Cap. 5 - Visita Inesperada

Voltei para casa mais cedo do que imaginei. Toquei a campainha, já que havia esquecido de levar a chave comigo, mas ninguém me atendeu. Chamei por minha mãe, por meu irmão e notei que não estavam em casa. Olhei as horas no meu celular e constatei que em uma hora escureceria e estava presa para fora de casa. Voltei ao gramado do jardim e ouvi alguém chamar meu nome. Era o vizinho da direita e não sabia o nome dele. Aproximei-me da cerca, cumprimentei-o e após isso me informou que minha mãe havia saído, mas que voltaria logo. Observei o rapaz mais atentamente, não era muito velho, talvez tivesse uns vinte cinco anos ou mais. O sorriso de seu rosto desapareceu num passe de mágica, a caneca de café que segurava se espatifou na madeira da varanda e o rapaz correu para dentro de casa desajeitadamente. Senti meu sangue gelar imediatamente e tive receio de me virar, no entanto, a coisa que assustou o rapaz sussurrou algo em meu ouvido:

— Vim te visitar! — E depois o rapaz riu ao ouvir meu grito de pavor.

— Jamie!?!

— Sim! Prometi que a visitaria e aqui estou. A não ser que queira que vá embora...

— Não! Tudo bem. Queria mesmo companhia. Mas como meu vizinho foi se assustar com você?

— Talvez tenha me visto chegar voando com as asas de morcego... — Jamie pareceu pensativo enquanto esfregava o queixo entre o polegar e o indicador. Observei-o, confusa.

— O que disse? Asas de morcego? Está doido?

— Ah! Não. Era brincadeira, esqueça. — Riu, mas seu riso me pareceu um pouco forçado e nervoso.

— Tudo bem... — disse desconfiada. — Faz tempo que não nos vemos.... Quer dar uma volta?

— Opa! Com certeza! Preciso comprar umas roupas na cidade e....

— Não. Na cidade não, no bosque. Não posso ir até a cidade uma hora dessas.

— Ah! Tudo bem, podemos colher frutinhas. — Brincou enquanto ambos caíamos na gargalhada. Caminhamos pela rua de minha casa até o bosque que a margeava e não pude deixar de sentir uma sensação estranha na boca do estômago. Havia sido atacada aqui há algum tempo e alguém me salvara, mas não recordava bem o evento. Quando nos aproximamos de um lago bonito com a superfície congelada pelo frio incomum do bosque, Jamie tornou a falar:

— Só vou poder te visitar de noite, está bem? — Tentei ignorar a confusão que seu comentário causara em minha mente: por que só a noite?

— Tudo bem. — Forcei um sorriso.

— Só vou poder visitá-la a noite porque é o meu horário de caçada e então os rapazes não perceberão que saí para visitar você.

— Caçar? Gosta de matar animais inocentes por diversão ou realmente tem coragem de comê-los? — Fiquei enojada, sentindo meu estômago revirar novamente.

— Não como a carne, geralmente só bebo o sangue mesmo, mas o sangue humano é melhor. — Seu sorriso despreocupado não durou mais que um segundo. Ele olhou para mim apavorado e acho que o fitava com a mesma expressão. — Quero dizer.... Veja bem...

— Você bebe sangue? É tipo um daqueles esquisitões que acham que são vampiros e agem como tal? Já pensou em ir num psiquiatra? — Estava horrorizada e sem notar tentava me afastar dele, com medo.

— Não precisa ter medo de mim, jamais tentaria caçar você! Por isso me alimento antes de vir vê-la. — Ergueu as mãos ao alto em sinal de rendição e percebi que tentava se mover o mínimo possível.

— Você confirma essa história, então? Acha mesmo que é um vampiro? — Estava congelada. Cada membro do meu corpo estava paralisado, exceto o coração que batia descompassadamente. Não conseguia acreditar no que estava acontecendo.

