Cap. 3 - Como um sonho

Os dias passaram rápido e logo minhas aulas começariam, pois, finalmente, os problemas com a matrícula haviam sido resolvidos. Meu primeiro dia de aula seria amanhã e simplesmente não conseguia dormir por causa da ansiedade e expectativa. Queria ver os rostos de meus novos colegas de classe e de meus novos professores. Quando finalmente peguei no sono, acabei acordando novamente. Minha mente estava completamente desperta, em contrapartida, meu corpo ainda tentava acordar. Estava elétrica, porém exausta. Levantei meio sonâmbula e abri a porta balcão que levava até a varanda do meu quarto. Alguém batia nela repetidas vezes e imaginei ser por isso que acabei acordando. Sem raciocinar direito, saí na sacada e um vento extremamente frio embalou meu corpo, fazendo-me estremecer. Olhei para o beiral que cercava a varanda e vi uma pessoa ajoelhada. A pessoa me olhava fixamente e senti que a conhecia, por isso me aproximei.

— Bryan?

— Sim! Eu.

— Por que você me acordou essa hora da madrugada? — Minha voz soava irritada e cruzei os braços em frente ao corpo para me proteger do frio.

— Preciso de você. Só por uma hora no máximo, juro! — Parecia aflito e não compreendi direito o motivo disso.

— Tudo bem... o que você quer de mim?

— Venha comigo! — Pegou meu braço abruptamente e não pude deixar de hesitar por um instante.

— Que mão gelada! Você não está com frio? — Disse rapidamente tentando soltar meu braço da mão dele. — E não vou com você! Ficou louco?

— Não! Não estou com frio! Por favor, venha comigo. Eu e os rapazes precisamos de você. É urgente!

— Tudo bem..., mas como subiu até aqui? — Encarei-o intrigada e me olhou com ar de espanto.

— Eu... escalei a árvore! Sou campeão de escalada! — Disse sorrindo e fazendo uma pose tão engraçada que não pude deixar de rir.

— Preciso conversar com meu pai sobre essa árvore servir de escada.... Vou com você, mas não posso demorar, está bem?

— Não vamos demorar. Prometo!

Ele me ajudou a descer pela árvore. Corremos até o bosque em que aconteceu o ataque e não pude deixar de me sentir estranha. Pensei em perguntar ao Bryan sobre o rapaz, mas acabei desistindo por medo da reação dele. E se me largasse ali no meio do bosque? Quando chegamos em uma clareira, finalmente me permitiu parar de correr para que recuperasse o fôlego. Enquanto isso, se posicionou a alguns passos na minha frente. Pouco depois apareceram George, Shawn, Jamie e... o rapaz! O garoto que encontrei no bosque no dia do ataque!

— Olha! Você está....

— Silêncio! — Ordenou George com uma voz firme e uma expressão séria, que me fez calar no mesmo instante e passei a apenas observar.

George se posicionou logo atrás de mim, Jamie e Shawn ficaram dois metros a minha esquerda e direita, respectivamente. Bryan ainda estava a minha frente, talvez a uns quatro metros de onde estava, o rapaz estava parado logo a sua frente. Todos me encaravam atentamente. Comecei a sentir o medo tomar conta de meus músculos e notei que meu corpo todo tremia de leve, meu estômago parecia dar cambalhotas e meu coração estava disparado.

— Posso saber o que vocês queriam de mim? — Não sei como consegui encontrar minha voz.

— Sim. — Disse Bryan.

— Você nos ligou com frequência há um tempo atrás... — começou a falar Shawn em um tom sério e sombrio.

— E evitamos atendê-la ou dar explicações... — continuou George atrás de mim. Sua voz estava mais próxima e senti um arrepio correr minha coluna.

— Mas você não sabe o porquê. — Completou Jamie e jamais pensei que sua voz pudesse assustar alguém, mas percebi que podia.

— Não. Não sei... — falei observando-os ainda mais atentamente. Será que era agora que ia morrer?

