Capítulo 4


Quando cruzo as portas do escritório na manhã de quinta-feira, me sinto descansada e pronta para o dia que vem pela frente. Estou adiantada e o escritório ainda não está cheio, então aproveito para conferir os e-mails que perdi ontem. Para minha surpresa, quase não há pendências e tudo parece em ordem, dentro do possível. Há alguns post-its colados pela tela do meu computador, algumas anotações feitas em uma letra praticamente ilegível em um bloquinho ao lado do telefone e uma pasta com contratos a serem organizados, mas, fora isso, o caos não foi instaurado.

Quem quer que tenha ficado no meu lugar ontem fez um trabalho bem aceitável. Começo a pegar os bilhetes, um por um em uma ordem aleatória, já que não sei o que é prioridade e o que não é, e vou resolvendo os problemas.

Estou concentrada na tela do computador, organizando a lista de clientes novos desse mês como manda um dos bilhetinhos amarelos, e mal noto que o escritório vai enchendo, pouco a pouco. Tomo um susto quando uma mão toca o meu pulso, delicadamente o envolvendo com dedos quentes.

— Nunca mais — Eduardo diz, olhando para mim com seriedade nos olhos —, você nunca mais vai tirar folga.

Não consigo evitar de soltar uma pequena gargalhada diante da cara meio desesperada dele. Respira, homem.

— Lorena deve chegar à dez, o que significa que nove e meia você precisa estar pronto — digo quando ele começa a passar por mim e ir em direção à sua sala.

—A representante do hotel? — Eduardo apoia no batente e cruza os braços, em uma posição que já está começando a ficar familiar para mim.

Aceno em concordância e entrego a ele a pasta com as informações sobre a cliente. Muito mais do que apresentar oportunidade de negócios, alguns clientes precisam se sentir importantes. O que significa que meu trabalho inclui serviços esporádicos de detetive particular para descobrir como os bonitos gostam de ser tratados, como se eu fosse uma babá de crianças ricas e mimadas. Seria engraçado se não fosse trágico e deprimente. No caso de Lorena, contudo, foi difícil encontrar alguma coisa na pesquisa rápida e telefonemas que dei no ônibus a caminho daqui, parece ser uma mulher muito discreta e extremamente profissional. Eduardo vai ter que se virar para dobrá-la.

Faço uma careta quando penso que artifícios ele vai usar para isso. Não que eu me importe. Ele pega a pasta da minha mão e ergue uma sobrancelha em minha direção, analisando-me com uma atenção invasiva, os olhos apertados em minha direção. Quando estou a ponto de perguntar se tem alguma coisa suja no meu rosto, ele fala.

— Você tem planos para esse sábado? — Digo que vou almoçar com meus pais e ele continua. — Tem um evento que preciso comparecer à noite e gostaria que me acompanhasse. Gostaria que você estivesse lá. — Eduardo faz pausa e parece pensar no que dizer a seguir. — É um evento da empresa. Vão ter muitos clientes em potencial e não tem ninguém melhor do que você para me ajudar a fechar contratos. — Ele dá um passo na minha direção, apoiando-se na minha mesa. — Lembra quando você conseguiu resolver aquele probleminha com aquela casa de shows?

Solto uma risada ao lembrar do incidente. Vinicius, sempre Vinicius, irritou o dono do lugar, dando a entender que a estrutura do evento seria pequena demais e ele não se daria ao trabalho de despender esforço e mão-de-obra para atender suas necessidades absurdas. Verdade seja dita, o homem realmente estava pedindo um esquema de segurança digno de um show do Justin Timberlake sem a menor necessidade, mas o brutamontes não teve o menor tato para lidar com o cliente voluntarioso. Não sei nem para que ele se meteu na conversa, esse tipo de negociação está tão abaixo do cargo dele que não devia nem chegar aos seus ouvidos. A pessoa não faz nada para ajudar e ainda atrapalha, é impressionante.

Foi com muita conversa, descontos e promessas que consegui reverter a situação e fechar o contrato. Talvez eu devesse ser promovida a CEO desse lugar, claramente sei resolver os problemas.

— O luau beneficente? — Uma voz desconhecida chama minha atenção e me viro para dar de cara com um homem que não sei quem é. Meus olhos batem primeiro em sua barba muito bem-feita antes de chegar ao resto do seu rosto. Tenho uma queda por barbas, não posso fazer nada, é mais forte do que eu. — Renato me enviou aqui exatamente para confirmar a sua presença, senhor Rodrigues — o homem se dirige a Eduardo, que confirma.