— Olha... por favor, não corra. O bosque é perigoso para que você ande por ele sozinha. — Sua voz era cautelosa e seu olhar, penetrante. — Pode confiar em mim, não vou te ferir, nem nada do tipo. Não acho que sou um vampiro... tenho certeza que sou.

— Vou fingir que acredito, está bem? Os médicos sempre pedem para não contrariar...

— Não estou mentindo! Aliás, fui um tolo por revelar a você outra vez. Sinto muito por isso, não deveria saber de nossa existência, mas acabei entregando a você essa informação. — Parecia genuinamente preocupado e arrependido. Algo em seu olhar me fez acreditar nele e de repente nada daquilo parecia loucura, nada parecia assustador. Era como se estivesse a vida toda esperando para saber da existência desses seres.

— Não sei porque, mas... acredito em você. — Falei sem pensar e pareceu surpreso, mas logo se recuperou.

— Ufa! Já estava pensando que teria que provar para você que meus caninos não são normais... — seu rosto esboçava de fato o alívio que sentia e me permiti relaxar um pouco também. Já não estava mais paralisada.

— Então... já sabia que você era vampiro? Os outros rapazes também são?

— Já sabia, mas tive que fazê-la... esquecer certa parte da história, por assim dizer. E sim, eles também são vampiros.

— Entendi.... Acho melhor voltarmos para minha casa agora. Está começando a escurecer e minha mãe já deve estar chegando. — Comentei me dirigindo para a trilha principal novamente. Jamie me seguiu de perto e percebi que a presença dele, sendo vampiro ou não, não me abalava tanto quanto deveria.

— Vai me visitar as escondidas todos os dias, então?

— Sim. — Sorriu contente.

— Por quê?

— Para mantê-la segura. Sabendo ou não da nossa existência, essa cidade não é tão segura como era antes.... Não faça mais perguntas, uma hora você obterá as respostas. — Falou de maneira tão séria que resolvi não contrariar embora a curiosidade me remoesse por dentro.

— Vai voltar a me visitar mais tarde?

— Não. Já saí para caçar hoje e os rapazes podem desconfiar.

— Por que não querem que você me visite?

— Não querem que tenhamos contato direto porque... bem... não era para você descobrir de novo que éramos vampiros. Mas prometemos te ver uma vez por semana pelo menos. Como seus amigos, não poderíamos abandoná-la.

— Entendi...

— Prometo vir de novo amanhã! — E levou a mão à testa como se batesse continência e não pude deixar de achar graça. Estava contente por ter encontrado um amigo que me fizesse rir, que fosse gentil, educado e inteligente. Tentei ignorar a parte estranha sobre ser um vampiro e percebi que não era difícil ignorar isso. Já perto de casa, olhei adiante e vi minha mãe chegando com meu irmão. Ela nos olhou repetidas vezes e por fim nos cumprimentou sorrindo mais que o necessário.

— Quem é ele filha?

— Ele? Ele é....

— Um amigo. — Jamie se apressou a responder. — Conheci Analice no café da cidade há algumas semanas. Sou o Jamie.

— Sou a mãe da Analice. Pode me chamar de tia, ou de Maria. — Minha mãe continuava sorrindo.

— Prazer em conhecê-la, Tia. — Jamie sorriu e no mesmo instante gelei. Os caninos! Os caninos dele, mesmo escondidos, ainda eram anormalmente grandes.

— Por que seus dentes são tão pontudos? — Meu irmão perguntou e ao invés de Jamie fechar a boca, sorriu ainda mais.

— Eu comprei uma dentadura para o Halloween! Dentes de vampiro, gostou?

— Muito! Da hora! — Os olhos do meu irmão brilhavam de deslumbramento. — Mãe, quero dentes assim também!

Minha mãe riu sem graça e convidou Jamie para entrar conosco, pedindo desculpas pelo comportamento do meu irmão.

