Cap. 8 - Salva

No dia seguinte, ao acordar e seguir para o banheiro, fitei o espelho e notei que meu semblante era muito parecido com o de alguém que não dormia direito a mais de uma semana. Que horror! Como uma boa noite de sono faz falta...

Entrei no chuveiro e tomei um banho lento, depois de me enxugar coloquei uma roupa confortável e bonita, saí e fui direto para a cozinha, sem fazer muito barulho. Peguei uma maçã e permaneci algum tempo em silêncio para tentar ouvir se mais alguém tinha acordado. Meu pai já tinha saído para trabalhar, mas meu irmão e minha mãe ainda dormiam. Olhei o relógio e notei que estava um pouco atrasada e teria que correr se quisesse chegar a tempo no colégio. Subi para pegar minha mochila e meu celular, desci novamente e lembrei do meu hóspede no porão.

Antes de entrar fiz silêncio, como não ouvi nada vindo do andar de cima, concluí que seria seguro abrir o porão para verificar se Bryan passava bem. Ao descer as escadas para o porão, achei melhor não ligar as luzes para o caso de minha mãe acabar descendo ao primeiro andar sem que notasse. Por isso liguei a lanterna do celular e vi a figura de Bryan deitada no sofá, adormecida. Cheguei mais perto a fim de examinar sua expressão, parecia um pouco abatido e dormia com os braços protegendo o lugar onde fora ferido na noite anterior. Ainda devia estar sentindo dor.... Fiquei com raiva por não ter tido coragem de doar meu sangue como havia pedido, mas algum recanto da minha mente dizia que o que fiz fora o certo. Não tenho coragem de deixar que um vampiro beba meu sangue direto da fonte e só de pensar nos caninos de Bryan perfurando a carne no meu pescoço um tremor percorria meu corpo. Saí do porão ainda em silêncio, escondi a porta debaixo do tapete e deixei um bilhete para minha mãe dizendo que estava melhor e por isso havia decidido ir à escola hoje. Talvez pensasse que havia sido vítima de um milagre, mas lembrei que Jamie a tranquilizara quando me trouxera de volta, dizendo que não havia sido nada demais.

Saí de casa às pressas, comendo a maçã que peguei na fruteira e mais ou menos na metade do caminho, encontrei Ally.

— Ally? O que está fazendo por aqui?

— Por favor, me ajude, Analice! Preciso de ajuda! — Estava aflita e no mesmo instante um calafrio correu meu corpo, um mau pressentimento.

— O que aconteceu? — Segurei suas as mãos com cuidado e percebi que tremiam.

— Meu irmão não voltou para casa ontem. Estou preocupada. — Parecia que estava a ponto de chorar.

— Fique calma. Deve estar na casa dos amigos dele. Falei com ele ontem.

— Você falou com ele? Onde, exatamente, ele está? — Sua expressão agora era de espanto.

— Falei com ele por telefone.... Na verdade, não sei exatamente onde deve estar, mas imagino que esteja na casa de algum amigo...

— Ele ligou para você?

— Não. Eu telefonei.

— E ele atendeu? Como você tem o telefone dele?

— Olha, isso não vem ao caso agora. E não liguei do meu telefone, foi do telefone de um amigo.... Mas fique calma, tenho quase certeza de que está bem.

— Como pode ter quase certeza se nem sabe onde ele está?

— Ally... — suspirei e meu cérebro entrou em conflito interno. Contar ou não contar? Ela precisava saber que ele estava morando parcialmente com uns amigos vampiros e que fazia isso porque também era um vampiro. — Acho que você precisa saber uma coisa.... Não sei se poderia estar te falando isso, portanto prometa que não contará a mais ninguém. Você promete isso? — Tentei transparecer o máximo de seriedade possível.

— Prometo, mas é sobre o quê?

— Seu irmão... não é mais humano como nós. — Falei devagar.

— Como você sabe que ele é um vampiro? — Estava espantada e eu também.

— Você sabia? — Não acreditei. Pensei que não soubesse.

— Sabia, mas jamais imaginei que tivesse contado isso a você.

— Pois é.... — não pude deixar de ficar sem graça.

— Você tem ideia de onde possa estar?

— Na casa de uns amigos, talvez. Eu acho que...

— Espera! Podemos rastrear a chamada! Me dê o seu celular. — Pediu atônita.

— Não telefonei do meu celular.

— Não? Ligou pelo telefone de casa?

