Cap. 28 - A Verdade

Quando recobrei a consciência novamente minha visão foi entrando em foco aos poucos. Como deixei me nocautearem assim? Não. Não foi exatamente um nocaute, pelo menos não um justo. Deram-me algo como um sossega-leão poderoso o suficiente para fazer efeito em um vampiro. Estava deitado em uma cama de casal com dossel, havia uma janela grande logo ao lado da cama, mas estava coberta por uma grossa cortina vermelho vinho. O quarto estava em sua maior parte escuro, apenas a chama trêmula de uma pequena vela ao lado da cama ajudava a distinguir as formas das mobílias pelo quarto. Não que houvesse qualquer outra coisa além da cama e da cômoda simples.... Estava sozinho, pelo menos até Alana entrar segurando uma garrafa do que parecia ser vinho.

— Ah! Você já acordou, amor? Isso me deixa tão feliz! — O sorriso dela era contagiante, mas seu olhar era perigoso e senti um tom de ironia em sua voz irritante.

— Sim. Acordei. — Fitei a garrafa nas mãos dela. Aquilo não cheirava a vinho...

— Precisamos conversar. — Sentou na beirada da cama e cruzou as pernas bem mais devagar que o necessário.

— Sobre o quê?

— Por que você saiu de casa ontem sem me avisar? — Sua voz era como a de quem está prestes a chorar, mas seu rosto exprimia ferocidade e raiva.

— Você me deixou sozinho. — Dei de ombros. — Decidi dar uma volta.

— E por que atacou meus seguranças? — As mãos dela apertavam a garrafa como se quisessem esmagar o vidro.

— Eles não me deixaram sair. — Continuei a demonstrar indiferença ao teatrinho dela.

— Talvez fosse por que não era para você sair. — Seu tom não era interrogativo. — Você esqueceu que agora é um vampiro? Você é perigoso! Mata pessoas inocentes! Pode matar sua própria família! Seria uma pena se sua irmãzinha acabasse morta por seu descontrole, não é? Estou apenas tentando proteger você e a sua família... — fez uma expressão de mágoa, algumas lágrimas escaparam de seus olhos e usou uma das mãos para secá-las. Tudo isso só serviu para me deixar ainda mais irado.

— Não sou idiota, amor. — Minha voz soou irônica. — Sei que não há como atacar minha própria família. O sangue deles não é tido como agradável para o meu olfato e paladar, por isso não os ataco.

— Claro... — sua expressão se tornou sombria de repente. — Mas há outras pessoas que você não gostaria de atacar... sua vizinha, uma senhora chamada Annie, por exemplo. — Deixou um pouco a garrafa de lado e seguiu na minha direção engatinhando. Tentei dizer algo, mas colocou os dedos sobre meus lábios para me calar. Seu olhar era pura malícia e desejo. Não era uma garota feia, mas algo nela me causava nojo. Não queria chegar perto dela, muito menos tocá-la, mas tentou me obrigar a beijá-la e quando tentei recuar, me olhou com raiva. — O que foi, meu amor? Está cansado?

— De você? Acredito que sim. — Um brilho escarlate e feroz surgiu em seu olhar e saiu da cama de repente, seguiu rebolando até a porta e pensei que estaria livre dela, no entanto se voltou para mim outra vez com a porta entreaberta.

— Ah! Obrigada pelas flores... — pronunciou a frase como se estivesse cuspindo as palavras na minha cara. Tive vontade de socá-la, mas quando tentei me mexer, percebi que não conseguia sair da cama. Alguma força invisível me mantinha preso ali.

— Flores? Do que está falando? — Fingi não me lembrar das acácias que comprara para lhe dar de presente por algum motivo que não consigo definir agora.

