Corre, Amane. E muito.
[ALERTA DE GATILHO: AMEAÇA A ESTUPRO]
— FILHO DA- ... — consegui segurar a última parte, sentindo a mangueira molhar-me.
— NÃO XINGUE A MINHA MÃE, HANAKO! — exigiu Sousuke, fugindo de mim.
— ENTÃO NÃO ME TORRA A PACIÊNCIA, ARROMBADO!
Era literalmente o dia seguinte ao meu encontro com a Nene.
Ela pediu ajuda a mim e ao casal para ajudá-la a cuidar do jardim da escola, já que os outros membros do clube de jardinagem tinham compromisso. Estava sendo divertido.
— Amor, deixa o Hanako em paz.
— MAS É DIVERTIDO PERTURBAR ELE!!
— Como 'cê aguenta ele, Kou-kun? — perguntou a loira-platinada.
— Não faço ideia. — confessou.
Cerca de meia-hora depois, Mitsuba e o Minamoto tiveram que ir embora. Parecia que ambos marcaram uma noite de filmes ou algo do gênero. (Eu não perdi a oportunidade de fazer uma suposição pervertida sobre isso.)
Então sobramos apenas eu e Yashiro para guardar tudo.
— Eu desisto de entender o namoro deles dois.
— Nunca entendi a amizade deles, então nem me dei ao trabalho de tentar entender o namoro. — deu de ombros, sorridente.
— Oe. — chamei, repentinamente nervoso — O que ... a gente faz, agora?
— Hmm ... vou ser direta: eu quero namorar. — admitiu, corada.
— E-eu também quero, só que ... tem o Tsukasa.
— ... Que tal a gente fazer o seguinte: esperamos as coisas melhorarem, e enquanto isso, a gente fica como "amigos que se gostam e se tratam diferente". Que tal?
— ... É uma boa.
— ... Então ... estamos praticamente namorando?
— Claro. — confirmei — Quando isso tudo acabar, eu vou fazer um pedido digno de mangá shoujo p'ra ti. Combinado?
Foi impossível não notar como ela ficou animada, encantada e emocionada.
— Combinado.
— Booom ... 'tô quase terminando aqui e já vai escurecer. É perigoso ir sozinha de noite e, infelizmente, o Tsukasa ia desconfiar se fôssemos juntos de novo. Deixa que eu termino. Pode ir mais cedo.
— Tem certeza? O clube é meu, então é minha responsabilidade.
— Fica tranquila. Eu vim p'ra te ajudar, né?
Sorriu doce, agradecida. Chegou perto muito lentamente, colocando a mão em minha bochecha na mesma velocidade para eu ter a oportunidade de recusar o toque. Um trocar de olhares foi confirmação o suficiente.
Não foi intenso como o beijo da noite anterior, mas ainda deixou-me eletrizado. Borboletas faziam a festa em meu estômago.
É. Beijar a pessoa que você gosta é uma das melhores sensações.
— Até amanhã, Hanako-kun!
Acenei feito o bobo apaixonado que eu era. Também era bom não ter que esconder isso dela. Tirava um enorme peso dos ombros.
Suspirei longamente, coçando a nuca e sorrindo como um paspalho.
— Parece que 'cê mentiu p'ra mim e pro Papai, Amanee~ ...
Eu não sei identificar como senti-me naquele momento. Era um desespero, vergonha e ânsia tão grandes que não dá nem para descrever.
Tsukasa entrou a passos lentos no "galpão" que o clube de jardinagem usava para guardar as ferramentas. Tinha um sorrisinho perverso de canto, e seus olhos âmbar tão parecidos com os meus cintilavam fúria.
Eu devo ter ficado tão branco que, mais um pouco, tornava-me transparente. Literalmente quase desmaiei.
— T-T-suk- ...
— "Não gosto de garotas fofas", hein? — falou, a voz saindo como veneno — Outra mentira. Tsk-tsk-tsk ... Vadiazinha má.
Quase vomitei ali mesmo. Tremia tanto que dava para perceber facilmente há vinte metros de distância.
Parou a um palmo de mim. Pegou firmemente em meu queixo com apenas o polegar e o indicador. Seus olhos escureceram ao encarar os meus.
— Perdi a paciência. — confessou pausadamente.
Meu sangue gelou ao vê-lo lamber os lábios vagarosamente.
— Q-q-quê? — soltei com um fio de voz.
Seu sorriso alargou-se de orelha a orelha.
— Parece que eu vou ter que consumar minha posse ao seu corpo, minha Vadiazinha.
A única razão pela qual não vomitei na cara dele era porquê minha garganta literalmente fechou, impedindo-me até de respirar.
Largou-me, rindo. Girou em seus calcanhares, saindo.
— Espero que seja bom em conter gritos, Vadiazinha.
Não.
Não.
Não.
Vomitava em um balde largado por perto. E não era pouco.
Tremia como uma britadeira. As lágrimas caíam gordas e sem qualquer controle. Meu corpo inteiro doía. Minha mente entrava em curto-circuito.
Murmurava "não" baixinho, sem parar.
Era esse o preço a pagar por ter sido tão feliz noite passada?
Grunhi. Apertava as bordas do balde com tanta força que os nós de meus dedos esbranquiçaram — não mais que meu rosto.
— Não. — repeti, a voz embargada e, para minha própria surpresa, decidida.
Eu não queria seus beijos, nem mãos percorrendo meu corpo, nem usar saia para satisfazer um fetiche e muito menos ter minha virgindade tomada daquele jeito.
Eu queria que fosse especial. No momento certo. Com alguém que eu escolhi. Recheado de amor e carinho e respeito.
A custo de muito, muito esforço, levantei-me. Ainda tremia e chorava. Cerrava os punhos quando decidi.
Eu não era a vadiazinha do Tsukasa. Dessa vez, e mesmo que só dessa vez, eu não entregaria o que ele queria de mão beijada.
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