Capítulo 05 - Meu peito arde e sangra
Leitores e leitoras, o wattpad classificou essa história como de conteúdo adulto, e não há nada no mundo que o faça mudar isso... =( Então, os capítulos mais quentes, pela minha experiência, só aparecem para os meus seguidores. Eu não sei o porquê disso, e nem como mudar... mas enfim.. Só avisando a vocês, caso algum capítulo não apareça.
Outra coisa, qual melhor dia para postar o capítulo da semana? Quero que vocês me ajudem a decidir. Deixem aí nos comentários, tá??
Obrigada a todos que estão lendo, votando e comentando! Isso é super importante para mim!
Xêros!! =**
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Resolvo todas as pendências que preciso, incluindo a burocracia do trabalho e um diálogo sincero com os meus pais. Converso com a minha família, que claro, é contra a minha decisão. Na adolescência, quando eu queria o Miguel, ninguém me apoiou, mas depois que casamos e viram que não tinha mais jeito, acabaram se acostumando. E agora que informo que vou me separar, quase ninguém vê com bons olhos, com exceção da minha irmã mais nova, a Helena.
Minha mãe dá escândalo, o que é esperado. Meu pai me pede para ponderar mais, até me apoia nesse "tempo" fora, mas por ele, só entro mesmo com o divórcio quando voltar de vez para casa. Meus irmãos preferem não opinar, mas vejo que isso traz uma preocupação a mais para o Henrique. E a Helena, que além de irmã, é minha amiga, fica completamente do meu lado.
Lamento a reação da minha mãe, e entendo o cuidado do meu pai. Mas é a minha vida, e preciso vivê-la como acho que será o melhor para mim. Se acertar, ótimo, e se errar, vou arcar com os meus erros, como acho que estou fazendo. Porque na minha concepção, o casamento com o Miguel foi um erro, mas, pelo menos, foi um erro que me deu o maior amor da minha vida: a minha filha.
A Rita, a babá da Flávia, aceita viajar para o Sul comigo, o que vai facilitar muito nos meus dias de plantão. Preciso de ajuda com a Flávia, mas dessa vez, não vou deixar que ninguém me substitua. A Rita me ajudará, mas vou criar a minha filha, como consegui fazer durante as férias.
Depois de deixar o carro um dia inteiro na revisão, coloco na mala tudo que preciso, me armo com os meus CDs prediletos e pego a estrada sozinha. Meu carro é robusto, masculino e seguro, o que me deixa tranquila em viajar para tão longe sem companhia. Deixo a Flávia passar uns dias com o pai, sob supervisão da Rita, e as duas me encontrarão em uma ou duas semanas.
O caminho é longo. Levo quatro dias para chegar. Dirijo o dia inteiro, parando apenas para comer e usar o banheiro. Durmo em hotéis e de manhã cedo piso fundo novamente.
Dirigir me faz bem. Ajuda a pensar. E pensar é tudo que posso fazer diante do que aconteceu. Um aborto. Um casamento fracassado. Meu marido com outra. A Mônica e seus falsos sorrisos, fingimentos e falsidades. A traição do Miguel. A dor de não ter sido suficiente. A busca por falhas e erros da minha parte. O arrependimento por ter lutado tanto pelo Miguel e, por incrível que pareça, a culpa.
A minha razão diz que eu não tive culpa. Afirma que não foi um erro meu que provocou tudo isso. Mas meu peito arde e sangra, e eu me sinto a mulher mais inútil da face da terra.
No meio do terceiro dia, sinto minhas mãos e pés um pouco inchados, possivelmente pelo longo tempo na mesma posição. Retiro todos os meus anéis. Já sabendo que um deles não vai voltar para o meu dedo.
A paisagem vai mudando, às vezes faz sol, mas pego duas ou três chuvas. Alguns lugares com trânsito, outros praticamente vazios. As únicas vozes que me acompanham é mulher do GPS e dos cantores que entoam canções que fazem a trilha sonora da viagem. A minha voz, eu mal ouvi.
Chego com o corpo e a mente exaustos, o que é bom. O cansaço me ajuda a dormir a noite. E tudo que não quero é ficar em claro, sofrendo, lidando com a maldita dor. Não houve mais lágrimas. Nem haverá. O Miguel não merece nenhuma delas. E eu não darei esse gostinho a ele.
