Capítulo 3


— Eu tenho um encontro hoje e não vou me atrasar — digo, andando ao lado do Eduardo, que não tira a cara do celular, respondendo a algum e-mail como sempre.

Andamos em direção à sala de reuniões e, quando vou abrir a porta, Edu me para. Ele pede um instante enquanto termina de digitar e põe o celular no bolso.

— Eu odeio esse lugar — diz, me olhando com seriedade. Sei disso, todo mundo sabe disso. A novidade seria se subitamente ele tivesse começado a gostar daqui. — Mas você parece adorar — aponta.

Concordo com a cabeça. Faz tempo que deixei de exercer só a minha função aqui. Para ser mais precisa, desde que Eduardo começou a trabalhar nesse escritório, tenho sido seu braço direito, e isso envolve longas horas de trabalho, decisões difíceis e o aumento que ele me deu há alguns minutos. Mais uma coisa para comemorar hoje. E ele tem razão, realmente adoro esse trabalho. É uma dor de cabeça boa, a certeza de que foi isso que nasci para fazer.

Indico com a cabeça para que ele continue.

— Quero que você tenha mais responsabilidades aqui. Consegue fazer isso?

Se fosse qualquer outra pessoa me perguntando isso, eu provavelmente daria um ataque. É claro que consigo fazer isso. Nasci para fazer isso. Me vestia de CEO ao invés de princesa quando era criança, não estou nem brincando. Para total desespero do meu pai, que sempre quis que eu esperasse meu príncipe encantado. Se esse tal príncipe vier trazendo uma garrafa de tequila e não me ligar no dia seguinte, estou aceitando também.

Mas é Eduardo. É Eduardo e sua relação nem um pouco saudável com esse lugar, sua obsessão por essa empresa. Então sorrio e confirmo com a cabeça. Sim, consigo fazer isso.

— Não estou com cabeça para isso hoje, você vai comandar essa reunião — anuncia e entra na sala sem me dar tempo de responder nem processar nada. — Boa tarde a todos, desculpe a demora. Sei que as reuniões acontecem às segundas, mas chegou a nosso conhecimento alguns assuntos que precisam ser discutidos. Não deve se estender.

Edu anda até onde Juliana está e ela estende a ata para ele, que nega com a cabeça e senta-se ao seu lado, recostando na cadeira e acenando para mim em um gesto discreto de encorajamento. Ju sorri gloriosamente quando vem na minha direção, sussurra "arrasa", me entrega o papel e volta para seu lugar.

Vejo alguns rostos me olhando com curiosidade e surpresa, outros com descrença. Passo os olhos no assunto da reunião e sento na cadeira na ponta da mesa, colocando meu melhor sorriso no rosto, fingindo que não estou a ponto de vomitar.

— Vamos começar?

Depois de pouco mais de uma hora, a reunião acaba e todos saem da sala, e Juliana pula no meu pescoço com um gritinho animado.

— Você foi maravilhosa!

Sorrio para ela, empolgada também, agradecendo pela amiga maravilhosa que eu tenho. Eduardo espera que ela acabe para se aproximar, recostando na mesa e cruzando os braços ao olhar na minha direção.

— Excelente trabalho, Priscila.

Ele sorri e acena com a cabeça, e isso vindo dele é como soltar fogos de artifício.

— Quer sair para comemorar? — Ju pergunta e nego com a cabeça, sorrindo.

Tenho minha própria comemoração me esperando em algumas horas. Mas não falo nada para ela, não ainda, porque conheço a peça a sei que ela vai querer saber de coisas que não vou saber responder. E com certeza vai querer inventar um encontro duplo, e infelizmente vou ser obrigada a me mudar para a Argentina para fugir disso. Preciso conhecer o amigo dela primeiro para decidir se dou um beijo ou um tapa nela por ter dado meu número para ele. E pelo visto Calebe não falou nada também, caso contrário ela teria dito alguma coisa.

Me despeço dos dois e Eduardo diz para eu ficar com meu celular por perto porque vai me encaminhar uma planilha. Mas considerando o jeito que Juliana pula no pescoço dele assim que eu viro as costas, duvido muito que ele lembre de alguma coisa.

Saio do escritório e dirijo sem pressa para casa. Tomo um banho demorado, bem relaxante, antes de me enfiar em um vestido justo e saltos altos e chamar um táxi em direção ao bar.

Puxo meu celular e digito uma mensagem para Calebe quando chego. Ele responde na mesma hora dizendo que está a cinco minutos de distância e aproveito o tempo para olhar o lugar que ele escolheu. Caro. Já vim aqui antes para comemorar o aniversário de uma amiga e não saí com nada menos do que um rombo no meu cartão de crédito. Não costumo me dar muito bem com caras que tentam me impressionar desse jeito, mas vamos ver. Procuro uma mesa livre e, por um milagre, encontro e sento, e aproveito para responder alguns e-mails enquanto espero.

