Cap. 23 - Respostas

Duas semanas se passaram sem nenhuma notícia ou visita de Shane. Não aguentava mais esperar, principalmente sabendo que não poderia ir ao próximo baile, enquanto todos os demais iriam, com exceção de Ally, que poderia ser reconhecida. Alana já prejudicara os outros meninos, mas tinha um grande defeito: já prejudicou tanta gente que não se recorda dos rostos de seus supostos inimigos.

Apenas sabia quem era e como era meu rosto, por que isso era de seu interesse no momento. Também conhecia o rosto de Ally muito bem, já que namorara Shane em algum momento e havia conseguido isso usando a irmã dele.

Estava preocupada, triste, aflita e com certeza muito abalada. Abalada ao ponto de fazer uma loucura. Precisava vê-lo novamente. Precisava ter certeza de que ainda estava bem, para quando conseguíssemos salvá-lo daquela maluca.

Sabia mentir bem, embora não gostasse de fazer isso. Dessa vez era necessário, por isso disse a tia Annie que visitaria os meninos e demoraria um pouco para voltar. Meu plano era ir até a casa do Senhor Helsten, que ficava na extremidade mais longínqua do bairro rico da cidade. Seria uma boa caminhada, mas estava mentalmente preparada e isso deveria servir.

Não estava contente por não poder ir ao baile e ainda mais descontente pelo fato de tia Annie ter sido convidada por ele. E se fosse alguma armadilha? E se fosse um dos cúmplices de Alana? Precisava tirar essa história a limpo e arriscaria minha vida para saber a verdade. Consegui chegar até a mansão onde moravam. Esperei escondida nos arbustos por um longo tempo, até que finalmente percebi que Alana saiu de casa em seu carro conversível rosa pink. Muito discreto...

O Senhor Helsten havia passado o telefone pessoal dele a tia Annie e depois de pegar o celular dela e conferir a lista, finalmente obtive o número. Telefonei e perguntei se estava ocupado no momento. Disse que precisava lhe falar sobre o caso do ataque na casa da minha tia. Saí de meu esconderijo e bati minha roupa até me livrar dos galhos e folhas. Havia aceitado e poderia me atender imediatamente.

Meu coração batia loucamente conforme me aproximava dos enormes porões de ferro da mansão, que era rodeada por um muro muito alto e por uma floresta densa. Que lugar estranho para morar.... Não havia qualquer vizinho num raio de dois quilômetros. O centro da cidade era mais distante ainda. Apresentei-me aos seguranças, que permitiram a minha entrada sem qualquer pergunta além de "qual o seu nome?".

Já havia visitado a mansão de noite, quando o jardim ficava iluminado por luzes, mas nada se comparava a ver os ciprestes, as flores e as fontes durante o dia, iluminados pela luz natural do sol. Era magnífico! A casa era ainda maior que o casarão campestre dos meninos, parecia ser feita toda em mármore e a entrada principal parecia a entrada de um palácio de conto de fadas, com escadaria e colunas segurando a sacada enorme de um dos quartos principais do andar de cima. Não havia reparado em nada daquilo quando visitara a propriedade na noite do baile. Talvez estivesse muito tensa...

Havia pegado a bicicleta da Ally emprestada e fui obrigada a mentir também sobre onde iria. Não poderia vir junto e de qualquer forma, estava cuidando da irmã mais nova. Antes de chegar, havia me perdido duas vezes pelas ruas que levavam até a trilha principal, guiando o viajante à entrada da mansão. Havia escondido a bicicleta em um arbusto e segui até o portão a pé. Entrei na propriedade e era uma longa caminhada até chegar à escadaria. Respirei fundo e segui em frente. Um dos seguranças me guiou até o escritório do Senhor Helsten, uma empregada me ofereceu algo para beber, mas recusei.