Em dois dias iniciarei no hospital, dois dias que demoram demais a passar. Sem trabalho e sem a minha filha, não tenho o que fazer, então me dedico a arrumar nossa casa temporária, que oficialmente aluguei, repor os mantimentos na geladeira e no armário e torná-la ainda mais aconchegante.
O meu novo local de trabalho é bem pequeno, se comparado aos outros que eu já atuei, típico mesmo de cidade do interior de porte médio. Mas tem um diferencial: não é sério e com aparência asséptica como de costume. As cores das paredes são suaves, possui um jardim encantador na frente, dando um ar de clínica particular de gente famosa.
Minha primeira segunda-feira de trabalho será um plantão de doze horas. Chego pouco antes de sete. Cumprimento a recepcionista e me apresento, afinal faz dias que eu estive aqui pela primeira vez. Ela se lembra de mim, e diz que o diretor me aguarda, indicando o caminho da sala.
Dessa vez, estou mais atenta ao local, e posso prestar atenção às grandes fotografias de crianças e bebês sorrindo, que enfeitam o corredor. Logo estou na sala indicada. Bato de leve e posso ouvir uma voz grave se aproximando. A porta é aberta sem que seu dono sequer me olhe.
Entro no aposento e fecho a porta atrás de mim, receosa com aquela recepção atípica. O diretor, de costas para mim novamente. Assim posso reparar em seus braços definidos e uma bunda que roupa nenhuma é capaz de disfarçar. De repente, sinto inveja daquele bumbum, homens não merecem um traseiro bonito, já eu, necessito de um.
Levo um susto quando sua voz aumenta de uma vez. Do nada, ele está quase gritando no telefone então dou algumas passadas para trás. Só aí percebo o que diz:
– Não, Melissa, não está tudo bem! Não quero ver você, não quero sequer ouvir a sua voz, não ouse vir até aqui! Quantas vezes vou precisar repetir que nós não estamos mais juntos? – Suspira alto e bate o pé repetidamente no chão, impaciente, antes de rosnar mais uma vez. – Estou me lixando para o fato de você estar fazendo análise, não me importo com nada que venha de você. Não me ligue mais, não me mande e-mails, não me importune ou vou dar queixa na polícia contra você, isso está virando perseguição. – Estou extremamente desconfortável, prestes a ir embora no próximo segundo. – Não, não estou brincando, e a propósito, estou muito ocupado agora, vou desligar, estou desligando! – Ele diz antes de colocar o telefone sem fio na base e sentar-se na poltrona atrás da mesa repleta de papéis. Só aí parece se dar conta da minha existência, me olhando de forma estranha, como se não entendesse como eu havia entrado ali.
– Devo cobrar ingresso pelo espetáculo?
– Como? – Ótimo, ele consegue mais uma vez me deixar completamente atordoada.
– Como diabos você entrou aqui? Pela porta é óbvio, – ele mesmo responde – mas com ordem de quem?
– Até onde me lembro, foi você mesmo quem abriu para mim, quando eu bati alguns segundos atrás. Mas, ao que parece, estava ocupado demais com o seu show para se dar conta disso. – Respondo com o devido toque irônico, me recuperando do susto inicial.
– Uow! – Sorri de maneira cínica, apertando os olhos de um jeito incrivelmente másculo e predador. – Temos uma língua afiada aqui... A que devo tamanha honra?
– Posso sentar? – Averiguo antes de continuar, chocada com a falta de educação dele.
– A sala é toda sua, madame. – Mais irônico impossível, já me irritando.
– Vou começar um plantão agora. A Clarice, da recepção, disse que eu deveria passar aqui.
Ele solta um suspiro impaciente e parece tentar se concentrar antes de recomeçar a falar. Sem nenhum pedido de desculpas pelo chilique anterior, que fique claro.
– Não vou ter tempo para você hoje. – Afirma. E eu lá quero que esse estúpido tenha tempo para mim? Tudo que preciso é distância. – Procura a Marília, que ela explica tudo. O consultório ortopédico começa a funcionar amanhã. O gesseiro estava deslocado para outro setor, mas já realoquei de novo aqui, ele vai estar a sua disposição. Os pacientes ortopédicos que chegarem à urgência em outros plantões que não o seu, assim como nas unidades básicas de saúde, serão referenciados para você.
– Mais alguma coisa que eu precise saber? – Indago encarando-o.
– Não. – Responde rápido. – Considere-se apresentada doutora. Agora, vá procurar o que fazer. – Finaliza delicado como um elefante numa loja de cristais.
– Um ótimo dia para você também. – Falo antes de sair, dando graças a Deus por me ver livre daquela tortura.
