantasia pra me mascarar
A fim de me tornar o 'eu' que você ama
A fim de me tornar o cara que você ama
Eu parei com aquilo que eu gosto, também
Só por você
As roupas que eu odeio e a maquiagem exagerada
Seu sorriso e sua felicidade são a medida da minha felicidade
Esse eu, Esse eu merece receber o seu amor?
Eu sempre tento me tornar o melhor pra você
Espero que você não conheça esse outro meu lado"
Em parte Jimin achava interessante a honestidade com as palavras que ele dedicou para as suas fãs, mas por outro ele agradecia aos céus por ser uma música da Rap line, porque ele atacaria como um selvagem, qualquer um que o obrigasse a cantar o motivo do seu término com Suga.
Suga estava mais feliz, pelo menos feliz por mais tempo. Jimin voltou a conversar com ele, então vez ou outra eles tinham momentos bons e pacíficos juntos. Os momentos parecidos com os de um casal era que o matava.
A agenda era tão lotada, que honestamente, foi mais fácil do que ambos imaginavam superar tudo aquilo pelo que passaram.
A carreira de Suga crescia exponencialmente, ele até ganhou prêmio separado do grupo pela produção de uma música.
Apesar dele achar que deveria agradecer ao Jimin por isso, porque a letra era basicamente isso:
"Ainda não consegui esquecer
A doçura ainda permanece
Não sei se é um sonho ou uma estrela
Estou vagando
Eu acho que estou tonta
Você, que já está dormindo, por favor, não diga nada
Estou acostumada com o labirinto entre nós
Eu não aguento isso
Tem uma sensação tão doce
Te deixar ir assim como as lágrimas caem dos meus olhos
Estou bêbada por você
Estou bêbada esta noite
Na memória cruel em que você me deixou
Ainda estou vagando, te procurando
Eu apenas vou esquecer
Eu sei que a conversa no telefone seria mais ou menos assim
Quero conhecer seu coração, garoto
Apenas me esqueça
Querido, por favor, não vá
Estou ocupado, bae, não
Pare de pegar o telefone
Nossa conversa acabou
Eu disse a você que sou um cara de coração frio
Quem não consegue fazer isso se não estiver bêbado?
Eu sou desajeitado em términos
Atualmente, eu gostaria de me acostumar com isso.
Eu sei, eu tenho 24 anos
Preciso fazer mais dinheiro que os meus amigos
Mas, mais do que eu
Para você, que é delicada e vulnerável
Por favor, tente entender que eu não tinha escolha
A não ser fingir ser um adulto"
Sim! Foi ironicamente nas custas do seu término com Jimin que ele ficou ainda mais famoso, mas ele já tinha ouvido dizer que era a melhor fase para escrever, então fazia sentido.
Todas as noites que eles passavam em hotéis desconhecidos. Suga passava metade da noite escrevendo e metade no corredor em frente ao quarto de Jimin, ameaçando bater na porta, mas ele nunca bateu.
O restante da noite, se baseava em beber até sua mente adormecer o suficiente para que ele conseguisse não pensar no menor e só assim desmaiar com a exaustão.
Sua mixtape foi lançada, antes do que ele imaginava, ele parecia uma maquina insana de escrever. E por ser parte "Da banda mais famosa do mundo" , ele fez rios de dinheiro com a carreira de Agust D, nada se compara com a insanidade que era a fama do BTS, mas dessa vez era tudo graças a ele. Sozinho, seu sucesso, seu sonho desde criança, seu nome nos outdoors da Times Square, seu nome no ranking da Billboard e nas revistas de renome espalhadas pelo mundo. Agust D. Suga. Não importava o nome, Min Yoongi era o cara mais comentado, não só na Coreia, mas no mundo inteiro.
Ele ia pela primeira vez na vida, fazer um show só com as suas músicas, na noite seguinte ao show em Tóquio em que eles estavam prestes a fazer.
