Capítulo 03

Ignorando o meu pedido, vejo-o ali, de braços cruzados sobre o peito, apoiado a porta de sobrancelha erguida e totalmente nu, aquela seria uma imagem e tanto se eu não estivesse igualmente nu diante dele prestes a ter uma ereção. Era só o que me faltava, ele saber das minhas preferências sexuais.

— Se quiseres podes sair. — Diz com um sorriso irritante no rosto, bufo de ódio e ainda me cobrindo com as mãos saio do box, sigo cauteloso em sua direção tentando alcançar a toalha por cima do lavabo, até ele segurar os meus ombros presando-me contra a parede ficando diante de mim, estava trémulo, preso entre os seus braços, o seu rosto a milímetros do meu, me permitindo sentir a sua respiração quente na minha pele. O contacto entre o seu membro flácido e a minha perna só piorou a minha situação, sinto o meu pênis chacoalhar duro entre as minhas mãos. Meu Deus! Que merda é essa?

— O-o que estas a fazer? — Pergunto visivelmente nervoso e inquieto com aquela situação, eu não precisava olhar para saber que o que ele carregava entre as pernas não era pequeno, perfeitamente proporcional ao seu corpo grande, que causava em mim a sensação de dominação e controle,  fecho os olhos e logo que arrependo ao exalar o seu odor a suor, outro movimento involuntário entre as minhas mãos,abro os olhos encontrando os seus predatórios sobre mim.

— O que fazias com o Noah? — Perguntou e eu o fito sem entender. — Não me olhe assim, eu sei que tu não passas de um boiola, um viado. Afasta-te do meu irmão, sei que pessoas do teu tipo, ficam loucos para ter um pau dentro de vocês, mas não te metas com os meus irmãos se não...

— Se não o quê? — Pergunto empurrando-o e afastando-o de mim. —  Eu não tenho medo de você e a tua opinião sobre mim é totalmente insignificante ou seja, não me importa. Assim como eles são seus irmãos, agora também são meus, e se por acaso em algum momento eu querer dar o meu cu para qualquer um deles é problema meu! — Seguro a merda da toalha enrolando-a a cintura e toco a maçaneta da porta prestes a sair quando sinto-o segurar violentamente o meu braço forçando-me a encara-lo. — Me solta! — Digo me desvencilhando do seu aperto. — Não toca em mim!

— Cala a boca, não grita comigo, se me comporto como um homem com você é porque eu só um, se você quiser eu posso demonstrar. — Argumenta — Mas querido irmão, eu tenho nojo de você, nojo do que você é, agora sai daqui!

— Não! - Ele me olha surpreso e irritado - O que foi? Você diz tudo o que pensa e acha que eu não posso fazer o mesmo? Realmente vocês são muito diferentes, ao contrário do Noah, não passas de um ser agressivo, selvagem e totalmente desprovido de bom senso, eu já disse que não me importo com a tua maldita opinião, faça-nos um favor e enfia-a aonde quiseres! — Termino vendo as suas narinas dilatarem e os seus olhos ainda mais escurecidos. — Eu não tenho medo de você, então não voltes a tocar em mim desta forma ou me mandar calar. — Deixo o banheiro fechando a porta com força. Idiota, presunçoso, arrogante, homofóbico.

Droga e agora, ele sabe... Bufo irritado passando as mãos pelos cabelos ainda úmidos sentando na cama. Se ele pensa que pode dizer o que bem entende e ficará por si só, esta muito enganado pois se depender de mim todas as suas investidas terão uma resposta a altura. 

Levanto-me e visto-me rapidamente pegando o meu telefone e fones de ouvido, algumas folhas A4 e o meu estojo de canetas. Saio do quarto, antes que ele saísse do banheiro, estava sem paciência para outra discussão, desço as escadas, a sala estava as escuras sem sinal da minha mãe ou do Rodolfo, ligo as luzes e dirijo-me a mesa de centro sentando-me no tapete colocando os fones no ouvido selecionando uma das minhas playlist favoritas e ponho-a a tocar no volume máximo. Abro o estojo jogando as canetas sobre a mesa, pego nelas e começo a desenhar, sempre que estou irritado essa era uma forma de me acalmar, as minhas mãos agiam firmes sobre a folha, num desenho repleto de raiva, através da mina da minha caneta, toda a minha raiva era descarregada na folha branca de papel. 

Quase sem perceber, sons escapam pelos meus lábios como se buscassem liberdade. Solto o lápis tombando a cabeça para trás sobre o sofá, massageando as têmporas e os abro encarando o Ian apoiado à um dos pilares de braços cruzados sobre o peito, levanto-me tirando os fones do ouvido.

— Algum problema? — Pergunto. — Precisas de alguma coisa? — Ian usava um samba calção preto, o seu corpo magro possuía alguns músculos desenvolvidos e perfeitamente distribuídos, abdômen definido com uma pequena trilha de pelos que iam do umbigo até ao cós do calção, a pele morena levemente bronzeado, as suas pernas torneadas e grossas. Chega! Desvio o olhar para o lado interrompendo a minha análise. 

— A tua gritaria, dá pra ouvir lá de cima. — Diz e eu sou tomado pelo constrangimento, o rubor toma o meu rosto.

— Me desculpa. — Indago.

— O que estas a fazer? — Pergunta encarando a confusão por cima da mesa.

