Capítulo 2

Quando meu irmão me ligou na hora do almoço dizendo que precisava falar comigo urgentemente, por um momento esqueci que o senso de urgência de Guilherme é questionável. Não preciso nem dizer que quase voei no pescoço do infeliz quando descobri que, depois de ter atravessado ruas e mais ruas do centro com esses saltos malditos, ele havia me chamado para que eu fingisse que era namorada dele.

Isso mesmo. Fingir. Ser. Namorada. Dele.

Eu amo meu irmão, com todo meu coração. Mas ele realmente precisa parar de se comportar como se tivesse dezesseis anos e começar a agir como o homem de vinte e três que é. E definitivamente precisa parar de me arrastar para as confusões que ele arruma. Não sei quem estava mais perdida: eu ou a coitada que ele estava tentando dispensar com esse teatrinho ridículo.

Então, quando meu telefone toca, mostrando a foto do maldito na tela, apesar de não querer vê-lo nem pintado de ouro agora, aproveito a distração para quebrar a tensão crescente em meu corpo com Eduardo me encarando profundamente com aqueles olhos cor de mel que estão fazendo meu estômago dar cambalhotas, enquanto toma o gole mais lento do mundo.

Coloco o copo na mesa e apanho meu celular, pedindo licença antes de correr porta afora.

— O quê? — atendo, talvez com mais grosseria do que o necessário.

— Eu sei que você tá brava comigo, mas também não precisa fazer assim. — Não preciso ver meu irmão para saber que ele está piscando seus grandes olhos castanho escuros, fazendo um bico forçado e uma cara de cachorro sem dono, que por algum motivo funciona com as pobres desavisadas que se envolvem com ele. Reviro os olhos. Guilherme tinha que andar na rua com uma placa pendurada no pescoço com um sinal de alerta.

— Eu estou trabalhando, Guilherme, o que você quer?

— Só ia oferecer uma carona pra casa se você ainda estiver no escritório, grosseria.

Argh! Respiro fundo, não é culpa dele se minhas pernas estão bambas nesse momento. Eduardo sempre foi o exemplo de profissionalismo, sempre me tratou com todo o respeito existente na face da Terra, e, com o tempo e proximidade, nossa relação evoluiu para uma amizade leve e bastante superficial.

E obviamente eu caí pela fantasia mais clichê de todos os tempos: imaginar a gente se enroscando em cima da mesa do seu escritório. Já era amizade, já era qualquer possibilidade de estar no mesmo cômodo que ele sem erotizar cada movimento seu.

Mas existe um abismo muito grande entre uma fantasia boba e a realidade e, no mundo real, esse aqui que a gente vive, todos os dias acordando antes das seis da manhã para trabalhar, ralando igual uma condenada, não existe a menor chance de eu me prestar ao ridículo de nem tentar nada com esse homem.

Porque, confesso, parte da atração vem do fetiche de chefe gostoso, sim. Não conheço Eduardo o suficiente para me interessar por nada além do óbvio, e o óbvio no caso paga o meu salário, então é terreno mais do que proibido.

— Desculpe — digo. — Vou ficar presa aqui até mais tarde, eu volto de metrô mesmo.

— Cuidado na rua, Ju. Qualquer coisa pega um táxi e eu pago se ficar muito tarde. Não é bom ficar andando sozinha nas ruas do centro de noite — diz, e eu o amo pela preocupação em sua voz, embora isso não anule os tapas que pretendo dar nele.

— Eu tenho vinte e cinco anos, Gui. Eu sei me cuidar.

Após uma reclamação malcriada, desligo o telefone e apoio a cabeça na parede. Preciso voltar para a sala. A passos lentos, tropeçando nos malditos saltos, abro a porta e a fecho atrás de mim, sem dizer uma palavra. Eduardo está sentado no sofá de frente para o meu computador, olhos fixos em uma planilha em sua mão. Ele está concentrado nas informações à sua frente, as grossas sobrancelhas franzidas.

— O que é essa linha em branco aqui? — ele pergunta, apontando para o espaço vazio debaixo do nome da rede de hotéis que é um importante cliente da empresa.

— A representante deles pediu uma reunião com seu irmão semana passada para discutir o contrato e a Fernanda vem tentando marcar desde então, sem sucesso. — Respiro antes de continuar falando, um tanto quanto balançada pela postura estritamente profissional assumida por Eduardo. Será que eu imaginei aquele fogo em seus olhos apenas um minuto atrás? A insinuação disfarçada de indireta foi, no fim, só um comentário despretensioso? Sexta, no Globo Repórter. — É bem provável que a gente vá perder a conta se não conseguirmos resolver isso até o fechamento do mês.

