Capítulo 04
Saio do banheiro apressado, dormi demais e estava atrasado para o meu primeiro dia de aulas, pego as minhas coisas e desço, Ian me esperava na sala, Noah ainda dormia pois só teria aulas a tarde e o Yuri se negou a me levar dizendo que antes tinha coisas para fazer e eu sinceramente agradeci por não ter que ir com ele.
— Desculpa a demora. — Digo.
— Vamos. — Disse seguindo para fora do apartamento, despeço-me da minha mãe e da Olga e o sigo, descemos o elevador em silêncio e o trajeto de carro até a universidade foi feito da mesma forma, a viagem de casa até lá não durou mais de trinta minutos, era um edifício enorme, construção contemporânea, o seu campus era imenso, com a sorte que eu tenho não seriam poucas as vezes que me perderia aqui.
— É enorme... — Digo admirando tudo ao meu redor. Ian seguia diante de mim calado e aparentemente apressado.
— Vamos passar na secretária para pegar os seus horários, provavelmente é igual ao meu, e a sala também.
— Tudo bem. — Digo seguindo-o pelos corredores, haviam vários alunos, seguimos em silêncio até a secretária aonde peguei os meus horários e como ele disse era realmente igual ao seu, e a sala também era a mesma, seguimos para o edifício da faculdade de arquitetura, os seus corredores encontravam-se vazios, seguimos para a sala aonde a aula já decorria, entramos e o Ian dirigiu-se para o seu lugar aonde vi a Emma, que acenou discretamente para mim e eu devolvi o gesto, sentei-me no primeiro lugar que vi, na fila do meio, duas filas depois dele, a sala estava as escuras, passava um filme sobre a história e evolução do paisagismo.
— Oi, novo aluno? — Encaro a garota de olhos azuis ao meu lado, a pouca luz na sala impediam-me de ver com precisão os seus traços.
— Oi, sou sim, sou o Igor e você?
— Sarah, vi-te chegar com o Ian, é alguma coisa sua? — Pergunta e eu fito-o de relance sobre os ombros, a sua atenção era focada entre o filme e os seus apontamentos.
— Meu irmão. — Digo. — Quer dizer, a minha mãe e o pai dele estão juntos.
— Entendo, agora é melhor prestarmos atenção, porque já sinto o olhar mortal da Stela sobre nós. — Diz referindo-se a professora que realmente nos encarava não muito satisfeita, eu assinto dando total atenção a aula, urbanismo e paisagismo sempre foram as áreas da arquitetura com que sempre quis trabalhar, a natureza sempre chamou a minha atenção e concilia-la com a crescente urbanização das metrópoles era um dos desafios de qualquer arquiteto paisagista. A aula seguiu o seu curso sobre a minha total atenção, ao toque do sino a professora dá por encerrada a aula, arrumo as minhas coisas, viro-me procurando pelo Ian que já não estava na sala. Droga, ele me abandonou.
— Tudo bem? — Viro-me encarando a Sarah ao meu lado, agora com a sala iluminada era possível ver os seus traços com clareza, os seus cabelos eram negros presos num rabo de cavalo no tomo da sua cabeça, pele branca, usava óculos, era mais baixa, busto médio, cintura fina e pernas grossas, um verdadeiro violão.
— Sim, quer dizer não. — Digo coçando a cabeça vendo-a sorrir enquanto seguíamos para fora da sala. — Tenho os horários mas não sei aonde é a próxima aula. — Confesso.
— Que aula tens agora? — Tiro o papel do bolso e o consulto.
— Desenho projetista.
— Que bom, é a minha aula também e do resto da turma. — Disse e seguimos juntos pelo corredor. — Então és irmão dos Deuses.
— Deuses? — Pergunto sem entender, ela solta uma risada.
— Não liga, é assim que o meu amigo Josh os apelidou, vais conhece-lo na hora do almoço, ele cursa psicologia.
— Porquê Deuses?
— Uma referência a perfeição e beleza dos deuses gregos, os irmãos Adams são uma autentica perdição. Yuri, Noah e Ian. Me parece que o seu mais novo integrante também o é. — Diz me analisando.
— Eles são tão populares por aqui?
— Alunos excelentes, as melhores notas, melhores projetos, participam em muitas das atividades organizadas pela universidade, deve ser incrível ou deprimente tê-los como irmãos.
— Ainda tentando descobrir... — Digo e entramos na sala e nos sentamos, Ian já lá estava com a Emma, que viu-nos e seguiu até nós.
— Oi Igor.
— Oi Emma, como vai? — Pergunto.