— Eu vou. Só preciso saber se Juliana vai me acompanhar.

Os olhos do homem desconhecido caem, então, sobre mim, e vejo quando ele descaradamente me analisa de cima a baixo, pousando os olhos sobre meu decote por um segundo a mais e abre um sorriso bem safado ao alcançar meus olhos. Tudo bom, querido?

— Rafael. — Ele estende mão e, quando a alcanço, ele se inclina e beija delicadamente meus dedos, em um gesto bem semelhante ao de Eduardo ao me deixar em casa. A diferença é que o bonitinho pisca para mim. — Eu vou estar lá acompanhando Renato. Quem sabe a gente não se esbarra — ele sussurra, e ouço Eduardo soltar um pigarro atrás de mim. — Vou avisar que sua presença está confirmada, senhor Rodrigues — ele diz antes de se retirar, me dando uma visão de suas costas largas como as de um praticante de natação.

Esse deve ser o funcionário novo que Priscila falou ontem no telefone. Benzadeus, ela não estava exagerando, ele é realmente muito bonito.

— Então você vai? — A voz de Eduardo não está mais tão amigável quanto a um minuto antes e, quando olho em sua direção, vejo seu maxilar trincado e seus olhos me analisando com cuidado.

Aceno com a cabeça, confirmando, e ele copia o movimento. Em silêncio, Eduardo me encara por alguns segundos mais, até que descruza os braços e põe-se de pé.

— Peça para Lorena entrar quando ela chegar —resmunga e, antes que eu possa virar em sua direção, ele entra em sua sala, batendo a porta.

Olha a TPM.


O telefone está atacado hoje. Eu já tinha ouvido falar desse luau que vai acontecer no sábado, mas não imaginava que minha presença fosse ser requisitada. Para começo de conversa, que escolha esquisita de evento. Onde já se viu um bando de empresário importante se reunindo na praia para assistir o pôr-do-sol? É verdade que é uma praia particular de algum figurão e que a estrutura provavelmente vai ser infinitamente mais luxuosa do que qualquer uma das festas na praia que eu ia durante a faculdade. Mas quando eu penso em luau, só consigo vislumbrar um bando de universitário bêbado, tocando violão e pulando no mar de roupa — ou sem.

Sei que o evento tem a intenção de arrecadar fundos para alguma organização de caridade, mas não sei qual é, e nem sei como é que eles vão arrumar o dinheiro. Vai ter show de algum artista e eles estão cobrando a entrada? Um leilão? Vão só pedir doações? E, mais importante, o que diabos eu visto? Prioridades.

Estou perdida em meus pensamentos quando ouço o som de saltos andando em minha direção e levanto a cabeça para dar de cara com uma mulher muito alta, muito magra, muito branca e muito ruiva. Meu completo oposto envelopado em uma saia lápis e blusa branca.

— Bom dia. — Um sorriso largo surpreendentemente simpático está estampado em seu rosto e eu já gosto dela. Qualquer um que esteja com esse bom humor antes da hora do almoço nasceu para ser minha melhor amiga. Sempre implicaram comigo por estar cheia de energia logo que acordo, não importando quantas horas eu dormi. A vida é muito curta para desperdiçar o dia inteiro na cama, eu descanso quando morrer. Enquanto estou aqui, vou mais é aproveitar cada minuto. — Eu tenho um horário marcado com o senhor Eduardo Rodrigues — a mulher anuncia, com seus grandes olhos castanhos envolvidos em uma maquiagem perfeitamente colocada. Preciso aprender com ela, sempre borro meu delineador.

Ligo para Eduardo pela rede interna da empresa e, quando ele diz que posso mandá-la entrar, encaminho Lorena para o lugar certo. Já que ele vai estar ocupado por algum tempo, aproveito para me esticar, caminhando até a sala de Priscila com uma pasta na mão, não só no caso de ter que inventar alguma desculpa para ir até lá, mas porque realmente preciso que ela assine alguns papéis.

A mesa em frente ao escritório de Pri está vazia e faço uma careta. Esse rapazote que ela contratou para trabalhar com ela não é lá muito competente, não vai durar muito tempo. Entro sem bater, abrindo a porta em um movimento brusco, tentando assustá-la. Ela nem pisca. Droga.