— Aquelas flores amarelas. — O sorriso dela era falso. — Odeio flores. E odeio amarelo. — Estalou os dedos e vi o vaso com as acácias amarelas surgir em uma de suas mãos. Pronunciou algumas palavras e as flores se dissolveram em cinzas dentro de um redemoinho de fogo. Lançou um olhar irado e jogou o vaso em minha direção, mas errou o alvo fazendo com que se quebrasse na parede atrás da cama. Engoli em seco tentando entender o que estava acontecendo. Então algo ainda mais estranho aconteceu. Alana correu até mim chorando sentida e me abraçou antes que tivesse tempo de me esquivar.

— O que você...?

— É aquela garota! Está me fazendo prendê-lo aqui outra vez! Está usando meu corpo para te fazer mal! A culpa é dela! Ajude-me, meu amor! Por favor, me AJUDE! — Gritava as palavras em um desespero tão genuíno que fiquei confuso sobre estar ou não dizendo a verdade.

— Acalme-se. Estou aqui. — Dei tapinhas em suas costas para tentar acalmá-la.

— Peça para ir embora, por favor! Peça para que me deixe em paz! — Alana chorava e soluçava, o que tornava suas palavras quase incompreensíveis.

— Está bem. Acalme-se! — Tomei fôlego e decidi fingir que acreditava nessa suposta ilusão da cabeça dela. — Ei! Garota-fantasma! Vá embora! Deixe Alana em paz ou a próxima pessoa a ser perturbada será você!

— Obrigada. — Senti o corpo de Alana relaxar de repente e ela adormeceu instantaneamente. Ajeitei-a ao meu lado e percebi que já era capaz de sair da cama. Por isso levantei-me e fechei a porta com cuidado. Pensei em fugir dali, mas minha curiosidade me manteve onde estava. Voltei ao quarto e sentei na cama observando Alana dormir. Será que essas coisas que dizia eram ilusões ou será que eram reais? Teria algum distúrbio de dupla personalidade ou estava mesmo sendo assombrada?

Não percebi quando acabei cochilando e ao acordar pela terceira vez no mesmo dia me senti desorientado por alguns segundos. Olhei para o relógio preso ao pulso de Alana e percebi que faltavam dez minutos para as onze. A garota ainda dormia e me veio à mente o papel com o endereço que Jamie anotara. Disse que precisava comparecer ao encontro para entender algumas coisas.... Precisava de explicações. Levantei com cuidado para não a acordar e me aprontei para sair. Abri as cortinas e percebi que as grades haviam sido retiradas dali desde a última vez que estive preso naquele lugar. Abri um vão da janela e saltei para a noite fazendo com que as asas de morcego aparecessem em minhas costas outra vez. Era sorte dos vampiros que fossem capazes de escondê-las, qualquer pessoa normal se assustaria com a nossa aparência se as vissem.

Saí da propriedade e desisti de continuar pelos céus. Desci em uma clareira da floresta e passei a caminhar pelas sombras sem fazer qualquer ruído. Deixei que meus instintos me guiassem e recordei o endereço para onde precisava ir... Era ao lado da minha antiga casa.... Acelerei o passo e cheguei um pouco atrasado. Aquela casa me trazia lembranças estranhas e nebulosas. Tive receio de entrar, mas me repreendi pela covardia e decidi tocar a campainha de uma vez. Shawn me atendeu e sua expressão demonstrava choque.

— O que você...? Como você...? — Estava tão surpreso que se esqueceu de terminar de abrir a porta e a empurrei disfarçadamente com o pé para que a porta terminasse de abrir e entrei na sala. Todos tiveram basicamente a mesma reação de Shawn, menos Jamie.

— Olá. — Fechei a porta para Shawn e me senti desconfortável com todos os olhares, mas mantive uma postura rígida e indiferente.

Sentei-me no sofá ao lado de George e não pude deixar de notar que ele e Shawn me observavam intrigados. Tinham muitas perguntas na ponta da língua, mas receio de fazê-las. Ninguém me dirigiu a palavra por um longo tempo e conversavam aos sussurros, como se não quisessem que ouvisse. Esperei paciente, até que dissessem qualquer coisa para me incluir em sua conversa, mas nesse meio tempo a Senhora Annie, que era a dona da casa, entrou na sala e ao me ver deixou a bandeja que segurava cair no chão. Seu olhar parecia ao mesmo tempo triste, aflito, surpreso e alegre. Era complicado tentar entender as emoções que passaram pelo rosto dela naquele momento. Correu até mim e começou a me chacoalhar, com as mãos em meus ombros, enquanto falava.