— É.... — Achei melhor não contar que Bryan estava no porão da minha casa e foi então que me lembrei que ele havia largado o celular na mesa ao lado da minha cama. Estaria lá ainda? Não conseguia lembrar se levou o celular para o porão quando descemos.... — Vou pela tarde na casa desses amigos do seu irmão. Eu os conheci há algum tempo e marcamos de nos encontrar lá hoje. Se quiser vir comigo....

— Por que não vamos agora?

— Não sei onde fica e temos aula.

— E como pretende chegar lá de tarde se não sabe onde fica? — Ally parecia estar desconfiada de algo.

— Vou com um dos rapazes. Ele vai... vem me buscar de tarde. — Enrolei um pouco para responder, mas me assustei com a facilidade com a qual a mentira surgiu em minha mente.

— Ani, por favor... preciso ver meu irmão. Não há mesmo como ir lá agora? — Estava realmente preocupada.

— Certo.... Vem comigo, precisamos passar na minha casa.

Voltamos pelo caminho até minha casa e ficamos escondidas atrás da cerca do vizinho da frente. Sabia que não estaria em casa porque saía bem cedo para trabalhar e morava sozinho. Esperamos minha mãe sair para levar meu irmão para a escola e usei minha chave reserva para entrar em casa e procurar o celular do Bryan em meu quarto. De fato, estava lá e me senti realmente sortuda por tê-lo encontrado. Até poderia abrir o porão e deixar Bryan vir conosco, mas não achei isso seguro porque não sabia se Ally tinha conhecimento sobre a natureza vampira de Bryan e não sabia também se aceitaria isso numa boa. Tranquei a casa de novo e segui até Ally, que pegou o aparelho da minha mão e me olhou desconfiada.

— Fiz a ligação desse celular. — Expliquei. — É um telefone reserva. — Menti.

— Certo. Vamos tentar rastrear a ligação através desse aplicativo que baixei no meu. — Ally colocou o segundo chip em seu aparelho e em questão de segundos um mapa começou a aparecer na tela do celular dela através do aplicativo. Havia três pontos: um azul, um vermelho e outro amarelo.

— O que são esses pontos?

— O vermelho é o lugar de onde você ligou, o azul é de onde receberam a ligação e o amarelo é a nossa atual localização. Então, vamos? — Ally sorria animada e me perguntei quantas vezes havia rastreado pessoas dessa forma.

— Temos aula... — resmunguei.

— Ninguém vai notar que faltamos!

— E se notarem?

— Nós inventamos uma desculpa. Só hoje, por favor. Preciso conversar com meu irmão...

— Tudo bem... — suspirei. Ally nem me deixou tempo para mudar de ideia, pegou minha mão e me arrastou em direção ao bosque, que era a direção indicada no mapa. Tentei não estremecer com a ideia de entrar naquele bosque de novo. Seguimos pela rua da minha casa até chegar em uma bifurcação que levava ao bosque, se pegássemos a direita. Ao chegar na entrada da trilha olhamos novamente o mapa, precisávamos seguir pela direita de novo e entrar no bosque. Engoli em seco. — Vamos precisar entrar?

— Está com medo?

— É que... quase morri aqui outro dia. — Não pude evitar estremecer e Ally arregalou os olhos.

— Quase morreu?

— Sim. Alguma coisa ia me atacar, mas... — fiquei com medo de contar que fora o irmão quem me salvara e por isso tinha se tornado um vampiro. Tive receio de que ficasse brava comigo. — Alguém me salvou.

— Quem te salvou?

— Não sei... — comecei a fitar o chão com medo que notasse a mentira em meu olhar.

— Então como sabe que alguém te salvou?

— Ouvi o grito de dor da pessoa e pouco antes o urro selvagem do animal parou abruptamente.

— Nossa! Deve ter sido horrível, mas... você não foi tentar socorrer a pessoa? — Colocara a mão em meu ombro em sinal de apoio.

— Não tive coragem. — Menti. — Sei que fui uma pessoa horrível por isso, mas não conhecia ninguém por aqui e fiquei com medo de ver a pessoa morrer em meus braços. Nem pensei que poderia ter telefonado para a polícia ou uma ambulância.

— Não se sinta mal por isso. Ninguém consegue prever sua reação em uma situação como essa...

— Sei que não... — continuei a fitar o chão e comecei a caminhar na direção do bosque, tentando acabar logo com esse assunto.

— Não precisa entrar se não quiser. Posso seguir sozinha, ou espero até mais tarde para ir com você e o rapaz que vai acompanhá-la. — Me deteve pelo braço.