Quando me vejo distante daquele homem insuportável, posso finalmente respirar fundo, e uma mulher aparentemente simpática sorri, se aproximando de mim.
– Primeira vez com o Dr. Espinho? – Ela indaga.
– Como?
– O diretor, Dr. Fabrício, nos bastidores mais conhecido por Dr. Espinho. Bonito, porém intocável, como uma roseira, – explica – ninguém nunca sai ileso num embate com ele. – Só aí me lembro do apelido dito pela Tânia.
– Ah, sim. Primeira vez. – A frase sai erótica demais ou é impressão minha? – Eu sou...
– Heloísa Maia. – A mulher fala sorrindo mais uma vez. – A Tânia falou muito bem de você, estávamos a sua espera!
Sinto-me bem recebida, apesar de todo mal estar anterior na sala do diretor.
– Eu sou Marília, enfermeira-chefe. Vem, vou te apresentar o hospital.
Então ela me mostra tudo, e em pouco tempo percorremos toda a área, incluindo o pronto socorro, o setor materno-infantil e o centro cirúrgico. Também sou apresentada a algumas pessoas, embora não consiga decorar o nome e a fisionomia de todas.
No começo é engraçado responder perguntas e exclamações a respeito do meu sotaque, de onde eu sou e o que eu vim fazer aqui. Mas depois cansa, ainda bem que ligam da urgência e tenho que atender meu primeiro paciente.
Com exceção do encontro com o diretor, tenho um bom primeiro dia. Há bastante trabalho, porque são poucos médicos por plantão: um clínico geral e um obstetra, além do anestesista que fica de sobreaviso, mas a complexidade é bem menor do que em um grande hospital de capital, como eu sou acostumada.
No fim do dia vou jantar com a Tânia, como havia combinado. Pensei que ela quisesse saber como tinha sido com o Miguel, mas a primeira pergunta dela é sobre o famoso doutor Espinho.
– E aí, amiga, como foi com o Fabrício? Muito ruim? Ele te tratou mal?
– Digamos que podia ter sido pior. – Acredito que teria sido, caso eu não o tratasse de igual para igual. – Ele é sempre assim?
– Assim bravo e gostoso ou assim insuportavelmente grosso? – Ela brinca.
– A segunda opção. – Afirmo sem dúvidas. – Beleza nenhuma justifica aguentar alguém daquele jeito.
– Tem gente que aguentaria aquilo e muito mais. – Comenta, mas não pôde dar continuidade, pois o Fred aparece na sala.
– Aguentaria o que? – Ele quer saber.
– As grosserias do Fabrício, amor.
– Ah, sim... Ele é meio agressivo mesmo. Parece que vive de mal com a vida. – Opina.
– Deve ser falta de sexo. Ninguém nunca soube dele com ninguém, pelo menos não aqui em Novo Horizonte. – A Tânia sugere.
– Ou ele pode ser gay. E não ter coragem de assumir. – O Fred levanta a estranha possibilidade. Penso assim porque o olhar que ele me deu na primeira vez que me viu não teve nada de gay, ao contrário.
– Mas ele joga futebol com você toda semana. – A Tânia fica intrigada. – E já tem uns bons anos que ele trabalha aqui, eu nunca vi nada gay nele nesse tempo.
– Eu só vi a criatura duas vezes, mas ele não me parece nem um pouco gay. – Confesso, me lembrando daquele olhar, que em outras circunstâncias, e se ele não fosse tão machista, eu ia gostar de ver mais vezes. – Deve ter o pinto pequeno e por isso é tão aborrecido. – Sugiro e os dois caem na risada. – Ele também não é daqui?
– Não. – A Tânia declara. – Veio para trabalhar no hospital e foi praticamente obrigado a assumir a direção depois que o antigo diretor se aposentou. É tão competente quanto é estúpido. – Ela ri. – Mas se teus plantões não baterem com os dele vai ser tranquilo. E a Flávia? Tem falado com ela?
– Várias vezes por dia! – Confesso. Os dias que passamos sozinhas fortaleceram demais a nossa relação, e vivia me pegando com saudade da minha filhota. – Morro de saudade, e por mais que o Miguel seja um panaca, ele também tem direito de ficar com a filha. Mas na próxima semana ela chega...
– E como vai ser nesses seis meses? Vai ficar mandando-a para o Miguel de vez em quando?