— Onde ela está? Por que não veio junto com você? O que aconteceu?

— Ela? De quem a Senhora está falando? — Segurei seus pulsos o mais delicadamente que pude para fazê-la parar de me sacudir.

— Minha sobrinha! Onde está Analice? — George tentou convencê-la a se sentar, mas recusou.

— Acalme-se, tia Annie, por favor. Ele não sabe de nada. Alguma coisa aconteceu com ele também. Algum tipo de feitiço da memória talvez... — Jamie me fez soltá-la e tomou as mãos dela entre as suas ao falar fitando seus olhos.

— De quem vocês estão falando? — Falei quando as coisas pareceram se acalmar. A Senhora Annie havia desabado no sofá e agora chorava baixinho com Jamie e Shawn tentando consolá-la.

— Desculpe querido... — soluçou e voltou a chorar.

— Tudo bem. — Não encontrei nenhuma outra maneira de responder. Aquele nome que dissera não me era estranho, mas parecia uma lembrança vaga e obscura em minha mente.

— Não se lembra dela? — Ellen, que lembrava ser a namorada de George, falou com uma expressão preocupada.

— Não. — Jamie disse. — Não sabemos o porquê, mas estamos tentando descobrir. Bem... Shane, você se lembra da garota que chamava de garota-fantasma, não é? — Assenti e ele continuou. — É dela que estamos falando.

— E o que eu...?

— Como pode ver... — Jamie me interrompeu. — Todos nós estamos preocupados e angustiados. Estamos desesperadamente tentando encontrar o corpo dela, mas não temos ideia de onde procurar. Sabemos que está desaparecida desde a noite do baile de Alana e acreditamos que sua nova namorada tem alguma coisa a ver com isso. Você viu Analice como um "fantasma", mas nós estamos chegando à conclusão de que aquilo era a alma dela, não um fantasma qualquer.

— Sinto muito por ela, mas...

— Querido... — A Senhora Annie pegou minhas mãos entre as dela e me encarou com seriedade. — Não minta para mim. O que houve com ela? Você sabe de alguma coisa? Se souber... qualquer mínimo detalhe já ajuda. Diga o que você sabe.

— Conte tudo, Shane. A Senhora Annie merece saber. Analice é a sobrinha dela. — George e todos os outros também me encaravam com expressões sérias. Refleti por um segundo sobre o que deveria ou não dizer e acabei optando por contar o que achava que deveria ser útil.

— Certo. Me lembro de estar em um quarto da mansão de Alana. Estava acorrentado em uma cama e meu corpo estava ferido.... Então a garota entrou de repente e foi presa por barras de luz que apareceram do nada. — Minha mente parecia um buraco negro e cada vez que tentava recordar alguma coisa desse dia, parecia que seria sugado por ele e uma sensação de pânico tomava conta de mim, mas resisti bravamente. Jamie tinha razão e se a garota-fantasma fosse mesmo Analice, essa senhora tinha o direito de saber dessas coisas. — Ao me ver, pareceu apavorada e parecia chorar, mas não havia lágrimas. Havia mais alguém no cômodo e essa pessoa discutiu com a menina que estava presa. As barras sumiram com o término da discussão e a garota flutuou rapidamente na minha direção, ouvi a risada da outra pessoa que estava no cômodo. Era uma gargalhada maligna. A voz de uma mulher, com certeza. Sentia a garota me abraçar e não entendia como isso era possível. A voz maligna disse algumas palavras iradas e a garota pareceu ser... sugada. — Fiz uma pausa, acreditando que todos me chamariam de louco e tentariam me levar a um hospital.

