Capítulo 2
Eu realmente não esperava por essa. Já começo meu dia soltando uma gargalhada quando entro na minha sala e encontro Rafael sentado no sofá com três camisas sociais esticadas ao lado dele.
Me pergunto há quanto tempo ele está aqui, porque ainda passei na sala do Edu quando cheguei na empresa e isso tem pelo menos quarenta minutos. Quero dar um beijo na Ju pelo excelente trabalho que ela está fazendo pelo humor dele, nunca vi o homem tão sorridente assim. Minha paciência agradece, porque, por mais que adore aquele velho rabugento, a vontade de bater nele é constante.
A gente se conheceu a uma vida atrás, alguns anos depois de eu começar a trabalhar aqui, em uma vez que eu acabei parando naquele galpão onde ele treinava o pessoal. O que fui fazer lá, nem lembro mais, mas saí com um amigo novo a tiracolo. Ainda me surpreende que seja irmão do Vinicius, não poderiam ser mais diferentes. Os anos passam e a diferença só aumenta.
Lembro que logo que começou a trabalhar aqui, Juliana, que se recusava a admitir que estava de quatro por ele, me perguntou se a gente já tinha tido alguma coisa, e os olhos dela só faltaram sair do rosto quando eu disse que nunca nem me interessei. Eu entendo o fascínio todo, ele é um baita de um homem de fato, mas Edu é muito fofo. Romântico. Bom moço. Homem de uma mulher só. Deus me livre.
— O que é isso, Rafa? — pergunto, colocando minha bolsa na cadeira e indo na sua direção.
Ele larga o celular que estava mexendo e levanta, parando ao meu lado e, em silêncio, olhamos para as três blusas como se analisássemos uma obra de arte, e eu realmente preciso me segurar para não soltar outra risada da expressão concentrada dele. Perdi a conta de quantas fotos ele já me mandou com opções diversas de roupas para usar nos seus encontros. Se tem uma coisa que esse menino não sabe fazer, é escolher roupa.
— A rosa — digo, apontando para a blusa da esquerda. — Vai combinar com meu vestido.
Olho para ele, que inclina a cabeça. Após alguns segundos, concorda e olha na minha direção, abrindo um sorriso. É impossível não sorrir de volta.
— Sabe que não é um encontro de verdade, né? — implico, recostando na minha mesa enquanto ele pega os cabides.
— Se fosse, eu não estaria pedindo sua ajuda no que vestir — responde, me cutucando. — Você quer fazer ciúmes naquele cara lá, nada mais justo do que eu estar bonito para te ajudar nisso — diz, todo pomposo. — Aliás — ele anda na minha direção —, tem alguma coisa que eu precise saber? Preciso falar com ele, você quer que eu banque o namorado bravo? Já aviso que eu sou péssimo de briga, vou apanhar feio. Se ele quebrar meu o nariz, você vai pagar a conta do médico.
Ele para na minha frente, a um braço de distância, e o chamo com o dedo, arrumando a gola mal dobrada da sua camisa. Não tenho intenção nenhuma de fazer ciúmes em ninguém, é exatamente o contrário disso. Se puder evitar cruzar com ele, prefiro. Mas conhecendo o tagarela, se eu falo isso a conversa vai ser infinita e eu estou com muito trabalho acumulado. Então deixa assim mesmo.
— A gente vai se divertir — digo. — Beber, dançar, você provavelmente vai passar metade da noite tagarelando sobre alguma coisa que eu não vou prestar atenção. — Ele me olha se fingindo de ofendido e eu ignoro. — Se meu ex aparecer e começar a perturbar, você me beija e pronto. Ele vai entender o recado e dar meia volta.
Rafael arregala os olhos e abre a boca sem saber o que dizer. Como é fácil deixar esse menino constrangido. Ele me olha como se eu tivesse acabado de dizer o maior absurdo do universo e, sinceramente, não entendo.
— Te beijar? — pergunta, coçando a cabeça. Confirmo com um aceno. — Você quer que eu te beije? — Por que não? Pergunto isso a ele e Rafa coloca as blusas na mesa de novo, dando mais um passo na minha direção. — Você é doida — diz, apontando um dedo na minha direção e eu ergo a sobrancelha para ele. — Isso não é passar um pouco da linha? As coisas não vão ficar estranhas entre a gente nem nada do tipo? Você mesma disse que não é um encontro de verdade. E não é por nada não, mas você é uma ótima amiga. Eu gosto muito de você, e estou muito bem assim. Já disse que você é maravilhosa, mas...