– Não sei. Não quero minha filha para lá e para cá num avião sem mim. Também não quero ir, e nem quero que o Miguel venha. Mas preciso pensar nela. Não vou privá-la da companhia do pai. Tudo a seu tempo.
Quando chego ao hospital na tarde de terça-feira, muita gente já me espera, o que me surpreende. Não sei que tipo de divulgação foi feita, mas surtiu efeito, e eu tenho bastante trabalho a fazer.
A Flávia logo chega em Novo Horizonte com a babá e pude, finalmente, ter a minha filha por perto de novo. A Rita ainda tenta me dizer como o Miguel ficou mal, mas eu prefiro não ouvir. Como ele está ou deixa de estar, não é mais assunto meu.
Minhas tarde, enquanto estou no trabalho, passam rápido. Já as manhãs e noites, quando dedico meu tempo para Flavinha, ele parece voar. Me encanto com tudo que envolve a minha filhota, seu jeito de andar, seu olhar deslumbrado para tudo, seu apego comigo e suas pequenas frases.
Mas quando ela dorme, que me vejo sozinha novamente, a ferida volta a sangrar. Nesses momentos penso no Miguel e em tudo que vivemos, penso nos meus pais, nos meus irmãos, na minha família, meus amigos e colegas de trabalho. Na minha vida anterior. Como sinto falta de tudo. E como, ao mesmo tempo, também gosto da distância.
As palavras do meu pai ecoam na minha cabeça:
"Helô, não sei o que aconteceu, mas independente do que seja, lembre sempre de todos os esforços que você teve para ficar com o Miguel. Não jogue tudo fora a troco de nada. Todo casamento tem seus momentos difíceis, se todo mundo virasse as costas quando as coisas estão ruins, ninguém ficaria casado. Não abandone o barco antes de tentar conter o vazamento".
Estou mesmo abandonando o barco? Jogando tudo fora? Traição tem conserto? A minha cabeça diz não para tudo, mas quando penso em como será o futuro, sem o Miguel, sem a minha casa, eu só vejo um vazio. Não quero voltar para ele, e também não enxergo a vida sem meu marido.
Estou magoada com o Miguel, é fato, mas ainda o amo. O que mais quero é que tudo volte a ser como antes, mas isso é impossível.
No fim de semana vamos à praia com a família da Tânia. O tempo não está ensolarado, por isso apenas brincamos na areia e conversamos. É divertido estar com eles, e posso esquecer um pouco da falta que sinto do Miguel.
Vendo o Fred brincar com a Flávia e a Lia, fico me perguntando se não fiz mal em tirar a Flávia de perto do pai, mas, por outro lado, lembro que ele pouco a via. Mesmo assim, o Miguel não para de me mandar mensagens, perguntando quando vai vê-la novamente, e sei que não posso impedir o contato deles, só não sei como resolver isso.
À noite tenho um jantar na casa do Eduardo e da Lua. O clima está meio frio e posso me arrumar melhor, uma das vantagens de morar num lugar de clima ameno. Minha cidade é tão quente que quanto menos roupa se usa, mais confortável é. O que por um lado é ótimo, mas por outro é chato, porque adoro me arrumar, calçar sapatos diferentes, e não apenas sandálias abertas. E, principalmente, vestir roupas de manga longa ou três quartos sem derreter de suor. Como a temperatura está mais baixa, deixo a Flavinha em casa com a Rita, para não correr o risco dela adquirir um resfriado.
A casa da colina está ainda mais aconchegante do que da primeira vez que estive aqui, algumas semanas atrás. As crianças brincam na grande sala, separados por tamanho e ao mesmo tempo juntas.
A Lua me abraça como se me conhecesse há anos.
– Fred, fica de olho nas crianças, o Edu deve estar chegando. – Ela pede, puxando a mim e a Tânia para a cozinha, onde a outra amiga dela, Natália, está. Que por sua vez também foi bastante receptiva.
Um cheiro agradável enche o espaçoso cômodo. Uma senhora mexe alguma coisa que parece deliciosa no fogão.
– Voltei, Maria, pode cuidar de colocar a mesa que termino isso. Ah, deixa eu te apresentar a Heloísa, ela está trabalhando no hospital. Helô, a Maria é o meu anjo da guarda! Ela cuidou de mim quando criança e agora me ajuda a alimentar esse meu batalhão! – Brinca. A mais velha sai, depois de me cumprimentar, e ficamos apenas nós quatro, enquanto a Lua organiza o jantar em travessas.
