À primeira vista, eu e Amane somos idênticos. Porém, há muitos detalhes (fora nossas personalidades beeeem distintas) que diferenciam-nos.

Minha voz é aguda naturalmente, enquanto a do meu irmão parece a de alguém aprontando o tempo todo. Nossos olhos são âmbar, mas o meu é mais alaranjado e arredondado. Quando sorrio, meus caninos parecem presas de vampiro, enquanto o Amane parece o Papai. Meus traços faciais lembram os da minha mãe, e os do Amane os do pai.

Fora isso, eu era sempre o carinha infantil que todos gostam, mas que não levam a sério e deixam de lado. Meu irmão não agradava a todos nem de longe, mas fazia amigos com certa facilidade.

Eu era o estranho que adorava ver sangue, cirurgias e fatos históricos perturbadores. Ele era o nerd da astronomia que conquistava a sua simpatia quando começava a falar do espaço por conta de seu amor pelo tema.

Meu único amigo fora meu gêmio era o Papai. Eu podia falar tudo que vinha-me à mente e ele ouviria com atenção.

Isso até ele ser promovido e me esquecer aos poucos. Até meu irmão, que parecia tanto com ele, definitivamente parar de andar comigo e ficar apenas com um tal de Takahashi. Nem parecia sentir falta de nosso progenitor.

Não era justo. Não era.

Eu era sangue do sangue deles. Não é justo deixarem-me de lado. Não é justo o Amane me trocar assim e esquecer do Papai!

Cheguei num ponto de fúria onde bati nele. E quando perguntou o motivo, minha resposta foi outra:

— Ninguém vai acreditar em você.

E bati de novo. E de novo. E de novo.

Como num passe de mágica, Amane passou a se afastar do amigo. E tirar notas baixas. E matar aula. E levar broncas da Mamãe.

No ano seguinte, tive meu primeiro crush. Ele era um garoto chamado Mitsuba, mas ele logo começou a namorar com um loirinho sem-graça.

Descontei tudo em meu irmão: tirei seu BV, seu BVL e noites de sono. Saber que o favorito de todos sofria porquê eu sofria servia-me de calmante.

Mas, então, ele mudou de sala. E fez amizade com uma loira-platinada, meu ex-crush e o namoradinho loiro idiota dele. E se apaixonou pela garota. E voltou a tirar nota alta. E recebeu elogios dos nossos pais.

Isso deixava-me furioso.

Por que só amam ele? Por que é sempre ele que consegue o que quer? Por que ele consegue ficar com quem ama e eu não, apesar de quem ter se afastado foi ele!?

Não deixaria. Não permitiria uma palhaçada daquelas.

Ele afundaria no desespero, na solidão e na agonia comigo, por bem ou por mal.