— Está tudo bem, Tia. Ele é uma criança. Meus dentes são assim porque é de família, estou acostumado com esse tipo de curiosidade. E adoro crianças! — Ao ouvi-lo dizer isso, não pude deixar de encarar como um duplo sentido. Algo do tipo "seu filho parece um ótimo petisco curioso. Adoro crianças no jantar!". Estremeci com essa perspectiva e enquanto viajava em meus pensamentos, minha mãe oferecia a Jamie todo o tipo de coisa.

— Aceita um café? Um bolo? Uma torta? Talvez uma água?

— Não, obrigado. Apenas vim acompanhar sua filha até em casa. É perigoso andar por aí sozinho tão tarde. Já estou de saída! Agradeço a gentileza.

— Ah, sim! Entendo. Mas não é perigoso para você também?

— Não moro muito longe e o pessoal daqui já me conhece. Não há perigo para mim. — Enquanto minha mãe acreditava na mentira dele fiquei imaginando se iria voando para casa em forma de morcego, caso fosse realmente um vampiro.

— Tudo bem, então. Boa noite, Jamie. — Minha mãe se despediu e levei-o até a porta.

— Até amanhã, Analice! — Não tive muito tempo para desviar do abraço, portanto tive que retribuir. Porém notou minha hesitação e me perguntou o que havia acontecido.

— Não me abrace na frente da minha mãe, por favor. — Sussurrei.

— Por quê?

— Ela vai pensar que estou interessada amorosamente em você e que não disse nada a ela. Geralmente não deixo as pessoas me abraçaram com muita frequência.

— Entendi. Sinto muito. Tenho que ir, até mais! — E correu até as sombras do canto do jardim e fiquei de queixo caído ao notar duas coisas crescendo em suas costas. Asas! Arquejei e me apoiei um pouco tonta no batente da porta. Isso é incrivelmente perturbador. Assim que entrei e fechei a porta, minha mãe se pronunciou:

— Jamie, hein?

— Sim. É o nome dele.

— Aham. Sei... e?

— E o quê?

— Não é nada?

— Não é nada o quê? — Comecei a me irritar.

— Você gosta dele?

— Não! Somos amigos!

— Ah. Que pena... me pareceu tão gentil e educado... e ainda gosta de crianças. Além de ser muito bonito.

— Sim, mas já disse que não procuro isso agora.

— Mas filha! As meninas da sua idade já se interessaram pelo menos uma vez por algum garoto e você nada! Ou não está me contando? Saiba que pode confiar em mim!

— Eu sei disso, mãe. Só não achei ninguém ainda e quando encontrar prometo que te contarei. Agora vou subir e ir direto para a cama. Boa noite.

— Já vai dormir?

— Já. Estou morrendo de sono.

— Tudo bem... boa noite.

Subi para o meu quarto o mais rápido que pude. Lá chegando, peguei um pijama de frio, corri para o banheiro e deixei a água do chuveiro me relaxar. Ao término do banho, escovei meus dentes e penteei o cabelo. De volta ao quarto, peguei meu celular, os fones e coloquei uma música bem calma para tocar, Can you feel the love tonight, do Elton John. Pensei que pegaria no sono assim que deitasse na cama, mas o sono desapareceu depois do banho e fiquei apenas deitada, fitando o teto e ouvindo música, esperando ter vontade de dormir novamente.

Meu pai abriu a porta do quarto para me dar boa noite umas duas horas depois e fingi estar dormindo. Não reparei que tinha cochilado por meia hora e assim que saiu do quarto senti o sono me embalar de novo. Tirei os fones do ouvido, me ajeitei e fechei os olhos. Estava quase em sono profundo quando um barulho vindo da sacada me despertou. Muito sonolenta, levantei-me e fiquei atrás da cortina, pronta para abrir a porta balcão e ver o que havia provocado o barulho. Não estava desperta o suficiente para raciocinar que isso poderia ser perigoso, nem sentia nada direito. E nesta situação deveria estar morrendo de medo.

