Cap. 26 - O Plano de Alana

A semana seguinte passou mais do que depressa e apesar de os meninos virem me visitar com muita frequência, Bryan nunca aparecia com eles. Mari e Ally também nos visitaram muito, Mari para provar o vestido que usaria e Ally para dar palpites. Jamie foi quem mais me visitou, sempre com a desculpa que só queria ver se estava bem. Não duvidava disso, mas sentia que havia algo de errado no geral e não queriam me dizer o que era.

Conforme o dia do baile se aproximava, Ally ficava cada vez mais distante. Na sexta feira nem sequer atendeu minhas ligações. Tentei visitá-la, mas a mãe dela disse que não estava em casa, o que sabia que era mentira, pois a luz do quarto estava acesa o dia todo. Na noite de sexta, resolvi perguntar ao Jamie porque o Bryan não viera nenhuma das outras vezes. Não que me importasse de ficar longe dele, mas isso era estranho. Além do mais, ninguém parecia deixar que chegasse mais de cinco metros perto de mim.

— Ele foi proibido.

— Proibido?

— Sim. Foi proibido pelo conselho dos vampiros pelo que te fez todas as outras vezes...

— Como ficaram sabendo disso?

— Não temos ideia, mas te pediu para entregar esse bilhete. — Jamie estendeu um papel um pouco amassado na minha direção, disfarçadamente.

— O que é isso? — Peguei o papel me sentindo um pouco confusa.

— Eu não li.

— Ok.

Depois que foram embora, finalmente tomei coragem para abrir o bilhete. Peguei o livro de tia Annie também e segui para o quintal dos fundos, mais especificamente para a varanda, onde minha tia tinha pendurado uma rede recentemente. Deitei confortavelmente, observei o sol se pondo no horizonte e abri o papelzinho.

"Olá!

Por favor, me desculpe pelo que fiz... realmente não sei o que aconteceu comigo. Jamais faria algo assim com alguém que considero uma irmã. E me desculpe pelo que te falei, não me lembro direito o que foi, mas esqueça. Era tudo mentira. Não posso falar com você diretamente, por isso mandei Jamie entregar-lhe esse bilhete. Espero que consiga me perdoar.

Bryan"

O bilhete me deixou ainda mais confusa. Como simplesmente não se lembrava do que havia me falado? Isso era algum tipo de piada? É claro que seria capaz de perdoá-lo, mas essa história parecia mal contada. Fiquei preocupada por estar sendo vigiado pelo tal conselho de vampiros, que era a polícia mágica para eles. Dobrei o bilhete de novo e achei melhor picá-lo para que ninguém mais pudesse ler. Tentei conjurar um feitiço de fogo para queimar os resquícios do bilhete, mas falhei. Li o livro de tia Annie até acabar adormecendo na rede, mas fui acordada logo depois por um vampiro de olhos azuis comendo um saco de batatas chips.

— Jamie? — Minha voz saiu um pouco mole. O céu já estava bem escuro e estava coberta por um edredom azul escuro, um travesseiro fora colocado debaixo da minha cabeça.

— Sim. — Enfiou a mão no pacote e engoliu mais uma porção de batatas. — Fui ao seu quarto, mas não havia ninguém, então segui seu cheiro.

— Por que está aqui? — Sentei-me meio desajeitadamente e esfreguei os olhos.

— Só a mesma vigília de sempre. — Deu de ombros. — Não acho seguro você ficar aqui fora sozinha.

— Entendi. Sobre o bilhete, diga ao Bryan que o perdoo. — Passei as pernas para fora da rede e senti o chão frio sobre meus pés. — Que horas são?

— Meia noite. Sabia que você se mexe bastante enquanto dorme?

— Desde que horas está me observando? — Falei um pouco rápido demais e Jamie olhou para o teto, pensativo.

— Acho que desde as sete...

— Está me observando a seis horas? — Tentei não falar muito alto, mas foi inevitável. — Acho que está levando essa história de vigia muito a sério.

— Talvez. — Deu de ombros novamente e amassou o pacote de batatas.