Era para ele estar feliz, certo?! Ou ao menos ansioso?
Tudo que sua mente processava era o gosto amargo que a palavra Tóquio deixava na sua boca. E a felicidade de Jimin, agarrado em Jungkook, falando de restaurantes desconhecidos que conheceram da última vez em que tiveram ali, digamos que não ajudou muito.
Durante o show, Suga ouviu várias fãs ao redor do palco gritar Jikook. Os dois mudavam a cara do que era considerado Fanservice a cada dia, mais parecendo a porra de um casal.
Suga bufou pouco antes de esconder a cara desgostosa atrás de um sorriso encantador.
Assim que as "cortinas" se fecharam, no entanto, ele se viu correndo até o banheiro na lateral do Green Room.
Ele vomitou tudo que tinha no estômago, dando descarga logo em seguida. Quando levantou o rosto molhado e borrado de maquiagem, deu de cara com seu rosto no espelho, o encarando de volta.
Ele ficou se olhando por um tempo, o cabelo desbotado entre o azul e o prata, olhos manchados de vermelho.
Sua boca mostrou um sorriso irônico, mas ele não sorria, seu reflexo entortou a cabeça o encarando curioso.
Suga se arrepiou com a visão do seu alter ego debochando da sua própria insanidade. Em seu ouvido uma voz entoou" Você é um merda!" , Ele sabia que era sua versão do espelho falando, porque a boca se mexia junto, mas o som vinha em lufadas geladas de ar no seu ouvido, em forma de um espírito sussurrante.
Ele gritou para abafar a voz repetitiva, enquanto socava o espelho até sua própria imagem se dividir em milhões de pedaços.
Suga foi para trás, batendo na parede e caiu sentado no chão, chorando agoniado.
RM ouviu os gritos, pois foi o primeiro a sair do banho no Green Room e entrou correndo no banheiro sem saber o que esperar.
Ver Suga sentado no chão com a mão cheia de vidro fincado na pele e o sangue escorrendo de forma assustadora, devia tê-lo assustado, mas ele sabia que esse dia chegaria. Ele desamarrou o cadarço do tênis às pressas, o amarrando no punho de Suga como um torniquete, na esperança de diminuir a corrente de sangue que se espalhava pelo chão ininterruptamente.
RM o levantou tirando seu casaco para jogar na lateral do ombro de Suga, escondendo a mão que agora pingava sangue vez ou outra.
Os meninos olharam assustado de RM para um Suga em transe, sem saber o que estava acontecendo, mas alarmados, JHope arranjou uma máscara preta, enquanto V levantava o gorro do casaco, cobrindo boa parte do rosto de Suga. Eles cercaram os dois em um círculo fechado antes de sair para a loucura de fotógrafos e câmeras até a SUV, que esperava com a porta aberta no meio fio da calçada.
- Para o hospital. - Foi o que RM disse ao motorista que não questionou a ação.
O manager no entanto, ligava para o hospital para organizar a entrada pelos fundos e a discrição do atendimento de Suga.
Os meninos não perguntaram o que houve, na verdade todos estavam com medo de saber, ninguém viu o machucado coberto de Suga, então foi automático pensar que era só mais uma das crises mentais do garoto.
RM ouviu Jungkook sussurrar "Deve ser o lance de fobia de novo" para um Jimin distraído que concordou com a cabeça, torcendo para ser o suficiente para o assunto terminar.
Suga entrou com RM no hospital e o restante do grupo foi jantar, afinal isso também era tema de notícia nos jornais pela manhã e eles precisavam manter as aparências.
O médico tirava os cacos de vidro de forma calma e concentrada.
Suga na verdade sentiu alívio nas pontadas de dor do alicate afiado. Era quase melhor do que o efeito que o whisky o proporcionou durante os últimos anos.
RM entrou no quarto, parando ao lado da porta pensativo.