— Priscila?

Ergo os olhos e vejo na minha frente o homem das fotos, mas verdade seja dita, foto nenhuma fez jus à sua beleza. Ele tem um sorriso tímido no rosto e os olhos me encaram com curiosidade, e eu levanto para cumprimentá-lo. Seu olhar não deixa meu rosto, não vacila nem por um segundo, não cai para as minhas pernas expostas no vestido curto. Calebe simplesmente me dá um beijo no rosto e espera que eu sente de novo para me acompanhar. Todo respeitoso.

— Desculpe ter te deixado esperando — diz, ainda sorrindo. — Tive alguns problemas no trabalho.

Dispenso as desculpas com a mão. Mal foram cinco minutos.

— Ela me falou muito bem de você — diz, erguendo a mão para chamar um garçom. — Disse que você é uma das pessoas mais fodas que ela já conheceu.

Sorrio em descrença, porque Juliana não fala palavrão e nem me venderia fácil assim. O máximo que sai da boca dela é um merda ocasional, então não foi isso que ela disse, e agora estou curiosa para saber o que ela anda falando de mim por aí.

— O que você faz? — pergunto depois de pedirmos algumas bebidas e ele mal demorar alguns segundos para escolher o que ia comer, sugerindo algo do cardápio que eu prontamente aceitei.

O nervosismo mal durou dois segundos e agora Calebe fala com toda confiança e propriedade, me olhando com atenção. Ele passa alguns minutos falando sobre seu trabalho em um escritório no centro que é até bem perto da Rodrigues Menezes, algumas quadras de distância apenas. Fala brevemente sobre o que faz e sinto falta de detalhes desnecessários.

A conversa flui fácil, passando por assuntos diversos e mais sérios do que eu esperaria de um cara de vinte e sete anos. A vantagem de sair com gente mais nova é a energia infinita que os homens que passam dos trinta parecem deixar em casa, mas a falta de maturidade às vezes faz simplesmente não valer a pena deixar esses caras na faixa dos vinte abrir a boca para dizer nada. E não estou reclamando, não preciso ser melhor amiga de ninguém para ir para cama, facilita minha vida, inclusive. Mas não recuso uma boa conversa.

— O que acha de eu te levar para surfar amanhã de manhã? — pergunta depois de eu dizer que sempre quis aprender, mas nunca realmente fiz esforço para isso.

— Eu tenho um casamento para ir no fim do dia — respondo, e não é uma desculpa esfarrapada. Preciso começar a me arrumar lá para as quatro da tarde, e meu cabelo vai agradecer se não ficar destruído da água do mar.

— Prometo que você vai estar livre até a hora do almoço. Chegamos à praia perto das sete para pegar o dia começando — insiste, sorrindo e mostrando uma covinha linda na bochecha. — Aliás, qual foi a última vez que você foi à praia? Pelo que você me falou até agora, não faz muito além de trabalhar.

Até faço, mas não acho que minhas noitadas sejam o assunto ideal para um primeiro encontro, então deixo de lado. Não faço muito da vida além disso, é verdade. No fim das contas gosto muito da minha própria companhia, gosto do meu espaço, de colocar fones de ouvido e andar por aí, ou ir ao cinema. Praias são meus lugares favoritos no mundo, mas costumo ir à noite, sentar na areia fresca e olhar o mar.

Encaro seus olhos empolgados e concordo. Realmente faz tempo que não pego sol e uma marquinha de biquíni nunca fez mal a ninguém, e não vai ser nada mal ver esse homem sem camisa dourando no sol.

— Tudo bem! — concordo. — Mas eu sou péssima acordando cedo — admito.

Até levanto sem problema nenhum durante à semana, chego pontualmente no trabalho, mas fim de semana? Esqueço que o mundo existe antes da hora do almoço.

Calebe ri e inclina a cabeça na minha direção, e vejo quando ele morde o lábio como se pensasse no que dizer a seguir. Ele tem um sorriso muito bonito.

— Posso te acordar — diz e, pela primeira vez na noite, ouço flerte no seu tom e ele me olha com um olhar de puro interesse.

Finalmente.

Tenho que admitir que o homem se esforçou para realmente manter uma conversa e prestou atenção em tudo que eu disse. Riu nas horas certas, fez todas as perguntas que devia fazer, mostrou interesse. Arrumou a justificativa perfeita para passar uma cantada. Ele é bom nisso. Obrigada, Juliana.