— Bem, gostando da universidade, podemos almoçar juntos depois das aulas.
— Agradeço o convite mas eu fiquei de almoçar com a Sarah depois das aulas.
— Tudo bem, não faltará oportunidade, só espero que tenhas cuidado no que diz respeito a seleção das tuas amizades. — Diz afastando-se.
— Algum problema entre vocês? — Pergunto vendo a cara de poucos amigos e o olhar mortal que a Sarah dirigia a ela.
— Meia irmã, os nossos pais casaram-se, não nos entendemos muito bem.
— Ela não me pareceu ser uma má pessoa. — Digo sincero.
— E não é, só não nos damos bem, coisas de irmãos se é que me entendes.
— Eu entendo. — Falo vendo o professor entrar na sala e tomar o seu lugar começando a aula.
O resto da manhã foi resumida a isso, três aulas durante a manhã que terminaram ao meio dia, e mais duas durante a tarde pelo menos duas vezes por semana e hoje era um destes dias, depois do toque do termino das aulas da manhã eu e a Sarah seguimos juntos para o refeitório aonde encontraríamos o Josh. Este era um espaço amplo e vasto, repleto de mesas, estando a maior parte delas preenchidas por estudantes.
Pegamos o nosso almoço, vejo a Sarah estreitar os olhos procurando pelo Josh achando-o sentado numa mesa perto a grande parede envidraçada que dava uma bela visão do campus.
— Oi Josh. — Diz Sarah sentando-se e eu faço o mesmo ele responde sem a fitar, toda a sua atenção era roubada por alguma coisa no lado de fora, eu e a Sarah seguimos o seu olhar vendo o Yuri apoiado a uma arvore aos beijos com um garota, não sei porquê mas aquela imagem me incomodou.
— Ei, sua bicha assanhada, para com isso, ainda arranjas problemas por ficares a babar pelo Yuri assim de forma nada discreta.
— E eu lá me importo, to doido para ser tocado por aquelas mãos grandes e mesmo ser for na forma de um punho vou gozar a mesma.
— Josh! — Sarah o repreende.
— O que foi? — Pergunta virando-se para nós, só então notando a minha presença na mesa, Josh era negro, tinha a cabeça raspada, olhos verdes claros, possuía um corpo de acadêmia. Os seus olhos intensos fixaram-se em mim.
— Jesus, Maria e José! Quem é o boy magia Sarah? — Pergunta descaradamente comendo-me com os olhos, sinto-me ligeiramente desconfortável.
— Este é o Igor, para de olhar assim para ele, ainda o fazes fugir daqui. — Diz Sarah levando uma garfada do seu almoço a boca e eu sorri sem graça.
— Nem vem vadia, eu conheço todos os homens gostosos deste lugar, absolutamente todos, e tu querido Igor não estas na minha lista, aluno novo?
— Sim... — Digo.
— Sotaque americano, cabelos castanhos aloirados e cacheados, olhos castanhos perfeitos, rosto másculo mas delicado, sem qualquer barba, pele branquinha, corpo magro definido. Eu sabia que era aqui que produziam os Deuses do Olimpo, a prova disso é o Apolo que tenho diante dos meus olhos.
— Controla o fogo! Por favor pondere-se Josh, sei que não é o teu forte mas insisto que o faças. O Igor é aluno novo, irmão mais novo dos Deuses.
— O quê! — O seu grito foi tão alto que atraiu a atenção de alguns alunos nas mesas próximas a nós, Sarah o belisca fazendo-o soltar um grito de dor. — Tá louca mulher?
— Contenha-se!
— Você é irmão deles, do Yuri, Noah e Ian, dos Deuses, aquelas perfeições masculinas? Isso é sério?
— Pode dizer-se que sim, a minha mãe e o pai deles estão juntos, nos mudamos sábado para aqui.
— Você divide a casa com eles, respira o mesmo ar que eles, meu Deus, a partir deste momento tu és o meu melhor amigo, anda vadia me dá o numero dele que eu sei que você já pegou. — Sarah revira os olhos e eu sorri dos dois, Josh era um cara estranho, sem freios na língua, e sem medo de dizer o que pensa, tinha uma paixão platônica por todos os meus irmãos, principalmente pelo Yuri, já quase teve problemas com ele por isso, tinha 23 anos e cursava o segundo ano de psicologia.
— Agora que a bicha aqui já se acalmou, podemos finalmente ter uma conversa decente. — Fala a Sarah.
— Sábado tem a festa em honra aos anos da nossa universidade, vai haver uma festa no bosque atrás da escola com direito a muita bebida, beijo na boca, masturbação e perda do cabacinho. — Diz Josh, vejo Sarah passar as mãos no rosto derrotada. — Eu vou chupar muita piroca.