- Você sabe que não dá pra continuar assim certo? - RM perguntou olhando para Suga sem conseguir não se arrepiar com o trabalho que o Dr. fazia nas mãos do garoto.
- O que quer dizer? - Suga perguntou irritado.
- Você precisa escolher Yoongi. Só sobreviver ao resultado da escolha que Jimin fez por vocês dois, não tá funcionando.
Suga olhou para RM com lágrimas nos olhos só por ouvir o nome do menor.
- Você o ama e seu coração tá lutando com unhas e dentes contra o orgulho impregnado como uma doença, crescendo e se alimentado há 20 anos do seu ego e ganância. - RM tremia a voz no final, deixando Suga impressionado com o quanto o garoto se importava.
- Você tem que parar de pregar essas poesias baratas Namjoon, não tá fazendo bem pra você. - Suga respondeu com a voz lenta pela pressão baixa que a falta de sangue o proporcionou.
RM concordou abaixando a cabeça para limpar os olhos com lágrimas.
- Então eu só vou te perguntar uma coisa, ao invés de pregar o amor acima de tudo. - RM olhou para Suga desolado com a situação. - Valeu a pena? - ele perguntou.
Suga virou o rosto para RM com seu sorriso debochado.
- Entra em sua plataforma de escolha e digita meu nome, o resultado irá te responder por si só.
RM sorriu desanimado.
- Se você realmente pensa assim, você é mais burro do que eu pensava. - RM fala, repetindo ironicamente a frase que Suga gostava de repetir de tempos em tempos.
Suga sorriu amargo antes de abaixar a cabeça ouvindo a porta do quarto bater.
O médico terminou de tirar os cacos de espelho e começou a costurar os cortes maiores, antes de enfaixar.
- Quando eu estava na faculdade. - O médico começou do nada. - Eu conheci a garota dos meus sonhos. Ela era tão linda, eu lembro de pensar "Tecnicamente nós pertencemos a mesma espécie, certo?". - O médico riu com um olhar distraído no rosto. - Nós estávamos tão apaixonados, mal notávamos a vida que coexistia ao nosso redor. - o médico bateu de leve na mão enfaixada de Suga, passando a recolher o material usado.
- Quando o momento entre escolher entre o amor da minha ou a minha profissão, eu escolhi errado. - O Dr. pegou o prontuário de Suga, escrevendo algo apressado, ele soltou de repente a caneta na prancheta, olhando direto para Suga
- Hoje, eu daria tudo para trabalhar numa clínica qualquer, com o horário das 9h às 18h, só para poder chegar em casa e comer qualquer besteira congelada enquanto assisto TV com ela ao meu lado.
Ele pendurou a prancheta na cama onde Suga estava sentado, bateu na perna do mais novo com delicadeza.
- Não se engane, eu amo salvar vidas, mas sou uma alma solitária em meio a outras mil e sabe o que é pior? - O médico suspirou sorrindo triste para Suga. - Ninguém se importa.
- Qual a mensagem aqui Dr.? Que eu vou acabar um solteirão infeliz ? Porque eu meio que já sou isso. - Suga devolveu o sorriso triste.
- Se você tem que decidir entre uma casca vazia de fama passageira e o amor da sua vida? Sinceramente garoto, há realmente a necessidade de escolha?
O médico saiu do quarto de hospital, deixando Suga olhando por um bom tempo para a porta fechada.
Ele procurou no bolso do casaco o rolo amassado que sempre carrega consigo. Tentou desamassar um pouco as folhas do caderno amarelado, velho e com manchas aleatórias de café.
Suga procurou uma caneca pelo local, achando uma com um logo do hospital.
Ele bateu a ponta da caneta na folha algumas vezes, vendo os pontos de tinta que criava com sua mão.
Suspirou fundo e escreveu, com letras rápidas e garranchadas o título, antes da música se quer ter uma letra.
Confissões.