Jamie me ajudou a levar minhas coisas de volta ao quarto e foi embora logo em seguida. Tive dificuldades para dormir, já que havia tirado um longo cochilo na rede. O baile seria no dia seguinte e minha mente não parava de imaginar como seria a decoração e todo o resto. Meu coração parecia se comprimir ao lembrar de Shane trancafiado no quarto, mas tentava ser otimista e acreditar que logo conseguiríamos tirá-lo de lá e acabar com esse reinado cruel de Alana.

Ajudei minha tia com as tarefas da casa ao levantar no sábado e depois tentei descansar, mas estava estranhamente inquieta e ao invés de ficar deitada descansando, acabei pegando o livro para estudar mais feitiços, além dos que estavam grifados. À noite os rapazes vieram buscar suas roupas e trouxeram suas acompanhantes. Shawn levaria a Mari novamente, George iria com a namorada, Ellen, Jamie havia convencido os rapazes a deixar que Ally fosse junto e tia Annie pegaria carona com eles. Ally acabou ficando com o vestido vermelho que havia produzido, já que não tinha nenhuma roupa já pronta para ela e a única que tinha as medidas mais parecidas era esse. Assim que terminaram de se arrumar, Jamie me puxou para um canto e me pediu para tomar cuidado já que não poderia me vigiar essa noite. Informou que se precisasse, poderia chamar o Bryan, já que se recusara a ir à festa, mas rejeitei essa opção sem que soubesse.

— Nós vamos trazê-lo de volta em breve. — Ally sorriu para mim e se despediu com um abraço apertado. — Desculpa não ter falado com você, mas estava muito ocupada ajudando minha mãe.

— Está tudo bem. Tome cuidado. Boa sorte!

Segui para o meu quarto novamente, deitei na cama e encarei o teto por um longo tempo, me sentindo mais inútil do que nunca. Todos arrumaram um jeito de ir, menos eu. Só porque Alana poderia me reconhecer e tentar me matar ali mesmo.... E o que garantia que não faria isso com eles também...? Entrei em estado de choque quando percebi o que estava prestes a acontecer. Alana não tentara me atacar de novo nenhuma vez e já passara muito tempo, mas se era tão cruel assim por que estava demorando tanto? Só podia haver uma explicação. Alguma coisa pareceu iluminar minha mente e entendi que o baile de hoje era uma armadilha! Queria pegar todas as pessoas que amava para me chantagear e fazer com que me entregasse, ou algo do tipo. Precisava salvá-los, mas como chegaria lá a tempo? Não havia sobrado nenhum carro e não havia transporte público aqui. Havia telefonado para todos eles, mas seus celulares estavam fora da área de cobertura. O que poderia fazer? Bryan. Precisava chamá-lo. Com certeza viria de carro e poderia me levar até lá. Precisava ignorar o frio na barriga que passara a me causar. Telefonei para o celular dele, que Jamie havia me passado por algum motivo e ele atendeu no primeiro toque.

— Bryan! Por favor, precisa vir até a casa de tia Annie e me levar ao baile! É uma armadilha! Alana quer capturá-los! Venha rápido! Por favor! — Não esperei a resposta dele e desliguei o telefone. Corri até o quarto de tia Annie e peguei uma de suas bolsas enormes, corri até o porão e enfiei nela todo o tipo de objetos mágicos que pude encontrar, depois voei escada acima e por algum motivo saí pelo quintal dos fundos.

Meu celular tocou o alerta de mensagem. Bryan pediu para que o encontrasse no bosque que ficava perto da rua onde tia Annie morava. Disse que era melhor assim já que Alana podia ter mandado alguém para vigiar a entrada da casa. Bem... talvez tivesse sido meu instinto me guiando para os fundos. Pulei a cerca e corri o mais rápido que consegui, esperando que Bryan me encontrasse e não que ficasse parado me esperando. Parecia muito lenta e isso me deixou frustrada, até que algumas palavras vieram a minha cabeça e gritei para a noite:

Celeritas Augeri!