— Que horas você pretende bater na porta da minha casa pra isso? — pergunto, tomando um gole da minha bebida, esperando para ver se ele vai ter coragem de concluir a proposta.

Ele balança a cabeça sorrindo e me olha como tentasse decidir até onde ir.

— Posso passar lá bem cedo — diz. Resposta segura. Ele poderia ter dito que achava melhor que eu já estivesse na casa dele, só por garantia. Ou que talvez fosse melhor ele passar a noite na minha, só para ter certeza de que eu não vou me atrasar. Jogadas arriscadas? Sem dúvida. Ele jogou seguro, coisa de quem está querendo garantir um segundo encontro e não uma noite isolada de sexo.

O problema é que não sou muito dada a segundos encontros. Prefiro terminar os primeiros na cama de alguém e, então, decidir de vale ver de novo. Encontros seguidos sem sexo levam à ilusória ideia de que vai existir alguma coisa ali. Que as pessoas precisam se conhecer melhor e ver se "conectam". Dispenso. Não tenho nem tempo nem paciência para isso.

Mas também... Calebe sem camisa no sol não é algo que eu esteja querendo dispensar.

— Vou fazer o meu melhor para estar pronta quando você chegar — respondo sorrindo e ele ergue o copo em um brinde.

E pisca o olho para mim.

É quase meia-noite quando ele me deixa na porta de casa. A noite foi maravilhosa, nada menos. Calebe tem um papo bom, maduro, consciente. Divertido nas horas certas com tiradas inteligentes, uma postura segura, sem vacilar, uma companhia boa de se ter por perto. Parece um bom homem.

Olho para ele quando tiro o cinto.

— Tive uma ótima noite, Priscila — diz, se aproximando um pouco. Eu também tive.

— Te vejo amanhã — respondo com um sorriso sincero.

Ele se inclina na minha direção e deixa um beijo no meu rosto, a mão pousando na minha cintura sem hesitar. Seu toque é firme e me arrepia inteira. Inspiro fundo e sinto o cheiro do perfume que ele usa. Reconheço a marca e aprovo, e me surpreendo porque é realmente caro. Ele tem bom gosto.

Levo a mão ao seu braço e ele escorrega a dele ao meu pescoço. Seu nariz raspa o meu quando Calebe vira o rosto de frente para mim. Ele espera permissão para me beijar e não hesita nem por um segundo quando não me afasto, tomando minha boca com voracidade. Sou imediatamente atingida pelo gosto de cerveja, mas não me incomoda nem um pouco quando ele passa a mão no meu pescoço e me puxa para ele, aprofundando o beijo.

Ele sabe o que faz. Seu beijo é firme, preciso, gostoso, quente como a pele dele. Sua língua me explora e eu concedo passagem sem nem hesitar. Ele não pede permissão para nada, simplesmente me mostra tudo que tem, definindo o ritmo da coisa, me conduzindo.

Cedo demais, ele me solta e arrasta os lábios nos meus. Abro os olhos e o encontro bem perto de mim, com a respiração completamente inabalada como se nada tivesse acontecido, olhar atento sobre mim e um sorriso satisfeito nos lábios. Perfeitamente em controle de si mesmo.

— Boa noite — murmura contra a minha boca.

— Boa noite — respondo, agora realmente ansiosa para vê-lo amanhã.

Subo para o meu apartamento e não consigo evitar passar a língua no lábio inferior, ainda sentindo o gosto dele. Que puta beijo. Faz tempo que não fico com ninguém com essa atitude toda.

Tranco a porta e vou para o banho, sentindo meu corpo quente querendo mais. Me arrasto para o quarto enrolada na toalha e pego meu celular na bolsa para colocar o alarme para ridiculamente cedo amanhã. Chances que vou estar destruída para o casamento, então é melhor valer a pena.

Me jogo na cama e começo a rolar pelos feeds das redes sociais, aleatoriamente curtindo fotos sem nem prestar muita atenção. Depois de alguns minutos, enjoo, coloco o aparelho para carregar e vou vestir alguma coisa para dormir. Quando estou pronta para ir para cama, checo o celular mais uma vez e vejo uma mensagem piscando na tela.


Seu encontro está tão tedioso assim que você está curtindo minhas fotos ao invés de dar atenção para o pobre homem?


Rio da mensagem e reviro os olhos.


Já estou em casa. Você não tem nada melhor para fazer do que tomar conta da minha vida não?


Volto a gastar tempo com coisas sem importância, respondo um e-mail perdido no caminho e já estou colocando o celular de volta na mesinha quando a resposta chega.