A Natália é uma mulher linda, não há como não reparar. Parece ter a minha idade, porém mais alta e com cabelos extremamente negros. Não é fininha, mas também não é gorda. Tem um corpo grande, proporcional a altura. Foi difícil não me sentir feia perto dela. A Tânia estava redonda por causa da barriga, mas a Lua e a Natália eram duas beldades perto de mim. Será que o Miguel parou de me desejar porque embaranguei? E se foi, isso lá é motivo para traição?
Quando a Lua apronta tudo, vamos para a sala de jantar. Lá encontramos o Eduardo e outro homem. Um moreno alto, e bastante musculoso, daqueles homens que só de olhar se sabe que frequentam academia.
Sou apresentada a ele, que me dá um olhar tão cobiçoso que fico embaraçada. Não foi como o olhar do diretor, no dia da minha entrevista. Não me senti bonita ou desejada, e sim um pedaço de carne exposta no balcão do açougue. O filho da Natália corre para o colo dele, chamando-o de pai e me surpreende. Deduzo que ele deve ser o marido dela, e me sinto ainda pior! Como ousa me olhar daquele jeito com a mulher tão perto? Impossível não pensar no Miguel e ficar enojada por um homem casado ter esse tipo de atitude. Procuro o olhar dela tentando me desculpar e recebo um sorriso triste.
– Somos divorciados. – Ela se aproxima e comenta despreocupada. – Já estou acostumada com essas cagadas do Cláudio.
Não sei o que dizer. Prefiro ficar calada, mas um monte de perguntas pipoca na minha cabeça. Quero conversar mais com Natália, porém não ali. Quero saber como ela enfrentou o divórcio, se ela tinha outra pessoa ou se relacionou com alguém depois, como ela não surtava vendo o ex-marido olhar para outra pessoa da forma como ele acabou de me olhar... Entretanto, não é hora. Preciso guardar minhas perguntas e torcer para encontrá-la outra vez.
O Cláudio, ex-marido da Natália, continua a me olhar descaradamente durante todo o jantar. Fazendo perguntas, me incluindo na conversa e tentando se aproximar o tempo inteiro. A Lua está visivelmente incomodada com isso, e me seguro para não ser rude com ele, afinal é um convidado tanto quanto eu.
Depois da sobremesa todos se dispersam um pouco, e aproveito para andar até a varanda, onde é possível ver árvores a perder de vista. É um lugar lindo para morar. Arrependo-me de ter me afastado dos outros assim que sinto aquele corpo grande perto de mim. Eu já estou irritada com o Cláudio, com a impressão que ele invade o meu espaço o tempo todo.
– Eu sei que já falei isso lá dentro... – Começa. – Mas vou repetir, não quero que soe apenas por educação. Eu queria te apresentar a cidade, tem muitas praias lindas por aqui... Se você me der seu telefone, eu posso...
Aproveito que estamos sozinhos e o interrompo:
– Olha, Cláudio, estou muito agradecida pelas suas boas intenções, mas não estou aqui para passear. Eu vim a trabalho.
– Mas nada impede que você se divirta um pouco. – Ele insiste, merecendo uma resposta afiada. Aperto as mãos, me controlando.
– Na verdade impede. Meu marido não ia gostar nada disso.
– Mas... Eu pensei... – Ele tenta falar completamente perdido, me olhando as mãos. – Você não é solteira?
– Não. Não sou.
– E não usa aliança?
– Faz diferença para você ter ou não um anel no meu dedo?
– Só é estranho. – Ele fala de um jeito jocoso, como se eu estivesse inventando um marido para usar de desculpa.
– Não tenho problema em ser estranha. – Retruco irritada.
– Ah. Então tá. – Ele fala e se afasta, para o meu alívio. Só faltou dizer que não se importa com o meu estado civil.
No instante seguinte, a Lua se aproxima de mim, com uma taça de vinho.
– Eu vim te defender, mas pelo visto você colocou o Cláudio para correr sozinha.
– Você viu? – Indago preocupada. Não queria ter sido grossa com um convidado dela, mas foi preciso.
– Vi. Tenho visto desde que ele chegou. Eu e todo mundo, o Claudio não sabe ser discreto. Peço desculpas por isso.
– Nem sei o que dizer...
– Não precisa dizer nada, não é culpa sua. Até reclamei com meu marido por trazê-lo, eles são amigos, trabalham juntos há anos, mas o combinado é que quando a Naty está aqui, o Claudio não é convidado, e vice-versa. Mas o Edu disse que ele praticamente se convidou hoje, não tinha como evitar.