Minha velocidade aumentou anormalmente e logo cheguei a uma clareira, guiada puramente por meus instintos. Recordava vagamente do que Shawn dissera no dia que me encontrou fugindo da casa de Alana. A floresta atrás da casa dela se interligava de alguma maneira com o bosque que cercava as casas na rua da tia Annie. Entendi que talvez o plano de Bryan fosse entrar na mansão pelos fundos e agradeci mentalmente por ter tido essa ideia maravilhosa. Comecei a desacelerar até parar de correr para conseguir tomar fôlego, assim que fiz isso ouvi uma voz que conhecia bem.

— Pessoas boas... como são idiotas.

— Onde você está? Apareça! — Meu coração batia mais rápido do que quando estava correndo e isso só podia ser um mau sinal. Estava nervosa. Talvez com medo.

— Está perdida? — Vi uma sombra parada em cima dos galhos da árvore um pouco mais a frente da clareira.

— O que você quer? — Não sei como encontrei coragem para gritar.

— Aproveite seus últimos minutos no controle. — Ouvi a risada maligna e nojenta de Alana ganhar a noite. — Vai ser a última vez.

— Do que está falando? — Soava irritada, não mais com medo.

— Sua alma será minha!

— Você está louca!

— Grite o quanto quiser... pode me ofender também, quando terminar provavelmente ninguém mais vai sentir sua falta. — Seu tom era de desdém.

— Como assim? — Minha coragem vacilou por um momento.

— Acho que merece saber.... Vou prender sua alma em um medalhão e então veremos quem será a alma gêmea de quem depois que você sumir! — As ameaças dela eram estranhas, mas de alguma forma sabia que não eram brincadeira. Tentei recordar qualquer feitiço que pudesse lançar nela, mas minha mente estava embaralhada e me sentia confusa. — Mas seria muito fácil já atacá-la.... Vamos seguir com o plano, sim?

Alana desapareceu em meio a um brilho escarlate e rezei para que de alguma maneira fosse apenas o espelho de tia Annie criando algum tipo de situação assustadora, mas sentia que não era. Sabia que o que estava acontecendo era real. As copas das árvores balançaram de repente e um vento forte atingiu meu corpo, encolhi-me com frio e olhei alarmada ao meu redor. Sentia algum tipo de presença na floresta e de alguma forma sabia que não era mais Alana. Virei-me para trás a tempo de ver uma sombra escura se aproximar em meio as árvores, tentei correr, mas minhas pernas pareciam coladas ao chão.

— Quem é você? — Minha voz saiu trêmula e não consegui me repreender por isso dessa vez. A lua cheia saiu completamente de detrás das nuvens que a cobriam e a pessoa chegou mais perto, vi primeiro seu sorriso malicioso antes de entender quem era. — Bryan! Graças a Deus! Alana me encontrou e....

— É mesmo? — O olhar dele estava vago e quanto mais se aproximava, mais sentia uma sensação estranha tomar conta do meu corpo. Fitei seus olhos e notei que estavam cinzas. Isso não é nada bom...

— Por que está aqui? — Continuei tentando me afastar e comecei a acreditar que Alana lançou algum feitiço para me manter presa exatamente onde estava.

— Por você. — Não sei por que, mas essa afirmação não me fez relaxar como deveria. Tínhamos combinado de nos encontrar aqui, não é? Mas havia algo muito errado.

— Do que está falando?

— Você será minha. Não pode correr e não há ninguém para salvá-la hoje. — Suas presas se projetaram de uma forma assustadora e senti meu sangue congelar nas veias. Bryan pulou em minha direção e me derrubou no chão com força. Senti o ar escapar dos pulmões e me esforcei para respirar. Ele prendeu meus braços no chão, logo acima da cabeça.

— Bryan! Acorde! Não é você! Acho que... acho que Alana o está controlando! — De repente tudo fez sentido e tive certeza que era mesmo Alana quem o controlava no momento. Tentei me debater, mas me segurou mais forte. — Você está sendo usado! Acorde! Por favor!

— Não adianta resistir. Só quero seu sangue. Não se preocupe, seu corpo não me interessa. — Avançou em meu pescoço e gritei o mais alto que pude. Meus olhos se fecharam ao sentir suas presas cortando minha pele como navalhas. Aos poucos parei de lutar e comecei a me sentir tonta.