Suga ia fazer seu primeiro show solo naquela noite e o grupo ia fazer um show em outra cidade longe dali. Então Suga não conseguiria chegar a tempo para se apresentar com os meninos.
Ele entrou no palco e deu seu melhor, cantando todas as letras que construiu ao longo desses anos, fez até um Rap baseado na melodia de Tomorrow do BTS, que as pessoas pareceram amar. Ele reparou o quanto ele escrevia sobre dor e tristezas pela primeira vez.
Ele se apresentava em um estádio com espaço para 60 mil pessoas e todos as cadeiras estavam preenchidas. Ele foi até o meio do palco com o microfone nas mãos. Tinham câmeras gravando o show ao vivo para mais de 50 países, então ele tinha consciência de que era muito mais do que o mar Negro à sua frente que o assistia. O mundo inteiro estava olhando pra ele agora.
Ele sorriu torto.
- Oi. - ele falou tímido, fazendo todos rirem.
- Hoje eu tinha algo planejado com meses de antecedência para mostrar para vocês.
Suas fãs gritaram agradecimentos chorosos e risos baixos, até voltar o silêncio mais uma vez.
- O problema é que nada na vida segue conforme planejamos, então eu tenho algo improvisado essa noite.
Suga olhou para o lado vendo o piano velho, que ele conseguiu pegar as pressas do canto abandonado da casa de seus pais, subindo pelo elevador central por onde cantores costumavam aparecer.
Todas as luzes se apagaram enquanto ele se encaminhava para o piano. Um enorme holofote direcionado só pra ele se acendeu.
- Eu não costumo tocar piano com frequência, apesar de amar, eu acho que deveria fazer isso mais vezes. - Suga sorriu tímido colocando o microfone encaixado no suporte acima do teclado.
- E talvez vocês estranhem a música, porque na verdade, eu fiz a letra em formato de carta. - Ele sorriu com seu sorriso gengival para plateia sem conseguir enxergá-la. - mas espero que gostem mesmo assim. Ela se chama. Confissões.
Suga suspirou fundo, olhando as mesmas teclas da sua infância, agora amareladas pelo tempo. Era quase poético tudo aquilo terminar do mesmo jeito que começou. Apenas uma criança tentando expor seu sentimento em forma de melodia nas teclas acromáticas de um piano velho.
Ele estalou os dedos da mão, sentindo os pontos da mão repuxar, o lembrando do porque estava ali.
Suga tossiu agudo, o som reverberou no microfone, ele começou a cantar com seus dedos o acompanhando em uma melodia suave.
" Eu escrevi uma longa carta de amor a você, porque achei muito difícil escrever uma curta.
Hoje eu tenho uma confissão a fazer!
Eu lembro de não muito tempo atrás, pensar que eu não fazia ideia de quando esse sentimento diferente que eu tinha por você começou.
Ontem eu lembrei. Foi no segundo exato em que eu vi seu rosto pela primeira vez. Seu sorriso tímido enquanto sua mão escondia a boca, na tentativa de disfarçar a vergonha.
Lembro de te ver crescer. De quando perdeu o rosto de bolinho de arroz ( desculpa por isso) e adquiriu essa mandíbula bem delineada e ressaltada. Infelizmente, lembro também de quando você evoluiu amorosamente, me fazendo quase querer sair do grupo, mas eu era fraco demais para resistir ao seu magnetismo.
Como pode um anjo quebrar meu coração?
Confesso que odiava dançar, mas você mudou isso em mim também. Eu lembro de passar horas na sala de dança fingindo ensaiar, só para poder ver você dançar. Mais tarde eu fechava os olhos, tentando memorizar o som da sua voz contando, Five, Six, Seven, Eight. Eu adoro te ver dançar, aliás, esse é o motivo dessa música ser uma balada, também é o motivo da maioria dos meus problemas com você, precisarem ser resolvidos com minhas próprias mãos.
O amor se abrandou com o tempo e eu não sei explicar porque ele voltou a tona, talvez eu precise plagiar suas palavras e declarar um ato de Serendipity.