– Ela deve estar péssima. – Comento observando a Natália pela porta. Ela parece desanimada sentada no sofá.
– Já esteve pior. – A Lua replica. – O Cláudio conseguiu destruir todo o amor que ela sentia por ele. Mas ela ainda sofre, principalmente por não ter enxergado todo esse tempo quem era o homem que estava ao seu lado.
Fico em silêncio. Não sabendo o que podia ser dito naquele momento.
– Você não tem a intenção de deixar o seu marido de verdade, não é? – Ela me surpreende com aquela pergunta – Digo isso porque você deixou bem claro para o Claudio que é casada.
– Foi a primeira coisa que me veio à cabeça. – Respondo de forma sincera. – E amo o meu marido. – Confesso. – Ainda não me imagino sem ele. Talvez por isso tenha vindo para tão longe, para tentar me reconstruir como pessoa, independente do Miguel. Mas não sei o que fazer, como estava não dá mais, e não estou certa de que consigo voltar para ele.
– Posso te dar um conselho? – Assinto e ela continua. – Já abri mão do Edu uma vez. Duas, para falar a verdade. A primeira fez com que ele me odiasse. E nada, nunca me doeu tanto, por isso imagino o que você está sentindo. Mas não demora muito a voltar, se for isso que você quer. Às vezes, um pouco de tempo ajuda. Em outras, ele deixa tudo completamente impossível de resolver. Falo isso porque senti na pele.
– Mas você está com ele hoje, e parecem felizes. – Reajo confusa, querendo entender melhor.
– Sim, hoje nós estamos bem. Mas quando eu voltei de Londres, encontrei o amor da minha vida quase noivo da minha irmã, e eu era a pessoa que ele mais odiava no mundo. Quase desisti de tudo, entende? A gente acabou se envolvendo de novo, mesmo ele namorando a minha irmã. Foi uma baita confusão... A gente se amava, mas ele não queria dar o braço a torcer. Até que abri mão pela segunda vez. Mandei-o embora da minha casa e disse que ele só podia voltar quando realmente admitisse que me amava e me queria de verdade na vida dele. Isso fez com que ele tomasse uma atitude. Mas poderia tê-lo afastado ainda mais.
Imagino chegar em casa e encontrar o Miguel completamente refeito e feliz, com outra mulher no meu lugar. Não! É difícil demais imaginar essa possibilidade.
– Entendo. – Consigo responder.
– O que você espera desse tempo longe? – Ela me indaga. – Que o seu marido venha atrás de você? Que ele sinta a sua falta?
– Não. – Sou sincera. – Quero reaprender a viver sem o Miguel, o que seria mais difícil se eu continuasse lá.
– Mas você o ama. – Ela replica.
– Amo. Mas não consigo perdoar o fato dele ter ido para a cama com outra mulher. – Falo a verdade, já que ela não sabe desse detalhe.
– Hum. Sei como é isso. Principalmente porque sou obrigada a ver a minha irmã de vez em quando, e no começo era impossível não imaginar os dois juntos e odiar essa sensação.
– Como você consegue não pensar mais nisso? Como você conseguiu perdoar?
– Bom, eu estava longe... Podia ser ela ou qualquer outra. E eu tinha ido embora, não podia reclamar ou exigir fidelidade. Mas o que me fez não surtar com isso, foi tentar entender o que ele passava na época. Ele ficou magoado, ficou vulnerável, e queria uma maneira de me atingir. Eu poderia ser orgulhosa e ficar remoendo isso o tempo todo, mas prefiro ser feliz, com o Edu ao meu lado. Ajudei?
– Sim, obrigada.
O vinho começa a me dar sono e sou a primeira a ir embora. Quando chego, vejo um carro parado em frente à minha casa. Estranho. Caminho rápido até a porta, destrancando-a e vejo-o sentando no sofá, sozinho, a minha espera.
– Miguel?**
Queria aproveitar para indicar uma autora maravilhosa que eu conheci e estou amando seus livros!!
CarolMoura - Estou lendo o livro Orange Kiss, e me divertindo muito! Tem comédia, romance, ação e algum drama! Além de fugir dos clichês, o que eu valorizo demais!
Espero que vocês curtam!!
Meus leitores, que também escrevem, podem me indicar livros, viu?? Não tenho muito tempo para procurar coisas novas, então sou bem receptiva à indicações.
Não esqueçam de comentar o dia preferido para postagem.
Até o capítulo 06!
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