O escritório era decorado com mobílias de madeira escura em estilo clássico e o Senhor Helsten estava sentado em uma poltrona de couro marrom, o único móvel mais moderno do lugar. Na parede da direita havia uma estante enorme cheia de livros, a escrivaninha estava repleta de papeis e canetas e havia uma caneta tinteiro também. Atrás dele, tinha uma janela que cobria quase todo o perímetro da parede, dando vista para o jardim dos fundos. Uma bela vista. Ele me encarava com o olhar cansado e abatido, seus dedos estavam entrelaçados e os cotovelos apoiados na mesa. Dispensei as formalidades, estava ansiosa demais pelas respostas.

— Então... não sei como dizer isso ao Senhor, mas...

— Vamos. Diga logo. Deixei que viesse para que não me escondesse nada. Desde o primeiro dia em que a vi, sabia que não mentiria para mim. Que me confrontaria e diria a verdade. — Passou as mãos pelo cabelo grisalho num sinal de impaciência. — Por favor. Prossiga. O que Alana fez com você?

— Como sabe que é sobre ela?

— Em noventa por cento dos casos que me procuram é para falar alguma coisa sobre minha filha. — Lançou um sorriso triste. — Não temos muito tempo. Continue.

— Senhor, foi sua filha quem me atacou do dia da festa da tia Annie. — Respirei fundo para dizer o que viria a seguir. — E.... Acredito que sua filha tenha sequestrado um amigo meu. Não tenho como provar a você. A câmera que gravou as cenas que presenciei, por algum motivo parou de funcionar de repente. Eu o vi no dia do baile que Alana deu...

— Sei que foi ela quem te atacou e tenho meus motivos para ignorar isso. Como pretende provar que foi ela quem sequestrou seu amigo? Minha filha nunca sequestrou ninguém...

— Não tenho provas além do que vi, mas juro que o vi aqui no dia do baile e estava trancado em um dos quartos do primeiro andar! Por favor, o Senhor precisa acreditar em mim! Só quero saber se ele está bem... — tentei desesperadamente controlar minha voz, mas as lágrimas começavam a fazer meus olhos arderem. — Desculpe se o estou ofendendo ou algo assim, mas... não aguento mais ficar sem notícias. Sei que vocês sofreram muito quando a mãe dela morreu, mas não pode querer que os outros também sofram por algo de que não são culpados!

— Eu sei que minha filha faz esse tipo de coisa. — Levantou da cadeira e senti meus músculos tensos. O Senhor Helsten parou de costas para mim, em pé em frente à janela. — Não tenho como fazer nada, minha filha tem... certas habilidades especiais. Não posso confrontá-la abertamente, portanto tento ajudar as pessoas que prejudica às escondidas. Sofre muito por não ter a mãe por perto...

— Desculpe ser indelicada, mas o Senhor nunca pensou em se casar de novo? — Permaneceu um longo tempo em silêncio e pensei que não ia mais responder, até que suspirou e voltou a falar.

— Sim. Já tentei me casar novamente e Alana aceitou a ideia um pouco contrariada.

— E o que houve depois?

— Matou minha noiva no dia do casamento. — No mesmo instante se virou, a tempo de ver minha expressão de choque. Não pude deixar de estremecer quando minha mente processou a mensagem. Finalmente encontrei minha voz.

Ela matou?

— Não, mas contratou alguém para fazer isso. Na época era muito nova, mas hoje em dia não duvido que seja capaz de matar alguém.

— Nunca pensou em levá-la a um psicólogo ou psiquiatra?

— É claro que já, mas ela não deixa.

— Nunca tentou forçá-la? — Assim que perguntei percebi que fora uma pergunta idiota.

— Não consigo... — notei que tentava segurar as lágrimas, me impedi de ir até ele e abraçá-lo para demonstrar compreensão. Sofria tanto quanto os demais pelas mãos da própria filha.

— Entendo que seja difícil, mas precisa arrumar um jeito de pará-la... — lancei um olhar aflito para o relógio de pêndulo na sala. — Preciso ir embora antes que ela volte e ainda preciso saber de uma coisa.

— Está bem. O que deseja saber?

— Ela sequestrou mesmo meu amigo? — Abaixou a cabeça, respirou fundo e depois fitou meus olhos.