Levo os dedos aos lábios dele como já está virando hábito. Rafael quando desembesta a falar, nem reza braba faz parar. Olho para ele e tento entender o homem à minha frente. Ele parece um menino espoleta na maior parte do tempo, sorridente, alto astral, beirando a inocência. Mas ao mesmo tempo não pensa duas vezes antes de abrir a porta para mim ou me dar passagem em qualquer situação só para grudar os olhos na minha bunda. Verdade seja dita, ele faz isso com todo mundo. Certeza que está saindo com a estagiária nova do jurídico, e consigo ver bem o quanto ele está se esforçando para não olhar de novo para o meu decote nesse momento.
Rafael me encara, sobrancelha arqueada, e dou um passo à frente, apoiando as duas mãos nos seus ombros. Ele é mais alto que eu, mas, de salto, a diferença é quase inexistente. Quando me aproximo, nossos rostos ficam bem perto um do outro e vejo os olhos dele se arregalarem.
— Me beija — ordeno, e vejo o olhar dele cair para minha boca imediatamente, mas ele não se move. Quem olha assim, acha que não quer. — Você está se comportando como se fosse grande coisa. Pessoas se beijam, Rafael. O tempo todo. Não significa nada. — Ele inclina um pouco na minha direção, e posso sentir seu cheiro, limpo e suave, mas ainda não encosta em mim. — Se você me beijar na frente do meu ex, nervoso do jeito que está agora, vai ficar na cara que não estamos juntos. — Me inclino um pouco mais para frente, encostando os lábios nos seus e sorrio quando ele respira fundo com o toque. — Um pouco de prática não faz mal a ninguém.
Rafael ergue uma mão e apoia delicadamente na minha cintura, e sorrio com o gesto singelo. A outra sobe no meu rosto e ele inclina na minha direção, depositando um beijo casto nos meus lábios. Estou a ponto de perguntar se isso é tudo que ele sabe fazer quando o loiro repete o toque gentil mais algumas vezes, hesitante a princípio, mas então começa a separar os lábios e tomar os meus para si. E, sem que eu espere, a mão no meu quadril vira um enlace firme ao redor da minha cintura e me puxa de encontro a ele, e consigo sentir seu tronco me aparando.
Ele aprofunda o beijo, moldando meus lábios, explorando minha boca, em muito mais do que eu achei que fosse fazer. A mão do meu rosto vai para o meu pescoço, seus dedos enroscam no meu cabelo, mantendo minha cabeça no lugar e ele me toma. Seu toque é gentil e carinhoso, mas firme, lento e profundo. Sem que eu note, enlaço meus braços no seu pescoço e ele me puxa para mais perto, arrastando os dedos pela minha cintura até espalmar a mão baixo nas minhas costas, na curva da minha bunda, e me beija sem pressa. Rafael cola meu peito no seu e me pego gemendo contra a sua boca quando ele morde meu lábio inferior antes de me soltar.
— Assim? — pergunta ainda contra a minha boca, ofegante. Sinto meus lábios formigando e meu corpo levemente desestabilizado, e aceno com a cabeça. — Posso fazer isso — diz, com a voz meio rouca. — Quantas vezes precisar. A noite toda.
Ora, ora o que temos escondido por trás dessa carinha inocente.
— Você não é ruim nisso — digo, ainda nos braços dele, e Rafael ri, apoiando a testa na minha. — Tenho certeza que qualquer um acreditará facilmente que estamos juntos se você fizer isso.
Ele solta meu pescoço e começa a escorrer a mão do meu quadril, pigarreando. Por essa eu não esperava. Não mesmo. Ele dá um passo para trás sem tirar os olhos de mim e sorrio, silenciosamente dizendo que não foi nada demais e está tudo bem.
— Eu... vou voltar para o trabalho antes que o Renato me mate — diz, gesticulando com as mãos, indo em direção à porta.
Ele vira de costas e me permito encarar a bundinha gostosa dele por um segundo antes de chamar seu nome.
— Você esqueceu suas camisas. — Aponto para as roupas em cima da minha mesa quando ele vira para me olhar.
Apanho as três e dou alguns passos na sua direção, realmente me deliciando com como ele ficou desestabilizado e parece completamente sem graça. Estendo a mão e entrego para ele as camisas, e ele pega, sem tirar os olhos de mim.
— Onde você vai guardar isso? — pergunto e ele dá os ombros.
— Vou fazer um rolo e enfiar de volta na minha bolsa, do mesmo jeito que eu trouxe — diz, e quero chorar em solidariedade às peças de roupa que estão sendo maltratadas.
— Até amanhã, Rafa — digo, entortando a cabeça e abrindo um sorriso para o semblante incerto dele.
Rafael me olha por um segundo a mais, como se tentasse decidir entre ir embora ou não e mordo o lábio, segurando um sorriso. Ergo a sobrancelha e ele revira os olhos, sorrindo de volta, balançando a cabeça.
— Até amanhã, doida.