Honestamente eu estava esperando que você tivesse uma boa noite de sexo para não correr o risco de cair nos braços do seu ex amanhã. Sabe como é, casamentos sempre trazem sentimentos esquisitos nas pessoas.


Olha o outro preocupado com meu bem-estar. Rafael é inacreditável. E o que ele está fazendo sexta à noite no celular pentelhando minhas ideias ao invés de estar com alguém? Puxo pela memória e lembro da tal série que ele realmente queria terminar de assistir. Consigo visualizar perfeitamente a cena, ele jogado no sofá assistindo aquela porcaria ao invés de fazer qualquer outra coisa de útil da vida.


Mas é exatamente para isso que eu tenho você! Seus braços são os únicos que vou cair amanhã, meu querido salvador de mocinhas indefesas. Quer dizer, seus e do moreno, vou encontrar com ele de manhã.


Provoco. Cutuco. Talvez eu esteja forçando um pouco a barra aqui, mas nós nos tornamos amigos. Esse é o tipo de coisa que eu falaria com a Ju e sei que Rafael tem potencial para se tornar um amigo tão bom quanto. Pode parecer estranho, mas valorizo minhas amizades muito mais do que qualquer envolvimento romântico e, dependendo da reação do Rafa, aquele beijo vai ser o primeiro e o último. Não vale a pena arriscar uma amizade por umas pegações esporádicas.


Por favor escove bem os dentes, não preciso de baba de outro cara na minha boca. E de indefesa você não tem nada.


Solto uma gargalhada genuína com a reposta. Parece que não vamos mesmo ter problemas quanto a isso.

As pessoas têm diferentes metas de vida quando se trata de relacionamentos. Conhecer o amor da sua vida. Casar e ter filhos. Envelhecer ao lado de alguém. Eu sempre quis um PA. Um pau amigo que me desse sexo gostoso, sem estragar a amizade e que não tentasse me fazer não ficar com mais ninguém.

Tentei com Guilherme até, mas não deu muito certo. Ficamos algumas vezes e foi muito bom, mas ele ficou meio esquisito depois. Não deixou de ficar com outras pessoas, e nem eu, mas ele simplesmente não queria ouvir sobre isso. Alguns assuntos passaram a ser completamente proibidos entre a gente e eu não gosto nem um pouco disso. Se é para eu ter alguém fixo, ainda que não exclusivo, essa pessoa tem que ser uma ótima companhia para valer a pena o tempo passado junto. E descobri que o Gui funciona muito melhor como somente amigo. Ainda bem que ele conheceu a Fernanda e eu não precisei terminar o que a gente tinha, porque aí sim as coisas iam ficar esquisitas.


Vá dormir, Cinderela.


Rio do apelido.


Prefiro acreditar que estou mais para Branca de Neve.


Já passou da meia noite e não virei abóbora nem nada. Pelo contrário, continuo divina como sempre. Vantagens de ser sua própria fada madrinha. Encaro a aplicativo de mensagens e vejo que ele digita e para, começa a digitar de novo, e para de novo. Por fim, manda uma carinha pensativa.


Mulher no meio da floresta sozinha com sete homens?


A resposta dessa vez vem rápida e solto uma gargalhada com a imagem de um gatinho parecendo carrancudo. Ele tem tempo livre demais para procurar essas coisas. Renato não está pegando tanto no pé dele quanto deveria.


Essa foi boa. Obrigado por arruinar isso para mim. Quero ver como vou fazer para ler essa história para a minha prima agora sem pensar besteira. Boa noite, doida.


Claro que foi boa. E eu lá faço piada ruim?


Boa noite, tagarela.


AH LÁ, COMEÇOU A DESCONTROLADA A POSTAR FORA DE HORA

Capítulo especial de comemoração de 3K (e por motivos de eu sou ansiosa, mas vocês já sabem disso haha). Obrigada pelo carinho, meninas!

Vocês já estão tomando partido dos caras aí nos comentários, então vamos abrir um bolão! #TeamCalebe ou #TeamRafa? haha Contem pra amiga.

Votem e comentem muuuito!! Comentários ajudam o livro a crescer e alcançar mais gente, fora que me deixam muito feliz e animada com a história ver vocês reagindo comigo.

Feliz aniversário, Isa!

Amo vocês!

Até breve <3

*

Não estava nos panos de Luna se apaixonar. Ela passou toda a vida atrás de vingar seu clã, mas seus planos são paralisados quando ela conhece Sebastian, o filho do homem que matou uma das pessoas mais importantes da sua vida. Amor ou missão? Quem ganha essa batalha?

Venha conhecer Utópico, da linda Ingrid De Paula!

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