Eduardo é meu chefe, mas não o chefe. No final do dia, quem manda e desmanda na empresa é seu irmão mais velho e, em teoria, Eduardo tem tanto poder quanto qualquer um dos outros diretores, coisa que realmente não entendo. Tudo bem que é a escolha ética mais acertada que ele não tenha regalias somente por ser filho do dono, mas pelo amor de tudo que é mais sagrado, alguém dá um jeito de tirar Vinicius daquela cadeira.

Grande parte da receita da Rodrigues Menezes vem de serviços de segurança de grande porte, como carros-fortes e contratos com bancos, mas uma parcela bem significativa também vem de estabelecimentos comerciais, como hotéis, clubes e shopping centers. Perder um cliente desses só porque o bonito está viajando, fazendo Deus sabe o que, não é uma ideia boa. E é o cúmulo da irresponsabilidade. E destrói todas as minhas fantasias com CEOs gostosões ridiculamente competentes. Obrigada por isso, Vinicius.

— Tente me agendar com ela o mais rápido possível. Diga que ela pode aparecer quando for melhor, ou eu vou até ela se for preferível — ele diz, antes de soltar um palavrão, xingando o irmão, o que acaba por completo com seu tom formal e eloquente, e eu preciso segurar uma risada.

— Ela queria especificamente falar com o Vinicius, Edu — começo a dizer e paro quando ele me olha com a cabeça inclinada para o lado.

Abro a boca para me corrigir e me surpreendo quando um sorriso cruza seu rosto.

— Não acho que você tenha me chamado de Edu antes — diz, e ali está, o brilho nos seus olhos, o fogo por trás do castanho. Sabia que não estava ficando louca. Mas com certeza ele está. Já vou marcar um horário com o terapeuta da empresa na agenda dele.

— Fico feliz que você finalmente esteja se sentindo mais à vontade perto de mim, Juliana. Já fazem alguns meses que trabalhamos juntos e você realmente não precisa ser tão impessoal o tempo todo. Não vai matar ninguém se formos... amigos.

Enquanto diz isso, como se a deixa tivesse sido dada, ele se livra do paletó e puxa as mangas da camisa social até o cotovelo, afrouxa a gravata e abre o primeiro botão da camisa, e acho que todos os boatos finalmente me atingem com força mesmo, porque uma partezinha (não tão) pequena de mim deseja que ele continue. Foco, Juliana!

— Você vai ficar de pé na porta a noite toda ou vai vir trabalhar? — ele pergunta, com a sobrancelha arqueada e só então percebo que ainda estou no mesmo lugar. Sento-me ao seu lado e, apesar de sua presença marcante não poder ser ignorada e eu querer dar um tapa nele quando seu braço roça no meu, sou facilmente arrastada de volta para o trabalho.

As embalagens de comida estão jogadas no chão, há muito consumidas com voracidade. Estico os braços me estalando e massageio meu pescoço dolorido. Talvez eu precise fazer fisioterapia. Ou voltar para o pilates. Que horas, não sei. Esfrego meus olhos, que ardem de tanto encarar a tela do computador e não consigo evitar um bocejo de escapar.

— Desculpe te manter aqui até tão tarde. — A voz de Eduardo reverbera do outro lado da sala. — Você pode ir, falta pouco aqui e eu posso terminar isso.

Penso em discutir, mas nem me dou ao trabalho. Estou exausta e preciso descansar. Só a ideia de ter que estar de pé de novo em algumas horas me faz querer chorar. Como se lesse meus pensamentos, Eduardo diz:

— Tire a manhã para você. Aliás, pode tirar o dia inteiro. Não acho que você tenha tirado um dia de folga desde que começou a trabalhar aqui. Só preciso que você marque aquela reunião, sem falta. De resto, só quero te ver nesse escritório na quinta-feira.

Não contenho um suspiro de satisfação. Obrigada, bom Deus.

— Até quinta, então — digo, recolhendo minhas coisas e caminhando em direção à porta.