— Já almoçou? — Ouço a voz de Eduardo enquanto espero o elevador, e nego com a cabeça.
Sorrio quando vejo Juliana chegar alguns segundos depois e ele instantaneamente estende o braço para pegar a bolsa dela. Não sei se os dois desistiram de fingir que não estão juntos, mas a esse ponto qualquer idiota é capaz de ver que ele não consegue tirar os olhos de cima dela, com essa cara de bobo apaixonado babão que só ele sabe fazer.
O sorriso estampado no rosto de ambos não nega a felicidade descarada e sorrio junto. Gosto assim. Todo mundo satisfeito e com a transa em dia.
— A gente está indo naquele negócio de comida árabe da esquina, quer vir junto? — Ju pergunta, entrando no elevador quando ele chega.
Mal as portas de fecham, ela entra nos braços do namorado, que não quer admitir que é namorado, e recosta a cabeça no peito dele. Então estão tentando disfarçar. Meu Deus, eles são péssimos nisso. Rio, balançando a cabeça e digo exatamente isso quando Juliana pergunta o que foi. Ela me responde dando a língua e sai quando o elevador abre as portas no térreo, se soltando de Edu que não faz nada além de olhá-la com pura devoção. Ela espera minha resposta e nego com a cabeça.
— Meu salário não me permite ficar almoçando em restaurante caro todo dia — implico, erguendo uma sobrancelha para Eduardo.
Juliana morde a boca segurando uma risada, e me olha com uma reprovação fingida enquanto balança a cabeça.
— Você merece um aumento, não posso discordar disso — Eduardo diz, cerrando os olhos para mim.
Eu estava brincando, mas ele parece estar realmente pensando no assunto. Não vou reclamar. O homem tem me feito trabalhar feito louca, principalmente nas últimas semanas. É verdade que não tem nada que faça eu me sentir mais realizada do que o meu trabalho, mas mesmo se não fosse o caso, só esse olhar de pura felicidade no rosto da minha amiga já faria valer a pena todas as horas extras que estão caindo no meu colo com Eduardo indo embora cedo para ficar com ela.
— Na verdade, passe na minha sala antes de ir embora, precisamos conversar sobre algumas coisas. Aliás, você vai conseguir terminar o que te pedi hoje?
Ergo uma sobrancelha e ele dispensa a própria pergunta com a mão. É claro que vou, que pergunta besta. Ele se despede, Juliana estala um beijo no meu rosto e os dois seguem até a entrada da... garagem? Não iam almoçar? Não, não quero saber. Rindo da completa falta de discrição dos dois, cruzo as portas e saio, indo até um restaurante à quilo do outro lado da rua, que eu sei ter uma lasanha maravilhosa, e eu realmente estou com vontade hoje.
Já passou um pouco da hora do almoço, então não está tão cheio e rapidamente estou sentada com meu prato em mãos. Confiro meu celular uma última vez, checando o que mais tenho que fazer hoje, digito um e-mail rápido e desligo a tela, colocando o aparelho de lado. Pego o talher e dou uma garfada generosa, fechando os olhos em puro deleite quando sinto o molho na minha língua. E tenho quase certeza que solto um gemido de satisfação.
— Pela sua cara, isso parece muito bom. Posso roubar um pedaço?
Abro os olhos para dar de cara com Rafael se sentando à mesa sem se dar ao trabalho de perguntar se tudo bem, com seu prato transbordando salada, que não engana ninguém. Até parece que ele não tem três quilos de chocolate na mesa dele. O loiro me olha com a sua já tão conhecida expressão de moleque despreocupado com a vida e não espera autorização para levar seu garfo ao meu prato e pegar uma lasca da minha lasanha. Observo com as sobrancelhas erguidas e tomo um gole da minha limonada enquanto ele mastiga, meneando a cabeça como se tentasse se decidir.
— É boa — diz, apontando o garfo na minha direção. — Mas não o suficiente para te fazer gemer desse jeito. Você pode colocar coisa melhor na boca para ter essa reação.
Eu engasgo com o suco, tossindo e rindo ao mesmo tempo, e ele arregala os olhos, se dando conta do que disse.
— Eu estava falando da feijoada, Priscila! — Solto uma gargalhada escandalosa com seu flerte acidental. — Você é doida — murmura antes de enfiar uma porção gigantesca de alface na boca.
— Ei! — Chamo sua atenção, ainda rindo. — É a segunda vez que você me chama de doida hoje, pode parar. — Ele ergue as mãos como quem pede desculpas e volta a comer, me olhando com uma cara de deboche enquanto enfia uma cenoura na boca. — Como está o trabalho, afinal?
