Cap. 9 - Alana Valentini

Assim que entramos na casa, George, Shawn e Jamie pareceram se materializar do nada com expressões sérias nos rostos bonitos.

— O que aconteceu? — George pronunciou cada palavra como se tivessem ponto final.

— Analice e minha irmã foram atacadas por alguma coisa, Analice disse que era uma mulher e minha irmã informou que era uma presença sobrenatural.

— Espera! Ally, como sabia que era uma presença sobrenatural? Você é apenas uma humana comum, não é?

— Minha irmã pode... — Shane foi interrompido por George.

— Venha. Traga Analice até o sofá. — Shane obedeceu a ordem e tentei me sentar sem demonstrar que estivera em estado de choque a alguns minutos atrás.

— Quero saber porque Ally pôde sentir a tal presença e eu não...

— O que houve com você? Está machucada? — Shawn me interrompeu, me encarava ainda sério e notei também preocupação em seu olhar.

— Não. Apenas fingi para a pessoa que estava machucada. Estou bem e....

— E por que Shane a carregou até aqui, então? — A pergunta de Shawn foi mais para Shane do que para mim.

— Ela estava em estado de choque. Achei melhor carregá-la, não sabia se conseguiria andar.

— Você não tem consciência de que isso podia ser perigoso? — Shawn o repreendeu com um olhar severo, os braços cruzados em frente ao corpo.

— Sim, mas estava mantendo bem o controle... — Shane parecia desconfortável com o inquérito. — E ela finalmente me deixou aproximar bastante... — o encarei boquiaberta, confusa e... envergonhada.

— E se você perdesse o controle? Sua irmã não seria capaz de salvá-la! É isso que você quer? Matá-la? — Shawn não parava de acusá-lo e repreendê-lo. Pensei comigo se isso era mesmo necessário.

— Não, eu... — Shane parecia irritado e confuso.

— Shawn, está tudo bem. — Tentei falar, mas George me silenciou com um olhar e depois voltar a observar Shawn e Shane.

— Era isso que você queria? — George entrou na conversa. — Matá-la? Responda! — Era incapaz de entender porque estavam agindo dessa forma. Por fim, Shane desistiu de tentar se explicar, lançou-me um olhar de desculpas e subiu as escadas com uma velocidade acima do normal.

— Por que foram tão duros com ele? — Ouvi minha própria voz antes que meu cérebro fosse capaz de censurar a pergunta.

— Você não entende. — George falou gentilmente. — Shawn! Vá conversar com ele e por favor, mas pegue mais leve dessa vez. E... algum de vocês viu o Bryan?

— Na verdade... — abaixei a cabeça me sentindo completamente sem graça.

— Onde está o Bryan? — George me ignorou e parecia irritado. — Também foi atacado? — Seu tom agora era irônico.

— Eu sei onde ele está! — Gritei para ser ouvida.

— Sabe? — George sentou-se ao meu lado agilmente e não pude deixar de achar graça da expressão de descrença e confusão em seu rosto.

— Sim. — Obriguei-me a não rir. — Está lá em casa. Foi perseguido por alguém ontem à noite e o abriguei para que se recuperasse.

— E quando foi isso? — George estava com os olhos arregalados e Jamie estava com uma expressão intrigada no rosto. Ally havia se sentado no sofá, exausta. — Diga que foi hoje de manhã.

— Não, foi de madrugada, logo depois da meia noite. Por quê?

— Vocês dormiram juntos? — George elevou um pouco a voz. Ally e Jamie riram da situação e senti meu rosto corado.

— Não! — Disse imediatamente. — Ele dormiu no porão.

— E ele bebeu algum tipo de sangue? Tinha conseguido completar a caçada? Estava machucado? — Jamie perguntou quando finalmente parou de rir e George segurava minhas mãos, me observando com desconfiança e preocupação.

— Sim, estava machucado, não completou a caçada e não bebeu nenhum outro tipo de sangue... — fiz uma pausa curta e continuei tentando manter a voz firme — tentei oferecer meu sangue, mas...

— Mas o quê? — Agora George segurava meus ombros. — Por tudo que é mais sagrado! Ele não bebeu seu sangue, não é? Você é louca?

— Não, não bebeu. Fiquei com medo e não deixei. Ele respeitou minha decisão, mas hoje de manhã, quando fui vê-lo, não estava com uma aparência muito boa...