— Não. Está aqui porque está sendo chantageado, mas não é exatamente um sequestro... — desviou o olhar, meu coração batia forte por saber que pelo menos não estava morto.

— Ela o machucou?

— Acabe logo com isso, está bem?

— Do que está falando?

— Leve a gravação para a polícia e deixe que tentem prendê-la, mas já aviso que fugiu três vezes da cadeia e nunca vieram procurá-la de novo. Não sei como faz isso.

— Gravação?

— Não estava gravando a conversa? — Parecia confuso.

— Não. — Comecei a me sentir burra, mas ele mesmo dissera que Alana havia fugido da cadeia mais de uma vez.... De que adiantaria levá-la até a polícia comum? Ou será que não se referia à polícia comum?

— Seria tão mais fácil acabar de uma vez com tudo isso.... Não reconheço mais Alana. Não parece mais minha filha. — As lágrimas escorriam pelo seu rosto, mas as secava com um lenço.

— Jamais o obrigaria a depor contra sua própria filha.... Sei que deve ser difícil para você.

— Eu sei que não, mas precisava ter certeza.

— Certeza?

— Sim. Você é como a Annie.

— Minha tia? O que tem a ver essa conversa com a tia Annie? — Arrastei a cadeira pronta para sair correndo dali, mas algo me mantinha presa ao lugar que estava e precisava saber o que queria dizer ao me comparar com minha tia.

— Não é o melhor momento para saber disso, mas estamos apaixonados. Estamos juntos em segredo por saber que é perigoso, por isso mantemos a relação em segredo, mas não aguentamos mais isso. — Seu tom de voz era sofrido.

— Apaixonados? — Não sei porque fiquei tão em choque com essa informação.

— Sim.

— Isso é mesmo verdade? Tia Annie corre perigo?

— É verdade, mas ela não corre perigo enquanto minha filha não desconfiar de nada. — Passei a fitar o chão, tentando processar as informações e para minha surpresa, nada parecia desconexo, fazia todo o sentido. Queria fazer mais perguntas, mas meu tempo estava acabando. Queria saber tudo que estava acontecendo de uma vez, mas não podia mais ficar ali e arriscar a perder tudo desse jeito. Tinha informações que precisava passar aos meninos e precisava conversar com a tia Annie. — Quer vê-lo?

— Vê-lo? — Recuperei-me do estado profundo em que me encontrava com meus pensamentos ao ouvir a voz dele novamente.

— Sim. Seu amigo. — Meu coração disparou quando o Senhor Helsten me mostrou a chave dourada em sua mão.

— E Alana? Há tempo? — Queria vê-lo. Desesperadamente. Mas e se Alana me encontrasse?

— Ela ainda vai demorar uma hora.

— Ela deixa a chave do quarto dele com você? — Falei desconfiada de que fosse alguma espécie de armadilha.

— Essa é minha chave-mestre. Abre qualquer porta da mansão. Alana não sabe que a tenho.

— Por que está fazendo isso?

— Não quero o seu mal. Não quero que sofra por não poder ver esse rapaz. Ninguém merece passar pelo mesmo que sua tia e eu estamos passando. — Havia passado por mim e já estava na porta, me aguardando. Hesitei por um tempo. Deveria confiar nele? Estava agitada. Meu sangue pulsava mais forte que o normal, meu coração estava acelerado e minhas mãos suavam de nervoso. Precisava saber se estava bem...

Aceitei o convite. A vontade de ver se Shane estava bem, era maior que o medo de acabar morta. Seguimos escada abaixo pela mansão até chegar novamente ao primeiro andar. O Senhor Helsten me guiou até o quarto em que ainda estava e a cada passo me sentia mais nervosa. As paredes pareciam querer me encurralar, o teto ameaçava me esmagar a qualquer momento. Não me importei se a casa estava ou não repleta de câmeras. Já teria sido capturada mesmo a esse ponto.... Chegamos à última porta e ele hesitou por um instante.