Primeiro veio a sensação de torpor tomando conta de todos os meus músculos, parecia que estava sendo anestesiada. Em seguida senti como se meu corpo pesasse uma tonelada e me senti incapaz de me mexer. Tentei desesperadamente, mas uma força invisível me puxava para baixo com uma força superior à da gravidade. Alguma coisa me dizia para resistir a essa força e não parar de lutar. Reuni todas as minhas forças e com um solavanco senti que havia conseguido me erguer, até me sentia bem mais leve que o normal.... Realmente estava mais leve, mas isso era capaz de me fazer flutuar? Essa não!

Olhei para baixo e entrei em desespero ao ver meu corpo deitado no chão, minha pele, meus cabelos e minhas roupas estavam empapados no que sobrara do meu sangue e Bryan havia desaparecido. Aproximei-me do meu corpo, em choque e percebi que ainda respirava, mesmo que bem suavemente. Eu não estava morta? Oh, não! Não. Não. Não. Alana havia conseguido separar minha alma do meu corpo. Precisava de ajuda, mas quem poderia me ajudar? Ally era médium.... Ela poderia me ver? E tia Annie? Mas estavam todos no baile.... O que será que Alana esperava que fizesse? Com certeza queria correr para casa e telefonar para qualquer um que pudesse me atender, estava assustada e acho que Alana pensara exatamente nessa reação. Provavelmente estava me esperando na casa da tia Annie. Preciso chegar ao baile antes que descubra que não pretendo voltar para casa.

Descobri que voar não era tão difícil assim e estar em forma de alma me permitia atravessar os objetos e seguir em uma velocidade impossível para qualquer corpo sólido. Era uma sensação engraçada, como se penas macias acariciassem seu corpo cada vez que atravessasse algo. Podia sentir as coisas. Isso era normal? Talvez fosse por que ainda estava viva...

Cheguei à enorme mansão e não foi difícil entrar, mas os convidados pareciam não notar a minha presença e deveria ter imaginado que isso aconteceria. Atravessei várias paredes e driblei os seguranças com cuidado, mesmo tendo certeza de que não conseguiam me ver. Apenas quando atravessava o corpo de alguém pareciam notar algo estranho e a pessoa estremecia. Quando fazia isso era capaz de ouvir os pensamentos dela e me perguntei se ouviria os meus. Tentei pedir ajuda, mas foi em vão. Precisava encontrar tia Annie ou Ally.

Tia Annie não estava à vista, mas encontrei Ally conversando com a namorada de George e me aproximei delas o mais rápido que consegui. No entanto, assim que cheguei a uns dois metros, alguma espécie de poder invisível me lançou para longe. Tentei mais algumas vezes e todas foram em vão. Procurei pelos demais e tentei o mesmo com todos, mas não conseguia me aproximar. Talvez tia Annie tivesse enfeitiçado os trajes para protegê-los de qualquer ataque sobrenatural.

Senti uma vontade louca de chorar e o desespero parecia me sufocar. Segui para um canto do salão e tentei deixar que as lágrimas saíssem, mas ao que parecia, espíritos não possuíam lágrimas. Ninguém poderia me ajudar, já que todos estavam protegidos por magia. Estava perdida e Alana ganharia.

"Ani?" Ouvi uma voz masculina me chamar e olhei ao meu redor, mas ninguém parecia prestar atenção em mim.

"Quem disse isso?" Percebi que era incapaz de falar, só conseguia me comunicar por pensamentos. Alguém estava me ouvindo?

"Não me reconhece? Onde você está? Por que está aqui? Por que consigo te ouvir?"

"Shane?"

"Sim."

"Você está no quarto? Onde você está? Preciso de ajuda!" Tentei não soar desesperada, mas era exatamente assim que estava.

"Estou no quarto."

"Como pode me ouvir?" Assim que perguntei isso, a resposta veio a minha mente e fiquei em choque. Nossas almas estavam conectadas. Podíamos nos comunicar através delas.