— Prossiga. — A voz de George me causou um sobressalto. Então acreditavam em mim? Percebi que minhas mãos suavam frio e meu estômago parecia se revirar por causa do esforço em me lembrar.

— Não há muita coisa mais... a garota sumiu junto a um clarão de luz...

— Qual era a cor da luz? — A Senhora me perguntou, sua voz estava aflita.

— Branca. — Falei devagar. — Havia também algumas faixas em roxo.

— Isso não é bom... — Percebi que a senhora se esforçava muito para não chorar novamente e hesitei por um instante em continuar.

— A garota desapareceu e me lembro de ver um medalhão.... Era feito por uma pedra redonda e polida, que estava brilhando da mesma cor do clarão que fez a garota sumir, e era envolto por uma circunferência dourada com entalhes que pareciam letras em mandarim ou alguma língua oriental. — Já não aguentava mais me forçar a reviver aquele momento, parecia que alguma coisa tentava me asfixiar e comecei a me sentir tonto. Fitei a senhora novamente e sua pele parecia ter perdido a cor de repente. — A Senhora está bem?

— S-Sim... — gaguejou e pediu para que continuasse, mas não havia mais nada a contar. Não daquele dia, e achei melhor só dizer isso por hoje.

— Mais alguma coisa? Alana não disse nada de estranho a você de ontem para hoje? — Jamie me encarava com o olhar sombrio.

— Na verdade... me falou sobre uma garota-fantasma que queria nos separar, que estava dentro do corpo dela de alguma forma e que tentava matá-la. Não sei se é a mesma garota que vi desaparecer. — Mal terminara de falar e a Senhora soltou um gemido de angustia e tornou a chorar descontroladamente. Shawn fechou sua expressão e parecia ter entrado em um estado de alfa. Jamie socou o braço do sofá, que se deformou indicando que a madeira fora quebrada. Ninguém pareceu se importar com isso. Bryan estava quieto e parecia estar em outro mundo, sua expressão também era de preocupação, mas havia mais alguma coisa que não consegui identificar. George e Ellen tentavam consolar a Senhora Annie, mas faziam isso em vão.

— Tia Annie? — Jamie a chamou com a voz mansa e o fitou com o rosto vermelho e os olhos inchados. — Isso confirma nossas suspeitas?

— Sim. — A mulher respondeu junto a um soluço.

— Que suspeitas? — Falei depois de puxar Jamie para um canto.

— Nós achamos que Alana aprisionou a alma da Analice em algum lugar, no caso, o medalhão. — Sua voz soava pesarosa. — Alana pode controlar a alma dela por enquanto, mas em algum momento uma das duas sucumbirá e será subjugada. Um mesmo corpo não pode abrigar duas almas. Se Alana não soltar a menina ou não subjugar a alma dela... uma das duas vai morrer.

— Subjugar uma alma já não é considerado matá-la? — Mantive a expressão indiferente, mas essa história aguçava minha curiosidade e sabia que de alguma forma fazia parte de tudo isso também.

— Não quando o corpo da alma subjugada ainda está em condições de uso e é isso que estamos tentando fazer, encontrar o corpo de Analice.

— Querido! — A Senhora Annie apontava para a direção onde estávamos, nos aproximamos dela e ficou claro que se referia a mim. — Você consegue sentir a presença de outra pessoa junto com Alana?

— Não sei se é exatamente isso, mas sinto que há algo de errado com ela e... o lampejo da imagem de um medalhão pendurado no pescoço de Alana apareceu em minha mente e fui embalado por uma sensação terrível de vertigem. Fui obrigado a me sentar antes de continuar. — Alana está usando o medalhão que aprisiona a garota. Vocês estavam certos. É o mesmo medalhão que vi no dia em que sumiu.

— Alana está mesmo tentando subjugar a alma de Analice. — A Senhora concluiu. — Não adianta apenas matá-la. Precisa ser apagada do mapa para que Alana consiga a única coisa que mais deseja.

— E o que ela deseja? — Disse confuso.

— Quer ter poder e para isso está usando você e minha sobrinha. — Explicou.