— À isso, quando estou irritado preciso liberar energia e uso o desenho para isso. — Digo vendo-o se aproximar, sentando-se no sofá pegando o desenho e o analisando.

— Foi o Yuri que te deixou irritado? — Pergunta olhando-me sobre a folha.

— Porque achas isso?

— Pelo desenho, é ele não é? — Encaro o desenho nas suas mãos, era ele, a copia fiel do seu rosto, não sabia como ou porquê mais cada detalhe do seu rosto a intensidade dos seus olhos, tudo estava profundamente marcado dentro de mim e refletido naquela folha de papel, Porquê?

— Não consigo lidar com ele - Admito - É só o meu primeiro dia aqui e já tivemos duas discussões.

— Eu disse ao pai que seria um problema por-vos no mesmo quarto.

— Não há qualquer problema da minha parte. — Esclareço. — O Rodolfo disse-me que seria só por duas semanas, acho que posso tentar lidar com ele até lá.

— Tentar? — Pergunta analisando o meu desenho dele. — Será que consegues?

— Talvez.

— Gostei dos traços, são fortes, exprimem raiva.

— Então consegui transmitir exatamente o que sentia. — Digo sorrindo.

— Amor... — Ouço a voz feminina atrás de mim e viro-me vendo a garota na escadaria, os cabelos marrons estavam presos num coque desajeitado, a pele pálida avermelhada, vestia uma camisa azul marinho muito acima dos joelhos. Desceu o resto dos degraus caminhando em nossa direção. — Desculpa, não aguentei esperar no quarto, disseste que ias apenas ver que barulho era aquele.

— Tudo bem. — Ian responde pousando o desenho na mesa se levantando. — Era apenas... — Me fitou, como se pondera-se as suas palavras. — Era apenas o Igor.

— E quem é o Igor? — Pergunta me encarando.

— Eu já falei sobre ele, é o filho da Emy. — Diz.

— Ahn, é ele o seu novo irmão? - Pergunta e eu vejo o desgosto dele — Oi, sou a Emma. — Estende-me a mão e eu a comprimento.

— Prazer, Igor.

— Que gato você hein. — Diz e eu sinto o meu rosto corar.

— O-obrigado. — Emma era uma garota bonita, o corpo perfeito de curvas bem acentuadas, o rosto fino e delicado, juntos faziam um casal e tanto.

— Anda Emma, vamos terminar o que começamos. — Diz Ian já seguindo em direção as escadas, Emma despede-se de mim e o segue. Sento-me no sofá, Ian era um mistério, frio e solitário, ele não escondia o seu desagrado por toda esta situação, mas de certa forma eu o compreendia, não sei qual é a atual situação da sua mãe, mas devia ser bastante difícil. Observo o desenho no em cima da mesa e o busco, porque te tenho gravado na minha mente, tu és uma pessoa extremamente irritante. Ignoro-o pegando outra folha e retomando os desenhos.

                                                                                 **************

— Querido... Filho... Igor... — Desperto sentindo o toque suave da minha mãe, esfrego os olhos encarando o seu rosto.

— Oi mãe... — Digo me sentando no sofá.

— Porque dormiu no sofá querido? — Bocejo vendo-a sentar- se ao meu lado. — Esta tudo bem?

— Sim, fiquei aqui a desenhar e não sei como peguei no sono, devia estar cansado do passeio com o Noah.

— E como foi?

— Foi ótimo, saiu com o Rodolfo?

— Sim, fomos jantar. Aproveitamos para rever alguns assuntos do casamento. — Diz, sinto a sua mão na minha. — Tem certeza que esta tudo bem?

— Sim, não te preocupes.

— Esta tudo bem com os rapazes?

— Sim, o Noah é muito amável, o Ian é como disseste, fechado mas ajudou-me com algumas matérias para as aulas de amanhã.

— E o Yuri...

— O que tem o Yuri?

— Como estas a lidar com ele?

— Bem, não temos qualquer problema um com o outro, tem sido muito simpático e compreensivo, afinal não é fácil ter que partilhar as suas coisas, o seu quarto e perder a sua privacidade. — Minto.

— Que bom que estão a dar-se bem, quero muito que isso dê certo para os dois, não só para mim, a tua felicidade é o mais importante para mim.

— Eu estou feliz. — Digo abraçando-a. Sinto-a beijar a minha cabeça.

— Bom, agora vamos dormir, amanhã começam as tuas aulas, precisas descansar, espero  que corra tudo bem.

— Sim. — Nos levantamos e seguimos para o andar de cima, nos separamos no corredor seguindo cada um para o seu quarto, paro diante da porta do meu hesitante mas abro a porta, o quarto estava escuro, ele já dormia. Sigo para a minha cama, ligo o abajur, vendo por cima desta o meu desenho, o desenho dele, ali, viro-me para a sua cama e o tomo nas mãos, como ele veio aqui parar? Será que ele... Ele o pegou?  O que esse idiota esta pensando, quase me agride por ter dormido na sua cama, faz aquele discurso todo sobre as suas coisas e agora vem mexer nas minhas, seguro a vontade de seguir até a sua cama e o confrontar, esmago o desenho com as minhas mãos e o jogo no chão, afasto as cobertas e me deito na cama.

Eu e ele, nunca dará certo. Nunca!

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