— Não foi dessa vez ainda — ela resmunga, sem tirar os olhos do que quer que esteja lendo, um sorrisinho travesso estampando seu rosto. Reviro os olhos e fecho a porta atrás de mim, andando rapidamente até sua mesa.

— Me diz que você vai nesse tal luau — imploro e ela bufa.

— Nem morta. Já arrumei um jeito de me enviarem numa viagem pra visitar um cliente em Brasília esse fim de semana. — Ela finalmente levanta os olhos para mim. — Esses eventos de gente velha são sempre uma chatice. Pode escrever o que estou falando, metade da noite você vai ouvi-los reclamar da areia, na outra metade vão estar contando alguma história mirabolante de quando eram jovens. Não sei de quem foi essa bendita ideia — ela murmura a última parte e tenho que concordar.

Desde que comecei a trabalhar aqui, quatro meses atrás, não fui em nenhum evento como esse. Participei de reuniões e almoços, sempre com meu bloquinho na mão, anotando tudo que era necessário. Mas eventos sociais como o que vai acontecer no fim de semana exigem uma dinâmica completamente diferente e não sei se sei lidar com isso. Vai ser um ambiente informal, a oportunidade perfeita para colocar em prática o tal relacionamento pessoal que Eduardo falou sobre.

Sempre levantei a bandeira de que um homem e uma mulher podem ser amigos. Na verdade, por toda minha adolescência, as pessoas mais próximas de mim eram do sexo oposto; achava mais fácil de lidar e estabelecer uma relação saudável sem toda a picuinha que envolve amizades femininas.

Demorei bastante tempo para entender que não precisa existir rivalidade entre duas amigas, entre duas mulheres quaisquer. Por muito tempo, minha autoconfiança dependeu da aprovação alheia, e me doía a alma ser a amiga gorda do grupo. Ir ao shopping fazer compras com as outras meninas e ver todas elas entrando em vestidos número 36. Teve uma época, nos meus quinze anos, que resolvi fazer algumas dietas loucas, e até emagreci o suficiente para entrar em números menores, mas minha saúde mental foi para o saco e comecei a ficar doente, e prometi para mim mesma que nunca mais me torturaria dessa forma. Simplesmente não vale a pena se machucar para agradar os outros quando no fundo você mesma não tem nenhum problema com o que vê no espelho. Vivo muito bem com meu tamanho 46 hoje.

Quando entendi que a minha felicidade não dependia da aprovação de ninguém, consegui aprender a apreciar amizades de verdade, de ambos os sexos. Me livrei dos amigos homens que disseminavam discursos machistas e que, por muito tempo, eu engoli por medo de ficar sozinha. Aprendi a escolher minhas amigas e não me afastar por serem mais bonitas e eu me sentir inferior perto delas. Aprendi a me sentir bonita também.

Hoje, consigo ser completamente apaixonada por Priscila e não deixar seus belos olhos — que não consigo decidir se não castanhos ou verdes — e seus fios loiros me intimidarem. Talvez não devesse ser algo a se comemorar, mas para mim foi um processo longo e difícil, e me orgulho de ter deixado de ser uma pessoa invejosa e rancorosa.

O trabalho me consome tanto que mal tenho tempo de manter contato com meus amigos da faculdade, mas ainda conversamos vez ou outra e nos encontramos quando dá pra colocar o papo em dia. Os únicos com quem ainda mantenho contato próximo são Luana e Calebe, e estou mesmo devendo uma ligação para esses dois. Vejo Calebe com mais frequência porque ele também é amigo de meu irmão, embora nunca vá entender como pessoas tão diferentes podem ser tão próximas.

Luana, por outro lado, vejo cada vez menos, também por culpa do meu querido irmão. Eu sabia que aquele namoro inconsequente dos dois acabaria em maus lençóis. Até hoje não sei o que aconteceu, e Guilherme jura de pé junto que não fez nada. Luana se recusa a falar sobre isso também, então fica difícil de escolher um lado. Por via das dúvidas, não me meto até saber da história toda.

Me pergunto se Eduardo se encaixaria em minha vida na posição de amigo assim como Calebe faz, se essa relação realmente faz sentido fora do trabalho. Não me sentir intimidada por outras mulheres não significa ser imune à beleza, principalmente quando se trata de uma beleza tão intrigante quanto a de Eduardo.