E se isso ainda não pareceu uma confissão.
Hoje eu tenho uma confissão a fazer!
Eu amo um garoto. Sim, você ouviu bem um garoto.
Shit! Será que eu sou convencido demais se disser o quanto ele é lindo?
Eu costumava achar que me escondia porque amava vocês e não queria perder sua fé em mim e no meu som, mas hoje eu vejo que eu era só mais um covarde na fila dos iludidos"...
Suga apertou uma única tecla algumas vezes consecutivas e mudou a melodia com notas agitadas. Como Vivaldi, que mudava o andamento de suas partituras, na tentativa de narrar os acontecimentos de uma guerra.
"...Hoje eu tiro minha máscara na sua frente, pela primeira vez na vida, eu sou o que você vê. Tá bom assim pra você amor? A melodia está ok? O ritmo da minha voz te agrada? O mundo é número o suficiente para me assistir dizer?
Hoje eu tenho uma confissão a fazer!
Eu te amo, Park Jimin. Espero que não seja tarde demais. Com amor, Min Suga".
A última tecla da melodia falhou, Suga sorriu por aquilo soar ainda mais perfeito, pois combinava com seu coração, que também ameaçava falhar.
Ele levantou do banco pichado à lápis com seu nome em tamanhos diferentes, feito por mãos infantis. Inclinou o corpo 90° em agradecimento e respeito.
Ele esperava aplausos receosos, talvez algumas vaias de uma platéia desgostosa ou até mesmo o silêncio absoluto.
O que ele não esperava, era ouvir todos aqueles gritos feitos por seus fãs. Os verdadeiros.
Suga soltou uma risada no microfone , sem querer por causa da empolgação,, enquanto era ovacionado.
- Espero que cheguem seguros em casa hoje - Ele riu mais um pouco. - Hoje eu mostro quem eu realmente sou para todos vocês pela primeira vez. Espero que isso fique impresso em suas mentes de uma maneira positiva. - Suga baixou a cabeça, ainda um pouco tímido com sua alma nua e exposta diante do mundo, lágrimas corriam em intervalos por seu rosto. - Eu amo vocês e espero, que isso que viram hoje, os animem a se olharem no espelho e analisar que o que vocês recebem em retorno é exatamente o reflexo do que você são por dentro. - Suga limpou um pouco as lágrimas, ainda sorrindo largo. - Esse receptáculo passageiro que te encara de volta é apenas uma casca vazia se não tiver, a essência do que te representa na Terra, guardado dentro. - Suga suspirou um pouco.
- Eu adoraria conversar mais sobre isso, mas eu realmente tenho que correr. - Ele riu da piada literal, ouvindo todos rirem junto com ele.
- Love Yourself. Love myself. Peace.
Suga jogou o microfone no chão, pela primeira vez, sem muito estilo e saiu correndo do palco, atravessando o estádio, enquanto as pessoas o aplaudiam e os fogos estouravam no céu estrelado, todos pareciam ter amado. E pela primeira vez na sua vida, isso não era o que mais importava no momento.
Suga correu, já quase sem ar, pelos corredores imensos do lugar, até chegar na SUV com porta aberta no meio fio da calçada, como ele havia pedido para estar, antes do show começar.
Ele entrou no carro rindo alto, gargalhando feito um lunático até o som morrer pela necessidade de respirar. Ele passou o endereço mais uma vez para o motorista, só pra confirmar e se encostou no carro olhando distraído pela janela.
Suga tirou a bandana dos cabelos tingidos de branco, para poder passar seus dedos entre os fios livremente. Seu rosto doía com o sorriso gravado, por tempo demais, no rosto.
