Sobre crushs e negações
Duas semanas se passaram. Nada de desgraça além do habitual, e isso me deixava apavorado.
E não era apenas isso que apavorava-me: Yashiro. Ela não foi à escola naquele dia. Eu não tenho contato com ela. E se foi algo grave!? E se o Tsukasa fez algo porquê achou que ela era importante para mim!? Eu não ia me perdoar!
— Guri, o que a Yashiro tem? — questionei, virando sobre minha cadeira para encarar o loiro.
— Ela acordou com cólica. Talvez falte amanhã também.
Ok. Não era nada grave, mas ...
Que sensação esquisita é essa? Esse aperto no peito?
As aulas até o recreio passaram rastejando de devagar. Era estranho olhar para frente e não ver a Garota-Rabanete sentada.
E, quando o sinal soou, Sousuke levantou e olhou para mim e para o namorado com um ar arteiro. Eu sou arteiro (ou pelo menos já fui), e fiquei com medo mesmo assim.
— Já que a nossa querida Rabanete-chan faltou ... podemos espionar e analisar o crush dela!
Alguma coisa dentro de mim não gostou de saber que ela gostava de outro garoto. Soquei esse sentimento para o fundo da minha consciência.
— Quem é o guri?
— Um tal de Haruki, do terceirão. — falou o Minamoto — Ela tem uma coisa por caras mais velhos e altos.
Novamente, um sentimento que eu não sabia de onde vinha tomou conta de mim, e era frustração. Eu não sabia como para-los, e nem queria saber o motivo deles. Tsukasa com certeza descobriria e os usaria contra mim.
— E então? Não 'tão curiosos? — alfinetou o rosado.
— Ela vai matar a gente se descobrir ...
— Carpe Jean. — falei simplesmente.
"Não existe ser humano mais hipócrita do que eu", pensei.
E assim passamos o recreio inteiro seguindo o dito cujo.
Ele tinha 178 centímetros de altura, o que fazia de mim um micróbio perto dele. Seu cabelo era do mesmo tom de castanho que o meu, mas num corte bem mais estiloso. Seu rosto era bem maduro, parecendo já um homem adulto, enquanto eu ainda parecia um pirralho.
"... Cara, por que eu 'tô me comparando com ele?"
— Ele não parece má pessoa. — opinou Minamoto, escondido atrás das plantas.
— ... Mesmo assim ... eu 'tô com um mal pressentimento sobre esse cara. — falei, analizando o veterano.
— Vai me dizer que 'tá com ciúmes, Hanako? — zoou-me o rosado.
É normal engasgar com a própria saliva numa situação dessas?
— O quê!? — perguntei retoricamente, sentindo meu rosto arder — Claro que não!
O casal trocou um olhar cúmplice. Meu sangue gelou.
— 'Cê parece muito nervoso p'ro meu gosto. — falou Sousuke, cutucando meu braço com um dedo e abrindo um sorriso zombeteiro — 'Cê 'tá gostando da Nene, Hanako?
— Não! — respondi prontamente.
O tom de vermelho pintando meu rosto devia dizer o contrário, e isso deixou-me nervoso. E perceber isso fez um nervosismo inédito florecer em meu peito, um que (feliz ou infelizmente) nunca provei.
"Puta que pariu, eu 'tô ferrado!"
— Cara, você sabe que a gente não vai te crucificar se você realmente gostar dela, não sabe? — constatou Kou, calmo e compreensivo.
"Crucificar não, mas podem me zoar e, se o Tsukasa descobrir, eu nem quero saber que fim trágico eu levo."
— Eu sei, mas eu não tenho um crush nela! Simples. — afirmei, colocando o máximo de segurança que eu podia ter em minha voz.
— ... Só p'ra constar, eu shippo. E nada que digam vai me fazer parar de shippar. — declarou o de cabelo rosa, e eu fechei a cara ao passo de que o namorado dele revirava os olhos.
— Espero que ele não parta o coração dela. — desejou em voz alta.
Ok. Aquilo era uma novidade. E das estranhas.
— Como assim?
— A Rabanete-chan tem um longo histórico de macho hétero top que ela gostou, se declarou e acabou sendo humilhada por causa dos tornozelos dela. — contou o rosado — Ela entrou na terapia faz um ano e meio p'ra curar o trauma das rejeições e do próprio corpo.
— ... Então por que você continua chamando ela de Rabanete!? — questionei o óbvio, irritado.
— Mano, eu já sofri bullying. Eu perguntei se chamar ela assim incomodava muito e ela disse que, se fosse eu, tudo bem. — defendeu-se, indignado — Eu sei que eu tenho um humor e jeito de agir bem rudes, mas eu não sou um bully!
Engoli saliva, sentindo-me culpado.
— Não fica com essa cara. O seu argumento é válido. A gente se conheceu faz um mês e meio, então não é uma coisa que 'cê ia saber com facilidade. — consolou-me Minamoto com um sorriso solidário.
— Se você disser que eu me importo assim com ela, eu nego até a morte e te mato. Sacou? — falou Mitsuba, sério.
— Saquei, cara.
Que sentimento quente é esse no peito?
... Afeição!? Ah, não ...
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