"Por favor... NÃO acredito. Onde você está? VEM! Jura que é você?" Não entendia porque gritava algumas palavras e parecia falar com dificuldade. "Isso até parece uma ILUSÃO!"

"Por que está gritando? Está em perigo? Estou indo!" Procurei a saída do salão, me esquecendo de que podia atravessar as paredes.

"NÃO! NÃO pode ser você! É ILUSÃO!"

"Sou eu sim. Só que não estou exatamente visível..." Segui pelo corredor lateral, procurando a porta do quarto em que ele estava.

"Eu sei. Achei que ALANA iria SEQUESTRAR você em algum tipo de ARMADILHA!" A voz dele soava estranha. Estaria chorando?

"Calma. Estou chegando. Mas não sei se vou conseguir tocá-lo.... Nem se você vai conseguir me ver...." Ele ficou em silêncio e comecei a entrar em desespero. Chamei por ele. Nada. "Eu preciso da sua ajuda!"

Cheguei ao fim do corredor e me preparei para atravessar a porta, estava preocupada, mas também feliz por vê-lo de novo. Por que tinha parado de responder? Passei pela porta no instante em que meu cérebro entrou em uma espécie de flashback e uma mensagem se formou em minha mente. "NÃO VEM. É ILUSÃO. NÃO. NÃO. É ILUSÃO. ALANA. SEQUESTRAR. ARMADILHA."

Tudo pareceu desacelerar. Ouvi as batidas do meu coração como baques surdos e apenas sentia que batia disparado. Minha expressão se tornou desesperada quando finalmente entendi o que Shane estava tentando dizer. Tentei parar, mas já era tarde. Vi algumas barras de luz surgirem ao meu redor e quando tentei ultrapassá-las meu corpo foi tomado por um choque horrível e gemi de agonia. Era uma armadilha! Como fui tão idiota? Tinha sido fácil demais entrar aqui.... Deveria ter percebido. Então meu olhar foi atraído em direção à cama. Shane estava acorrentado, o corpo ferido, lágrimas escorriam pelo seu rosto. E ele tentara me impedir.... Como pude ser tão idiota?

— Obrigada por me poupar o trabalho de caçá-la... — Alana surgiu à minha frente, bloqueando minha visão de Shane. Tentei falar alguma coisa, mas não conseguia. — Grite. Grite pela última vez. Você nunca mais voltará a usar sua voz. Nunca mais terá controle sobre seu próprio corpo. Nunca mais sentirá como é tocar alguém. — Um sorriso cínico tomava conta do rosto dela e suas vestes me lembravam as de uma bruxa de histórias infantis, mesmo que tivessem sido modificadas para parecerem um traje de gala.

— Ele pode me ver? — Não adiantaria mais lutar, nem conseguia recordar o nome do livro de feitiços e imaginei que fosse por alguma magia presente nas barras que me cercavam.

— Acredito que sim, ou ele...

— Posso. — Ele a interrompeu. Ouvir sua voz era reconfortante, mesmo que estivesse embargada e expressasse sua angustia, me fazia sentir conforto e dor ao mesmo tempo, mas era suportável.

— Não sei como é possível, mas... — a voz de Alana era esnobe e sua risada era maligna. Desviei o olhar do dela. Tinha certeza que estava chorando, mesmo que não fosse capaz de produzir lágrimas. O que aconteceria com meus amigos e minha família depois que simplesmente sumisse? O que aconteceria com Shane? Eu não teria morrido, então ele não poderia morrer, não é? Como pude ser tão burra? Desapareceria como eu? Havia condenado a nós dois...

— Quer tocá-lo pela última vez? — Alana falava com desdém e vi os olhos de Shane brilharem de esperança por um momento, mas depois virou o rosto como que para recusar a oferta que tinha feito a mim. Queria reconfortá-lo.... Queria abraçá-lo, mesmo que fosse pela última vez. — Ora, vamos. Não sou tão má assim.... Dou um minuto a vocês.

