O Tomate Surtado chama a Rabanete para ver a Lua sumir

     Encontrava-me numa verdadeira batalha interna.

     Queria chamar Yashiro num encontro para assistir ao eclipse lunar comigo, que aconteceria na semana seguinte. Queria muito. Tanto que dava desespero.

     Porém, nas semanas anteriores, o meu irmão se superava num novo nível em seus espancamentos e abusos, além de prestar o triplo da atenção em nosso grupinho.

     Tal indecisão era tão grande que consumia com a pouca paz que me restava. Tanto que praticamente um mês se passou e ainda não decidi.

     Porém, cheguei num ponto onde parei e pensei o mais racionalmente que conseguia e cheguei à conclusão de que precisava de ajuda. E urgentemente. E de alguém que já chamou alguém para sair e essa pessoa aceitou.

     E só havia uma pessoa que encaixava-se em tais requisitos e era confiável.

— Hanako, não sei o que exatamente você quer com tudo isso, mas não é porquê eu namoro com o Mitsuba que eu sei como fiz isso!

     Suspirei pesarosamente, tentando não surtar mais do que o usual – seja pela vergonha ou seja pelo desespero.

Como você chamou ele p'ra sair? — repeti a pergunta pausadamente.

— Eu já disse: eu fui lá e pedi. Pronto. Nada elaborado ou extravagante.

— ... Tu acha que funciona com garotas, também? — questionei, esperançoso.

— ... Quem é a garota? — desviou a pergunta, interessado.

— Não vem ao caso. Funciona com garotas ou não?

— Eu já disse que não sei, mano! Eu só namorei o Mitsuba a minha vida inteira! — pegou meus ombros e chacoalhou-me, irritado — Eu sou tão ignorante quanto você quando o assunto é menina, Hanako!

— Mano do céu ... — soltei, os olhos vidrados — ... Eu vou morrer sozinho ...

— QUEM É A CONSAGRADA, AMANE!?

A YASHIRO, SEU IGNORANTE!! — gritei de volta, irritado

— ... Ah. Então é fácil. É só ir lá e pedir, mesmo. E faz uma cartinha fofa p'ra ela. — respondeu, e logo depois a ficha dele caiu — Pera, a YASHIRO!? AAAAAAAH, MEU SHIPP!

— Eu estou a, literalmente, um fio de te matar! — ameacei, vermelho de fúria e vergonha.

— Que foi? Vocês 'tão num clima digno de Shoujo e filme de romance água com açúcar da Netflix!

     Ok. Se era o Kou que falava, o caso era sério. E muito.

— Voltando ao assunto. — falei, querendo não passar mais vergonha alheia do que passava no momento — Eu não sei fazer cartinhas fofas e ... e vai parecer estranho eu dar uma p'ra ela!

Ah ... nesse caso, só pede mesmo.

— ' faz parecer tão fácil ...

— Eu sei que não é. Só achei que isso fosse te acalmar.

— Só piorou o meu estado, na verdade.

Puts ...

     É. Eu estava fodido – graças a Deus, ainda figuradamente falando. (Ainda.)

     Para compensar o fato de que apenas deixou-me mais desesperado que antes, ele elaborou um plano para que eu pudesse convida-la em paz.

— Que fomee~ ... — reclamou o rosado.

— Eu acabei trazendo Onigires a mais hoje. Qualquer coisa, pode comer um meu. — ofereceu o loiro.

— Valeu ... — agradeceu, logo arregalando os olhos — Ah, eu esqueci o almoço na sala! Vem comigo pegar, Kou?

— Claro! Vão na frente, ok?

— Ok! — concordou Nene, sorrindo doce como só ela sorria.

     Tentei não deixar minha tremedeira aparente. Revisei minhas falas mentalmente.

     Caminhamos em silêncio até um corredor pouquíssimo movimentado. Respirei fundo, rezando para não gaguejar ou estragar tudo ou pagar o papel do bobo que eu sou.

— O-oe, Yashiro?

     Ela deteu o passo, mirando-me com confusão.

— Sim, Hanako-kun?

     Engoli saliva. Eu sentia o meu corpo inteiro queimar de vergonha. Provavelmente parecia-me com um tomate – e, pequeno como sou, um cereja.

— ... Sabe ... vai t-ter um eclipse lunar na semana que vem ... e ... e-eu ganhei um telescópio ...

— Sério? Que legal! — falou, animada — Vai poder ver tudo direitinho! ' adora o espaço, né?

     Um panapaná de borboletas invadiu meu estômago. Podia ser algo óbvio sobre mim, mas o fato de que ela lembrava-se com facilidade fazia-me surtar, e dum jeito maravilhoso!

Gosto. É só que ... — minha língua travou, e eu tentei de novo — O negócio é que eu ...

     Minha vontade até hoje é de me quebrar na porrada por ser tão bobão naquele momento.

— Tem alguma coisa a ver com o seu irmão?

— Não! — neguei, pensando um pouquinho — ... Talvez? É ... é difícil dizer.

— Por quê?

     Puxei muito ar pelo nariz e fechei os olhos, decidido a falar de uma vez por todas.

— Vemcomigoassistiroeclipsesemanaquevem?

      "Isso, seu paspalhão! Estraga tudo. Por que não se afoga no chuveiro logo?"

     Quando passou-se um minuto inteiro e ainda não obtive resposta, arrisquei abrir os olhos. Não esperava a cena que encontrei:

     Nene tinha as bochechas pintadas de rosa, os olhos levemente arregalados e a boca entreaberta de surpresa. Ela estava simplesmente linda.

— Tipo ... eu e você assistindo ao eclipse juntos? — "repetiu" minha proposta.

— Sim.

— Só nós dois? Eu e você e o eclipse?

     Meu raciocínio alcançou o dela.

— E-era essa a ideia ... — cocei a nuca, rindo levemente de nervosismo.

     Pareceu ponderar por breves segundos, e suas bochechas coraram ainda mais. Sorriu-me aquele seu sorriso doce e assentiu com a cabeça.

— É claro! Eu aceito, Hanako-kun. Que horas e que dia da semana?

     Senti-me flutuando de alívio e felicidade.

— É na quarta. A gente pode chegar umas seis e meia p'ra dar tempo de montar tudo e fazer um lanche. Que tal?

— Parece um bom plano.

— É ... parece, sim ...

     Não consigo descrever o olhar que trocamos com outro adjetivo que não fosse "clichê como filmes de romance água com açúcar da Netflix". E pela primeira vez, não achei isso ruim.

     Que o Tsukasa se lascasse: eu tinha um encontro com a crush!

     Talvez eu não morresse sozinho, afinal!

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