Cansada como estou, recosto a cabeça na parede de metal frio do elevador, tentando decidir se é uma boa ideia ir andando até o metrô. Passa um pouco das dez e as ruas do centro da cidade não são exatamente convidativas a essa hora. Mas é tão pertinho... Menos de dez minutos, e vou estar lá. Quando as portas se abrem no primeiro andar, cumprimento o porteiro da noite — esse é novo, não conheço. Cadê o Carlos? — e encaro a rua lá fora. Deserta. Escura. Não vou arriscar, não saí de casa hoje com nenhuma intenção de terminar o dia morta. Encosto na porta enquanto destravo a tela do celular para pedir um carro pelo aplicativo.

Não quero nem ver quanto vai custar a corrida. Vou mesmo colocar na conta do meu irmão. E, como se ainda estar no trabalho tarde da noite não fosse castigo o suficiente, a bateria do meu celular acaba. Perfeito. Preciso ligar para o Guilherme. Viro-me de costas para pedir emprestado o telefone do porteiro e me enrosco nos malditos saltos quando dou de cara com um corpo firme que não devia estar parado aqui.

Sinto uma mão segurando meu pulso e minha cintura sendo circundada por um braço forte, mantendo-me de pé. Levanto a cabeça e meus olhos cruzam com o de Eduardo, que me prende firme contra seu tronco.

Não sei se ele pode sentir minha pulsação com os dedos que seguram meu pulso, mas, se puder, por favor que um buraco se abra para eu enfiar a cabeça, porque consigo sentir meu coração disparado por conta do baque inesperado. Meu olhar se prende em seus lábios por um segundo antes de serem atraídos por seus olhos.

Ele espalma a mão que está em volta da minha cintura, tocando meu quadril por cima da saia e dou um pulo para trás quando sinto um arrepio na minha pele.

— Vim te oferecer uma carona — ele diz com um pigarro antes que eu tenha a chance de falar alguma coisa. — É perigoso a essa hora lá fora.

— Na verdade eu já ia chamar um carro, não precisa se incomodar. — Ele não diz nada em resposta, só continua me olhando. — Eu moro longe.

— Mais um motivo — diz dando os ombros. — Eu te fiz ficar até tarde, nada mais justo. Vamos. — Ele estica o braço em direção à entrada da garagem, dando a discussão por encerrada apesar do meu nada convincente protesto. Arrumo a bolsa no ombro e vou na sua frente, passando pelo porteiro misterioso e acenando com a cabeça. O homem sequer olha na minha direção, continua brincando com o celular. Ok, então.

Eduardo está logo atrás de mim e ouço o som do alarme do carro sendo desativado à distância. Como um perfeito cavalheiro, ele abre a porta e espera que eu me acomode no banco para, só então, ir para o seu lugar.

— Você pode me deixar no metrô ou no ponto final do ônibus, não tem problema. — Tento evitar o percurso de mais de uma hora no carro com ele, mas Eduardo simplesmente me ignora e pede que eu diga o endereço para ele configurar o GPS.

Olho pela janela, aproveitando a brisa fresca da noite, um alívio muito bem-vindo do calor infernal que tem feito todos os dias. Estou contando os dias para chegar logo uma frente fria e varrer o sol para longe dessa cidade, por umas semanas que seja. Calor só serve para ir à praia ou ficar trancada no ar-condicionado, qualquer atividade ao ar livre vira uma tortura sem fim e o mau-humor reina absoluto.

As ruas estão quase vazias devido à hora avançada, poucos carros estão passando e menos pessoas ainda podem ser vistas. Que sonho seria se o trânsito fosse assim o tempo todo. E o pior é que não tem para onde fugir. Me recuso a vir trabalhar de carro e ficar presa em um engarrafamento infinito, só ia fazer eu passar raiva. De metrô ou ônibus pelo menos eu vou sentada e dormindo. Se não fosse tão perigoso, seria perfeito sair do trabalho depois que o horário do rush já passou.

— Existe algum motivo para você estar fugindo de mim nos últimos tempos, Juliana? — Eduardo pergunta após alguns minutos de silêncio, no exato momento em que começo a chutar os saltos para fora dos meus pés doloridos. Abro a boca para responder, mas ele completa: — Além dos boatos de que estamos dormindo juntos — ele resmunga essa última parte, quase em um rosnado de frustração.