— Você queria notícias sobre o rapaz que nos pediu para salvar... — Jamie agora estava com os braços cruzados em frente ao corpo.

— Sim. E pelo visto ele está bem, não é? — Forcei um sorriso.

— Mais ou menos... — Bryan estava com uma expressão de desconforto no rosto, talvez um pouco de apreensão também.

— Como assim?

— Quando chegamos lá, não havia medicina do seu mundo que pudesse salvá-lo... — Shawn retomou a narração e estava começando a ficar irritada com essa troca de falas a todo o momento.

— Então tivemos que tomar medidas mais drásticas. — George terminou de dizer e os garotos pareceram assumir uma posição ainda mais tensa agora.

— Nós o transformamos. — Jamie disse em tom de confissão.

— Transformaram? — Estava completamente confusa e não conseguia esconder.

— Sim. Preste atenção nos olhos dele. — Pediu Bryan calmamente. Ao observar os olhos do rapaz, que não parava de me observar desde o início, notei que suas írises brilhavam num tom de vermelho e era a única maneira de enxergar direito a cor dos olhos dele no escuro a quatro metros de distância. Como não reparei nisso antes?

— São vermelhos... — comentei estupidamente.

— Não. Eles estão vermelhos. — Bryan me corrigiu e completou. — Pelo menos por enquanto....

— O que quer dizer com isso?

— Ele é um vampiro. — O tom de voz de Jamie era firme e sereno, talvez por isso não tenha acreditado nele logo que disse e não saí correndo por isso.

— Vampiro? Isso é ridículo! Vampiros não existem. — Afirmei com toda a certeza que na verdade não tinha.

— Sim, Analice. Eles existem. Todos nós somos vampiros e nós o transformamos. — Explicou George mantendo o mesmo tom de voz que Jamie usou.

— Vocês o quê? — Minha voz saiu estridente e virei-me para encará-lo. — Mas... seus olhos não são vermelhos!

— Isso é porque não fui transformado. Nasci assim. Sou um vampiro desde o berço, não um transformado. Jamie também é como eu. — George explicou com um sorriso leve.

— Jamie? — Não parava de desviar a atenção de um para outro sem conseguir acreditar no que estavam me contando. — E o Shawn? E o Bryan? Os olhos deles também não são vermelhos!

— Isso é porque foram transformados há bastante tempo, as írises só assumem o tom escarlate no primeiro ano como vampiro transformado, depois voltam ao natural gradativamente. Só tornam a ficar vermelhas quando o vampiro está realmente muito sedento de sangue.

— Isso só pode ser uma brincadeira! É tudo mentira! — Comecei a me desesperar e meu cérebro se recusava a acreditar no que meus ouvidos escutavam. Tentei me afastar deles, mas George me segurou com delicadeza pelos braços.

— Calma! Não vamos feri-la. Só autorizamos você saber disso porque nosso recém-criado queria muito vê-la outra vez. Você nem poderia saber de nossa existência como vampiros. — Disse George tentando me acalmar, acho.

— De nada, então! — Me dirigi ao rapaz ao dizer isso, depois voltei a fitar o George. — Pode deixar que vou fingir que nada disso aconteceu!

— Analice... fique calma. Ele já se alimentou hoje e é seguro se aproximar de você. — Disse Bryan.

— O quê? Se aproximar de mim? Ele quer chegar perto de mim? — Quase gritei, arregalando os olhos, assustada.

— Ele quer isso... se você autorizar, é claro. — Explicou George, novamente numa tentativa de me acalmar. O rapaz estava quieto, mal se mexia, apenas observava tudo.

— Não! Não vai chegar perto de mim! Eu não deixo! — Gritei sem conseguir controlar o pânico. — Ele vai me matar!