— Tudo bem. Preciso mesmo treinar minha coragem e parar de fugir de tudo.

— Tem certeza?

— Sim. — Olhei fixamente para ela com uma expressão séria. Ela assentiu e começou a andar ao meu lado adentrando o bosque. Caminhamos quase toda a trilha em silêncio, atentas aos sons a nossa volta, até que ela parou de caminhar para verificar novamente o mapa.

— Agora teremos que sair da trilha principal... O GPS diz para seguirmos pela direita, no meio da mata fechada, até chegar próximo a uma espécie de serra que separa nossa cidade da grande metrópole da cidade vizinha.

— Vamos sair? — Não pude deixar de demonstrar preocupação.

— Sim.

— Certo. Vamos logo. — Disse antes que minha coragem desaparecesse.

— Está brincando? E se nos perdermos?

— Temos um GPS.

— Você vai na frente! — E empurrou seu celular em meu peito para que o segurasse e nos guiasse pelo restante do percurso. Segurei o aparelho com uma das mãos e agarrei a mão dela com a outra, como se isso pudesse nos proteger de qualquer coisa. Chegamos a uma clareira e verifiquei novamente o mapa, atravessaríamos a clareira e....

— Está tudo bem, Ally?

— Tudo. É só que....

— Você está bem quieta desde que entramos na mata fechada.

— Estou me sentindo estranha.

— Estranha? Como assim?

— Estou me sentindo observada... como um mau pressentimento e geralmente quando tenho esse tipo de coisa não é nada bom.

— Por favor, diga que está brincando. — Disse sentindo meu sangue gelar e fugir do meu rosto.

— Não estou brincando. É como se algo anormal nos estivesse vigiando... nada como um urso ou um pássaro.

— Pare com isso e se queria me assustar já conseguiu! — Não pude evitar a tremedeira que tomava conta de mim.

— Não consigo! Está se aproximando. O que vamos fazer? — Seu olhar era amedrontado.

— Vamos correr!

— Mal consigo respirar e quer que corra? — Já estava a arrastando pela clareira sem me importar com seus protestos, alternando o olhar entre as árvores, o chão e o mapa no celular. — Estou com medo. — Resmungou.

— Tenha coragem. Vai dar tudo certo, só não pare de correr. — Instruí sem muita confiança de que minhas palavras eram verdadeiras. Corríamos mais que nossas pernas e galhos batiam com força, rasgando nossas roupas e nossa pele.

— Estamos perto?

— Sim. — Disse ofegante. — Falta pouco. Mais rápido!

— Mais rápido é impossível!

— Calma! Vamos conseguir! — Tentava convencer a mim mesma também, por isso falava as palavras em voz alta. Parecia que não saíamos do lugar e o pontinho amarelo no mapa estava no mesmo lugar que há cinco minutos atrás. Finalmente diminuí a velocidade ao notar o que estava acontecendo.

— O que houve?

— O GPS! — Estava com vontade de chorar. — Parou! Parou de funcionar! Estamos perdidas!

— O quê? — Berrou. — Não pode ser! — Tirou o aparelho das minhas mãos e notei o desespero aumentar em seu olhar. — O que vamos fazer agora?

— Se essa coisa ainda está nos seguindo, agora sabe que estamos perdidas e provavelmente irá brincar de caçada com a gente até nos atacar de uma vez. Não adianta correr nem se esconder. Não queria ter que dizer isso, mas acho que vamos morrer. — Sentia as lágrimas de desespero escorrerem pelo meu rosto.

— Não! Não podemos! Na verdade, você não pode! Precisamos achar meu irmão!

— Vamos fazer o seguinte: vou ficar e você vai buscar ajuda. Baseie-se no mapa de cinco minutos atrás, a casa dos rapazes não deve estar longe....

— Não posso te deixar aqui!

— Você precisa! Se ficarmos as duas, vamos morrer!

— Então eu fico e você busca ajuda!

— Não! — Trinquei os dentes e me forcei a parecer corajosa. — Tenho um plano para distrair seja lá o que for. Vá buscar ajuda!

