Cap. 19 - Convidados Especiais
Shane me explicou alguns traços básicos de desenho, caso me perguntassem como consegui fazer desenhos tão lindos e isso gerou uma grave aproximação entre nós, mas não durou muito. Jamie, Ally e Shane foram embora para se prepararem para a festa e tentei ignorar o desconforto que senti do lado esquerdo do peito quando foram. Tia Annie, Mari e eu também fomos nos arrumar. Depois de um banho relaxante me enrolei numa toalha e abri a mala para escolher uma roupa. Nesse momento tia Annie entrou no quarto.
— Algum problema, tia?
— Não, querida. Só queria saber que roupa você pretende vestir.
— Ah. Não sei ainda, talvez uma calça jeans e....
— Oh! Não, meu bem! A festa será um pouco mais chique e é necessário que use um vestido longo. Sei que se sente mais confortável com calças jeans, mas...
— Na verdade me sinto melhor com vestidos mesmo. — Sorri tentando mostrar que estava sendo sincera. — O problema é que não trouxe nenhum. Achei que não seria necessário. Você avisou os demais sobre isso?
— Sim, não se preocupe com seus amigos.
Como que para provar o que havia dito, Mari entrou no quarto usando um vestido cor de rosa de uma alça só, estava com sandálias prateadas de salto baixo e um conjunto de colar com brincos da mesma cor da sandália. O vestido não tinha nada brilhante, era simples e ia até os pés, mas em toda sua simplicidade era perfeito, não precisava de mais nada para agradar. Onde a Mari tinha arrumado algo assim?
— Mari! Você está linda!
— Obrigada, Ani. Sua tia me emprestou essa roupa e essas joias... — sorria de orelha a orelha e dava curtos rodopios com o vestido de caimento perfeito.
— Também trouxe um para você. — Tia Annie sorriu e colocou um vestido azul marinho dobrado na cama, no chão depositou uma sandália prata idêntica a de Mari, mas no meu número, e ao lado do vestido estava uma caixinha de veludo azul com colar e brincos prateados.
— Obrigada, tia. — Sorri tentando disfarçar a curiosidade. Como conseguiu roupas que nos serviam tão perfeitamente? Não tinha qualquer dúvida de que aquele vestido na cama me serviria como uma luva.
— Espero que tenham gostado. Esta noite temos uma presença especial na festa.
— Presença especial? — Segurei meu vestido sentindo a suavidade e leveza do tecido.
— Sim. — Seu sorriso era sonhador. — Um amigo meu virá aqui hoje, Edmund Helsten.
— E quem é ele? — Não percebi que estava sendo mal-educada ao fazer tantas perguntas, mas não pude evitar.
— Quem é ele? — O tom dela era indignado. — Quem é ele? Ele é como um prefeito para essa cidade! O homem mais importante daqui! Sem ele, o prefeito real não consegue tomar nenhuma decisão importante! Ele é cavalheiro, educado e tem um bom coração... mas quis o destino que se tornasse pai solteiro.
— Pai solteiro? — Tentei fazer minha voz soar um pouco pesarosa.
— Sim. Sua filha, Alana Valentini, é muito estranha e não sei se virá também, mas se vier, quero que faça sala e a faça sentir confortável. A garota é um pouco esnobe e nem estudar quer, diz que não precisa porque o pai é rico. O Senhor Helsten sempre faz suas vontades. Sempre. Ninguém sabe por que, mas esse deve ser seu único defeito. — Assim que minha tia mencionou o nome da garota não consegui mais prestar atenção no resto. Essa garota... Jamie dissera que tinha alguma coisa a ver com Shane e com a pessoa que nos perseguiu na floresta. — Algum problema, querida?
— Não. — Gaguejei sem querer. — Nenhum.
— Então se arrume logo, daqui a pouco os convidados chegarão. — Ela e Mari se retiraram do aposento, mas antes tia Annie me informou que minha mãe não iria comparecer na festa e não precisaria fingir que sei desenhar, não iriam saber.
O modelo do meu vestido era frente única, cinturado e todo drapeado, de maneira que definia as curvas de uma garota que as tivesse em evidência, o que não era o meu caso. Não era gorda, mas também não era exatamente magra. Um meio termo, talvez. Também era longo, seu caimento era leve e esvoaça se rodopiasse. Meus brincos eram pontinhos de luz brilhantes e o colar tinha um pingente de meia lua, mas um pouco deformada demais para ser uma meia lua, talvez fosse outra coisa...
