Brilha, brilha, rabanetinho. Lá no céu, pequenininho.

     Era a quinta vez que esfregava minha boca com água, mas a sensação não ia embora. A ânsia não passava.

     Até que não resisti: corri para o sanitário e vomitei o que sobrou do meu jantar. Não era grande coisa, já que fazia mais de duas horas desde que comi, mas esvaziou meu estômago. Torci para não estar fazendo barulho.

     Dei descarga e escovei os dentes, ainda sentindo o nojo e a fumigação onde Tsukasa encostou. Passei a mão na região onde ele mordeu, sentindo lágrimas arderem em meus olhos.

     Deixei que escorressem. Que molhassem. Que lavassem meu rosto.

     Um chiado dolorido escapou de minha garganta, o mesmo chiado que Yashiro deu há mais de uma semana.

     A diferença era que minha dor era muito mais polêmica e intrínseca. E que eu não tinha ninguém para dar seu ombro para chorar e dizer o quanto se importava e me achava especial.

     Não que eu fosse cair nessa papo. Aos doze anos, meus olhos se abriram e percebi como não possuo nada de especial. Nada que acrescente. Nada que valha a dor de cabeça. Eufemismo e frases prontas não mais me enganavam.

     E, mesmo assim, doía.

     Decidi ser um covarde ousado novamente e escapuli na ponta dos dedos para o quintal.

     Admirar as estrelas sempre foi meu passatempo favorito. E o ar puro da noite talvez acalmasse meu estômago embrulhado. E era uma boa oportunidade para pensar sobre algumas coisas que me atormentavam.

     A começar pelo fato de que Tsukasa começou a rodear o meu grupinho de amigos. Não tentava uma manobra evasiva como lanchar conosco novamente, mas observava nossos passos de longe e com atenção.

    Outra coisa era sobre como meu irmão passou a se superar nos abusos e espancamentos. Por que só agora? Ele descobriu que eu me importava com aquele trio? Simplesmente queria se aproveitar mais ainda de mim? Não fazia ideia.

     O terceiro tópico era bobo. Ou, pelo menos, parecia bastante bobo para mim: Nene sugeriu fazermos uma festa do pijama para estudarmos, já que as provas eram daqui duas semanas. E eu tinha medo de ir e eles virem as marcas de mordidas ou de o Tsukasa descobrir como eu adoro aquela turminha louca.

     E eu queria ir. Queria muito. E eles pareciam também fazer questão de que eu fosse, por algum motivo.

     Suspirei, abraçando meus joelhos e escondendo o rosto neles.

     Não me sentia digno dessa atenção. Dessa insistência. Desse carinho. Sequer me achava no direito de gostar romanticamente da Yashiro.

     Ela é fofa e teimosa e carinhosa. Faz o que acha melhor mesmo se você disser que não é uma boa ideia. É a pessoa que mais se preocupa comigo.

     Merecia um cara gostoso que realizasse todas as fantasias clichês dela. Não um pirralho ansioso com um metro e meio de altura que se deixa apanhar e ser abusado pelo gêmio mais novo.

     E mesmo que eu não tivesse tanta cara de criança, fosse mais alto e não sofresse nas mãos do Tsukasa ... eu não seria o príncipe que ela queria e merecia.

     Ela não gostaria de sair com um nerd. Não gostaria que o cara a levasse para ver o eclipse lunar que aconteceria em um mês e meio num encontro sério. Preferiria cartas bregas e românticas a comparações idiotas de como ela era uma estrela ou satélite brilhante em minha vida.

     Ri com deboche de mim mesmo.

     Sim. Yashiro é uma estrela. Yashiro era uma perfeita Antares, como seus peculiares olhos sugeriam.

     Uma estrela há uns 60 anos-luz daqui. Uma estrela possivelmente morta, a qual só aprecio os vestígios lindos de sua luz por um milagre que talvez nem merecesse. Uma estrela inalcançável por natureza.

     Chorei de novo.

     Porque eu não merecia Antares. Não merecia ser seu amigo. Não merecia respirar o mesmo ar que Minha Estrela. Nem podia alcança-la.

     Mas meu coração egoísta não aceitava. Ele doía pela abstinência, e não era pouco.

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