Lembrei vagamente de Jamie dizendo que viria me visitar de noite e tive esperanças de que fosse ele. Fui zumbizando até a sacada, após abrir a porta balcão, e fitei a noite fria e mal iluminada pela luz suave da lua cheia no céu. Uma brisa fria soprava e embalava as folhas das árvores, causando uma sensação congelante para qualquer um que cruzasse seu caminho. Dei mais um passo a frente e de repente vi uma silhueta me observando da árvore em frente a sacada do meu quarto, que não ficava muito distante e estava à minha direita. Assustei-me momentaneamente, talvez o meu sexto sentido sendo ativado, e recuei um passo. Recordei-me de Jamie novamente e sorri para a silhueta que me observava, pensando ser ele, mas quando a pessoa saltou para o beiral da sacada, percebi que não era Jamie. Quem...? Senti o sangue gelar em minhas veias e prendi a respiração. Shane? O que o irmão de Ally fazia aqui?

— O que você está fazendo aqui? — Não pude evitar me encolher.

— Vim visitá-la... — Disse como se o que estava fazendo fosse a coisa mais normal do mundo. Consegui me acalmar um pouco ao perceber que não era um desconhecido que viera me sequestrar, mas não conseguia deixar de me sentir estranha.

— Sei..., mas quem o autorizou? — Tentei soar um pouco mais firme do que realmente estava. Ele desceu do beiral e ficou a uns quatro passos de mim. Isso me desestabilizou e minhas pernas ficaram trêmulas.

— Ninguém. Ninguém sabe e se soubessem não me deixariam vir aqui. Vai contar a alguém? — Abaixou a cabeça como uma criança que fez algo errado e fora descoberta. Isso me deixou completamente confusa.

— E deveria contar a alguém? — Ao me ouvir dizer isso, me olhou confuso, talvez com medo. Isso não fazia o menor sentido! — Não se preocupe! Não vou dizer nada...

— Não mesmo? — Um sorriso despontou em seu rosto e senti minha garganta seca, incapaz de responder no momento, por isso apenas assenti. — Você não tem medo de mim?

— Bem... apenas quando age de maneira estranha. Como no quarto de Ally e.... agora. — Ao dizer as palavras me arrependi no mesmo instante, mas não parecia feliz por ter medo dele.

— Posso ficar aqui com você um pouco? Prometo não agir de maneira esquisita. — Sua expressão era de súplica.

— Certo. Mas não encoste em mim! Entendido?

— Sim, claro. Mas...

— Mas o quê? — Falei rapidamente e engoli em seco.

— Você está me dando recomendações e espera que as siga. Mas se não as seguir? O que você vai fazer?

— Por que está perguntando isso? — Falei extremamente rápido, mal o deixando terminar a pergunta. Assumi meu modo pânico de defesa e fiquei alerta a qualquer movimento dele, tentei limpar a garganta caso precisasse gritar.

— Não se preocupe. Não vou machucá-la. Não vou chegar nem perto de você se é isso que quer, mas precisava saber se teria ajuda ou se precisaria me controlar sozinho.

— E por que precisaria de ajuda para se controlar? Você sofre de algum distúrbio?

— Não. Pare de bancar a idiota! Você sabe o que sou! No que seus amiguinhos me transformaram no dia que salvei sua vida no bosque! — Pareceu levemente irritado.

— Ah, ótimo! Mais um que acha que é vampiro. Você também é um vampiro bonzinho, não é?

— Sério. Pare com isso. Estou me sentindo um animal com você falando desse jeito.

— E vampiros não são como animais? — Disparei e ele abaixou a cabeça novamente, parecendo magoado. — Desculpa... não deveria ter dito...

— Tudo bem, entendo.

— Entende? O que acha que entende?

— Você me odeia, não é? Pode falar! Eu sei que é isso! — De repente seu semblante mudou. Estava muito irritado e seus olhos brilhavam num tom de vermelho intenso que fez meu coração disparar automaticamente. Comecei a recuar em direção ao meu quarto.

— Acalme-se, por favor! Está me assustando. — Tentei manter a calma, mas estava a ponto de surtar.

