Por que choram, autores de Shoujo?
Dizer que muita coisa aconteceu nos meses seguintes seria eufemismo. Minha vida deu um giro de 180 graus.
Meu irmão pegou dez anos de reformatório. Não tenho notícias dele, e sinceramente não quero tê-las por pelo menos um ano inteiro.
Ele foi transferido em uma semana. Nesse meio-tempo, dormi num colchão no quarto de meus pais. Quando Tsukasa finalmente deixou a casa, tiramos a parte de cima do beliche e fiquei com o quarto só para mim.
Pode soar muito brega, mas comprei estrelinhas que brilham no escuro e passei semanas reproduzindo o céu do dia em que fui assistir ao eclipse lunar com Yashiro. Acho que ela estava influenciando-me mais do que eu pensava.
Às vezes eu tinha pesadelos sobre aqueles malditos três anos. Sinto um pouco de vergonha em dizer que acabei dormindo com a Mamãe do lado da minha cama algumas vezes por causa disso.
Eu estava tratando dos meus traumas no mesmo psicólogo da Nene. O Akaashi é um maravilhoso profissional. É engraçado ver o marido dele gritando o nome dele e pular em cima do coitado sempre que a minha sessão acaba. Eles são um casal muito fofo.
Falando em casais ... eu ainda não havia pedido a Yashiro em namoro. Eu queria melhorar primeiro para ser um cara pelo menos decente para ela. Alguém que a merecia.
Isso não quer dizer que o que tínhamos esfriou: estudávamos um na casa do outro, íamos em ocasionais encontros, não desgrudávamos um no outro na escola ... sinceramente, qualquer um que não soubesse diria que já namorávamos.
E, bom, eu decidi tornar essa suposição uma perfeita realidade.
Não sou bom com palavras, mas fiz um esforço para escrever uma cartinha de pelo menos uma página. Coloquei num envelope bonitinho e deixei sobre a mesa dela.
Ela ficou maravilhada apenas com aquilo. Era a primeira cartinha que ela recebia na vida.
Na troca de aulas, ela foi ao banheiro. Nesse meio-tempo, deixei uma rosa cor de rosa feita de plástico sobre sua mesa. Tinha um bilhetinho: "vou te amar até essa rosa murchar".
E assim passei o dia inteiro colocando cartinhas, flores e docinhos no caminho dela.
Eram finalmente seis da tarde. Os clubes encerraram suas atividades e o Sol se punha no horizonte de maneira majestosa. Isso apenas contribuía para o meu plano.
— Oe, Yashiro. — chamei, sorrindo ladino — Vem comigo.
— Você anda muito romântico hoje, Hanako-kun. — comentou, desconfiada, ao segurar minha mão.
— Ué. Você não gosta de caras românticos?
O desespero bateu. Seria o meu esforço todo em vão? Ela ia recusar!?
— Eu gosto! Só é inusual. — falou, e o meu desespero sessou — Você é um tipo de romântico que 'tá sempre do seu lado sendo fofo e dando atenção até dizer chega. Não 'tô acostumada com você sendo o tipo "padrão" de romântico.
— ... E qual das minhas versões você prefere?
— Prefiro a primeira. Ela é o seu jeitinho, e é por ele por que, eu me apaixonei! — explicou, sorridente — Mas eu não negaria um pouquinho de romance à moda tradicional de vez em quando, admito.
Alarguei meu sorriso ladino. Chegamos a porta que dava na laje onde tivemos nosso primeiro encontro, onde tudo aconteceu.
— Neste caso ... primeiro os rabanetes! — zoei.
Ela deu-me um soquinho amigável. Abriu a porta e seu queixo caiu.
Kou e Mitsuba seguravam um pudim de leite cada. Uma cartolina estava grudada às roupas dos dois, que diziam "namora comigo?". Isso tudo enquanto uma caixinha de som tocava "a thousand years". Sem falar na explosão de cores que era o céu naquele momento.
— Aceita logo. Não me sujeitei a isso p'ra 'cê dizer "não". — inquiriu Sousuke com seriedade.
— E eu sou louca p'ra negar, de qualquer jeito? — questionou retoricamente, chorando de alegria.
— Então ... você aceita? — perguntei, o coração batendo acelerado de ansiedade.
Enxugou as lágrimas com as costas da mão direita. Sorriu-me doce. O mesmíssimo sorriso que regalou-me quando conhecemo-nos, durante o dia-a-dia, quando abri meu coração para si, durante nosso primeiro encontro, antes e depois da conversa que libertou-me das garras de meu irmão e nos meses que se seguiram.
— Você vivia perguntando o motivo de eu não sair de perto de você, né? Eu sabia desde o início que tinha algo de errado acontecendo na sua vida. Sabe o motivo de isso não me assustar?
Neguei, ansioso. Ela corou ao responder:
— Você me tinha como prioridade. Pode soar egoísta, mas você foi a primeira pessoa que me escolheu assim tão rápido e com tanta certeza. A primeira pessoa a se doar na mesma medida, senão mais, que eu mesma me doava. Ninguém nunca fez isso.
— ... Você meio que foi a única em muito tempo a ser gentil comigo simplesmente porque eu era alguém com sentimentos que podiam ser feridos. Não foi uma escolha difícil.
— P'ra alguém que sempre foi rejeitada sem nem pensarem duas vezes, ainda é difícil de acreditar. — confessou, correndo para me abraçar bem apertado — Me ajuda a colar o meu coração?
— Nem precisava pedir, Nenê. — brinquei, escondendo meu rosto no vão do pescoço dela e sentindo seu cheiro entorpecer meu corpo todo.
— Amor, 'cê 'tá chorando? — perguntou Kou.
— Nossa Rabanete-chan cresceu tanto ... — balbuciou, emocionado ao largar o pudim num lugar onde ninguém pisaria sem querer e correu para os braços do namorado.
Rimos da reação exagerada dele.
Depois de três anos de sofrimento, abusos e agonia, eu finalmente tinha uma chance de ser feliz.
Não sou ingênuo ao ponto de achar que eu não teria mais nenhuma dificuldade. Porém, eu não estava mais sozinho e aprendia aos poucos como pedir ajuda dos que amavam-me. Aprendi a confiar.
Acho que esse é o real significado de "e viveram felizes para sempre".
É. Meu "felizes para sempre" finalmente chegou, e seu gosto era doce. Eu precisava acreditar nisso de coração. Sorte que acreditei.
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