De repente o rapaz saltou agilmente em direção à floresta e notei que sua expressão parecia perturbada. No mesmo instante em que fez o primeiro indício de movimento, George me envolveu num abraço, Bryan tentou agarrar o rapaz, mas falhou e Shawn e Jamie pularam na floresta atrás do recém-criado. Depois de um tempo falei:

— Por que ele fugiu? Está bravo comigo?

— Não... não é bem isso.... — George parecia um tanto inseguro.

— Na verdade, o nosso recém-criado não controla direito as emoções. Não está bravo, está chateado. Fica chateado sempre que percebe que estão com medo dele, mas as probabilidades de suas reações são variadas. — Disse Bryan se aproximando de nós.

— Variadas como?

— Pode ficar chateado e fugir; pode achar que se sente mais forte por te meter medo e tentar te intimidar ainda mais; ou pode também achar que está muito irado e te matar. — Bryan lançou um sorriso maldoso no final da frase e isso fez meu sangue gelar.

— Bryan! — George o repreendeu.

— É a verdade! — Bryan defendeu-se e cruzou os braços fortes em frente ao peito.

— O que ele disse é verdade mesmo?

— Olha... é complicado... — começou George, mas acabei o interrompendo.

— Mas ele deve ter uma família. Como ela está? — Me sentia aflita, curiosa e preocupada. A cada instante perdia o medo desses supostos vampiros que me cercavam, exceto do recém-criado, e o pânico cedia lugar a curiosidade.

— A família dele não corre perigo. O sangue dos parentes é como um veneno para ele, então não sente vontade de beber. — Bryan explicou.

— Mas... e a antiga vida dele? Como fica?

— Você está bem preocupada com ele, não? Já o conhecia antes do acidente? — George arqueou uma sobrancelha em sinal de desconfiança.

— Não. Não o conheço e nem o conhecia. Nem sei o nome dele!

— Hum.... Isso não é bom sinal... você não estaria cedendo aos encantos do recém-criado, não é? — Mal deixei George terminar a frase.

— Não! Não estou gostando dele ou algo do tipo! Isso é ridículo! Nem o conheço!

— Sim... ridículo... — senti o tom de deboche na voz de Bryan e o olhei irritada sem me importar se poderia me matar ou não, já que era um vampiro e mais forte.

— É melhor você não se apaixonar por ele... — comentou George.

— Não vou me apaixonar por ele! Já ouviram falar de pensar no próximo? De se preocupar com os outros? É só isso!

— Sim... tão preocupada com alguém que você nem sequer conhece... — Bryan falava com tom de ironia, mas parei para pensar e ele tinha certa razão. Estava me preocupando demais com alguém que não conhecia. Será que estava mesmo preocupada com ele e a família por pura vontade de ajudar ao próximo? Ou seria outra coisa?

— Talvez tenha razão... é melhor não me preocupar mais com isso. — Tentei fazer com que minha voz soasse firme e decidida. Nesse momento Shawn e Jamie surgiram do meio das árvores trazendo de volta o recém-criado. Quando chegou e olhei-o novamente, percebi que a presença dele me abalava de alguma forma. Fiquei tensa e minha mente começou a se embaralhar.

— Podem me levar de volta para casa, por favor? — Lancei a George um olhar suplicante.

— Assim que disser se o deixa se aproximar. — Jamie e os demais passaram a me encarar com expressões tensas e preocupadas.

— O quê? Isso é chantagem!

— Não. Não é. Não vai depender da sua escolha, apenas da resposta. — Explicou.

— Eu... olha... é muita coisa de uma vez só na minha cabeça! Vocês me dizem do nada que o rapaz está bem, mas que na verdade ele é um vampiro e que vocês também são! Depois me pedem para confiar que não vai me matar sendo que há uma grande probabilidade de isso acontecer! Querem que faça o quê? Enlouqueça?

— Não... — ouvi pela primeira vez a voz do rapaz como recém-criado. Não sei ao certo como descrevê-la, era grave e suave ao mesmo tempo, era encantadora e parecia que o som de sua voz penetrava na alma. — Quero apenas que me deixe agradecê-la... por ter me salvado.