Ela me abraçou forte, chorando e correu na direção que indiquei. Ao ficar sozinha, não sabia o que me aguardava e nem como iria distrair essa criatura. Se era mesmo algo sobrenatural, teria alguma chance de sobreviver? Fiquei em silêncio por um longo tempo até armar um plano razoável. Corri um pouco e fingi estar desesperada, logo em seguida fingi tropeçar e machucar meu pé, já que sabia perfeitamente como demonstrar isso. Continuei minha encenação levantando com dificuldade e tentando seguir mancando, depois fingi cair novamente e me recostei em uma árvore fitando o céu nublado. Não precisei fingir que estava cansada e fiquei quieta esperando ouvir algum barulho que indicasse que algo estava mesmo me seguindo. Fechei os olhos ao ouvir galhos se quebrarem como se fossem ossos, meu coração disparou. Aguardei a dor de um ataque e pensei comigo "Que ironia... Justamente eu, que nunca gostei de atuar, vou morrer atuando para alguém." Não houve qualquer dor, nenhuma indicação de ataque, mas mesmo assim não abri os olhos. Sentia as lágrimas escorrerem pelo meu rosto e tive certeza de que nunca havia sentido tanto medo em minha vida. Era capaz de sentir meu corpo tremendo e meu coração martelando forte, mas meus olhos se recusavam a abrir. Senti alguém se aproximar e percebi que as lágrimas corriam com mais frequência agora e com certeza estava divertindo meu assassino. Com os olhos fechados, o rosto e a expressão da pessoa ficavam por conta da minha imaginação e não sabia dizer se isso era bom ou ruim. A adrenalina corria por minhas veias e sentia meu corpo ferver. Já havia sentido medo antes, mas nada como isso.

Sabia que corria perigo e meu corpo e minha mente tentavam me fazer fugir dali, mas as sinapses de meus neurônios pareciam petrificadas. Era inútil, estava paralisada pelo medo. Em certo momento, senti alguma coisa arranhar minha perna esquerda, a que fingi machucar, e não foi difícil fazer expressão de sofrimento. Logo após a criatura parar de me arranhar, ouvi uma risada sinistra, como as de bruxas más, e pude concluir que meu assassino na verdade era uma garota. Minha perna ardia e tentei entender como as unhas da garota conseguiram arranhar minha pele se estava de calça comprida. Meu cérebro tentou formar a imagem das unhas da garota rasgando o tecido, que já estava esfarrapado pelos galhos do bosque.

Senti uma respiração quente próxima ao meu rosto e senti um cheiro refrescante misturado ao cheiro de alguma flor. Meu corpo todo começou a tremer ainda mais e então, ouvi novamente o barulho de galhos se quebrando e a voz de minha assassina proferir uma ameaça:

— Escapou dessa vez, mas não terá tanta sorte na próxima.

Senti um vento frio tomar meu corpo e acho que desmaiei.

— Analice! Ani! Sou eu! Consegui ajuda! Por favor, acorde! — Ouvi uma voz feminina e senti que chacoalhavam meu corpo pelos ombros. Ainda não consegui abrir os olhos, mas encontrei minha voz.

— Não! Saia de perto de mim! — Gritei em pânico, me sentindo confusa.

— Ani, sou eu. Abra os olhos. — Pediu a mesma voz novamente.

— Ally, espere. Ela está assustada, acho que está em choque e delirando... — ouvi a voz de um rapaz, profunda, grave, penetrante...

— E como vamos acalmá-la?

— Vamos levá-la até a casa dos rapazes e lá tentaremos entender o que aconteceu.

— Não! Não vou a lugar nenhum com vocês! — Gritei novamente e me encolhi mais.

— Ani... — a menina parecia preocupada e triste.

— Acalme-se, por favor. Sou eu, Shane. Ahn... não que isso te ajude a se sentir segura, mas... por favor, confie em mim. Não vamos te fazer mal e se quisesse te matar já teria feito isso. Tente se lembrar de mim, já ouviu minha voz algumas vezes. — E fez uma pequena pausa. — Agora, abra os olhos.

— Shane...? — Senti meu coração acelerar, mas de uma maneira diferente e não estava mais com medo.

— Sim. Sou eu. Consegue se lembrar? — A voz era suave agora.

— Na verdade não lembro muito bem. Tire-me daqui, por favor. — Pedi ainda de olhos fechados e tornei a chorar.

— Está bem, mas pare de chorar. — Seu tom era firme e na minha opinião estava longe de ser tranquilizador, era mais como uma ordem. Senti braços fortes me erguerem do chão e aconcheguei a cabeça no peito de quem me carregava, mas ainda não tive coragem de abrir os olhos. Começaram a correr pela floresta e quando abri os olhos, precisei de muita força de vontade para não sorrir como uma idiota. Meu rosto já havia corado e isso já era humilhante o suficiente.

