(NÃO) quebre a primeira lei de Percy Jackson
Eu sou um homem de palavra. Portanto, eu aceitei cumprir minha parte da aposta.
Apesar de morrer de medo do Tsukasa criar fetiche nisso e me obrigar a usar saias regularmente. Bom, pelo menos meu medo é fundamentado e não porquê tenho masculinidade frágil.
Espera, eu acabei de ver o lado positivo em algo?
... Isso é novo. Não sei se gostei.
Fui até a escola normalmente. Encontrei meus amigos na sala, prontos para trocarem de roupa.
Nene emprestou três dos uniformes dela, enquanto Mitsuba deu um dos dele para a ela. Fomos todos bem felizes até o banheiro, atraindo olhares por onde passávamos.
A sensação de usar saia é ... diferente.
É estranho ter o receio de sentar errado e alguém ver sua roupa íntima, apesar da saia ser longa e eu ser ainda menor que a Yashiro. Mas ... eu gostei? Senti-me adorável no uniforme.
— Mano, a minha bunda ficou ma-ra-vi-lho-sa nisso! — comentou Sousuke, radiante, admirando seu reflexo no espelho ao rodopiar sem parar.
— Por que eu concordei com isso, mesmo? — perguntou a si mesmo o Minamoto, corado até as orelhas.
— Deixa de choradeira e vamos logo que a aula já vai começar! — dei um tapa na cabeça dele, juntando coragem para enfim sair e encarar o mundo.
A expressão de todos foi impagável.
Alguns estavam completamente indignados com nossa escolha de figurino. Outros achavam que era dia de trote e não ficaram sabendo. Outros assobiavam e murmuravam "as bixas chegaram~". Outros pediam para tirar foto. E também havia os que não ligavam.
De qualquer forma, tudo ocorreu na mais perfeita paz até a hora do intervalo.
— 'Tô surpreso por a diretora não ter mandado a gente se trocar até agora. — comentou o loiro, desamassando a saia ao levantar da cadeira com a marmita na mão.
— Não fala nada! — pediu Nene, séria — Primeira lei de Percy Jackson: não diga que está indo tudo bem, pois vai piorar.
— ... Eu preciso ler logo essa série. 'Tô curioso. — falei.
Estávamos apenas andando pelos corredores da escola e conversando. Não fazíamos nada a ninguém. Apenas existíamos em uniformes trocados.
Foi quando o Mitsuba deu um grunhido surpreso e indignado.
— HEY! — gritou, vermelho até as orelhas (não sabia se de raiva ou vergonha) — QUEM APERTOU A MINHA BUNDA!!?
Eu travei no lugar ao ouvi-lo.
— Foi só uma brincadeira, mano. — desdenhou um cara de cabelo pintado de roxo.
— Assédio é brincadeira desde quando!? — questionou.
Nunca vi o Mitsuba genuinamente irritado. Naquele instante, ele estava furioso – e com razão.
Mas eu continuava completamente paralisado de medo.
— Você que decidiu enfiar uma saia. Não é culpa minha.
"Quem mandou ter um corpo assim, Amaneee~?"
— Desde quando o meu namorado usar saia te dá o direito de tocar nele sem permissão? — perguntou pausadamente o Minamoto, a voz saindo feito veneno.
— E vocês pediram permissão p'ra usarem saia e parecerem umas vadiazinhas?
Dizer que foi como levar uma tijolada na cabeça seria eufemismo. Parecia que fui soterrado por um prédio de dez andares.
"Boa, Vadiazinha."
— Minoru. — chamou um cara loiro do terceiro ano, aproximando-se daquele verme com uma cara de pouquíssimos amigos — Repete.
Eu tentava conter minha tremedeira. Mitsuba continuava pistola. Yashiro estava preocupada comigo. Kou sorria diabolicamente para o verme roxo.
— N-nada, Minamoto-san ...
— Diretoria. Agora. — sentenciou, severo, suavizando o olhar ao virar para nós — Por favor, me acompanhem.
"Vadiazinha."
— Eu vou me trocar primeiro. — falei, voltando para a sala antes que dissessem mais qualquer coisa.
Quando eu cheguei ao banheiro e fechei a cabine, as lágrimas começaram a rolar.
"Vadiazinha."
Eu continuava não sendo mais que uma boneca sexual?
Troquei o uniforme para o normal. Lavei o rosto, que por milagre não inchou. Deixei o uniforme emprestado dobrado em cima da mesa da Nene e fui para a diretoria.
Bati à porta antes de entrar e todos os olhares pousaram em mim.
— Uma vadia já desistiu. — anunciou o tal de Minoru.
Deu vontade de soca-lo aos prantos e ir embora, mas apenas apertei os punhos antes de sentar na única cadeira vaga.
— Como eu estava dizendo. — falou a diretora, severa — Não posso deixar um assédio passar, mas eles não deveriam usar o uniforme feminino.
— Mas nós perguntamos a um professor se era permitido e ele disse que sim. — informou Kou, tentando manter a calma.
— E meu querido irmãozinho e seus amigos não estavam fazendo nada lascivo ou impróprio enquanto naqueles uniformes. E mesmo que estivessem, você nunca pode colocar a culpa na vítima. — pontuou o terceiranista.
— Quem seria esse professor que permitiu o uso de uniformes trocados? — fugiu do assunto a coordenadora.
— Fui eu.
O Tsushigomori realmente devia trabalhar para o FBI ou para a CIA. Seus talentos investigativos estavam sendo desperdiçados com ele como professor.
Ele fechou a porta e adentrou mais, pondo-se atrás de mim.
— Por quê!?
— Não está escrito em lugar nenhum que é proibido. E a questão aqui é que um aluno foi assediado. A roupa da vítima é totalmente irrelevante.
A sequência de acontecimentos depois dessa fala épica dele foi tão intensa e confusa que nem me darei ao trabalho de tentar descrever.
Em resumo, meus amigos foram obrigados a trocar de uniforme imediatamente e não fazerem mais essa aposta. O Minoru levou uma advertência.
(Eu acho que ele merecia bem mais que isso, mas não abusei da sorte.)
— Se eu descobrir que você assediou mais alguém, você 'tá morto. Entendeu!? — sentenciou o terceiranista, severo.
O arroxeado assentiu, morrendo de medo, e praticamente correu para longe de nós. O veterano sorriu docemente para nós.
— Valeu, cunhadinho. — agradeceu o rosado.
— Disponha, Mitsuba.
— Hanako, esse é o meu irmão mais velho, o Teru. — apresentou Kou — Teru, esse é o Amane Yugi, mas a gente chama ele de Hanako. Ele é aquele amigo que eu te falei.
— É. Ouvi falar do crescimento dele nesse ranking de provas. Parabéns.
— ... Valeu.
— Foi nada. Bom, se acontecer qualquer coisa, me chamem.
Na aula que tivemos com Tsushigomori naquele dia, ele encarava-me estranho. Eu ter trocado o uniforme depois do assédio do Mitsuba provavelmente pareceu bem suspeito.
Suspirei pesarosamente, esparramando-me sobre minha carteira.
Eu sabia que minha melhora não seria linear ou fácil, mas não achei que seria dolorosa.
"Vadiazinha."
Esse termo assombrou-me o dia inteiro.
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