— E você está pisando em mim! Está me tratando como se não tivesse sentimentos! Não é porque os seus livrinhos de histórias dizem que sou uma máquina de matar que não tenha sentimentos! E isso também não quer dizer que seja mesmo uma máquina de matar! — Vinha atrás de mim e comecei a me desesperar ao ver que seu semblante não mudava. Por que conseguiu entrar no meu quarto? E aquela história de não poder entrar sem ser convidado?

— Por favor! Acalme-se! Você tem razão, estou errada! Agora acalme-se!

— Está dizendo isso da boca para fora! — Acusou avançando ainda mais e continuei recuando até que caí deitada de costas na minha cama.

— Por favor... — supliquei. — Pare. E pare de gritar também. Vai acordar minha família.

— Não! Eu não consigo... — dizia isso mais como um pedido de socorro do que como uma afirmação. — Você! Precisa chamar ajuda! Não consigo me controlar! Por favor!

— Não! Meus pais! Você vai acordá-los se continuar agindo assim! Eles não podem te ver!

Estava assustador, mesmo no escuro completo do meu quarto, apenas parcialmente iluminado pelo luar, seus olhos brilhavam naquele tom de vermelho escarlate, como dois rubis. Por estar perto de mim pude ver sua expressão de súplica, mas se alguém entrasse pela porta, o veria com certeza como uma espécie de monstro aterrorizante. Não queria fazer aquilo, mas não conseguia se controlar e se esforçava para não ceder. Podia ver gotas de suor escorrendo pelo seu rosto perfeito, mas nada estavam conseguindo. Estava nervoso, confuso, desesperado e....

— Essa não! — Senti um tremor de pânico correr meu corpo ao perceber que a luz do corredor havia sido acesa. Alguém acordou! Preciso fazer alguma coisa! Preciso acalmá-lo, mas como? Pensar rápido! Pensar rápido! Pensar...

— Alguém... está vindo. — Sua voz era rouca e saía com dificuldade.

— Eu sei! — Comecei a me sentir mais atônita. Ouvi passos lentos pelo corredor, do jeito como meu pai andava. Não! Não! Não! Ele vai matar qualquer um que estiver nesse quarto!

— O que vamos fazer?

— Confia em mim?

— Sim, mas não sei se você confia em mim...

— No momento é minha única alternativa! Acho que o que vou fazer é loucura, mas espero que dê certo para te acalmar, como a Viúva Negra faz com o Hulk no filme dos Vingadores. Só serei um pouco mais ousada. — Sussurrei e corri até ele, que acompanhava meus movimentos. Não sabia muito bem como fazer isso, mas o beijei. Tão rápido que mal pude sentir direito a faísca que pareceu me eletrocutar, mas surtiu o efeito desejado e ele se acalmou.

— Como...? Por quê...?

— Shhh! Agora esconda-se rápido e me faça dormir com aqueles tais poderes de vampiros lá! — Não sabia se era um vampiro mesmo, mas algo me dizia que sim e também me informava que conseguiria me fazer adormecer com alguma espécie de poder do sono. — Depois que a pessoa sair do quarto, vá embora o mais rápido que puder, por favor!

— Posso voltar amanhã?

— Que seja! Mas faça o que mandei!

Ele assentiu e me aconcheguei nas cobertas. Se esgueirou para debaixo da cama e fechei os olhos em seguida. Senti meu corpo relaxar e já devia estar em sono profundo, levando em conta que estava sonhando. No sonho estava em paz e feliz, correndo num campo florido, até ouvir alguém chamar meu nome e estalar os dedos repetidas vezes. Ouvi isso umas cinco vezes até despertar e sentar na cama com um impulso.

— O que...? Quem...? — Assim que abri os olhos, vi o irmão de Ally me olhar sorrindo. Tinha me acordado... — Por que me acordou?

— Pensei que quisesse me ver indo embora. Para ter certeza de que fui.