Ele sabia que tinha feito tudo por Jimin, mas ainda assim, a porcentagem do que tinha feito em seu nome pareceu relaxá-lo diante dos seus olhos. Ele já tinha ouvido a expressão " Isso tirou um peso das minhas costas", mas ele nunca pensou que isso aconteceria literalmente. Ele se sentia leve e feliz pela primeira vez em seu tempo de existência. Seus problemas mentais não passavam de memória, seu impulso em procurar um bebida não existia mais e tudo que ele via o olhando de volta pelo reflexo do vidro filmado do carro, era apenas sua verdadeira face. A representação física da sua alma. Ele e somente ele.
...
Jimin odiou o show sem o Suga, ele reparou pela primeira vez que se direcionava na dança através da visão periférica que tinha do mais velho, o seguindo sem saber. Ele lembra que quando Suga precisou operar a vesícula teve o mesmo problema, mas por incrível que pareça não tinha associado a presença física de Suga, achava que era só saudade e preocupação naquele tempo.
Jimin terminou de tomar banho e estava sentado sonolento, enquanto a maquiadora escovava seus cabelos, agora pretos.
Ele viu os meninos reunidos num canto, com um celular na mão e sabia que estavam vendo o primeiro show solo de Agust D. Jimin fez uma careta com o pensamento.
Ele estranhou RM ter se afastado do grupo, chorando e rindo ao mesmo tempo, enquanto falava com alguém no celular.
Jin tinha seu sorriso orgulhoso no rosto.
- Grande bosta. - Jimin resmungou.
Ele notou V o olhando através do espelho. V levantou em sua direção, com o sorriso largo.
- Jimin, eu acho que você deveria ver isso. - V inclinou o celular na direção de Jimin.
- Não. Obrigado. - Jimin cruzou os braços vendo V bufar irritado.
- Jimin, eu realmente acho que você deveria ver isso.
Jimin olhou estranho para V, pensando se era mais alguma parcela da sua vingança, mas pegou o celular mesmo assim, com curiosidade transbordando.
Ele pôs o fone de ouvido, vendo Suga falar, tímido no microfone. Ele riu orgulhoso do mais velho, acima de tudo ele o amava, então como não se orgulhar daquele nível de conquista pessoal?
...
Eles estavam no corredor da casa de show. Jimin brincava com Jungkook, mais feliz que nunca em toda sua vida.
RM se aproximou rindo também. - Vem! Vamos sair por outro lado hoje. - RM falou, os arrastando.
- Por que? - Jimin perguntou, assustado enquanto era puxado.
- Achei que você adorasse enganar os paparazzis. - JHope falou divertido.
Jimin sorriu, enquanto ele e os meninos atravessavam o labirinto em baixo do palco. Ele costumava achar que parecia uma pequena cidade ali em baixo.
Eles saíram rindo pela pegadinha feita com os repórteres, feito crianças arteiras. Jimin colocou as mãos nos joelhos, tentando recuperar o fôlego.
- Oi, estranho. - ele ouviu aquela voz grave dizer atrás dele.
Suga estava encostado com um pé apoiado na parede, ao lado da porta em que eles acabaram de sair.
Ele soltou o cigarro das mãos, sorrindo inseguro para Jimin. Seu sorriso tremia o entregando.
Jimin correu pulando nos colos do mais velho. Suga agradeceu seus reflexos por conseguir segurá-lo com firmeza.
Suga sorriu ao sentir o cheiro de morango de Jimin fazendo seu corpo, traidor como sempre, se arrepiar.
Jimin se afastou com o rosto todo molhado com lágrimas.
- Eu juro por Deus, Park Jimin. se você duvidar mais uma vez do meu amor por você, eu não vou ter mais nenhuma carta na manga pra te provar do contrário.
Jimin riu inclinando a cabeça pra trás. Ele ficou em pé e apertou o rosto de Suga, grudando os lábios nos dele num beijo calmo.
- Senti falta do seu cheiro. - Suga sussurrou nos cabelos de Jimin.
Jimin deu seu Eye Smile apaixonado.