— Peço para que não se assuste com a aparência dele... — ao ouvi-lo dizer isso senti um nó na garganta.

— Ela o machuca? — Minha voz não passava de um sussurro e não tinha certeza se queria mesmo saber a resposta.

— Às vezes..., mas ele se cura em uma velocidade anormalmente rápida. — A voz do Senhor Helsten foi sumindo aos poucos e parecia desconfortável. — Alana o obriga a fazer o que quer e se não faz... o castiga.

Como ela o castiga? — Meu sangue fervia nas veias e agora sentia um ódio incontrolável.

— No começo foi retirando coisas que já tinha, como suas roupas. Depois começou a retirar algumas mobílias do quarto. Algumas vezes, o transfere para um quarto melhor... outras vezes o tranca no porão.

— Já o castigou fisicamente?

— Já. — Fitei o chão e engoli em seco. Ela o estava maltratando! Estava o tratando como um escravo! Isso... isso era inaceitável! Precisávamos salvá-lo o quanto antes! — Minha filha se aproveita dele de todas as formas que a Senhorita pode pensar. Queria muito que parasse com isso.

— O que ela...?

— Entre logo! Estamos ficando sem tempo! — Me interrompeu e entregou a chave em minhas mãos. — Fique com a chave, mas não faça nenhuma loucura, por favor.

Minhas mãos tremiam e apertava o metal gelado com mais força que o necessário, me atrapalhei com o trinco algumas vezes até que finalmente consegui abrir. O Senhor Helsten me informou que assim que entrei na propriedade, desligou todas as câmeras e isso foi o último argumento de que precisava para confiar nele de verdade.

Entrei no quarto e um cheiro nauseante de perfume de rosas banhou o ar a minha volta, as cortinas estavam completamente fechadas, de maneira que nenhuma luz do dia entrasse no cômodo. Será que ela pensava que ele queimava no sol? Jamie me dissera que isso não era verdade. Vampiros gostavam mais da noite, mas não tinham nada contra a luz do sol. O quarto estava iluminado por velas vermelhas, em todo o canto havia um castiçal. A cama era de dossel, havia um tapete bonito no chão, mas não fiquei reparando nos detalhes. Não foi para isso que havia vindo.

Shane estava deitado na cama e um lençol branco e fino cobria seu corpo da cintura para baixo. Estava com uma expressão abatida, mas quando a porta se abriu notei que fingiu estar entediado ou bravo. Sua expressão mudou completamente ao me ver. Parecia em estado de choque, não conseguia falar nada. Entrei rapidamente, coloquei uma mobília para travar a porta e retirei a chave da fechadura. Avancei até estar bem perto da cama. Ele havia sentado e ao observar seu corpo em busca de machucados quase entrei no mesmo estado de choque em que ele estava. O Senhor Helsten não mentira quando disse que Alana havia tirado tudo que tinha. Não estava vestido com nada além do lençol que cobria seu corpo parcialmente. Essa garota é com certeza uma louca.

Finalmente se recuperou do choque e percebi que se esforçava para controlar suas emoções. Eu, por outro lado, chorava sem me importar que estivesse vendo meu descontrole. Segui a esmo até a cama e sentei na beirada sem saber o que fazer. Queria me jogar nos braços dele, abraçá-lo forte e beijá-lo, mas nessas circunstâncias.... Não parecia constrangido, mas eu estava. Voltei a observar cada detalhe, procurando algum ferimento. Havia pequenas cicatrizes na pele de seus braços, no abdômen e no rosto. O restante do corpo não conseguia ver com clareza. Ficamos nos encarando por um tempo que pareceu muito longo e desistimos de lutar ao mesmo tempo. Abracei-o o mais forte que consegui e ele com certeza não fez o mesmo, senão teria quebrado todos os meus ossos, mas também me abraçou com força além do normal. Ergui meu rosto na direção do dele, me aproximando cada vez mais, não me importava com mais nada. Ele me beijou delicadamente, como se tivesse medo de me machucar e não entendi isso no começo, até que nos afastamos e ele sorriu de leve.