A cara que o loiro faz me diz que ele preferia morrer a continuar trabalhando com Renato, e não o culpo. O homem consegue ser intragável quando quer. Rafael começa a falar sem parar sobre o projeto megalomaníaco que Renato está desenvolvendo, ao meu ver sem nenhuma necessidade, e eu tenho a impressão de que vai ser exatamente isso que Edu vai dizer para ele em breve. Não quero nem ver o ataque que o homem vai dar.
Meu celular toca em cima da mesa e o nome de Calebe aparece escrito. Rafael indica com a cabeça para que eu atenda e eu levo o aparelho ao ouvido.
— Boa tarde, Priscila. — A voz do moreno enche a linha e eu apoio o cotovelo na mesa. — Só queria confirmar se está tudo certo para mais tarde.
Esse homem gosta mesmo de ligar, não? Podia ter mandado uma mensagem.
— Está sim. Encontro com você às nove? — pergunto e ele confirma do outro lado da linha. — Até mais tarde então.
Desligo o telefone e dou de cara com Rafael erguendo as sobrancelhas, curioso. Lembro do beijo de mais cedo e percebo que não me importaria nem um pouco em repetir a dose. Mas estou bem de boa de complicação na minha vida, então preciso descobrir uma coisa.
— Tenho um encontro mais tarde — digo.
Ele continua mastigando e indica com o garfo para que eu fale. Resumo a história, conto do telefonema e como revirei as redes sociais do homem ontem antes de dormir.
— Cadê? — pergunta e eu entrego o celular para ele depois de abrir o aplicativo. — Bonito. Muito melhor do que aquele médico esquisito — diz, me devolvendo o aparelho.
Rio, porque não entendo a implicância que ele tem com o homem. O médico em questão é um cara com quem saio de vez em nunca, e tudo bem que o homem não é a minha pessoa favorita no mundo, mas é uma boa companhia. Rafael parece discordar, porque pegou uma implicância com o homem que não tem cura.
— Já sabe onde vão? — pergunta entre garfadas. — Abriu um barzinho bem legal em Botafogo, eu fui lá semana passada com a Raissa, aquela menina da academia, o clima é bem gostoso. Onde você mora? Talvez Botafogo seja longe para você. Mas tem várias coisas legais em vários lugares, é só procurar. — Ele pausa e faz uma cara de quem está pensando. — Você respondeu se já sabe onde vão? Escolhe um lugar movimentado. Não quero abrir o jornal amanhã e ver que você morreu, sabe que se encontrar com um cara que você não conhece é perigoso.
Sorrio para a tagarelice e me permito colocar uma estrelinha ao lado do nome dele na minha lista mental de pessoas. Ele não ficou esquisito e está agindo como se nada demais tivesse acontecido. Do jeito que eu gosto.
— Que tipo de encontro você prefere? — ele pergunta. — Lugar calmo para conversar, coisa para beber...?
Termino de comer enquanto escuto o loiro dissertar uma lista infinita de sugestões, parecendo mais animado do que eu. Rio quando ele sugere um piquenique à noite, e gargalho com vontade quando percebo que ele realmente está falando sério.
— Nós vamos sair para beber, Rafa — respondo por fim. — Encher a cara e fazer umas besteiras — implico propositadamente, erguendo as sobrancelhas de forma sugestiva.
Ele termina de mastigar a porção de comida que tem na boca e olha para mim com seriedade.
— Camisinha. — Rafael aponta para mim com o garfo e solto outra risada.
Já posso matar academia, o tanto que esse moleque me fez rir hoje substitui minha série de abdominais. Não que eu fosse de qualquer jeito. Estou pagando mensalidade à toa tem uns três meses.
Levanto da mesa, balançando a cabeça. Esse homem é inacreditável.
— Eu ainda não acabei de comer — ele protesta, apontando para o próprio prato que ainda está pela metade.
— Você comeria mais rápido se falasse menos — implico e ele faz uma careta de falsa ofensa. — Tenho que trabalhar. Mas não se preocupe, estou vendo a sua amiga do jurídico chegando.
Pisco para ele que sorri em resposta e entorta a cabeça para ver a mulher se aproximar. Ela, sem cerimônia, senta onde eu estava e ele abre um sorriso glorioso, mergulhando rapidamente em uma conversa animada com a mulher que nem disfarça o interesse descarado.
Ando em direção ao caixa, pago a comida e vou em direção à saída do restaurante, dando uma olhada sobre o ombro. E vejo Rafael me encarando. Ele move os lábios dizendo "se cuida" e volta seu sorriso fácil para a mulher na mesa com ele.
Parece que encontrei minha versão masculina.
OI MENINES, TUTUPOM?
Como vai o fim de semana de vocês?
O meu está muito bom, mas eu queria ser a Pri nesse momento haha
O que estão achando da nossa doidinha até agora?
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Vejo vocês na terça.
Amo vocês,
até breve <3
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