— Posso saber como está fazendo isso?

— As almas de vocês dois estão conectadas. São almas gêmeas em Romance. O universo os escolheu para tomar conta de um dos poderes mais antigos conhecidos pela magia... — fez uma pausa para fitar um por um — o amor.

— Somos guardiões do amor? — Tentei não soar irônico, mas foi inevitável. Queria rir daquilo, era ridículo.

— Todas as almas gêmeas na categoria de Romance são. — Falou dando um caráter ainda mais sério a sua expressão. Parei de achar graça no mesmo instante. — Um ser pode ter trinta e duas almas gêmeas distribuídas nas categorias de Amizade, Família, Inimigos e Romance. As almas gêmeas de romance são as mais difíceis de encontrar e por isso são poderosas. Estão acima de qualquer definição para amor eterno. Um é capaz de sentir exatamente o que outro sente, mesmo que estejam a quilômetros de distância. Há estudiosos nesse campo da magia que acreditam que as almas gêmeas de Romance podem até se comunicar através de seus sonhos com sensações e situações reais.

— E por que o universo deixaria todo esse poder nas mãos de pobres e insignificantes mortais? — Ouvi minha voz perguntar antes que pudesse me repreender.

— O poder do universo é infinito, mas um poder tão grande assim não pode estar concentrado em apenas um ponto específico, por isso é espalhado das mais diversas formas. — Explicou e sua voz agora estava mais coerente. — Esse poder específico do qual estamos falando é poderoso em proporções mundanas, mas é insignificante em comparação ao poder total presente no universo.

— Entendi, mas de que maneira podemos alcançar ou proteger esse poder?

— Ao contrário do que pensamos inicialmente, Alana não quer você porque te ama. Quer a sua alma e só não a havia capturado antes, pois sabia que primeiro você e Analice precisavam se conhecer efetivamente.

— Efetivamente?

— Se conhecer no plano físico. A partir do momento que isso acontecesse vocês estariam conectados e essa conexão é uma das fontes do poder do Amor, que se convertido em proporções de energia, é capaz de explodir um planeta inteiro.

— Por que Alana quereria explodir um planeta?

— Era só uma comparação. Não é isso que quer. Já ouviu falar em vilões de histórias em quadrinhos? Aqueles que sempre querem conquistar o mundo? Acredito que seja exatamente isso que quer. — A Senhora Annie agora esfregava os olhos como se tentasse se livrar das imagens que suas palavras a fizeram visualizar.

— Então precisamos detê-la. — Ouvi-me dizer sem consciência do que dizia. — Não pode alcançar esse poder!

— Deseja sua alma, mas não pode saber que você tem conhecimento disso, senão vai acelerar o processo e tudo estará perdido.

— Entendi. Preciso voltar para lá então e fingir que nada disso aconteceu.

— Exato.

— Não há nenhuma possibilidade de não precisar voltar para lá? — George perguntou de repente.

— É melhor voltar. Ontem, Alana me deixou inconsciente apenas por ter saído sem saber. Se por acaso suspeitar que sei de algo, não tenho ideia do que poderia fazer... — havia entrado nessa casa com muitas dúvidas sobre a pessoa que Alana era, mas essas pessoas não seriam capazes de mentir e fingir suas emoções ao me dizer todas essas informações. Alana definitivamente não era alguém confiável e amável...

— Tome cuidado com os feitiços dela. Utiliza magia negra e é assim que está mantendo Analice dentro do medalhão. — A Senhora Annie me alertou quando pedi licença e disse que precisava me retirar. — Ah! Tente não fortalecer Alana nesse meio tempo em que tentamos salvar Analice.

— Salvar Analice? Não falávamos sobre salvar o mundo todo?

— Se conseguirmos salvar minha sobrinha estaremos salvando o mundo também.

— Entendi, mas como seria capaz de fortalecer Alana?

