Como deixar um candelabro nerd feliz

     Como eu temia, meu irmão arranjou uma saia e me obrigava a vestir toda noite enquanto "brincava" comigo.

— A gente não devia ter feito essa aposta ... — Nene pontuou o óbvio após eu contar, horririzada.

— Desculpa por te enfiar nessa, Hanako ... — pediu sinceramente o rosado.

— Eu que peço.

Ãhn? Por quê?

     Baixei o olhar para a minha marmita, envergonhado.

— Eu não fiz nada quando você foi assediado. Eu só travei e troquei de roupa na primeira oportunidade.

— Não tem problema, Hanako. Você ... — olhou ao redor, chegando mais perto para sussurrar — ... Você é sexualmente abusado toda noite. Não seria justo pedir que ' fizesse algo ou continuasse com o uniforme feminino depois daquela. Eu não ' bravo. E por causa da aposta que eu fiz, a sua situação só piorou. Eu que peço desculpas!

— ... Você anda bastante gentil ultimamente, Mitsuba ... — comentei, tentando não chorar.

— Não se acostume. Eu sou a definição de fofura, mas meu coração é de pedra!

     O Minamoto encarou-o seriamente por alguns segundos antes de iniciar uma surra de beijinhos no rosto. Tal ato deixou o menor completamente sem graça e vermelho e boiolinha.

— Que gay. — comentei.

— Somos dois candelabros, Hanako-kun. — falou Nene, sacando o celular para fotografar a cena — E eu sou um candelabro fanfiqueiro.

— Nunca duvidei.

...

     Não estava nada contente em voltar para casa. Peguei ódio de usar saias.

     Porém, algo inusual aconteceu naquela noite: quando cheguei, meu pai estava na cozinha com a minha mãe e Tsukasa.

     O turno dele era das seis da manhã até às oito da noite, o que impossibilitava-nos de nos vermos todos os dias por longos períodos.

     Papai era o mais alto da casa, com 170 cm. Ele tinha o mesmo cabelo castanho que eu e meu irmão tínhamos. Seus olhos eram castanhos, e nós puxamos os âmbar da Mamãe. Seus traços não eram os mais maduros, mas com certeza eram bonitos.

     Ao notar minha presença, abriu um enorme sorriso. Mamãe vivia dizendo que o meu sorriso era idêntico ao dele.

— E aí, Amane? — questionou, animado — Como foi a escola hoje?

— ... N-normal ... — soltei, ainda pasmo — Chegou mais cedo?

— Claro! Meus dois filhos tiraram notas ótimas, então achei uma boa ideia fazer uma comemoração.

— Não é incrível, Amaneee? — questionou o falso do meu irmão.

— É ... é sim. — concordei, chegando mais perto — A gente vai sair ou ...?

— Eu ' fazendo curry, filho. — falou Mamãe, feliz — E o seu pai passou na padaria e trouxe donuts! E temos uma surpresa p'ra vocês!

     Eu e Tsukasa trocamos olhares confusos. Isso era mais uma novidade.

     O jantar foi bastante agradável. Tsukasa era o que mais falava, querendo o máximo de atenção do pai possível só para si. Gesticulava e gritava e fazia nosso progenitor rir.

     Nem parecia que ele fazia da minha vida um verdadeiro inferno na Terra.

— (...) E ela tem o cabelo no tom de verde mais lindo que eu já vi na vida!

Uh, parece que um dos meus bebês está apaixonado ... — o homem cutucou as costelas dele, fazendo-o rir.

     "Sim. Ele é completamente apaixonado pelo conceito de acabar com a minha vida."

— Aaah, como não se apaixonar pela Sakura-chan~? — questionou retoricamente, fazendo cara de bobo apaixonado.

— E você, Amane?

     Quase engasguei.

Oi?

— Alguém roubou seu coração nesses últimos tempos? — perguntou com genuíno interesse.

      Foi um paradoxo: meu sangue gelou e minhas bochechas arderam em chamas.

     "Cara, eu 'tô fudido. E daqui a pouco pode ser no sentido mais literal da coisa."

Não. — consegui falar sem hesitar, voltando a comer para evitar perguntas.

— Sério? Nenhum crush nem nada?

     Neguei com a cabeça. Mas o comentário que minha mãe fez em seguida fez-me engasgar:

— Nem aquela sua amiga fofa?

     Eu estava realmente preocupado com a virgindade da minha bunda naquele momento.

— Não! Ela é só uma amiga que por acaso é fofa! Muitas coisas são fofas. Cachorrinhos são fofos e nem por isso eu quero namorar um!

     Eu provavelmente parecia um bobo apaixonado em negação com minha última fala.

— Justo. — Papai deu de ombros.

     Que Tsukasa tivesse misericórdia de mim e da minha bunda ...

     Terminamos o jantar e Mamãe foi buscar a tal surpresa enquanto comíamos os donuts. O meu irmão continuou a falar pelos cotovelos com nosso progenitor.

— Venham aqui, amores! — pediu ela desde a sala.

     Meu gêmio correu até lá comigo logo atrás.

     Haviam dois embrulhos sobre a mesa de centro. Um era comprido e "fino", o papel azul escuro com estrelhinhas. O outro era vermelho e no formato de um livro.

— O azul é do Amane e o vermelho do Tsukasa. — informou, animada.

     O meu irmão estraçalhou o embrulho enquanto eu rasgava com cuidado.

     Ele vibrou com o presente: um livro de história que explicava genocídios e as técnicas de tortura usadas. Eu estaria surtando e rezando pela minha integridade física.

     Isso se eu não estivesse emocionado com meu próprio presente: um telescópio. Um telescópio de verdade e de cor azul escuro e prateado. Igualzinho ao que eu queria desde criança.

— Vai ter um eclipse lunar mês que vêm, não vai? — questionou o mais velho — Agora você pode ver bem de perto.

— ... Obrigado. — praticamente balbuciei, segurando as lágrimas de alegria — Muito, muito obrigado mesmo!

     Dei um abraço apertado em meus pais, e Tsukasa imitou minha ação. Tentei ignorar sua existência e a proximidade dele de mim.

     E uma ideia completamente louca passou por minha mente: chamar Yashiro para assistir ao eclipse lunar comigo, só nós dois.

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