— Ainda bem que seu sexto sentido foi mais sensato que você! — George soltou meus ombros, que já estavam doloridos e ergueu as mãos ao alto. — Bryan conseguiu resistir à tentação... isso é bom.

— Não precisa exagerar. — Resmunguei ofendida. Jamie e Ally seguravam o riso.

— Exagerar? — Ao gritar a voz dele ficava um pouco mais fina que o normal. Ele voltara a segurar forte meus ombros e agora me chacoalhava também. — Você sabe o que poderia ter acontecido se Bryan tivesse bebido seu sangue?

— Ai... você está me machucando. Sei perfeitamente o que teria acontecido, mas confiei que não me mataria.

— Ele não havia caçado, sua maluca! Nunca confie em estranhos! Principalmente se for um vampiro.

— Mas ele não é um estranho!

— E há quanto tempo você o conhece? Imagino que há um bom tempo, certo? — George falava ironicamente e isso me irritou profundamente. — E... espera! Você não se assustou quando disse "vampiros". Como você...? Por que você...? — A expressão dele mudou de histeria para seriedade e passou a olhar fixamente para Jamie, que se encolheu no mesmo instante.

— Algum problema? — Jamie tentou soar despreocupado, mas percebi que estava nervoso e talvez George também tivesse percebido isso.

— Como ela se lembra de nós? Como sabe que Bryan é um vampiro? Como sabe que todos nós somos vampiros? — George se levantara e andava na direção de Jamie com ar imponente e os punhos cerrados.

— Bem... se antes não sabia, agora ela sabe, não é? — Jamie deu de ombros, mas George não pareceu achar graça na piada.

— George, espere! Eu... — tentei pensar em alguma coisa que ajudasse a livrar Jamie da culpa, mas ele mesmo se entregou.

— Oh, raios! — Gritou batendo a mão na cabeça. — Esqueci de apagar a memória dela! — E chutou o sofá mais próximo que praticamente voou para o outro lado da sala.

— Você o quê? Mas e o Bryan? Nenhum dos dois lembrou? — George estava além da raiva, parecia também completamente incrédulo e temi que não acreditasse na desculpa de Jamie.

— Acho que me esqueci e Bryan deve ter feito a mágica errada...

— Como posso confiar em vocês desse jeito?

— George! Telefone! — Gritou alguém no andar de cima. Telefone? Eu não ouvi nada...

— Depois terminamos essa conversa. — George lançou um olhar congelante a Jamie, que sorriu levemente, sem graça.

— Posso subir com você, Lou? Quero ver meu irmão. — Ally falou. — Já volto, Ani.

— Está bem. Jamie, vê se toma conta da menina direito dessa vez! — George já subia as escadas e Ally o acompanhava. Ela o chamou de Lou? Eles já se conheciam?

— Não vou fugir. — Respondi por Jamie, mas George me ignorou. Assim que desapareceram escada acima, Jamie veio se sentar ao meu lado.

— Olha, não tenho muito tempo, mas vou te passar o endereço daqui. Sei que é perigoso, mas vou te entregar algo que a ajudará a chegar aqui em segurança. — Jamie estendeu uma pulseira com cordas trançadas marrons e uma pedra redonda e verde na parte de cima, entre as duas cordas. Ele amarrou a pulseira no meu braço.

— O que é isso?

— Uma espécie de amuleto. Vai te trazer aqui em segurança, mas só te protege na floresta. E não é proteção contra vampiros, só contra o tipo de coisa que anda tentando te matar.

— O que anda tentando me matar?

— Não tenho certeza e por isso não posso te dizer. — Jamie me encarava com olhos azuis brilhantes e resolvi não o questionar. — Meu quarto fica no segundo andar, é a terceira varanda contando da esquerda para a direita da casa. O quarto do Bryan é ao lado do meu, a direita. George e Shawn ocupam dois quartos do terceiro andar, mas suas varandas são voltadas para o outro lado da casa. O quarto de Shane é logo acima do meu, o primeiro do terceiro andar, mas o dele é voltado para o lado da frente da casa. Comecei a observar a pulseira e percebi que a pedra redonda e verde era na verdade uma bússola, mas podia jurar que há alguns segundos atrás era apenas uma pedra verde e maciça. Agora a superfície era transparente e revelava uma bússola estranha. Jamie me explicou que era para seguir sempre para o norte, assim encontraria a casa deles. Assenti e uma pergunta me veio à mente.