— Conheci seu novo funcionário — digo à Priscila, que enfim para o que está fazendo para me dar atenção, com um brilho de excitação nos olhos. — Você não estava exagerando — admito.

O novo contratado é alto — o que não é difícil comparado com meus um e sessenta e três —, a barba bem cuidada realmente chama atenção. Confesso que o encarei descaradamente, sim, quando ele chegou na minha mesa e a verdade é que o homem poderia facilmente posar para alguma das campanhas publicitárias de Guilherme. Talvez o indique para o meu irmão se ele precisar de um modelo alto, barbudo, loiro e de belos olhos azuis. Sua beleza é óbvia e inegável, daquelas que dez entre dez mulheres concordariam em querer levar para casa, simples e prática. Padrão. Quase superficial.

Não consigo evitar de compará-lo com Eduardo por um segundo, o quão diferente o segundo é, com seus traços firmes e rústicos. Não possui uma beleza tão comum e, ainda assim, parece virar a cabeça de todas as mulheres aqui. Inclusive a minha, estou parecendo uma adolescente no meio desses homens, pelo amor de Deus. Eu não tinha esse problema na última empresa que trabalhei, será possível que todos os homens bonitos resolveram se agrupar nesse prédio alto na Rua da Alfândega?

Ouço minha amiga dar um gritinho animado como uma doida, e não como a mulher de trinta anos que ela é, e começar a falar em detalhes explícitos o que gostaria de fazer com Rafael.

— Você ainda vai ser processada por assédio sexual — brinco, mas nem tanto. Eu sei que ela só fala e não vai nunca fazer nada, jamais abusaria de seu poder para qualquer coisa, mas ela pode acabar se metendo em enrascada se alguém ouvir. — Preciso voltar pro trabalho, já enrolei demais — digo, me levantando, e de fato largo a pasta na mesa dela. — Isso é pra você assinar e devolver pro Eduardo, por favor. Que foi? — pergunto, quando vejo-a levantar uma sobrancelha para mim.

— Eduardo — ela repete em uma voz debochada e eu bufo, virando as costas e saindo da sala.


Volto à minha mesa alguns minutos antes de a porta da sala de Eduardo se abrir. Essa só pode ter sido a reunião mais rápida da história da humanidade. Das duas uma: ou a mulher foi irredutível e não teve conversa, ou o poder de persuasão dele é maravilhoso. Tento não pensar muito na segunda possibilidade.

Pelo sorriso no rosto de ambos, presumo que foi tudo bem no final.

— Fico feliz de termos conseguido resolver tudo, Edu. — Edu? Mas já está com essa intimidade toda, querida? — Tenho a impressão de que esse é o começo de uma longa e muito proveitosa parceria.

— Vou te acompanhar até o elevador — Eduardo responde, sua mão sendo posta nas costas da mulher enquanto se encaminham até o fim do corredor. Enfio a cabeça no computador e começo a aleatoriamente preencher planilhas para não ficar encarando a cena dos dois parados em frente ao elevador, Lorena rindo alto de alguma coisa que Eduardo disse.

Estou quase indo eu mesma buscar esse elevador que não chega nunca. Ficou preso no andar de baixo, foi? Não é possível. Depois de infinitos minutos, Eduardo volta sorridente, me pede para preparar o contrato e enviar para Lorena o mais rápido possível e vai em direção à sua sala, piscando para mim no caminho. Ele nunca está exatamente de mau-humor, mas essa descontração toda não é muito comum de ser vista. Ele fica ainda mais bonito todo alegrinho desse jeito. Sacudo a cabeça para me livrar desse pensamento.

Pego o celular e mando uma mensagem para Luana e Calebe, perguntando se eles querem se encontrar para beber alguma coisa mais tarde. Sei que é quinta-feira e eu devia ir direto para a cama, como a velha de setenta anos que habita em mim me implora para fazer, mas preciso fazer alguma coisa fora do trabalho. Adoro esse lugar, apesar das fofocas desajustadas, a maioria das pessoas é tranquila e é uma ótima empresa para se trabalhar. Fiz alguns amigos, tenho um bom chefe, mas preciso ter vida fora dessas paredes. A única amiga com quem tenho contato próximo é Priscila e os únicos homens que me fazem suspirar trabalham comigo — eu trabalho para um deles. Isso não pode continuar assim.