— Seus dentes.... O que aconteceu? Por que seus caninos estão projetados dessa forma? Ela não está o alimentando? — Tinha muitas perguntas mais e uma vontade louca de fugir dali com ele o mais rápido que conseguisse correr, mas sabia que não podia fazer isso. E se estava mesmo sendo chantageado, não aceitaria fugir comigo.

— Alana lançou um feitiço para que meus dentes permanecessem assim. — Sua voz estava rouca e notei um brilho de raiva passar por seu olhar. — Meus olhos tinham começado a mudar de cor, mas também os enfeitiçou para que ficassem vermelhos. Diz que inspira paixão, força e poder.

— São castigos? — Toquei seu rosto tentando não demonstrar que estava triste por ele sofrer. Tinha certeza de que se percebesse minha tristeza, seria pior.

— Sim. — Fez uma curta pausa. — O que está fazendo aqui? Como chegou aqui?

— O pai de Alana me ajudou. Não é uma pessoa má. — Apontei para porta para mostrar que me aguardava ali fora. — Alana está alimentando você?

— Sim. Me traz garrafas de sangue todas as noites... — sua voz vacilou e seus olhos demonstraram frustação, ódio e tristeza. — Mas às vezes me obriga a beber do sangue amargo dela.

— Aguente firme, está bem? Vamos arrumar um jeito de te tirar daqui. Sei que o está chantageando e vamos dar um jeito nisso também. Eu prometo. — Sorri entre as lágrimas e beijei sua testa e suas bochechas.

— Desculpe interromper, mas você precisa ir, mocinha. — O Senhor Helsten havia aberto a porta um pouco após arrastar o móvel que coloquei e notei que havia chorado. Não entendi direito o motivo, mas assenti e levantei da cama. Shane me puxou de novo e me abraçou forte, me deu um selinho e me soltou de novo. Isso serviu para me deixar ainda mais atordoada e saí tropeçando pelo quarto em direção à porta. Saí e tranquei a porta, tentei devolver a chave ao Senhor Helsten, mas ele não aceitou. Estávamos no saguão principal quando notamos o conversível rosa pink atravessar o jardim em direção à entrada principal. Congelei no mesmo instante. No entanto, o Senhor Helsten foi mais rápido. Pediu para que saísse pela porta dos fundos e aguardasse na estufa, até que um de seus seguranças me buscasse, para me ajudar a fugir pelo portão dos fundos da propriedade. Teria que fugir pela floresta, mas qualquer coisa seria melhor do que encarar Alana de frente sem ter como me defender.

O jardim dos fundos era enorme e possuía um grande labirinto de cerca viva, atrás do labirinto estava o portão pelo qual teria que sair. Isso só pode ser brincadeira.... Respirei fundo e corri até a enorme estufa, que mais parecia uma casa de vidro. Fiquei encolhida atrás de um vaso grande de flores amarelas e aguardei a ajuda. A ajuda demorou a chegar e nesse meio tempo passei a pensar no encontro que tivera com Shane agora a pouco. Quando ficamos tão ligados assim? Em que momento passei a sentir tanto a sua falta? Como isso havia acontecido tão depressa? Passei a analisar o quanto me arrisquei hoje. Quase botei tudo a perder.... E se o Senhor Helsten tivesse me capturado? E se não tivesse me ajudado? O que teria acontecido? Tinha sido muito idiota ao vir aqui sozinha, sem avisar ninguém. Tudo porque queria saber por mim mesma se Shane estava bem. Queria encontrá-lo. Queria ser capaz de salvá-lo. Queria protegê-lo. Queria que soubesse que não sou fraca e que posso me cuidar sozinha também. Queria que soubesse que sou capaz de ajudá-lo tanto quanto ele é capaz de me ajudar. Porém minha mente voltava e insistia que se Alana tivesse me encontrado, não poderia ter feito nada além de deixar que me matasse. Precisava aprender a me defender. Precisava aprender a atacar. Precisava aprender magia e cobraria isso de tia Annie o quanto antes. O segurança finalmente me encontrou e estava acompanhado por outro homem, que se apresentou como o jardineiro que nos guiaria pelo labirinto. Esforcei-me para não soltar uma exclamação de alívio.