— O que mantém Analice, digamos, "ligada" ao mundo exterior, é a força desse amor que descobriu sentir por você. Se acreditar que você não a ama, sua alma será facilmente subjugada. O que Alana pretende é fazer com que você pareça odiar Analice, para enfraquecê-la. Depois de subjugar a alma de minha sobrinha, tentará fazer o mesmo com a sua e você não terá qualquer força para resistir. — Percebi que me sentia desconfortável quando a mulher me observava sombriamente, como estava fazendo agora.

— Não sou fraco como a Senhora pensa. — Minha voz soou um pouco ríspida.

Tolo! Você só é tão forte por causa da conexão de vocês! — Todos tiveram um pequeno sobressalto quando gritou isso na minha cara. Senti como se uma onda de calor me atravessasse com força e me desequilibrei por uns dois segundos. Isso se chamava poder. Alana emitia uma onda parecida de poder quando estava irritada demais. Essa mulher também possuía poderes sobrenaturais... — Desculpe. Por favor, evite tratar Alana com carinho excessivo. E não diga que a ama. Isso pode ser fatal para minha sobrinha.

— Tudo bem. Prometo tentar. — Dirigi-me para a porta e abri.

— Não estou te pedindo para tentar. — Ouvi a voz da mulher dizendo enquanto fechava a porta e me dirigia novamente para a mansão. Também ouvi vagamente que se reuniriam ali outra vez no dia seguinte, no mesmo horário.

Sobrevoei a floresta com os pensamentos a mil. Todas aquelas informações iam e vinham na minha mente e formavam um grande emaranhado. A confusão me assombrava e me repreendia por me deixar abalar por algo tão simples. Se bem que nada daquilo parecia simples.... Minha cabeça doía ao tentar compreender o que a mulher me explicava. Jurava que vampiros não sofriam com dores de cabeça, mas era exatamente o que estava me acontecendo quando a mulher lançou aquele turbilhão de fatos em mim.

Deixei meus pés tocarem o solo quando vi um corpo caído na clareira da floresta próxima à mansão de Alana. Como não havia notado isso antes? Por que não havia sentido o cheiro do sangue daquela pessoa? Aterrissei com alguns solavancos por causa do terreno repleto de galhos secos, meus pés faziam barulho ao quebrar a madeira fina e tive receio de acordar a pessoa ou assustá-la. Era uma garota. Estava mortalmente pálida e seus lábios estavam roxos, não havia qualquer resquício de sangue no cheiro do ar. Estranho.... Aproximei-me ainda mais e entrei em estado de choque quando finalmente notei que aquele era o corpo da garota-fantasma, Analice.

Estava com uma regata preta e calças jeans, mas ambas tinham sido rasgadas a ponto de virarem apenas retalhos de roupa. Seus sapatos haviam desaparecido e seus pés estavam descalços. Estaria morta? Havia sinais de que seu pescoço fora dilacerado por algum tipo de animal ou... por um vampiro. Isso explicaria a falta de sangue, mesmo com sinais de ferimentos ainda abertos. Era biologicamente impossível que um ferimento como aquele do pescoço dela não estivesse nem sequer manchado de sangue, mas quase todo o sangue dela havia sido absorvido por um vampiro. Isso normalmente serviria para matar um humano comum, mas ainda parecia respirar. Encostei o ouvido em seu peito e pude auscultar as batidas lentas e moribundas do coração. Ainda estava viva!

— Ei! Acorde, menina! Analice! Acorde! — Chacoalhei o corpo dela de leve, mas nada aconteceu.

Raciocinei por alguns minutos se deveria ou não tirá-la dali, mas optei por pegá-la no colo e levá-la até a casa da Senhora Annie. Alana já poderia ter acordado e seria arriscado se ficasse para saber se a garota estava bem, mas levando em conta que parecia mais um cadáver do que um corpo vivo, pude concluir que não estava nada bem. Voltaria no dia seguinte para saber dela. Deitei o corpo dela na grama do jardim dos fundos da casa grande e atirei três pedras na porta dos fundos, depois fiz as asas aparecerem e voei o mais rápido que pude para a mansão.

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