Alguns minutos depois eles respondem e marcamos de ir para um bar perto de casa. Não moramos tão longe uns dos outros, o que só aumenta a vergonha que é não nos vermos com mais frequência.

Mergulho no trabalho, decidida a não ficar nem um segundo depois do horário e não me atrasar para encontrar com os dois. Em poucas horas, elimino boa parte da pilha de papéis em minha mesa, me livro de todos os post-its colados no meu computador. Pagamentos feitos, contratos escaneados, problemas redirecionados para outras pessoas. Olho o relógio e vejo que passa um pouco das cinco. Imprimo o contrato redigido e levanto da cadeira, indo em direção à sala de Eduardo.

Bato antes de entrar e espero ouvir sua voz, que vem abafada por trás da porta. Sentado em sua mesa, ele está concentrado, analisando uma pilha de papel. Não sabia que usava óculos, fica bem em seu rosto. Ele indica com a mão que eu me aproxime e fecho a porta atrás de mim, e meio que me arrependo na mesma hora. A sala não é pequena, não é como se eu estivesse me sentindo claustrofóbica perto dele, ou que eu esteja consumindo todo o ar do ambiente, nem qualquer uma dessas coisas que leio nos romances que acontece com a mocinha quando ela está em um lugar fechado com o cara por quem ela está desesperadamente atraída. Até porque não estou desesperadamente atraída por ele.

Mas, mesmo assim, me pego engolindo seco quando ando em sua direção, os poucos passos entre a entrada e a mesa, e entrego a pasta em suas mãos. Ele pega, abre e assina sem nem ler, e ergo a sobrancelha para ele, sem conseguir esconder minha expressão de surpresa. Ele suspira, tira os óculos e esfrega os olhos antes de me encarar com firmeza, prendendo-me com seus olhos cor de mel.

— Achei que tivéssemos nos entendido na conversa que tivemos no carro — ele diz e, como não tenho muita certeza sobre o que ele está falando, não respondo nada. — Você precisa ser meu braço direito. Eu entendo que isso não vá acontecer da noite para o dia, mas eu tenho que confiar em você de olhos fechados — ele explica. — Eu posso confiar em você, Juliana?

A forma como meu nome é dito por sua voz meio rouca faz coisas esquisitas com meu corpo e eu preciso respirar fundo antes de responder.

— É claro que pode. — Ele acena com a cabeça, parecendo satisfeito, mas sem sorrir. Eduardo me analisa, seus olhos deixam os meus e lentamente percorrem meu corpo.

Subitamente, fico muito consciente do vestido que estou usando, pouco acima do joelho. Ouvi algumas — muitas — vezes que não deveria usar roupas que moldassem meu corpo porque minhas coxas são grossas demais e não permitem uma silhueta elegante; que eu deveria apostar em roupas mais largas para disfarçar as medidas grandes. Tirando os dias ruins, em que as crises de baixa autoestima atacam, eu ignoro esses comentários e visto o que bem entendo. Hoje é um desses dias em que o vestido azul que estou usando molda minha silhueta quase à vácuo. Me pego me perguntando se Eduardo concorda com isso e se seu olhar é julgador.

— Você confia em mim? — Perco a respiração com seu tom profundo. Minha mente viaja e imagino todas as coisas que ele poderia fazer comigo se eu disser que sim. Vejo fogo em seus olhos castanhos, sinto uma nota de insinuação em sua voz. Você confia em mim? Ele se levanta e contorna a mesa, permaneço parada onde estou, observando seu movimento. Eduardo para, de frente para mim, e se apoia no tampo de madeira, cruzando os braços, me olhando atentamente, esperando uma resposta. Ele inclina a cabeça para o lado e eu lambo meus lábios secos. — Você confia em mim? — ele pergunta mais uma vez.

Aceno com a cabeça em resposta, e sugo o ar pela boca quando ele desencosta da mesa e dá um passo em minha direção. Eduardo está perto. Respira, Juliana. Para de surtar. Ele estende a mão e tira um fio de cabelo do meu rosto, roçando o dedo na minha bochecha no processo. Muito perto.

— Quero que você confie em mim — ele diz e posso sentir seu hálito quente. Muito, muito perto. — Sei como esses primeiros meses foram difíceis para você por causa das fofocas, sei o quanto você valoriza seu trabalho, o quanto se esforçou para chegar até aqui.

Perto demais. Sua mão ainda está em meu rosto e ele suavemente acaricia minha bochecha.