Não conseguia entender para que tudo isso. Queria impressionar esse tal Senhor Helsten? Ou as amigas? Como tia Annie estaria vestida? Conhecendo minha tia como conhecia, tinha certeza que Mari e eu faríamos sala para os convidados e tia Annie só apareceria na metade da festa, para fazer uma entrada triunfal. E assim foi. Depois de conhecer um monte de gente que nem se quisesse lembraria os nomes, minha tia finalmente apareceu. Ninguém pareceu se importar com o atraso, pois sempre fazia isso. Suas roupas eram em tons de vermelho e suas joias eram douradas, parecia uma rainha. Seu vestido era mais rodado que o meu e o de Mari, as mangas eram longas e trabalhadas com rendas, o decote do vestido era em U.
À medida que os convidados iam chegando, comecei a pensar que os meninos não viriam mais a festa. Nem a Ally havia chegado ainda.... Quando estava começando a entrar em desespero a campainha tocou novamente e quem atendeu foi tia Annie, assim que Shawn, George, Bryan e Jamie entraram, todos os olhares se voltaram para eles, todos vestidos formalmente. Não havia uma única pessoa que após a passagem deles não sussurrasse algo com a pessoa ao lado, as mulheres davam risinhos nervosos e os maridos os analisavam de cima a baixo com olhares ciumentos. Shawn aceitou acompanhar Mari e foi diretamente falar com ela após me cumprimentar, George estava com uma garota bonita de cabelos castanhos claros, ondulados e compridos, os olhos da garota eram verdes e a pele era tão clara quanto à deles. Seria uma vampira também? Esqueceram-se de apresentá-la a mim, então não sei qual era o nome dela. Bryan e Jamie estavam de braços dados com a Ally, que usava um vestido do mesmo modelo que o meu e o de Mari, mas "tomara que caia" e verde escuro.
Tentei disfarçar a tristeza por não ver Shane com eles, mas tinha dito que talvez não pudesse vir.... Pedi licença, enquanto Bryan e Ally se juntavam aos convidados que dançavam na sala e Jamie se dirigia a mesa de quitutes. Aproveitei e me dirigi ao quintal dos fundos, queria ficar um pouco sozinha antes de ter que fazer sala novamente. Precisava me estabilizar emocionalmente antes de encarar os convidados sabendo que Shane não estaria entre eles. Desde quando sinto tanto a falta dele? Olhei para o horizonte, onde o sol se punha e tingia o céu crepuscular de laranja e vermelho. Suspirei. Sentei em um dos banquinhos de pedra do jardim e fiquei contemplando o pôr do sol. A decoração lá dentro estava bonita e nem tive tempo de apreciá-la por causa dos convidados. Havia flores e luminárias coloridas por todos os cantos. Parecia uma explosão primaveril dentro de casa. A campainha tocou novamente, mas já havia perdido a esperança.
Alguém tocou meu ombro depois de um longo tempo e não pude evitar um sobressalto. Vire-me para reclamar da falta de educação da pessoa em me assustar, mas quando vi o rosto que me encarava com um sorriso tímido, meu coração pareceu parar por um instante e abri um sorriso alegre.
— Boa noite. A moça está sozinha?
— Estou. Estava sozinha. — Levantei-me pronta para abraçá-lo, mas me contive com medo que alguém visse. — Você veio...
— Sim. Fiz todo o possível para vir. Os convidados da sua tia transformaram a sala de estar em um salão de bailes. — Riu de leve apontando o interior da casa. Não havia conseguido me recuperar da visão dele como um príncipe vampiro. O terno preto dele tinha caimento perfeito, assim como nossos vestidos.
— Um salão? — Repeti estupidamente e ri de leve.
— Arrastaram os móveis e estão usando o tapete como pista de dança.
— O que estão dançando?
— Tudo. Disseram que farão uma valsa mais tarde...
Seguiu-se um longo silêncio. Alternei meu olhar entre o chão, o rosto dele e a casa, mas não consegui pensar em nada para dizer. Sua fala teria sido um convite para dançar? Eu não sabia. O que deveria dizer? Sim? Não? Talvez?
— Não sei dançar. — Sabia que isso não era exatamente um sim, um não ou um talvez. Dava margem para qualquer interpretação.