— Não sei... é coisa demais para mim. Tente entender meu lado. Se coloque no meu lugar! — Pedi desesperada.

— Então tente você se colocar no meu lugar. — O rapaz falava com dificuldade e me sentia hipnotizada por sua voz. — Antes de salvá-la... era um humano comum. Todos... todos gostavam de mim... tinha uma vida! Mas... morri e fui transformado.... Minha família... desconfia de mim. Minha irmã mais nova... diz que estou estranho.... Até a pessoa pela qual morri... para salvar... não confia em mim! — Fazia curtas pausas enquanto falava e não consegui achar uma explicação lógica para isso. A cada frase se aproximava mais de mim e parecia estar com raiva.

— Obrigada por me salvar! Não pensei nisso... desculpe. — Falei rápido e com medo, mas não parava de se aproximar. Shawn e Jamie partiram para segurá-lo, mas os empurrou com força e ambos foram arremessados para o outro lado da clareira. Bryan também tentou enfrentá-lo e George me abraçou de forma protetora novamente. Bryan também foi jogado para longe e o recém-criado já estava perto o suficiente para que enxergasse perfeitamente seu semblante. Quando encarei seus olhos, notei sua expressão mudar de raiva para confusão e depois para algo como arrependimento. Passou a se desculpar e notei que seus olhos estavam marejados. Tentou segurar minha mão, mas George não deixou. Senti meu coração se apertar e por um segundo, me esqueci completamente que era um vampiro. Parecia estar sofrendo.... Acabei tomando minha decisão.

— George?

— Sim? — Sussurrou logo acima da minha cabeça.

— Me solte. — Ordenei.

— Mas... não está com medo? — George parecia surpreso e os outros já se posicionavam novamente para qualquer tentativa de ataque do recém-criado.

— Estou morrendo de medo! — Disse não muito heroicamente. — Mas ele não merece isso! Me solta! Deixe-o se aproximar! — Soltei os braços dele e endireitei a postura.

— Tem certeza? — George ainda parecia hesitante e o rapaz apenas observava sem se mover.

— Sim! — Era minha decisão final, mesmo que estivesse com muito medo e a beira de um ataque de histerismo. — Pode deixa-lo vir.

— Ele não está tentando te induzir a isso está? — George falou mais para o rapaz do que para mim. Disse que não por ele e o rapaz desviou o olhar do meu rapidamente. George pareceu relaxar um pouco e deu um passo para trás, permitindo que o recém-criado se aproximasse. O rapaz deu um passo a frente, cauteloso e analisando minha expressão. Tentei me manter firme onde estava, evitando qualquer movimento de repulsa.

— Tudo bem... — falei com a voz trêmula e para ser sincera, meu corpo inteiro tremia. Não só por medo, mas por frio também.

— Não está com... medo? — Falou devagar e seus olhos demonstravam sua preocupação.

— Desculpe... sim, estou com medo, mas... você tem razão, ninguém merece passar por isso e ainda esbarrar com a ingratidão, como fiz com você ao te repelir daquela forma. Deveria agradecê-lo por ter me salvado do ataque de seja lá o que for, mas ao invés disso fiquei apenas dizendo que queria que se afastasse porque estava com medo.... Humanos são assim, não é? Têm medo da morte... — sorri de leve.

— E por que você... não tem medo... dos outros também? Eles são como... eu.

— Talvez porque os olhos deles pareçam normais. Seus olhos são muito bonitos, mas me dão medo, pois me fazem lembrar de sangue. — Senti um leve tremor correr minha coluna e não era por causa do frio dessa vez. Agora estava a poucos centímetros de mim.

— Meus olhos? Então não é... medo de mim? — Não pude deixar de notar o tom de esperança em sua voz.

— Não. Na verdade, sim! Tenho medo de você, mas principalmente porque seus olhos ficam me lembrando o que você é de verdade. George e Jamie parecem completamente normais. Bryan e Shawn têm olhos normais também... apesar desses caninos enormes. Deus! Como não notei isso antes?