— Obrigada, mas por que está me entregando isso? Não irá mais me visitar?

— Acredito que George passará a caçar comigo essa semana, só para garantir que não saia dos arredores sem necessidade e por isso creio que minhas visitas estarão canceladas. Shane talvez não consiga visitá-la com tanta frequência e não faça essa cara de espanto, pois sei que a visitava. Bryan talvez consiga ir até sua casa, mas precisará driblar a atenção de Shawn. Tome cuidado, por favor.

— Você não pode mesmo me dizer quem me atacou na floresta? — Tentei ignorar o aperto em meu coração por saber que meus amigos se afastariam mais de mim.

— Só posso dizer que creio que seja uma tal de garota chamada Alana Valentini, mas, por favor, não tente ir atrás dela nem nada do tipo.

— Prometo não fazer nada assim, mas como sabe quem é e por que quer me matar?

— Tenho um palpite, mas é cedo para dizer...

— Por favor, diga.

— Não posso. Opa! Estão descendo as escadas. — E se afastou disfarçadamente.

— Está certo. Já entendi. Não! É claro que não. Tudo bem... tchau. — George estava ao telefone enquanto descia as escadas. — Ok! Está na hora de você e Ally voltarem para suas casas. Não deveriam estar na escola? — Ally vinha descendo atrás de George, quando nos entreolhamos e tentamos arranjar alguma desculpa, mas sabíamos que era inútil.

— A verdade é que a obriguei a vir comigo procurar meu irmão. — Disse Ally.

— Ally! Você não me obrigou a nada! Vim porque quis e jamais te deixaria vir sozinha.

— Está bem, mas agora ambas voltarão para suas respectivas casas e....

— Não! — Interrompi a fala de George, desesperada. — Não podemos voltar agora! Nossas mães saberão que não fomos para a aula.

— Hum. E que horas vocês costumam sair da escola e chegar em casa? — Falou visivelmente descontente.

— Chego por volta de meio dia e quarenta. — Disse.

— E costumo chegar meio dia e vinte quando vou de carro com meu irmão. — Explicou Ally.

— Está bem... podem ficar aqui até meio dia. Nada mais que isso. — George esfregou os olhos, parecia cansado.

— Jura? — Ally parecia a ponto de abraçá-lo de tanta alegria.

— Não quero incomodar... é melhor ir embora. — Falei.

— Fique. Não incomoda. — Virei-me abruptamente em direção a escada e vi Shane terminando de descê-la.

— Desculpa, mas...

— Não será incomodo nenhum! — Jamie sorria feliz.

— Mas por favor, não chegue perto de Shane outra vez hoje. — George completou. — Já se aproximaram demais por hoje. Jamie!

— Sim?

— Cuide das duas, por favor. Eu e Shawn iremos atrás dos rastros que comprovam a identidade de quem as atacou.

— Está bem. — Jamie ampliou seu sorriso.

— E vê se não esquece a recomendação dessa vez. — George estreitou o olhar e Jamie pareceu adquirir uma postura mais séria.

— Pode deixar. Nenhuma das duas pode se aproximar? — Disse inocentemente.

— A irmã pode, a outra não. — George falou. Shawn descia as escadas e o acompanhou até a porta frente. Ambos desapareceram de vista e a postura de Jamie tornou a mudar, dessa vez estava descontraído como costumava ficar.

— Jamie, você não vai cumprir o que mandaram, não é? — Shane cruzou os braços em frente ao corpo e não consegui decifrar sua expressão.

— Não. — Jamie sorriu, brincalhão.

— Tudo bem. Então cabe a mim fazer isso. — Shane se despediu de Ally e me ignorou, desaparecendo pelas escadas.

— Espere! — Pedi me levantando do sofá.

— Tchau. — Seu tom era seco e acelerou o passo. Tentei segui-lo mesmo assim, mas Jamie me deteve pelo braço.

— Não vai querer me encrencar, não é?

— Mas... — senti os ombros caírem de leve. — Não. Tudo bem.

— Venha, Ani! Vamos explorar a casa! — Ally me puxou pelo braço quando Jamie me soltou.

— Podemos? — Falei a ele, que deu de ombros. Ally me puxou mais forte, quase me arrastando. — Ok! Calma!


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