— E desde quando gosto de ver meus amigos irem embora? — Esforcei-me para esboçar um sorriso, embora não fosse tão difícil assim sorrir para ele, estava tentando manter a calma e deixa-lo calmo também.

— Sei que disse isso para me deixar feliz ou algo do tipo. — Seu sorriso era triste.

— E por qual motivo iria querer você feliz se não fosse meu amigo?

— Talvez para se proteger porque tem medo de mim...

— Hum.... Olha... não sei que tipo de pessoa você pensa que sou, mas tenho coração, tenho sentimentos e gosto de fazer as pessoas felizes. Ok?

— E quem garante que você não está mentindo?

— Não é mentira! Se realmente quisesse que você fosse embora de uma vez, já tinha te mandado embora bem antes! — Perdi a paciência e logo percebi que isso foi um erro.

— Quer que fique mais dez minutos então? — Seu sorriso não era mais triste e embora estivéssemos sussurrando, ainda tive receio que meus pais voltassem a inspecionar o quarto.

— Acho melhor você ir embora.... Não quero ser seu próximo jantar! — Tentei soar como uma brincadeira, mas levou a sério.

— E quem disse que quero beber um sangue amargo igual ao seu?

— O quê? Amargo? Como sabe se é amargo? — Tateei freneticamente meu pescoço e meus pulsos buscando qualquer tipo de marca.

— Você é cruel e insensível! Não parece ter sentimentos! Não se importa se vai me ferir com o que diz!

— Isso é porque você é um vampiro! Não tem coração! Como posso confiar em um monstro? — Sabia que estava pegando pesado, mas tudo isso era novo para mim e de repente, me vi acreditando em coisas que antes eram apenas fruto da imaginação.

Ao ouvir minhas palavras, ficou em silêncio e abaixou a cabeça. Por um breve instante tive receio de que me atacasse, mas não fez nada disso. Quando notei que estava realmente magoado, abri a boca para pedir desculpas, mas já era tarde. Havia se dirigido para a sacada e saíra voando com as asas de vampiros noite afora.

Voltei a me deitar e olhei as horas no meu celular. Meia noite. Ótimo! Dormindo esse horário todos os dias vou parecer um zumbi de manhã.... Fechei os olhos e tentei esquecer a conversa que acabara de ter, mas foi inútil tentar apagá-la da memória. Trechos ficavam ecoando em minha mente o tempo todo e me faziam sentir horrível. "Você é insensível e cruel!" "Isso porque você é um vampiro! Não tem coração! Como posso confiar em um monstro?". Minhas palavras ao serem atiradas naquele rapaz, simplesmente batiam em uma espécie de parede invisível e voltavam para mim como se fossem facadas. Sabia que havia ferido sua alma. Não sabia como, mas sabia. Vampiros têm alma? Não sei se todos os vampiros têm alma, mas com certeza o irmão da Ally tem. Talvez tivesse herdado isso de seu lado humano que sobreviveu à transformação. Ferira seus os sentimentos e não entendia porque era capaz de feri-lo dessa forma. Talvez porque, e agora me lembrava disso, se tornara vampiro para me salvar de algo que ia me atacar. Amanhã de manhã precisaria ligar para o George e perguntar onde ele e os rapazes moravam. Talvez o irmão de Ally não volte para casa e com certeza é para a casa dos meninos que iria para se esconder de mim. Talvez soubesse que iria atrás dele para me desculpar no dia seguinte e por isso não passaria o dia ou a noite em casa. Nem sabia se passava as noites em casa...

Foi com esses pensamentos que adormeci. No dia seguinte acordei com torcicolo e parecia que havia quebrado o pescoço. Dormira de qualquer jeito e isso resultou nessa dor horrível que fazia parte de mim nessa manhã, em que minha alma também acordara com dor, por estar triste e arrependida do que havia acontecido na noite anterior. Ainda estava confusa com tudo que havia sido revelado a mim, mas minha alma e minha mente aceitavam tudo isso como se fosse algo normal. Não sabia dizer se isso era algo positivo ou não...






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