— Talvez tenha ficado encantada demais com a nossa simpatia. — Jamie se pronunciou numa tentativa de amenizar o clima.

— É. Talvez... — ri nervosamente sem conseguir relaxar.

— Certo. Mas e se ... fechar os olhos e a boca... manter essas... características escondidas... você me deixa abraçá-la?

— Como é? Você... quer mesmo isso? — Não consegui acreditar no que estava ouvindo.

— Sim. Por favor... o que me diz? — Pude perceber os demais garotos se entreolharem e assumirem posição de defesa.

— Acho que está pedindo demais.... Quem sabe depois de um tempo, quando conseguir entender essa história....

— Não terá outra vez, Analice. — Jamie soou sério e sombrio novamente.

— Não? Como assim? Vocês vão sumir? — Estava em choque.

— Não é bem isso... — começou Shawn. — É que antes de levá-la para casa, teremos que apagar sua memória. Você não pode se lembrar de hoje. É contra o código das criaturas sobrenaturais se mostrar para humanos.

— Apagar minha memória? Não! Por favor! Sempre quis que algo assim acontecesse na minha vida! Ok, podem me chamar de doida, mas isso é completamente mágico, embora seja assustador! Quem não quer um pouco de magia em sua vida?

— Podemos fazê-la pensar que sonhou tudo isso... — sugeriu Jamie e George pareceu pensar sobre o assunto.

— Acho uma boa ideia. — Bryan se pronunciou.

— Acho perigoso demais! Arriscado demais! — Alertou Shawn.

— E então... o que vão fazer comigo? — Falei com receio da resposta.

— Temos dois votos contra e dois votos a favor da ideia do Jamie... o que você acha, Shane? — George disse.

— Quem é Shane? — Me interromperam antes mesmo que percebesse como minha pergunta era idiota.

— Eu acho... a ideia do Jamie... melhor. — Disse o recém-criado.

— Você é Shane? — Não conseguia parar de fazer perguntar óbvias.

— Sim. Esse é... meu nome.

— Por que não consegue falar normalmente? — Já estava começando a me sentir uma idiota....

— Ele ainda está se acostumando a sentir o cheiro do seu sangue e se respirar fundo vai sentir o cheiro e provavelmente atacá-la. Por isso está falando e respirando com cuidado. — George explicou. Não pude deixar de arregalar os olhos com tal afirmação e ao observar o rosto de Shane, percebi que me observava como se pedisse desculpas por isso.

— Tudo bem. A ideia do Jamie venceu. Vamos colocá-la em prática! — Anunciou Shawn e os demais concordaram.

— O quê? Já? — Não pude deixar de me sentir decepcionada.

— Sim. É bom se despedir de seu novo amigo também. Terá que se afastar dos humanos por um tempo e passará a trabalhar e até a viver conosco. — Falou Bryan.

— No que vocês trabalham?

— Jamie e eu já tivemos muitos trabalhos durante nossas vidas e com esses empregos conseguimos muito dinheiro, suficiente para nos sustentar por longos anos. Também recebi a herança de um parente meu e isso fez nossos cofres crescerem ainda mais. No tempo livre, gosto de tocar piano, Jamie treina com sua guitarra, Shawn toca violão e Bryan é um excelente cantor. As vezes tocamos juntos... Bryan largou seu emprego humano ao se transformar em vampiro e depois disso não voltou a trabalhar e Shawn até hoje ainda administra uma das empresas que seu pai deixou, mesmo depois de saber da transformação. — Explicou George.

— Terei que me despedir de vocês também? — Fiquei triste ao recordar o que Bryan dissera sobre dizer adeus.

— Sim. — Shawn falou ao mesmo tempo em que Jamie disse não.

— Sim ou não?