— Não é difícil. Um passo para lá, dois para cá e assim vai. — Deu de ombros com um sorriso lindo no rosto. Meu estômago estava dando cambalhotas e não conseguia pensar direito. Mas o que raios estava acontecendo comigo? O pior era que sabia, só não queria admitir.
— Sei como é. Só não consigo fazer.
— Você ainda tem medo de mim? — Não consegui decifrar seu tom de voz, por isso decidi encará-lo novamente. Não consegui responder e acho que interpretou errado meu silêncio, pois se aproximou de mim e me abraçou forte. — Não vou machucá-la.
— Eu sei... — meu corpo tremia, mas sabia que não era de frio. Obriguei meus braços a envolver sua cintura e apertei de leve, com medo de que o momento não fosse real e se dissolvesse em névoa de sonho. Percebi que ria e ergui o rosto para fitar seus olhos. — O que foi?
— Seu rosto enrubesce quando chego perto de você ou falo com você...
— Deve ser impressão sua... — um vento forte e frio bateu e me envolveu com mais força no abraço. Tinha algo errado. Sabia que tinha. Então me lembrei da última pessoa que faltava chegar. O sangue fugiu do meu rosto e minhas pernas bambearam.
— O que foi? — Tocou meu rosto com uma das mãos, mas não tive tempo de parar para sentir seu toque como queria.
— Alana Valentini vem aqui hoje e acho que foi ela quem acabou de chegar. Jamie me disse que tem algo a ver com você e a pessoa que perseguiu a mim e Ally no bosque. — Minha voz era rápida e alarmada. Senti seus músculos enrijecerem e tive a certeza de que tinha mesmo alguma coisa a ver, mesmo que não contasse nada a ninguém.
— Ela vem aqui? — Sua voz era calma, mas seu rosto o desmentia.
— Sim. Minha tia é amiga do pai dela. O que essa garota tem a ver com você? É sua namorada? — Esse último comentário fez meu coração saltar e meu sangue ferveu.
— Ela já foi minha namorada. Não é mais. Não superou isso e não pode me ver aqui. Preciso ir. — Me arrastou para um canto escuro do quintal.
— Por que não pode te ver? — Estava um pouco assustada pela reação dele.
— Esqueça. Não chegue perto dela, está bem? Não fale com ela. Nem olhe para ela, se puder. — Seu tom era aflito, sua expressão era preocupada.
— Não dá. Minha tia quer me apresentar a eles. Ela idolatra o pai da garota.
— Fale o mínimo com ela. Não deixe saber nada sobre a sua vida. — Shane segurava meus ombros e me encarava alarmado.
— Mas...
— Por favor, você não a conhece!
— Você conhece muito bem, pelo jeito... — O encarei estreitando os olhos. Estava com ciúmes? Passou as mãos pelos cabelos, em sinal de frustração. Depois me encarou com a expressão séria.
— Por favor, prometa que vai tomar cuidado. Prometa!
— Eu prometo. Mas por que tanto desespero?
— Ela é louca. Uma psicopata. — Ouvimos tia Annie chamar meu nome de dentro da casa. Percebi um misto de emoções passarem pelo rosto dele, precisava ir, mas não queria.
— Vai. Eu vou ficar bem. Não vai ousar fazer nada comigo na casa da minha tia. Além do mais, está cheio de gente aqui.
— Tudo bem. — Suspirou frustrado. — Se cuide.
— Você também.
Meu coração quase parou quando me puxou inesperadamente e me beijou. Foi rápido e não tive nem tempo de retribuir. Minha pulsação se acelerou anormalmente e meu emocional se abalou novamente. Afastou-se de mim e fez as asas crescerem para sair voando dali o mais rápido que podia, adentrando a noite escura que esfriava cada vez mais. Esfreguei os braços com frio e tentei acalmar minha respiração antes de atender ao chamado de minha tia. Com certeza estava brava por não ter atendido antes, seu rosto estava sério e encarava o jardim com uma ruga de preocupação se formando em sua testa.
— Ah! Aí está você! — Fez gestos para que me apressasse, nem perguntou o que fazia num canto escuro do quintal. Aparentemente havia algo mais importante tomando conta de sua mente. Permiti que a lembrança do beijo aquecesse meu coração, enquanto era arrastada para conhecer o Senhor Helsten e a filha psicopata dele.
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