- Adorei o final estilo Dorama, mas será que podem se apressar? Tô morrendo de fome. - V falou encostado na lateral do carro que nos aguardava, abraçado com Jungkook.
Suga bufou mal humorado enquanto Jimin morria de rir com a piada.
- E dessa vez serão frutos do mar. Quero nem saber. - Jin falou entrando no carro.
- Ah não! Carne. - RM gritou atrás.
- Frutos do mar.
- Carne.
- A gente podia variar e comer frango. - JHope falou na maior humildade.
Um silêncio mortal se apoderou do carro.
- Tem certeza que quer entrar ali? - Suga perguntou abraçando Jimin pelos ombros.
- Definitivamente. - Jimin agarrou o mais velho pela cintura, enquanto iam em direção ao carro.
Eles estavam sentados no restaurante, conversando em voz alta, numa completa bagunça feliz. Jimin e Suga estavam se encarando, trancados em sua própria bolha. Jimin mordeu com vontade uma coxa de frango sorrindo com os lábios sujos, brilhando.
Suga sorriu carinhoso, passando indicador nos lábios do menor e os chupando em seguida.
Um barulho de obturador chegou ao ouvido dos meninos, alguns flashes das máquinas fotográficas gravando o momento.
- Então como vocês se sentem, sendo o casal gay mais famoso do mundo? - JHope perguntou sorridente.
- Gente, não faz nem 24 horas. - Jungkook falou revirando os olhos.
Os meninos riram relaxados, assistindo Suga e Jimin distraídos com sua conversa silenciosa.
- Eu acho que vou assumir também. Lutar pela causa. - V falou levantando a sobrancelha desafiador, com um sorriso no rosto.
Jungkook se remexeu na cadeira incomodado, fazendo todos rirem.
- Não é porque você é um pervertido e sai com todo mundo, que você tem causa para lutar Taehyung. - JIN falou enquanto colocava mais um pedaço de frango, disfarçadamente, no prato de Jimin.
- Na minha opinião a causa é de todo mundo, claro que não deveria nem existir uma batalha árdua para provar que você pode amar quem você quiser e que isso não é errado. - RM falou entristecido. - O mundo deveria aceitar todos os formatos que tem o amor, a diferença de cores e sabores deveria ser exposta em forma de arte.
Jin baixou a cabeça perdendo um pouco a fome enquanto via os meninos jogarem batatas fritas um nos outros. O que eles eram afinal. Um bando de animais selvagens?
...
Na sala de recepção do hospital central de Seul. O médico olhava fascinado para o motivo da comoção na TV e no mundo.
- O que aconteceu? - ele perguntou para o enfermeiro ao lado, com medo de ser algum acidente, eles não teriam sala de cirurgia o suficiente, com a do terceiro andar agora em reforma.
- Aparentemente, um cantor famoso no mundo inteiro, se declarou Gay em rede mundial em pleno show de Rap, a jornalista falou que, em um público onde a maioria presa pela masculinidade, na aparência e no jeito de falar ser quase uma religião, é impressionante o fato de todos terem o aplaudido de pé em apoio.
O médico sorriu ao ver o rosto do garoto que ele tinha tirado cacos de vidro da mão aparecer na tela, ao lado de sua idade, cidade natal e outras informações pessoais.
Ele colocou a mão no jaleco, pegando um papel velho e amassado, com um número de telefone velho escrito a lápis.
E se ele pudesse fazer o mesmo. E se não fosse tarde demais?
- Dr., Emergência na sala 3, apendicectomia, mulher, caucasiana, 33 anos.
O médico suspirou olhando mais uma vez para tela da TV. Jogou o papel amassado no lixo ao lado e saiu em disparada pelo corredor. Ele esperava que pelo menos a vida a quem ele estava ajudando a ter um tempo extra na Terra, pudesse aproveitar seu tempo amando, se divertindo e vivendo tudo que ele não pôde viver.
Talvez, para ele já fosse tarde demais.
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