— Eu falo! — George elevou sua voz e os demais ficaram em silêncio. — É melhor você se afastar de Shane por enquanto.... Ele não sabe se controlar ainda e vai acabar revelando de novo que é um vampiro. Além do que, pode acabar te atacando. Quanto a nós... vamos nos afastar um pouco, mas não iremos abandoná-la. Tentaremos nos encontrar pelo menos uma vez por semana, certo?

— Só uma vez? — Falei chateada.

— Sim. — George parecia decidido, mas percebi que Jamie e Bryan estavam descontentes com sua decisão e pareciam crianças quando a mãe nega um doce antes do jantar.

— Agora você precisa ir. Tem aula ainda hoje. — Disse Shawn em tom calmo, porém rígido.

Acabei por aceitar, sem alternativas. Olhei para todos, um por um. Aproximei-me de Shawn e me despedi com um aperto de mão, fiz o mesmo com George (achei que pareciam mais sérios e isso requer cumprimentos mais sérios). Despedi-me de Bryan e Jamie com abraços e apenas acenei de longe para Shane, com um enorme aperto no coração. Não tentou se aproximar dessa vez e nem resmungou, apenas olhou para mim com expressão indecifrável e em seguida sumiu por entre as árvores.

— Ele está chateado? — Disse para George.

— Acho que sim... você não deveria tê-lo tratado diferente de nós.

— Eu sei... sinto-me mal por isso, mas ainda tenho medo! — Abaixei a cabeça, me sentindo sem graça.

— Sabemos disso... — George ergueu minha cabeça com uma das mãos e sorriu docemente para tentar me tranquilizar. — Não fique triste com isso. Aproveite seu primeiro dia de aula e nos vemos em breve! Até mais! — Despediu-se e saltou para a escuridão do bosque.

— Até mais! Cuide-se! — Shawn falou um pouco mais alto e seguiu George.

— E então? Qual dos dois me leva para casa? — Coloquei minhas mãos na cintura e encarei os dois vampiros que restaram.

— Que tal os dois? — Jamie sorriu de modo gentil.

— Não! Eu trouxe, eu levo! — Bryan afirmou se aproximando de mim.

— Mas fui eu quem o transformou! — A voz de Jamie assumiu um tom convencido e sorriu maldoso. — Sou responsável por você.

— Me sinto um bebê... — Bryan resmungou e não pude deixar de achar graça.

— E é mesmo! Agora vamos! — Jamie falou por fim.

Os dois me levaram para casa mais rápido do que quando Bryan me trouxe ao bosque, já que Jamie insistiu em me carregar e assim avançamos mais rápido. Chegando na sacada do meu quarto, Jamie me colocou no chão e mandou Bryan descer porque precisava de privacidade para conseguir apagar minha memória. Bryan obedeceu a contragosto e me desejou boa noite. Jamie passou a encarar meus olhos.

— Você confia em mim? — Segurava meus ombros com firmeza.

— Sim. Por quê?

— George havia me mandado apagar sua memória e não a deixar lembrar de nada, mas não vou fazer isso. Você pensará que foi tudo um sonho e talvez torne a se lembrar de tudo isso em algum momento da sua vida. Virei visitá-la todos os dias e não precisa se preocupar, você ainda vai se lembrar de nós. Só não que somos vampiros. Infelizmente não poderei contar aos demais que virei aqui todos os dias. Você pode guardar esse segredo?

— Claro que sim! Fico feliz que venha me visitar! — Não consegui conter o sorriso sincero que se formou em meu rosto.

— Vou fazê-la dormir. Não se preocupe, não dói nada. Vou colocá-la na cama. — Sorriu para tentar me acalmar.

— Não posso ir para a cama sozinha?

— Opa! Não foi isso que quis dizer. Desculpe... — ficou literalmente sem graça.

— Eu sei. — Ambos caímos na risada e depois de um tempo avisei que estava pronta. Beijou o alto da minha cabeça e depois só me lembro de ter deitado na minha cama, já me sentindo mole e sonolenta. Fechei os olhos e dormi como uma pedra.

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