— Shane? — Pronunciei um tanto insegura.

— Sim? — Seu tom era indiferente.

— Desculpe-me por tê-lo chamado de monstro. Não devia ter dito aquilo. É que estava com medo e....

— Não fique tentando achar desculpas. O que foi dito já foi dito. Não tente consertar. — Fiquei na dúvida se estava com raiva ou magoado. Estendi minha mão e toquei seu rosto de leve, seus olhos passaram a observar meus movimentos atentamente e só então reparei que estava sem os óculos. Seus olhos ainda eram vermelhos, mas tinham um leve toque amarelado nas bordas das írises. Percebi que se esforçava para não sorrir e não entendi o porquê.

— Obrigada por me salvar... — quis agradecer pelas duas vezes que me salvou, mas lembrei que Ally estava ali conosco. Dessa vez, não conseguiu conter o sorriso, mas foi um sorriso tão leve que mal ergueu os cantos da boca.

— Que lindo! Belo momento romântico! Chega disso! — Ally exclamou arfando e ambos riram, mas não consegui fazer o mesmo.

— Nada a ver.... — Falei sentindo o rosto corar ainda mais.

— Por quê? Você não poderia ter nada com meu irmão? — Sorriu maliciosamente e fiquei pensando de que lado estava.

— Ally!

— O quê? — Riu ainda mais.

— Parem vocês duas. Querem atrair mais seres sobrenaturais? — Shane parecia tenso e paramos de falar no mesmo instante. Lancei um olhar zangado a Ally, mas ela não notou.

— Você sabe o que nos atacou? — Disse a Shane depois de um tempo.

— Não, mas pretendo descobrir hoje à noite.

— Não pode se arriscar assim! — Falei assustada, sentindo um aperto forte no coração. Não quis interpretar isso no momento e ambos pararam de correr e me encararam.

— Amiga... tudo bem? Que parte de "ele é um vampiro forte e poderoso" você não entendeu?

— Pode até ser, mas se estamos lidando com outro ser sobrenatural e até ele poderá estar em perigo.

— Tem razão, Ani. Precisamos impedi-lo.

— Vocês querem parar de falar de mim como se não estivesse aqui? — Parecia irritado e me desculpei imediatamente.

— Mas a Ani tem razão e você não pode simplesmente ir atrás dessa coisa. Você não faz ideia do que seja! — Disse visivelmente preocupada.

— Mas se não for atrás, como vou descobrir? — E voltou a caminhar. Notei que sua boca formava um arco para baixo e isso não era um bom sinal... estava irritado.

— Não quero saber! Você não pode ir! — E nos acompanhou.

— Não deveria me intrometer, mas Ally tem razão e também acho que você não deveria ir. Até pouco tempo atrás você mal se controlava direito e não sei se está preparado.

— Você tem razão... — a expressão dele era indecifrável.

— Tenho? — Não pude deixar de demonstrar surpresa.

— Sim. Você não deveria se intrometer. — Falou fechando ainda mais a cara.

— Não liga para ele, Ani. Está bravo porque sabe que é verdade. — Falava em tom de provocação.

— Ficou louca, Ally? Pelo amor de Deus, não provoca! Quem está nos braços dele sou eu! — Falei um pouco desesperada, mas tentando quebrar o clima tenso. Ela riu com vontade, mas Shane apenas esboçou um sorriso.

Depois de um tempo caminhado, finalmente pude avistar uma casa que parecia mais uma mansão ou palácio do que uma casa. Tinha três andares ou talvez quatro, o telhado era feito com telhas bonitas e pintadas de marrom para parecer madeira. As paredes eram feitas com blocos de alguma pedra cor de mármore (talvez fosse mesmo mármore) e em todas as janelas do segundo e terceiro andar haviam varandas com pilares de ferro ornamentados e pintados de marrom. Era linda!

— É aqui que vocês estão morando? — Disse encantada e surpresa ao mesmo tempo. Ele abriu a porta com certa dificuldade por ainda estar me carregando. Ally observava a casa com admiração e subia devagar os degraus que guiavam à varanda da frente da casa, com muitas mesinhas e cadeiras bonitas e aconchegantes. Tudo por fora era em tons de branco, creme e marrom.

— Sim. Nossa pequena casa... — um meio sorriso perpassou seu rosto.

— Pequena? — Quase me engasguei ao falar, sem querer. — Como George conseguiu esse lugar?

— Ele herdou de um tio... — comentou com indiferença.

— Ah. — Encerrei a conversa momentaneamente.

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