Passamos pelo labirinto com muita facilidade e pude notar que o local era quase mágico. Ou talvez realmente fosse. Havia lugares em que a cerca se abria mais e revelava pedaços de terra com grama verde crescendo no lugar dos cascalhos do restante da trilha, geralmente esses lugares tinham um banco de pedra, ou um balanço pendurado junto a uma árvore de porte médio toda florida. Alguns lugares tinham fontes e em um deles notei que havia uma estrutura de quatro colunas com um teto bonito e abobadado, não consegui recordar o nome daquilo, mas sabia o que era. Chegamos na extremidade do labirinto e a saída estava próxima. Também o portão que estava sendo guardado por dois seguranças armados.

— Vamos tentar afastá-los e você foge, está bem? — O segurança me perguntou e assenti, sentindo a adrenalina tomar conta do meu corpo.

Ele e o jardineiro se aproximaram do portão e disseram alguma coisa para os dois homens de preto ali parados. O jardineiro os acompanhou para dentro do labirinto e me escondi atrás de uma das enormes fontes da abertura onde me encontrava. O outro segurança me fez um sinal e saí correndo dali para o portão com a chave-mestre nas mãos. Abri o portão e tornei a fechá-lo do lado de fora, depois disparei pela floresta, correndo o mais rápido que minhas pernas permitiam. Havia uma trilha para seguir, que de acordo com o que dissera o segurança, daria em uma estrada que me levaria até um dos becos no centro da cidade. Resolvi não seguir diretamente pela trilha para que ninguém supostamente me visse caminhar por ali, portanto fui margeando a trilha principal.

Enquanto corria não parava de pensar em tudo que tinha acabado de acontecer e não percebi quando me distanciei da trilha, sem ter a mínima noção de para onde estava correndo.

— Estou... perdida. — Parei um pouco para tomar fôlego novamente. Minhas mãos repousavam nos joelhos e minha coluna estava curvada para frente. Não vou conseguir encontrar a trilha principal novamente e a floresta é tão densa que não tenho como me orientar pelo sol. Não posso gritar para pedir ajuda, porque ainda estou muito próxima da casa de Alana que poderia me ouvir. Era uma bruxa e não tinha tanta certeza se não acabaria descobrindo que passei na casa dela. Ouvi um barulho do meu lado direito e congelei. E agora?

— Analice?

— Shawn? — Corri para abraçá-lo, agradecendo a Deus por não ser um inimigo. — O que faz por aqui?

— Acho que tenho o direito de fazer a mesma pergunta. —Encarou-me sério e sabia que não escaparia de dar uma boa explicação.

— Posso dizer depois? Estou muito cansada e preciso chegar na casa da tia Annie. Prometo que vou te contar depois.

— Diga agora e te levo para a casa da sua tia.

— Vim atrás do Shane e de algumas respostas. Conversei com o Senhor Helsten que me ajudou a vê-lo. Também me ajudou a fugir e me contou algumas coisas. — Primeiro Shawn ficou surpreso, depois, chocado.

— Pensei que o pai fosse da mesma laia que a garota... — sua expressão voltou a ficar séria. — Não dissemos que cuidaríamos disso? Que era muito perigoso?

— Sou teimosa. Sei que fui imprudente, mas não sou do tipo que fica de braços cruzados.

— Depois falamos sobre isso. Mas não consigo entender porque o pai dela te ajudou...

— Ele tem um bom motivo.

— Qual? — Shawn arqueou a sobrancelha.

— Não posso contar, sinto muito, mas confie em mim. Em algum momento você vai acabar descobrindo.

— Não estou de acordo com seus segredos, mas precisamos sair logo daqui. Você especialmente. — Não discordei dessa vez, deixei que me guiasse para fora daquela floresta e para a suposta segurança na casa da tia Annie.





Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top