— Você merece o seu cargo, te escolhi pessoalmente entre todos os candidatos porque sabia que você seria competente, não porque achei que fosse ganhar alguma coisa de você. E você não me decepcionou nem por um segundo.

Eduardo dá um passo em minha direção, fazendo com que alguns centímetros me separem dele, e para de mover os dedos, apenas segura meu rosto com sua palma, seu polegar debaixo do meu queixo forçando-me a não desviar do seu olhar. Não quero desviar.

— Quero que você fique à vontade perto de mim, que não tenha medo.

Seus olhos brilham e eu estou tentada a dar um passo, só um passo em sua direção, esse pequeno passinho que vai acabar com a distância entre nós dois. Seus lábios se movem e tudo que consigo pensar é em como eles se moveriam sobre a minha pele.

— Eu não vou nunca te pressionar nem coagir a nada. Não vou tentar fazer você ser a secretária que dorme com o patrão. Não vou, nunca, te pôr nessa posição, Juliana. Nunca. Eu te prometo que nossa relação nunca vai ultrapassar essa linha.

Se ele tivesse me dado um soco na boca do estômago, não teria perdido o ar como perco agora. Dou um passo para trás, escapando do seu toque delicado, das suas palavras doces com um claro significado oculto.

Eu te prometo que nossa relação nunca vai ultrapassar essa linha.

Ele me olha com as sobrancelhas franzidas, confuso com meu recuo repentino. Me sinto tão idiota. Quando foi que eu virei essa menininha que fica fantasiando com o chefe gostoso?

— Juliana? — ele chama meu nome, mas não se aproxima. Parece receoso.

Nunca vai ultrapassar essa linha.

— Você está bem? — Era só o que me faltava, ele estar com medo de ter ferido meus sentimentos.

Nunca.

—Estou. — Pigarreio. — Obrigada. Fico feliz em saber que nossa relação profissional está garantida e eu não preciso me preocupar com nada — digo, enfatizando a palavra, tentando manter o veneno fora da minha voz, mas não sei se consigo. O vinco em sua testa aumenta e quero me bater. E bater nele também.

— Nossa relação pessoal também... certo? — Claro. Aquela história de sermos amigos. Eu nunca achei que fosse chegar a um ponto da minha vida em que precisaria ter meu chefe me chamando para conversar e explicar que nunca vai dormir comigo. A que ponto chegamos, Juliana, a que ponto chegamos...

—Vejo você no evento no sábado — digo, me despedindo, querendo dar esse assunto embaraçante por encerrado.

— Você não vem trabalhar amanhã? — ele pergunta.

— Venho, mas você vai estar fora o dia inteiro. — Ele me olha confuso. — A supervisão mensal dos funcionários.

Ele parece se lembrar do compromisso e eu aproveito a deixa para me despedir. Não fico para ver mais nada, saio da sala, pego minha bolsa e parto para o elevador. Solto um longo suspiro quando aperto o botão do térreo e a porta começa a se fechar. Antes de ser confinada completamente na caixa de metal, uma mão para a porta, abrindo-a novamente, e vejo Rafael entrar, sorrindo ao me ver.

— Você vai no luau? — ele pergunta após um segundo, como se estivesse falando de uma festa entre amigos e não o compromisso profissional mais esquisito do ano. Confirmo com a cabeça. — Legal, eu vou estar lá. Vai ser ótimo te encontrar fora do escritório. Te pago uma bebida — Seu sorriso é brilhante e largo, genuíno. Leve.

O elevador rapidamente chega ao térreo e nos despedimos, vejo-o ajustando a bolsa a tiracolo antes de sair pelas portas principais. Simples. Descomplicado. Permitido. Vai ser ótimo encontrar fora do escritório, sim.

Talvez seja exatamente isso que eu preciso agora.

TUTUPOM MENINAS?

Adiantei capítulo de novo por motivos de sou ansiosa SOS

Como prometido, Edu lindo pra vocês! E Rafael lindo também #atenta

O que vocês acham que vai acontecer? O que acharam da atitude do Edu? Contem para mim que eu tô rindo de nervoso.

O capítulo de domingo ainda vai ser postado, mas depois é só quarta mesmo! (foco, Victoria, foco)

Espero que estejam gostando! Votem, comentem, compartilhem e ajudem esse livro a crescer.

Vejo vocês logo, logo, até domingo!

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