— Tô mara que morra engasgado.
— Quê isso vadia, eu não morro sem dar pros Deuses não, esse cuzinho piscando aqui e todinho deles.
— Língua suja a sua hein. Igor me desculpa, eu devia ter te preparado para tudo isso.
— Tudo bem, eu gosto do jeito dele, é preciso muita coragem para se assumir como realmente é e agir desta forma.
— Então tu vens?
— Sim.
— Igor... — Ouço a voz do Ian atrás de mim.
— Meu Deus! — Ouço o sussurro do Josh. — Ele...é ele bicha...
Viro-me para o fitar.
— Vou agora para casa, se já terminou vamos juntos. — Diz.
— Sim. — Digo erguendo-me encarando os dois na mesa, Josh estava sem palavras encarando fixamente o Ian e a Sarah olhava para todos os lados menos para ele. — Pessoal, nos vemos amanhã. — Me despeço.
— Tchau Igor... — Diz Sarah. Pego as minhas coisas e sigo para fora do refeitório com o Ian, seguimos em silêncio até ao estacionamento, subimos no carro e seguimos em direção a casa.
— Novos amigos? — Pergunta, dando total atenção a estrada.
— Acho que sim. — Digo. — Gostei deles são muito divertidos. Porque já vamos para casa, não tínhamos aulas a tarde também?
— Foram canceladas e remarcadas para amanhã, a Sarah não te disse? — Pergunta indiferente.
— Não. — O seu telefone toca e ele o atende, estava no viva voz.
— Sim...
— Sr. Adams aqui é da clínica, a sua mãe esta tendo uma crise, precisamos que venha para cá imediatamente. Ligamos para o seu pai mas ele não atende. — Sinto o temor e a gravidade da situação na voz da mulher ao telefone, olho para o Ian vendo as suas mãos trémulas no volante.
— Tudo bem. — Encerrou a ligação apertando firme o volante, sinto-o estacionar o carro.
— Ian...
— Desça, pegue um táxi e vá para casa, eu tenho o que fazer agora.
— Eu posso ir contigo...
— Não, dispenso a tua companhia, desça eu estou com pressa.
— Eu não vou descer, tu estas abalado e eu não te vou deixar ir assim sozinho para lá, deixa-me ir contigo. — Digo firme, vejo-o apertar firme o volante soltando o sinto, abriu a sua porta e desceu do carro, deu a volta abrindo a minha.
— O que estas a fazer?
Vejo-o soltar o meu sinto, e tomando-me no colo tira-me do carro a força, pondo-me no chão.
— O que estas a fazer, deixa-me ajudar-te.
— Eu não pedi a sua ajuda, eu não preciso da ajuda de ninguém, é a minha mãe, é assunto meu, já que o meu pai pouco se importa com ela graças a sua mãe! — Grita. Eu sinto a sua respiração forte no meu rosto. Vejo ódio e raiva nos seus olhos, ódio da minha mãe, do Rodolfo, ódio de mim. — Não preciso da merda da sua hipocrisia para nada! — Soca o capô do carro com força, sinto o meu corpo tremer, vejo-o afastar-se entrando no carro, jogou a minha mochila no chão e deu arranque queimando pneu, encarei o seu carro até desaparecer de vista, pego as minhas coisas no chão. Tiro o telefone do bolso e procuro pelo número do Noah.
— Sim... — Ouço a sua voz.
— Oi, sou eu o Igor.
— Eu sei, eu tenho o seu número, o que aconteceu? — Pergunta.
— Preciso que me passes o endereço da clínica, aonde a mãe do Ian esta internada.
— Aconteceu alguma coisa? — Noto a preocupação na sua voz. — Aonde você esta?
— Não aconteceu nada, quer dizer sim, o Ian recebeu uma ligação da clínica, houve alguma coisa com a sua mãe, ele estava muito nervoso e não me deixou ir com ele só que eu não...
— Não queres que ele fique sozinho.
— Sim...
— Não acho que seja uma boa ideia Igor.
- Por favor Noah...
- Tudo bem, aonde estas eu te pego e o levo.
— Não precisa, tu tens aulas agora, eu pego um táxi e vou para lá, só me dê o endereço. — Peço, ele me passa o endereço, paro o táxi passando-o ao motorista que segue caminho em direção a clínica. Eu sei que ele não me quer lá mas eu preciso estar, eu preciso ajuda-lo, não importa se ele quer ou não a minha presença.
Ele precisa de mim...
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