Paro e penso por um minuto, e não consigo encontrar nenhum motivo. Evito, o máximo que posso, ficar sozinha por muito tempo com ele porque, querendo ou não, me importo com o que as pessoas vão pensar. Comecei a trabalhar na empresa há poucos meses e, por algum motivo desconhecido, alguém achou que seria uma boa ideia espalhar fofocas sobre a novata. Só que a história fugiu de controle e agora todo mundo do escritório acredita que é verdade. Eu ralei para conseguir esse emprego e, subitamente, todo meu esforço parece ter sido em vão porque cada um dos meus colegas de trabalho acredita que o único motivo para eu estar onde estou é porque estou dormindo com meu chefe.

Por isso, me esforço além do normal para ter certeza de manter minha relação com Eduardo estritamente profissional. Não ajuda em nada que ele seja um homem ridiculamente bonito que mexe com os hormônios de qualquer mulher, com aquela barba sempre por fazer e músculos não tão bem escondidos por debaixo de ternos sempre muito bem alinhados. E agora eu estou no carro dele tarde na noite. Não muito profissional da minha parte.

— Sabe — ele diz quando não respondo —, o trabalho de uma secretária executiva não é exatamente o mesmo de uma secretária normal. Tenho certeza que você sabe disso, seu currículo era impressionante demais para qualquer coisa diferente.

—Eu sei — suspiro, porque sei exatamente onde ele está indo com isso, e Eduardo tem razão. Nos meus empregos anteriores, sempre trabalhava de forma muito próxima do executivo que secretariava. São longas horas de trabalho e uma relação de parceria e confiança precisa ser estabelecida, isso não está em discussão.

Meu trabalho não se limita a atender telefones e anotar recados, toda a agenda, pessoal e profissional, de Eduardo está em minhas mãos. É minha responsabilidade decidir que problemas devem ser levados a ele e resolver por conta própria os demais. Muitas decisões organizacionais que saem do seu escritório são feitas por mim, em seu nome, porque seria impossível que ele conseguisse fazer seu trabalho se tivesse que lidar com pequenos problemas administrativos o tempo todo. Preciso ser seu braço direito, do mesmo jeito que era o braço direito de Luan no meu último emprego, até o velho homem partir dessa para uma melhor e eu me recusar a trabalhar com seu filho quando ele assumiu a empresa.

— Você é uma ótima funcionária, mas isso não vai funcionar se você insistir em se comportar somente como só mais uma funcionária. — Ele faz uma pausa. — Achei que você já estava começando a deixar de lado toda essa bobagem que se espalhou pelo escritório e que nós estávamos começando a ficar amigos, o que aconteceu?

Eu quero gritar. Posso sentir meu rosto esquentar e agradeço por minha pele não ser mais clara ou minhas bochechas estariam completamente vermelhas. O que aconteceu, meu querido chefe, é que a idiota aqui começou a ter sonhos... impróprios. Começou há algumas semanas. No começo, realmente não me importava com os boatos, tudo que queria era fazer um bom trabalho e estava plenamente satisfeita com o fato de Eduardo ser uma pessoa ótima de se ter por perto e não um daqueles chefes babacas.

Mas quando o homem dos olhos sedutores começou a invadir meus sonhos, passou a ser impossível passar o dia inteiro ao seu lado sem ficar tentada a fazer os boatos serem verdade. Por isso, me distanciei o máximo possível, dizendo para mim mesma que me comunicar por e-mail e post-its era o suficiente para fazer o meu trabalho bem feito.

— Não aconteceu nada. Tive alguns problemas pessoais e acabei deixando isso afetar o meu trabalho — minto.

Vejo-o me espiar de relance quando tira os olhos da estrada por um segundo.

— Alguma coisa que eu possa ajudar? — pergunta, e posso ouvir o interesse genuíno em sua voz. Vou mentir para mim mesma e dizer que isso não me derreteu nem um pouco.

— Está tudo bem. — A frase é interrompida por um bocejo que escapa da minha garganta. — Desculpe.

Um sorriso discreto brota em seu rosto.

— Descanse. Te acordo quando chegarmos.

Uma mão me sacode com delicadeza, arrastando-me de meu sono e, quando abro os olhos, vejo que estou no carro de Eduardo, que está estacionado em frente ao meu prédio. Espero que eu não tenha babado, imagine a vergonha!

— Chegamos. — Ouço o barulho da porta sendo destravada e me arrumo no banco. Desajeitadamente, enfio os pés dentro dos sapatos de novo. O que eu não daria por uma massagem?