Ela soltou as barras de luz, mas prendeu uma corrente vermelha e brilhante no meu tornozelo. Flutuei até a cama e Alana fez as correntes que prendiam os braços dele desaparecerem, agora só as pernas estavam acorrentadas. Não me importei com o que estava ou não vestindo, isso não tinha qualquer importância no momento. Tentei ir devagar, mas não consegui e acabei me jogando em seus braços. Pensei que o atravessaria ou algo do tipo, mas me assustei ao sentir seus braços me apertarem forte contra si. Ele podia me sentir? Eu podia senti-lo? Como isso era possível?

— Vocês sentem o toque um do outro? Como? NÃO! — Alana berrou. Shane tentou mentir e disse que não, mas ela só berrou ainda mais alto que isso era impossível. Ele me abraçou ainda mais forte e fiz o mesmo. Alana começou a puxar minha corrente, mas não conseguia nos separar. Então a ouvi gritar algo como "Excipio Anima" e senti um vento forte me puxar como se estivesse sendo sugada por um aspirador de pó. Shane não conseguiu mais me segurar e fomos separados por um solavanco. Depois tudo escureceu e quando abri meus olhos de novo não parecia mais que me pertenciam, era como assistir um filme em 3D. Tentei me mover, mas parecia que estava acorrentada novamente. Era como se cada um dos meus membros estivesse sendo puxado em uma direção diferente por correntes invisíveis.

"O que é isso?" Tentei usar minha voz, mas ela não saía.

"Ah. Você acordou!" Ouvi a voz de Alana, mas não a reconheci imediatamente.

"Quem está aí?"

"Sua dona, meu amor. Você me pertence agora." Percebi que era Alana ao ouvir sua risada de bruxa tomar o espaço ao meu redor.

"O que está insinuando?"

"Sua alma me pertence e ninguém mais pode ajudá-la agora. A única pessoa que te viu foi seu amorzinho, que agora está apaixonado por mim."

"Você está completamente louca! Ele não te ama! Você está só se iludindo!"

— Amor? O que houve? — Ouvi a voz de Shane, mas não conseguia mais enxergar nada além de escuridão. Tentei chamar por ele e dizer que estava presa, mas minha voz não passava de um pensamento.

— Nada, querido. Estava apenas pensando que poderíamos curtir um pouco a festa. Já te soltei daquele quarto horrível e curei seus ferimentos. Quem fez aquilo com você? Que coisa terrível! — Falou e percebi que conseguia ouvir tudo que ela ouvia. "Você não sabe de nada." Disse só para mim e pude sentir se aproximar dele e abraçá-lo de lado.

"O que está acontecendo? Como você está controlando ele?" Me sentia confusa e parecia que um enorme peso tentava me esmagar.

— Vamos para o baile? — Falou e senti que ele envolvia a cintura dela com o braço, depois ouvi o barulho da porta sendo fechada.

"Não! Não vá com ela! Aproveite para fugir! Foi ela quem te prendeu! Shane! Chame ajuda! Estou aqui! Me ajude, por favor..." Sentia vontade de chorar, mas não conseguia, parecia que minhas emoções não importavam e outras eram recolocadas em minha mente como se fossem minhas. Alana riu novamente.

— Por que está rindo, linda? — Permitiu que visse por seus olhos e notei que Shane a estava observando com um sorriso no rosto.

— Nada, meu amor. Estava apenas feliz por finalmente soltar você.... Esperei tanto para encontrá-lo novamente...

"Sua cínica! Sua maluca! Pare com isso!" Usei todas as minhas forças para projetar meus pensamentos.

— Eu te amo. — Sussurrou ela. Eles pararam de caminhar e ficaram um de frente para o outro. Shane parecia surpreso e feliz ao mesmo tempo.

— Eu te amo. — Puxou-a em sua direção e a beijou. Alana permitiu que visse a cena, mas não deixou que a sentisse. Todas as minhas forças pareceram desaparecer naquele instante e senti como se estivesse sendo quebrada. Sendo partida em milhões de pedacinhos. Não consegui mais encontrar qualquer motivo para lutar. Queria apenas fechar os olhos e dormir para sempre. "Continue acordada. Você só dorme quando eu deixar!" Alana gritou em minha mente e senti uma enorme pressão me apertar por todos os lados. Tentei gritar, mas não consegui. O que aconteceria comigo agora?


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