— Obrigada pela carona — digo, passando a mão no cabelo que tenho certeza ter virado um emaranhado de cachos pela forma desleixada com a qual me apoiei na janela. Minha mãe sempre brigava comigo, dizendo que não adiantava nada me arrumar antes de sair se ia ficar toda descabelada no momento em que entrasse no carro. Preciso visitá-la. Acho que vou fazer isso esse final de semana. Tenho que colocar um lembrete no calendário do celular. E um lembrete para lembrar de olhar o lembrete.

— Não tem porteiro? — Eduardo não olha para mim quando pergunta. Sua cabeça está estendida e ele vasculha a entrada do prédio pelo vidro do carro. Mais um, não. Meu irmão tenta há anos fazer eu me mudar daqui, dizendo que a segurança é péssima e eu posso bancar um lugar melhor. Ele tem razão, eu posso sim bancar um lugar melhor, mas a segurança não é péssima, é simplesmente inexistente.

Mas tenho um apego muito grande pelo apartamento que foi de minha avó. Ela fez questão de viver aqui até seus últimos dias de vida, e me recuso a vender o imóvel. Dona Aurora mesmo não gostava muito do lugar, mas insistia que dali não arredaria o pé. Era a última lembrança que tinha do marido que havia partido anos antes, e ela queria estar cercada por memórias de uma vida inteira. Parece que estou seguindo o mesmo caminho.

Antes que me dê conta, Eduardo sai do carro e abre a porta, me oferecendo a mão. Aceito o apoio e ele envolve meus dedos com suas mãos quentes. Me surpreendo com a aspereza em seu toque, quem diria que o homem que fica enfurnado no escritório o dia inteiro não tem mãos macias como algodão? Me pergunto de onde vêm os calos em suas palmas. Ele é filho do dono da empresa, criado em berço de ouro, em que momento da vida Eduardo precisou fazer qualquer trabalho braçal que justifique isso?

Eduardo caminha comigo até a entrada do prédio, os poucos metros entre o carro e o portão. Ele olha ao redor pela rua pobremente iluminada e bem deserta antes de se voltar para mim.

— Está entregue, inteira — diz, e não consigo evitar o sorriso pela preocupação. — Você não pode me culpar — ele se defende. — Sou responsável por uma empresa de segurança privada, está no meu sangue. — Ele dá os ombros, como se isso fosse explicação o suficiente. E, bom, é mesmo.

Com a chave na mão, destranco o portão de ferro pintado com uma camada de tinta verde que já passou do prazo de validade há muito, muito tempo. O barulho do metal é alto quando o abro e dou um passo para dentro na direção do prédio.

— Obrigada mais uma vez.

Espero que ele diga que não foi trabalho nenhum, embora tenha sido, ou um simples "de nada" para encerrar a conversa. Vejo você na quinta, Juliana. Não se atrase. Você precisa se mudar para um lugar melhor. Como é possível que você more tão longe do trabalho e chegue na hora todos os dias? Eu sei, eu sou maravilhosa mesmo.

Mas ele não diz nada disso. Ao invés, dá um passo na minha direção, ficando a centímetros de mim. Em cima desses saltos, a diferença de tamanho não é tanta, mas, ainda assim, preciso olhar para cima para alcançar seus olhos.

— Vou esperar você entrar. — Quando não respondo nada nem me movo, ele abre um sorriso que me dá vontade de dar um soco nessa cara linda. — Boa noite, Juliana — diz, tomando minha mão e levando até seus lábios, e deposita um beijo em meus dedos.

Tudo bem, príncipe galante.

— Boa noite — sussurro em resposta, soltando a mão e fechando o portão entre nós. Caminho em direção à entrada no prédio, destravando a porta de madeira, e não preciso olhar para trás para sentir o olhar dele me seguindo pela grade.

Vou precisar de um banho frio.

Eu também precisaria de um no lugar dela.

Gostaram do capítulo? Querem mais? Eu sei que eu quero.

Vou aproveitar e perguntar: esse capítulo ficou meio grandinho e vamos ter mais alguns desse tamanho pela frente. Vocês preferem que divida em parte I e parte II (postando as duas no mesmo dia), deixa assim diretão mesmo, ou não faz diferença desde que o maravilhoso do Eduardo esteja presente?

No próximo capítulo vamos conhecer um pouquinho mais da Juliana e entender o que passa nessa cabeça confusa dela!

Enquanto não chega o dia, votem, comentem e indiquem prazamiga!

Vejo vocês domingo <3

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